*O descarrilamento da máquina que puxava o trem de
passageiros em que viajava o cidadão uruguaio Frederico Humberto Fernandez
Branca, acabou sendo responsável pela permanência em São Gabriel, daquele que
se consagraria como um dos melhores goleiros que nosso futebol conheceu em
todos os tempos. Fernandez, ou simplesmente “Castelhano”, como era conhecido
pelos mais íntimos, vinha de Livramento, emprestado pelo Grêmio Santanense ao
Aimoré de São Leopoldo.
O acidente obrigou Fernandez a ficar na cidade, até que a
Viação Férrea Rio-Grandense providenciasse outro comboio. Para passar o tempo,
Fernandez foi dar uma volta pela cidade, e acabou reconhecido por um torcedor
do Cruzeiro local, o motorista de táxi, Parente.
De imediato, os dirigentes do estrelado, Helvécio Prates,
Vicente Astarita e Sílvio de Faria Corrêa, alertados por Parente, localizaram
Fernandez e o convenceram a ficar. Um avião foi fretado para uma viagem a São
Leopoldo, onde foi conseguida a liberação, junto ao Aimoré.
O imprevisto foi quem proporcionou a Fernandez a chance
de jogar no E.C Cruzeiro, na época um time respeitado em todo o interior do
Estado. Foi no áureo-cerúleo que conheceu os melhores momentos de sua carreira.
Recorda de jogos inesquecíveis, como nas vitórias diante do E.C. 14 de Julho,
de Livramento, que tinha uma equipe poderosa e fazia jus ao cognome de “Leão da
Fronteira”.
De confrontos importantes com o Cachoeira, o Uruguaiana,
as equipes de Bagé, Pelotas e Rio Grande e, principalmente, os clássicos locais
frente o G.E Gabrielense. Recorda com saudade os jogos frente o Grêmio
Portoalegrense, pelo campeonato estadual, quando teve a oportunidade de atuar
contra craques da envergadura de Airtom, Juarez, Miltom, Ortunho, Henrique,
entre outros. Fernandez teve atuações destacadas nessas partidas, fazendo com
que o Internacional, de Porto Alegre, Metropol, de Criciúma e Palmeiras, de São
Paulo disputassem sua contratação.
Apesar de convites tão honrosos, Fernandez preferiu
permanecer em São Gabriel, recordando que o Cruzeiro também possuía em seu
grupo extraordinários jogadores, como Camejo, Velho, Pipoca, Lacerda, Zezo e
Caboclo. É verdade que o futebol na época não acenava com as vantagens
financeiras de hoje. Os clubes ofereciam um emprego, um dinheirinho na
assinatura de contrato e “bichinhos” nas vitórias. Apesar disso, os jogadores
entravam em campo com muita disposição e suavam a camiseta.
A carreira de Fernandez como jogador de futebol, começou
por volta de 1948 quando tinha apenas 14 anos de idade, na equipe do Laureles,
de Fray Bentos, no interior da República Oriental do Uruguai, cidade onde
nasceu no dia 24 de agosto de 1934. A primeira posição de Fernandez foi a
lateral esquerda, onde não conseguiu convencer o técnico Geóvio (pai do
ex-goleiro do Brasil, de Pelotas, George Geóvio, já falecido), até porque
estava muito gordo, e fora de forma. Em vista disso, foi treinar como goleiro e
ganhou de imediato a posição de titular.
O sucesso foi tão grande que alguns clubes uruguaios
passaram a observá-lo. Escolheu o C.A. Peñarol, de Montevidéu, onde permaneceu
pelo período de 1 ano e 6 meses, na categoria juvenil. Depois, jogou pelo River
Plate, também de Montevidéu, onde ficou pouco tempo, sendo contratado pelo
Velez Sarsfield, da Argentina. Após oito meses, retornou à capital uruguaia,
onde disputou posição com dois extraordinários goleiros, Maidana e Dimitrio,
ambos da seleção de seu país.
Como as chances de chegar a equipe de cima eram poucas,
foi emprestado para a seleção de Paso de los Toros. Sua fama chegou ao Brasil,
e acabou contratado pelo Grêmio Santanense, onde se sagrou campeão do
centenário, em 1957.
Fernandez viu e participou de muitas situações inusitadas
em sua longa carreira. Recorda de uma viagem com a seleção do interior do
Uruguai, em hidroavião, até a cidade de Salto. O aparelho não conseguia
amerissar (pousar em água), o que deixou o grupo de jogadores em pânico. Após
várias tentativas, finalmente o pouso nas águas turvas do Rio Negro.
Em São Gabriel, lembra que no G.E Gabrielense havia um
diretor de nome João da Luz, que certa ocasião deu tremendo susto no técnico do
Cruzeiro, Luiz Alberto Vives. O Cruzeiro queria treinar no estádio, mas a chave
estava com João da Luz, que se negava a entregá-la. Dom Vives resolveu ir para
a briga, mas foi desencorajado depois que o dirigente do Gabrielense sacou de
um tremendo revólver. Vives, para não ser ferido teve que correr em volta do
estádio.
Fernandez. (Foto: Arquivo de Nilo Dias)
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