quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Zaira Meneghello

Dona Zaira Meneghello, que foi casada com o romancista gaúcho Cyro Martins (1908-1995), autor da “Trilogia do gaúcho a pé“, era natural de São Gabriel. Da cidade natal ela sempre guardou boas lembranças, principalmente da biblioteca do clube e da professora dona Alice, que lecionava várias matérias ao mesmo tempo e lhe ensinou coisas para o resto da vida.

Sua avó paterna, Maria, veio do Vêneto italiano, num dia 15 de novembro, para morar em Silveira Martins, pequena cidade do Rio Grande do Sul. Era casada, tinha filhos pequenos e o marido adoeceu na viagem de navio e morreu.

Em Silveira Martins ela conheceu o seu segundo marido, Virgilio, que nasceu em Castel di Godejo, na Itália. Casaram e da união nasceu o pai de Zaira. A vó materna era dona Carlota, de quem também ela guarda muitas lembranças.

O avô Virgilio, embora italiano de nascimento, gostava de usar vestes gaúchas, sempre com um lenço vermelho no pescoço. Esse lenço de pura seda, que o avô teria usado na Revolução de 1893, Zaira guardou durante toda a vida, como uma verdadeira reliquia.

Na época da 2ª Guerra Mundial Zaira morava em Porto Alegre, onde estudou no Internato Nossa Senhora dos Anjos. Ela lembra que no período de férias visitava São Gabriel, onde havia muitas dificuldades para se encontrar até as coisas mais simples, como linha de costura. Tudo era importado.

Naqueles tempos dificeis, quando não havia carne de gado ou ovelha, se comprava bacalhau, que era “comida de pobre”, e não valia o peso a ouro como acontece hoje. Abrir uma lata de salsichas era o mesmo que comer caviar numa festa de casamento.

Mas existiam os contrastes. Se achar comida não era tarefa fácil, outras mercadorias eram encontradas até com certa facilidade. Em uma ida a um armazém daqueles que vendiam de tudo, ela encontrou chícaras chinesas, que eram muito bonitas e valorizadas.

Zaira dizia que em tempos passados era comum a presença de intelectuais estrangeiros nas pequenas cidades do Sul. E em São Gabriel não foi diferente. Lembra de um inglês chamado Mr. Makes, que era alto, magro e chamava a atenção por estar sempre com o rosto bastante vermelho. Era um beberraõ conhecido na cidade.

Depois que completou os estudos em Porto Alegre, Zaira retornou para São Gabriel, onde trabalhou no escritório de uma empresa de fundição, armazém e comércio de arroz. Depois fez concurso para trabalhar no antigo Instituto de Aposentadoria dos Comerciários (IAPC), hoje integrado ao INPS.

Tirou o oitavo lugar, e as vagas eram sete. Teve sorte, pois um dos candidatos não foi aprovado no exame de Saúde, e ela foi chamada. Foi nessa época que conheceu Cyro. Casaram em 1949 e tiveram um filho, Cláudio Meneghello Martins, que se formou médico, a exemplo do pai e fez doutorado em Londres. Cyro ainda tinha outros dois filhos do primeiro casamento.

Não demorou para que Zaira pedisse demissão do emprego, para acompanhar o marido, que fora fazer estudos psicanaliticos em Buenos Aires. Ficaram por lá cinco anos.

Cyro faleceu em 1995. Zaira passou então a dedicar-se ao comércio, com uma amiga como sócia. Compraram uma loja de nome “Tutto”, que vendia de tudo um pouco, que pertencera a um italiano. Ficava na rua Vicente de Fontoura, no Bairro Petrópolis.

Zaira Meneghello, que também foi uma eximia pianista, faleceu há cerca de 10 anos, em Porto Alegre, onde foi sepultada. (Fonte: Livro “Memórias da vida e criação”, obra coordenada por Regina Zilberman e Maria da Glória Bordini. E informações colhidas junto ao seu sobrinho, professor Luiz Meneghello)

Cyro Martins, médico e escritor foi casado com Zaira.

Um comentário:

  1. Lembro, quando criança, em ver Dona Zaira linda caminhando pelo apartamento enorme que morava, perfumada e sempre impecável.

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