*Uma
faceta pouco conhecida do grande escritor gabrielense, Alcides Maya, é de que
ele foi bastante exaltado entre os espíritas, quando tomaram conhecimento de
alguns fenômenos por ele manifestados.
Positivista
empedernido, o ensaísta gaúcho, no entanto, foi excelente médium de efeitos
físicos, o que, aliás, o deixava aborrecido, pois os fenômenos o colocavam em
situação desagradável perante os amigos... Os fatos vividos por Alcides Maya
revestem-se de comicidade devido à contundência dos mesmos... Vejamos alguns.
A
pedido do próprio Alcides Maya, o poeta Leal de Souza mudou-se da Rua Senador
Vergueiro, onde morava, para a pensão da
Rua Buarque de Macedo, 52, onde vivia o ensaísta. Alegara Alcides Maya que
estava há tempos sofrendo uma crise nervosa e precisava de um amigo ao seu
lado.
Instalado
na pensão, Leal de Souza, em seu quarto, logo no primeiro dia sentiu os cabelos
se arrepiarem. Eram dez horas da noite e estava ele no quarto, com a porta semicerrada.
De súbito, alguém bateu forte, insistente. Despreocupado, Leal disse,
cordialmente: "Entre!"
E
ninguém entrou; pelo menos, aparentemente. Mas, atento, ouviu certos passos se
dirigirem da porta até o ponto em que se encontrava. Como nada visse pensou:
“São passadas no aposento ao lado”.
E,
como tivesse muita certeza, tratou de fechar a porta do corredor. De volta ao
seu aposento, tornou a ouvir pancadas, agora na porta que dava comunicação ao
quarto vizinho, onde estava instalado Francisco Marcondes, então presidente da
Assembléia do Estado do Rio.
Não
acreditando em fantasmas, saiu Leal de Souza, mais uma vez, do quarto e foi
procurar o incômodo vizinho, a fim de pedir silêncio. Mas, Francisco Marcondes
não se encontrava na pensão... “Bem", pensou Leal, "ele sacudiu a
porta e em seguida saiu...” – e deitou-se, sem mais delongas.
Foi
quando, para grande espanto seu, viu a própria cama levantar-se do solo.
Rápido, deu um pulo. E o leito, que era de ferro, desceu, então, suave ao
assoalho. Tornou a deitar-se e, de novo repetiu-se o fenômeno.
"Estou
sofrendo dos nervos!", pensou. E correu até o quarto de Alcides Maya e
contou-lhe o ocorrido, pedindo ao ensaísta gaúcho que, no dia seguinte o
acompanhasse até um especialista de moléstias nervosas.
Mas
Alcides Maya o sossegou, confessando que nos quatro cômodos daquele segundo
andar ocorriam, diariamente, tais fenômenos. "Mandei chamar você por causa
deles. Queria saber se você, sem ser avisado, os constataria".
No
dia seguinte, um dos inquilinos mudou-se da pensão e em seu quarto instalou-se
um inglês, à noite. Mas, pela manhã, o inglês, com os olhinhos muito
arregalados, fez as malas, pagou a conta e despediu-se apressado.
Tendo
Francisco Marcondes, por sua vez, achado melhor regressar à sua fazenda,
ficaram no segundo andar, apenas, Alcides Maya e Leal de Souza, cujos quartos
eram separados por dois aposentos.
Eram
nove horas da noite e Leal de Souza se encontrava deitado, lendo uma obra,
quando sentiu uma desagradável sensação de frio no pé. Ao procurar a coberta
para aquecê-lo, viu, estupefato, “uma coluna de luar leitoso a alvejar sobre a
cama”.
Olhando
firme, observou que o “luar” foi tornando-se consistente e, aos poucos, tomou a
forma de uma figura humana. E, não sabendo como agir, Leal de Souza, trêmulo,
abandonou o quarto.
Interessante
é que esses fenômenos ocorriam, quase sempre, ás duas horas da tarde e
geralmente iam até a madrugada. E eram atestados por pessoas estranhas que,
curiosas, iam à pensão, mas nada sabiam explicar:
Certa
vez, no quarto de Alcides Maya tomavam mate-chimarrão um pastor protestante,
Leal de Souza e o ensaísta gaúcho. Trocavam idéias, naturalmente sobre a bebida
do Rio Grande do Sul, quando o sofá, sem aviso prévio, pôs-se a subir,
devagarinho, com Alcides em cima; como um "Saci" Alcides pulou ao
chão: e o sofá continuou no ar, desafiando a lei da gravidade. Então, todos se
puseram a discutir o fenômeno.
"Isto
é o efeito de um abalo sísmico", disse o pastor, mas, tão nervoso, que não
pensou que se fora um abalo o sofá não devia continuar no espaço, é evidente.
"Não pode ser abalo", discordou, Alcides Maya, "um tremor de
terra sacudiria os outros móveis e abalaria as paredes!"
Quando
o sofá, enfim, pousou sobre o assoalho sem provocar ruídos, o pastor protestante
saiu-se com esta: "Meus amigos, só há uma explicação para o caso. Este
sofá não se levantou. Nós tivemos um momento de alucinação!" E, assim, o
ingênuo pastor explicou, definitivamente, a ação dos espíritos no plano físico.
É
indiscutível que o excelente médium de efeitos físicos era Alcides Maya. Quando
ele e Leal de Souza desocuparam os quartos, novos inquilinos vieram e nada de
anormal se verificou. Todavia, passados dois meses, Alcides regressou à pensão
e, nessa mesma noite, foi um desastre, para os inquilinos incautos.
Em
seus quartos os objetos tremiam, luzes brilhavam dentro da escuridão, pancadas
sacudiam as portas; uma autentica sessão de efeitos físicos! E o resultado foi
cômico; alucinados com o que viam e ouviam, os inquilinos, em trajes menores,
se puseram a descer a escadaria, procurando a porta da rua...
Infelizmente,
Alcides Maya, talvez por temer sua reputação literária (era da Academia
Brasileira de Letras) não deu noticia de outros casos que serviriam de
instrumento aos espíritos. Quer dizer: preferiu a hipotética e frágil
imortalidade acadêmica à imortalidade contundente dos espíritos...
Quanto
a Leal de Souza, a partir desta data passou a estudar as obras de Allan Kardec,
tornando-se espírita dedicado. (Fonte: Diamantino Fernandes Trindade, professor
universitário e operador do blog “Mandala dos Orixás”)
OBSERVAÇÃO:
Antônio Eliezer Leal de Souza nasceu em Santana do Livramento, Rio Grande do
Sul, em 24 de dezembro de 1880 (algumas fontes apontam a data de 24 de setembro
de 1880). Quando jovem, foi Alferes e participou da Guerra de Canudos. Cansado
de sofrer prisões por combater o governo de Borges de Medeiros, desligou-se do
quartel.
Ao
desligar-se do Exército, dedicou-se ao jornalismo, tendo sido redator do jornal
“A Federação”, de Porto Alegre. Depois de algum tempo, foi para o Rio de
Janeiro, onde cursou Direito, sem concluí-lo, porém. Nessa mesma cidade, teve
destaque como diretor e repórter dos jornais “A Noite”, “Diário de Notícias” e
“A Nota”.
Como
repórter deu o furo sobre o assassinato de Euclides da Cunha. Freqüentava a
roda literária formada por Olavo Bilac, Martins Fontes, Coelho Neto, Luis
Murat, Goulart de Andrade, Alcides Maya, Aníbal Teófilo, Gregório da Fonseca e
outros. (Fonte: Diamantino Fernandes Trindade, do blog “Mandala dos Orixás”)
Alcides Maya, além de jornalista, escritor e político,
foi também espirita. (Foto: Livro “Alcides Maya, o clássico dos pampas",
do historiador Osório Santana Figueiredo)
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