sábado, 22 de fevereiro de 2014

O "morto" e o carroceiro

Em 1918 a gripe espanhola devastou o mundo, de ponta a ponta, matando 24 milhões de pessoas. Poucos países escaparam da epidemia. No Brasil foram mais de 25 mil vítimas, entre elas o presidente da República, Rodrigues Alves. Em São Gabriel, segundo relatos da época, mais de 200 pessoas morreram num espaço de pouco mais de um mês.

Os sepultamentos eram feitos às pressas, numa carroça funerária chamada de "Maria Crioula", pertencente à Santa Casa de Caridade. Tanto o carroceiro, quanto o coveiro,  andavam exaustos e fartos de conduzir mortos e sepultá-los. Eram 10 ou 12 por dia.

Naquele tempo quando alguém morria, a casa ficava de luto, e as portas eram fechadas. Uma semana depois se abria uma fresta, como um sinal para se receber as visitas de pêsames. Com a calamidade da gripe as portas todas acabaram ficando bem fechadas, pois não se sabia ao certo os perigos e de como era o contágio da nova gripe.

Muitas histórias foram contadas naquele tempo de epidemia. Algumas verdadeiras, outras nem tanto. A tradição oral encarregou-se de guardar um acontecimento fantástico, tragicômico até, que dizem ter sido real. Um doente sofreu uma síncope e desfaleceu por algumas horas. Dado como morto, estava sendo conduzido para o cemitério, ao tranco lento da carroça funerária. No meio do caminho, veio a si e rebentou a tampa do caixão.

O carroceiro, ouvindo o barulho, virou-se para trás e viu o "morto" sentado no caixão e a sorrir. O susto foi tão grande, que o pobre homem desceu da carroça e saiu correndo rua afora, seguindo pelo "morto", vestido com um camisolão branco, que gritava "para aí, moço... para aí, moço".

Na antiga "Ponte Seca" alguns populares acudiram o carroceiro. E em seguida surgiu o "morto", bastante suado e agitado pela correria de várias quadras. Contam que o burro e a carroça chegaram logo em seguida, o que tornou mais "fantasmagórica" a perseguição. (Extraído do livro "História de São Gabriel", de autoria do historiador Osório Santana Figueiredo")

Encenação do carroceiro em fuga.

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