quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Edmundo Berchon Des Essarts

*Natural de São Gabriel, nasceu em 1º de maio de 1864; falecido o seu pai, no Paraguai, depois de terminada a Guerra do Paraguai, mudou-se com a mãe e toda a família, para Pelotas, em janeiro de 1874. Nessa cidade fez os estudos secundários no colégio do acreditado professor Carlos André Lauintinie, a quem sucedeu o também reputado professor Charles Bachellery.

Tirados os exames em Porto Alegre, seguiu para o Rio de Janeiro, em cuja Faculdade de Medicina se matriculou em 1882. Cursava o 5º ano, quando (devido a incidente entre os alunos e o professor da Cadeira de Farmácia), se transferiu para a Faculdade de Salvador (BA), onde se doutorou, mediante a apresentação da tese a respeito do Câncer.

Depois de formado, permaneceu cinco meses na capital do País (Rio de Janeiro), onde trabalhou na Policlínica Geral. Em 1888, partiu para Paris (França) e lá freqüentou os cursos de Lucas Championnère, Guyon, Terrier, Tarner e outros; regressando em 1889, instalou-se em Pelotas (RS), para iniciar a sua longa e notável carreira médica.

Foi um cirurgião notável e um preclaro cidadão. Por grande que tenha sido a face profissional da sua vida, maior, sem dúvida, foi o seu aspecto cívico. Há grande médicos que, apenas são grande médicos; entendem com isso, esgotada a sua tarefa. Em Edmundo Berchon, o médico, o cirurgião não era o homem todo, mas apenas, um dos modos de ser do cidadão.

Como simples cirurgião, teria feito as numerosas e admiráveis operações que fez, teria inovado processos, teria deixado a sua escola de notáveis cirurgiões. Mas não teria posto os seus recursos materiais a serviço da educação e da assistência social, não teria fomentado à sua custa a economia do seu torrão, não se haveria dedicado desde a juventude à política, que é, para os espíritos da sua estirpe, a mais nobre e útil de todas as artes.

Aos 31 de março de 1890, foi nomeado médico do hospital da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre; mais tarde, empreendeu às suas custas, várias campanhas sanitárias contra a febre tífica, o câncer, o cisto hidático, o carbúnculo, a febre aftosa e outras entidades mórbidas.

Aos 2 de setembro de 1893, tornou-se médico efetivo da Santa Casa e assumiu a direção de várias enfermarias. Segundo testemunho do professor Nogueira Flores, da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, foi o Dr. Berchon quem montou o primeiro aparelho de Raios X, em nosso país, por volta de 1896 ou 1897.

Foi o Dr. Berchon quem sugeriu, em 1899, a vinda das Irmãs de Caridade, para o Hospital de Caridade e teve neste sentido, vários entendimentos com os representantes da respectiva ordem. Na Academia Nacional de Medicina, fez-lhe o panegírico, o professor Jaime Poggi, que lhe chamou grande ilustre cirurgião brasileiro e eminente mestre.

No Colégio Brasileiro de Cirurgiões, pronunciou um magnífico discurso o Dr. Sílvio Brauner, que o descreveu como técnico de rara habilidade, cirurgião que no ato operatório aliava o máximo de segurança à maior simplicidade.

Foi membro da Academia Nacional de Medicina, do Rio de Janeiro; da Sociedade de Medicina de Porto Alegre; da Associação Francesa de Cirurgia, de Paris; da Sociedade Italiana de Cirurgia, de Roma; do Colégio Americano de Cirurgiões; da Sociedade de Orthopedia, de Roma; e do Collegio Brasileiro de Cirurgiões, do Rio de Janeiro.

Foi presidente da Biblioteca Pública Pelotense; presidente e fundador da Sociedade Agrícola, de Pelotas; fundador do Asylo de Mendigos; presidente do (antigo) Jockey Club; sócio Grande Benfeitor do Asylo de Orfãs São Benedicto; diretor da Escola de Agronomia Eliseu Maciel; professor honorário da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Pelotas; sócio benemérito fundador da Sociedade de Cultura Artística, de Pelotas e irmão grande benfeitor, da Santa Casa de Misericórdia.

Aos 22 de outubro de 1928 (data de seu jubileu profissional), seus amigos ofereceram-lhe um álbum de veludo que tinha na capa um cartão de prata lavrada, cercado de grega de ouro, contendo o extrato das Atas referentes ao ilustre irmão grande benfeitor, bem como artigos assinados por todos os componentes da Mesa Administrativa, Conselho Deliberativo e irmãos daquela instituição de caridade. Mais uma placa de bronze foi inaugurada aos 31 de março de 1940, para comemorar o jubileu da sua atividade cirúrgica no hospital.

Ainda em 1922, tomou parte saliente numa outra campanha que sacudiu o Rio Grande do Sul e por fim, o levou à Revolução de 1923. Após a pacificação de “Pedras Altas” ocupou a presidência do Diretório Municipal de Pelotas da Aliança Libertadora.

Nesse posto atingiu o ápice de sua carreira política; adoentado e desiludido, afastou-se da política, sem deixar de acompanhar com interesse os acontecimentos nacionais. Foi o político em tudo congruente com médico; nunca procurou cargos ou honrarias; na política via apenas o cumprimento de um dever de solidariedade humana.

Tendo se agravado os seus padecimentos, quando se achava no Rio de Janeiro, em fins de 1941, foi alí submetido a uma operação de caráter provisório e regressou à Pelotas, em avião especial. Cercado logo pelo carinho de seus amigos e admiradores, que quase se poderiam contar pelo habitantes da cidade, reanimado pelo ambiente acolhedor do Pago, ainda sobreviveu alguns meses, graças à sua fortaleza de espírito. Faleceu em Pelotas (RS), aos 14 de março de 1942, com 78 anos de idade. (Fonte: "Gaúchos Ilustres" - "Maragato Assessoramento")

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