Dois
anos separam a morte de Joaquim Francisco e o nascimento de Carlos Dácio,
recentemente falecido. Intrigado com as histórias que cercavam o seu lendário
avô, o neto passou a buscar mais conhecimento sobre tantos feitos contados por
sua mãe, Lina de Assis Brasil (1916-2003), que era filha do segundo casamento
de Assis Brasil com uma nobre portuguesa.
Quando
Lina casou e foi viver em São Gabriel, não precisou mudar o sobrenome: o marido
era Dacio Assis Brasil (1904-1977), seu primo em segundo grau.
Tendo a
origem Assis Brasil nos dois lados, Carlos Dácio parece ter assumido a
responsabilidade de perpetuar a história da família. Seu avô paterno, Ptolomeu
de Assis Brasil (filho de Antônio e sobrinho de Joaquim Francisco), era general
do Exército e combateu na Revolução Federalista (1893-1895). Também foi um dos
chefes da Revolução de 1930, o que o levou a ser interventor (governador) de
Santa Catarina (1930-1932).
Já o avô
materno de Carlos Dácio, Joaquim Francisco de Assis Brasil, chama atenção
justamente por ser um revolucionário das ideias, longe de ser um homem de
combate. Foi um pioneiro, um inovador, um homem do mundo. Também se tornou um ser
ilustrado pela ciência, pela razão e pelo conhecimento, exercendo permanente
influência política e intelectual ao longo de sua vida.
Folheando
com conhecimento enciclopédico os livros escritos por Joaquim Francisco, Carlos
Dácio sabia cada detalhe da vida do avô, do contexto político e histórico do
momento e teve um entendimento muito articulado sobre o andar dos tempos.
Carlos
Dácio dizia que sempre admirou o avô, que foi um homem de muitas ideias
políticas e rurais sempre à frente de tudo. Seu avô era a favor da
universalidade de escolha – dizia Carlos Dácio, na casa que era de sua
propriedade em São Gabriel, onde fica um marco na “Sanga da Bica” que sinaliza
o provável lugar da morte de Sepé Tiaraju, o índio guarani que virou herói ao
lutar contra o domínio luso-espanhol no século 18.
Uma
ideia de reforma agrária
Na
biblioteca da antiga casa dos pais, onde vivia em São Gabriel, Carlos Dácio
guardava algumas bandeiras, como as do Rio Grande do Sul e do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Era dono de terras e, assim como seu avô,
acreditva na reforma agrária. E, por isso, causava o mesmo tipo de estranheza
de Joaquim Francisco, perpetuando um tipo de pensamento argumentado e racional
que marcou a trajetória do avô.
Segundo
Dácio, os primeiros a ganhar terra no Brasil foram os que ajudaram a guardar as
fronteiras. Ganhavam-se títulos de terra e o direito de formar pequenos
exércitos. E o que foram a capitanias hereditárias? Isso que, naquele tempo,
ganhava-se terra sem o compromisso de produzir. Depois, houve reforma agrária
com os imigrantes italianos e alemães. Pregava a busca da igualdade social. A
agropecuária não adianta nada se as pessoas passam fome – dizia. (Fonte: Jornal
“Diário de Santa Maria” - Edição de 25-07-2009)
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