sábado, 26 de outubro de 2013

O herdeiro intelectual

Dois anos separam a morte de Joaquim Francisco e o nascimento de Carlos Dácio, recentemente falecido. Intrigado com as histórias que cercavam o seu lendário avô, o neto passou a buscar mais conhecimento sobre tantos feitos contados por sua mãe, Lina de Assis Brasil (1916-2003), que era filha do segundo casamento de Assis Brasil com uma nobre portuguesa.

Quando Lina casou e foi viver em São Gabriel, não precisou mudar o sobrenome: o marido era Dacio Assis Brasil (1904-1977), seu primo em segundo grau.

Tendo a origem Assis Brasil nos dois lados, Carlos Dácio parece ter assumido a responsabilidade de perpetuar a história da família. Seu avô paterno, Ptolomeu de Assis Brasil (filho de Antônio e sobrinho de Joaquim Francisco), era general do Exército e combateu na Revolução Federalista (1893-1895). Também foi um dos chefes da Revolução de 1930, o que o levou a ser interventor (governador) de Santa Catarina (1930-1932).

Já o avô materno de Carlos Dácio, Joaquim Francisco de Assis Brasil, chama atenção justamente por ser um revolucionário das ideias, longe de ser um homem de combate. Foi um pioneiro, um inovador, um homem do mundo. Também se tornou um ser ilustrado pela ciência, pela razão e pelo conhecimento, exercendo permanente influência política e intelectual ao longo de sua vida.

Folheando com conhecimento enciclopédico os livros escritos por Joaquim Francisco, Carlos Dácio sabia cada detalhe da vida do avô, do contexto político e histórico do momento e teve um entendimento muito articulado sobre o andar dos tempos.

Carlos Dácio dizia que sempre admirou o avô, que foi um homem de muitas ideias políticas e rurais sempre à frente de tudo. Seu avô era a favor da universalidade de escolha – dizia Carlos Dácio, na casa que era de sua propriedade em São Gabriel, onde fica um marco na “Sanga da Bica” que sinaliza o provável lugar da morte de Sepé Tiaraju, o índio guarani que virou herói ao lutar contra o domínio luso-espanhol no século 18.

Uma ideia de reforma agrária

Na biblioteca da antiga casa dos pais, onde vivia em São Gabriel, Carlos Dácio guardava algumas bandeiras, como as do Rio Grande do Sul e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Era dono de terras e, assim como seu avô, acreditva na reforma agrária. E, por isso, causava o mesmo tipo de estranheza de Joaquim Francisco, perpetuando um tipo de pensamento argumentado e racional que marcou a trajetória do avô.

Segundo Dácio, os primeiros a ganhar terra no Brasil foram os que ajudaram a guardar as fronteiras. Ganhavam-se títulos de terra e o direito de formar pequenos exércitos. E o que foram a capitanias hereditárias? Isso que, naquele tempo, ganhava-se terra sem o compromisso de produzir. Depois, houve reforma agrária com os imigrantes italianos e alemães. Pregava a busca da igualdade social. A agropecuária não adianta nada se as pessoas passam fome – dizia. (Fonte: Jornal “Diário de Santa Maria” - Edição de 25-07-2009)

Carlos Dácio sabia cada detalhe da vida do avô, Joaquim Francisco de Assis Brasil. (Foto: Lauro Alves)

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