sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O “médium” Alcides Maya

*Uma faceta pouco conhecida do grande escritor gabrielense, Alcides Maya, é de que ele foi bastante exaltado entre os espíritas, quando tomaram conhecimento de alguns fenômenos por ele manifestados.

Positivista empedernido, o ensaísta gaúcho, no entanto, foi excelente médium de efeitos físicos, o que, aliás, o deixava aborrecido, pois os fenômenos o colocavam em situação desagradável perante os amigos... Os fatos vividos por Alcides Maya revestem-se de comicidade devido à contundência dos mesmos... Vejamos alguns.

A pedido do próprio Alcides Maya, o poeta Leal de Souza mudou-se da Rua Senador Vergueiro, onde morava,  para a pensão da Rua Buarque de Macedo, 52, onde vivia o ensaísta. Alegara Alcides Maya que estava há tempos sofrendo uma crise nervosa e precisava de um amigo ao seu lado.

Instalado na pensão, Leal de Souza, em seu quarto, logo no primeiro dia sentiu os cabelos se arrepiarem. Eram dez horas da noite e estava ele no quarto, com a porta semicerrada. De súbito, alguém bateu forte, insistente. Despreocupado, Leal disse, cordialmente: "Entre!"

E ninguém entrou; pelo menos, aparentemente. Mas, atento, ouviu certos passos se dirigirem da porta até o ponto em que se encontrava. Como nada visse pensou: “São passadas no aposento ao lado”.

E, como tivesse muita certeza, tratou de fechar a porta do corredor. De volta ao seu aposento, tornou a ouvir pancadas, agora na porta que dava comunicação ao quarto vizinho, onde estava instalado Francisco Marcondes, então presidente da Assembléia do Estado do Rio.

Não acreditando em fantasmas, saiu Leal de Souza, mais uma vez, do quarto e foi procurar o incômodo vizinho, a fim de pedir silêncio. Mas, Francisco Marcondes não se encontrava na pensão... “Bem", pensou Leal, "ele sacudiu a porta e em seguida saiu...” – e deitou-se, sem mais delongas.

Foi quando, para grande espanto seu, viu a própria cama levantar-se do solo. Rápido, deu um pulo. E o leito, que era de ferro, desceu, então, suave ao assoalho. Tornou a deitar-se e, de novo repetiu-se o fenômeno.

"Estou sofrendo dos nervos!", pensou. E correu até o quarto de Alcides Maya e contou-lhe o ocorrido, pedindo ao ensaísta gaúcho que, no dia seguinte o acompanhasse até um especialista de moléstias nervosas.

Mas Alcides Maya o sossegou, confessando que nos quatro cômodos daquele segundo andar ocorriam, diariamente, tais fenômenos. "Mandei chamar você por causa deles. Queria saber se você, sem ser avisado, os constataria".

No dia seguinte, um dos inquilinos mudou-se da pensão e em seu quarto instalou-se um inglês, à noite. Mas, pela manhã, o inglês, com os olhinhos muito arregalados, fez as malas, pagou a conta e despediu-se apressado.

Tendo Francisco Marcondes, por sua vez, achado melhor regressar à sua fazenda, ficaram no segundo andar, apenas, Alcides Maya e Leal de Souza, cujos quartos eram separados por dois aposentos.

Eram nove horas da noite e Leal de Souza se encontrava deitado, lendo uma obra, quando sentiu uma desagradável sensação de frio no pé. Ao procurar a coberta para aquecê-lo, viu, estupefato, “uma coluna de luar leitoso a alvejar sobre a cama”.

Olhando firme, observou que o “luar” foi tornando-se consistente e, aos poucos, tomou a forma de uma figura humana. E, não sabendo como agir, Leal de Souza, trêmulo, abandonou o quarto.

Interessante é que esses fenômenos ocorriam, quase sempre, ás duas horas da tarde e geralmente iam até a madrugada. E eram atestados por pessoas estranhas que, curiosas, iam à pensão, mas nada sabiam explicar:

Certa vez, no quarto de Alcides Maya tomavam mate-chimarrão um pastor protestante, Leal de Souza e o ensaísta gaúcho. Trocavam idéias, naturalmente sobre a bebida do Rio Grande do Sul, quando o sofá, sem aviso prévio, pôs-se a subir, devagarinho, com Alcides em cima; como um "Saci" Alcides pulou ao chão: e o sofá continuou no ar, desafiando a lei da gravidade. Então, todos se puseram a discutir o fenômeno.

"Isto é o efeito de um abalo sísmico", disse o pastor, mas, tão nervoso, que não pensou que se fora um abalo o sofá não devia continuar no espaço, é evidente. "Não pode ser abalo", discordou, Alcides Maya, "um tremor de terra sacudiria os outros móveis e abalaria as paredes!"

Quando o sofá, enfim, pousou sobre o assoalho sem provocar ruídos, o pastor protestante saiu-se com esta: "Meus amigos, só há uma explicação para o caso. Este sofá não se levantou. Nós tivemos um momento de alucinação!" E, assim, o ingênuo pastor explicou, definitivamente, a ação dos espíritos no plano físico.

É indiscutível que o excelente médium de efeitos físicos era Alcides Maya. Quando ele e Leal de Souza desocuparam os quartos, novos inquilinos vieram e nada de anormal se verificou. Todavia, passados dois meses, Alcides regressou à pensão e, nessa mesma noite, foi um desastre, para os inquilinos incautos.

Em seus quartos os objetos tremiam, luzes brilhavam dentro da escuridão, pancadas sacudiam as portas; uma autentica sessão de efeitos físicos! E o resultado foi cômico; alucinados com o que viam e ouviam, os inquilinos, em trajes menores, se puseram a descer a escadaria, procurando a porta da rua...

Infelizmente, Alcides Maya, talvez por temer sua reputação literária (era da Academia Brasileira de Letras) não deu noticia de outros casos que serviriam de instrumento aos espíritos. Quer dizer: preferiu a hipotética e frágil imortalidade acadêmica à imortalidade contundente dos espíritos...

Quanto a Leal de Souza, a partir desta data passou a estudar as obras de Allan Kardec, tornando-se espírita dedicado. (Fonte: Diamantino Fernandes Trindade, professor universitário e operador do blog “Mandala dos Orixás”)

OBSERVAÇÃO: Antônio Eliezer Leal de Souza nasceu em Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, em 24 de dezembro de 1880 (algumas fontes apontam a data de 24 de setembro de 1880). Quando jovem, foi Alferes e participou da Guerra de Canudos. Cansado de sofrer prisões por combater o governo de Borges de Medeiros, desligou-se do quartel.

Ao desligar-se do Exército, dedicou-se ao jornalismo, tendo sido redator do jornal “A Federação”, de Porto Alegre. Depois de algum tempo, foi para o Rio de Janeiro, onde cursou Direito, sem concluí-lo, porém. Nessa mesma cidade, teve destaque como diretor e repórter dos jornais “A Noite”, “Diário de Notícias” e “A Nota”.

Como repórter deu o furo sobre o assassinato de Euclides da Cunha. Freqüentava a roda literária formada por Olavo Bilac, Martins Fontes, Coelho Neto, Luis Murat, Goulart de Andrade, Alcides Maya, Aníbal Teófilo, Gregório da Fonseca e outros. (Fonte: Diamantino Fernandes Trindade, do blog “Mandala dos Orixás”)

Alcides Maya, além de jornalista, escritor e político, foi também espirita. (Foto: Livro “Alcides Maya, o clássico dos pampas", do historiador Osório Santana Figueiredo)

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