sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Terra de Alcides Maya

*Alcides Maya nasceu no dia 15 de outubro de 1878, em São Gabriel. Na infância passou largas temporadas na "Estância do Jaguari", mais tarde renomeada como "Estância São Manuel", no então 2º Distrito de Lavras do Sul, cuja paisagem é o cenário onde, mais tarde, narrou suas histórias.

Muito cedo, ainda antes da "Revolução Federalista", mudou-se para a Capital do Estado, onde estudou, exerceu o jornalismo e escreveu muito, publicando seus primeiros livros. Em 1885 matriculou-se na tradicional "Faculdade de Direito de São Paulo". Adoeceu, retornando ao Estado, continuando sua vida de homem de imprensa.

Em junho de 1897 publicou seu primeiro livro, intitulado "Pelo Futuro". Seguiram-se: "O Rio Grande Independente" (1898) e "Através da Imprensa" (1900). Apenas, mais tarde, se lançou como ficcionista.

Em 1898 foi ao Rio de Janeiro onde conheceu importantes figuras literárias da época. Demorou-se pouco, retomando as lides jornalísticas.  Em 1901 mandou edificar, no terreno da família, em Porto Alegre um pequeno prédio que se tornou ponto de velhos e novos intelectuais gaúchos.

Após idas e vindas, em 1910 estava novamente no Rio de Janeiro, onde permaneceu a maior parte do tempo até 1924. Foi eleito para a "Academia Brasileira de Letras" em 6 de setembro de 1913, tomando posse no dia 21 de junho do ano seguinte. Foi o primeiro gaúcho eleito para a "Casa de Machado de Assis".

Rompeu com os antigos federalistas, aderindo ao "Partido Republicano Rio-Grandense", pelo qual exerceu mandatos de deputado federal entre 1918 e 1924, quando retornou ao Rio Grande, assumindo a direção do "Arquivo Público do Estado" e, posteriormente, do "Museu Júlio de Castilhos", onde passou a residir, até sua aposentadoria em 24 de março de 1939.

Participou ativamente da "Revolução de 30", inclusive, comparecendo e falando na sessão de 13 de novembro daquele ano, devidamente fardado à gaúcha.

Solteirão e mulherengo, após pelo menos duas grandes desilusões amorosas, casou-se com sua governanta, Ofélia Balthesan, em 8 de abril de 1839. Mudou-se para o Rio de Janeiro. Doente e corroído pelo alcoolismo, longe da mulher, mas assistido por poucos e fiéis amigos, faleceu no "Hospital Miguel Couto", em 2 de setembro de 1944.

Foi velado na "Academia Brasileira de Letras" e sepultado no "Cemitério São João Batista" no dia seguinte. Em 1949 seus despojos foram exumados e transportados para o Rio Grande do Sul, sendo, sob-honras militares, depositados no "Cemitério da Santa Casa de Misericórdia", de Porto Alegre, em 17 de setembro daquele ano.

Com a morte de Alcides Maya, à exceção de “Tapera”, os direitos autorais de suas obras passaram à viúva, que somente reapareceu para a história, possibilitando a reedição dos livros pela "Editora Movimento", em parceria com o "Curso Universitário" e a "Universidade Federal de Santa Maria".

Osório Santana Figueiredo, historiador gabrielense, autor da obra "Alcides Maya, o Clássico dos Pampas", lembrou que ninguém pode editar obra literária sem consentimento do autor ou herdeiros. E também falou da frieza com que foi tratado por Dona Ofélia.

Além das dificuldades legais em reeditar os livros de Alcides Maya deve-se levar em consideração o conteúdo sociológico que perpassa o romance e os contos do criador de Miguelito. 

Em sua ficção, como destacou Floriano Maya d’Avila, seu sobrinho e “filho espiritual”, (Porto Alegre: "Terra e gente de Alcides Maya". Editora Sulina. 1969), há toda uma crítica profunda as estruturas sociais da Campanha e do sistema político determinado pela caudilhagem.

Floriano desenvolveu teses esboçadas por José Salgado Martins em "Alcides Maya: o ensaísta e o escritor de ficção" (Rio de Janeiro – Porto Alegre – São Paulo. Editora Globo, s/d [1964]).

A crítica ao sistema de poder, que também não mereceu a devida atenção dos estudiosos, é outro elemento que contribuiu para que seus livros fossem lançados ao esquecimento. O que se agravou com a adesão ao sistema castilhista-borgista.

Miguelito, de "Ruínas Vivas", o grande personagem de Alcides Maya é o protótipo do gaúcho. Filho bastardo de um jovem estancieiro (Artur), que, aluno da "Faculdade de Direito de São Paulo", faleceu prematuramente e Elisa, filha de Chico Santos, veterano das guerras gaúchas.

Seu pai representou o aventureiro branco, detentor da cultura europeia; Elisa era a “china”, meio branca, meio índia, meio negra, talvez. Desprezado pelo avô paterno, o branco pai e filho dos conquistadores das terras americanas, herdeiros do poder colonial, tornou-se um verdadeiro “guaxo”.

Sem pai, sem mãe, sem avó, sem terras, tornou-se o índio vago, indomável. Se tivesse um pedaço de terras seria o “taura”, o valente; como proletário rural, sem direito a prole, tornou-se o “maula”, o perseguido pela lei e a Justiça, a serviço dos poderosos. Miguelito é o nosso Martín Fierro. (Fonte: Paulo Monteiro, na revista “Somando”, Edição 183 – Ano XVI – Junho/2012, páginas 30 e 31).

"Tapera", segunda edição, 1962.
"Romantismo e Naturalismo na obra de Aluísio Azevedo
", 1926.
"Crônicas e Ensaios", primeira edição, 1918.
"Alma Bárbara", 1912.
"Tapera", primeira edição, 1911.
Sua obra ficcional compõe-se do romance "Ruínas Vivas" (1910) e dos livros de contos "Tapera" (1911) e "Alma Bárbara" (1922). Nessas narrativas, Maya cartografa a região da campanha, descrevendo seus usos e costumes, registrando a violência no campo, o êxodo rural e a formação dos bolsões de miséria decorrentes de modificações nos modos de produção das estâncias gaúchas.

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