Dona Zaira Meneghello, que foi casada com o romancista
gaúcho Cyro Martins (1908-1995), autor da “Trilogia do gaúcho a pé“, era
natural de São Gabriel. Da cidade natal ela sempre guardou boas lembranças,
principalmente da biblioteca do clube e da professora dona Alice, que lecionava
várias matérias ao mesmo tempo e lhe ensinou coisas para o resto da vida.
Sua avó paterna, Maria, veio do Vêneto italiano, num dia
15 de novembro, para morar em Silveira Martins, pequena cidade do Rio Grande do
Sul. Era casada, tinha filhos pequenos e o marido adoeceu na viagem de navio e
morreu.
Em Silveira Martins ela conheceu o seu segundo marido,
Virgilio, que nasceu em Castel di Godejo, na Itália. Casaram e da união nasceu
o pai de Zaira. A vó materna era dona Carlota, de quem também ela guarda muitas
lembranças.
O avô Virgilio, embora italiano de nascimento, gostava de
usar vestes gaúchas, sempre com um lenço vermelho no pescoço. Esse lenço de
pura seda, que o avô teria usado na Revolução de 1893, Zaira guardou durante
toda a vida, como uma verdadeira reliquia.
Na época da 2ª Guerra Mundial Zaira morava em Porto
Alegre, onde estudou no Internato Nossa Senhora dos Anjos. Ela lembra que no
período de férias visitava São Gabriel, onde havia muitas dificuldades para se
encontrar até as coisas mais simples, como linha de costura. Tudo era
importado.
Naqueles tempos dificeis, quando não havia carne de gado
ou ovelha, se comprava bacalhau, que era “comida de pobre”, e não valia o peso
a ouro como acontece hoje. Abrir uma lata de salsichas era o mesmo que comer
caviar numa festa de casamento.
Mas existiam os contrastes. Se achar comida não era
tarefa fácil, outras mercadorias eram encontradas até com certa facilidade. Em
uma ida a um armazém daqueles que vendiam de tudo, ela encontrou chícaras
chinesas, que eram muito bonitas e valorizadas.
Zaira dizia que em tempos passados era comum a presença
de intelectuais estrangeiros nas pequenas cidades do Sul. E em São Gabriel não
foi diferente. Lembra de um inglês chamado Mr. Makes, que era alto, magro e
chamava a atenção por estar sempre com o rosto bastante vermelho. Era um
beberraõ conhecido na cidade.
Depois que completou os estudos em Porto Alegre, Zaira
retornou para São Gabriel, onde trabalhou no escritório de uma empresa de
fundição, armazém e comércio de arroz. Depois fez concurso para trabalhar no
antigo Instituto de Aposentadoria dos Comerciários (IAPC), hoje integrado ao
INPS.
Tirou o oitavo lugar, e as vagas eram sete. Teve sorte,
pois um dos candidatos não foi aprovado no exame de Saúde, e ela foi chamada.
Foi nessa época que conheceu Cyro. Casaram em 1949 e tiveram um filho, Cláudio
Meneghello Martins, que se formou médico, a exemplo do pai e fez doutorado em
Londres. Cyro ainda tinha outros dois filhos do primeiro casamento.
Não demorou para que Zaira pedisse demissão do emprego,
para acompanhar o marido, que fora fazer estudos psicanaliticos em Buenos
Aires. Ficaram por lá cinco anos.
Cyro faleceu em 1995. Zaira passou então a dedicar-se ao
comércio, com uma amiga como sócia. Compraram uma loja de nome “Tutto”, que
vendia de tudo um pouco, que pertencera a um italiano. Ficava na rua Vicente de
Fontoura, no Bairro Petrópolis.
Cyro Martins, médico e escritor foi casado com Zaira.
Lembro, quando criança, em ver Dona Zaira linda caminhando pelo apartamento enorme que morava, perfumada e sempre impecável.
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