*O poeta e escritor
gabrielense, Fernando Almeida Poeta, nos brinda com um conto (ele garante que a
história é verídica), sobre um lobisomem que costumava aparecer em algumas
plagas do município de São Gabriel. Que os nossos leitores se deliciem com a história.
"Conheci um senhor chamado João Honório, morador de uma localidade denominada Rincão do Claro, no interior do município de São Gabriel. João Honório era um curandeiro que receitava remédio para todo aquele povo, pois ali não havia sistema de saúde, pelo fato de ficar muito distante da cidade. Na pratica funcionava muito bem, talvez mais valesse a fé do que o café. Em terra de cego quem tem um olho é rei.
Numa noite de sexta-feira, lua cheia, João Honório
voltava do atendimento de um paciente, chegando à sua casa, ali pela
meia-noite. Ao abrir a cancela do potreiro deparou-se com um bicho muito
esquisito: orelhudo, pelagem longa e caminhava meio cambaleando, junto de seus
dois cachorros.
Seguiram ao lado de seu cavalo, em direção ao rancho.
João Honório não era um índio muito assustado, mas, naquela hora, arrepiou o
pelo. Por sorte o bicho encarreirou em direção ao arvoredo, e João Honório
aproveitou para desencilhar o cavalo no galpão e entrou pra dentro de sua
moradia.
Era um lobisomem, uma mística de lobo com homem, mais pra
lobo que pra homem. E o cachorro grande se tornara amigo dele, mas um pequeno,
seu inimigo. Continuaram embaixo das laranjeiras até a madrugada. João Honório
sem saber o que fazer ficava espiando o bicho pelas frestas do rancho. Até enquadrou
na mira de sua arma, mas faltou coragem para atirar.
A cachorrada da redondeza fazendo alarido, e uivando como
se presentissem que tinha algo estranho por aquelas bandas. Talvez o próprio
vento inalasse um tipo de cheiro por aqueles pagos afora. No outro dia o
comentário foi grande pela vizinhança, alguns riam debochando do fato, a
maioria fechava as casas cedo e poucos os que se arriscavam a sair à noite.
Mas o bolicho estava sempre cheio de fregueses até altas
horas. E o comentário era um só, não se tratava de outro assunto. Pedro
Carvoeira não estava gostando muito daquela situação, e até falou se
encontrasse o bicho iria pegá-lo pela orelha e levar lá no bolicho para lhe
oferecer um trago de canha. Na verdade ele não acreditava em assombração.
Pedro Carvoeira naquela mesma noite estava chegando à sua
casa e o lobisomem o esperando, bem na porta do galpão onde dormia. Pedro
Carvoeira usava dois 38 na cintura. De vereda deu-lhe dois tiros, mas nem
cócegas fez no animal. Pedro conseguiu abrir a porta do galpão, mas o lobisomem
entrou primeiro e ficou atrás da cama. Os olhos eram duas bolas de fogo. Pedro
pegou uma taquara comprida para cutucar o bicho, mas não conseguiu acerta-lo. Desistiu e foi dormir no quarto de seus pais.
Esse lobisomem virou atração naquela localidade. Andava
pela estrada, visitava as casas de alguns moradores, perturbando à noite. Adão
Ligeiro e Caburé estavam indo estrada afora numa noite de luar. Ao cruzarem o
Passo das Carretas, Caburé num olhar de relancina percebeu que vinha um cusquinho
a trotezito pela estrada. Mas nada de mais, pois era normal transitar guaipeca à
noite.
Mas bah, a cosa foi feia !
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