sábado, 15 de novembro de 2014

Heróis de guerra, nem tanto

São Gabriel sempre esteve presente em momentos importantes da vida nacional, através de unidades do Exército que nela foram sediadas e em militares que se destacaram nessas contendas. Muitos entraram com merecimentos para a história, outros nem tanto.

E por isso deve se dar méritos ao historiador Osório Santana Figueiredo, que sempre que pode cita em seus livros, crônicas ou em conversas com amigos, vultos que não tiveram o merecido reconhecimento da história.

Seguidamente converso com o historiador pela modernidade dos meios de comunicação, em especial a Internet. E tenho perguntado sobre várias coisas de um passado distante, e o historiador sempre responde com gentileza e dados esclarecedores. Num desses contatos, fiquei sabendo de dois fatos realmente bastante interessantes.

Um deles teve como personagem um preto velho de nome Cesarino, morador do “Cerro do Minuano”, no “Cerro do Ouro”. Segundo o seu Osório, que o conheceu bem, tratava-se de um sujeito falante e por tradição oral conhecia toda a “Campanha de Canudos”.

Quando o Presidente Castelo Branco decretou uma pensão para os heróis de “Canudos”, o historiador mandou chamá-lo e pediu-lhe os documentos, para que tivesse acesso ao benefício.

Ele respondeu que os documentos todos haviam sido queimados numa casa em São Sebastião. Seu Osório interessou-se pelo caso e apelou ao coronel comandante do Regimento, que tomou a questão a peito, e foi revirado todo o Arquivo do Exército. E nada acharam.

Tempos depois um velho amigo de Cesarino contou que tudo que ele sabia, era porque ouvira falar. E como tinha o dom de decorar tudo, costumava dizer que estivera lá. E como era contemporâneo de muitos veteranos tinha tudo na ponta da língua. Por fim ele mesmo pediu para que parassem de pesquisar. O seu Osório sabia que ele era casado, mas não guardou o nome da esposa.

A segunda história envolveu um homem chamado Zeferino, tocaio no nome, sobrenome e amigo de um outro Zeferino, esse herói da Guerra do Paraguai. Sabia "tim por tim" do que foi aquela campanha, contado pelo veterano.

Logo depois de o Zeferino, herói, ter falecido, ele se apresentou como sendo o verdadeiro. Ouvido por oficiais, em uma longa entrevista, para saber se tinha direito a uma pensão vitalícia, ele enganou direitinho.

Como foram consideradas verdadeiras as suas narrativas, passou a receber a pensão. Quando veio o dinheiro foi com todos os atrasados. Ao regressar para casa no Cerro do Ouro, passou na estrada por um tio do historiador Osório Figueiredo, que estava de pouso com a carreta na Sanga Funda.

Como eram amigos, ficaram juntos, batendo papo, e Zeferino lhe contou a história da pensão e disse que levava muito dinheiro em baixo dos pelegos. E até morrer recebeu o benefício. Já no fim da vida, o falso Zeferino, com a mente velha e cansada, acreditava ser verdade que ele havia estado na Guerra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário