segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"Traíra Velho" e "Traíra Novo"

Salvador Antônio Pires era o seu nome, de apelido “Traíra Velho”. Era filho de um capitão da Guerra do Paraguai de mesmo nome. Foi uma figura muito conhecida na São Gabriel de anos atrás. Trabalhava de cambista, vendendo bilhete de loteria e ao mesmo tempo era cobrador de firmas comerciais. E também desportista, um verdadeiro campeão no jogo de bocha. 

A casa em que morava foi construída num terreno que antigamente serviu de cemitério. Dizem que certa noite ao procurar os chinelos embaixo da cama, topou com ossadas humanas. Pensou até em vender a casa, mas desistiu depois que ela foi toda benzida e nada mais de estranho aconteceu.

Era metido a poeta, tendo escrito vários poemas, sonetos, rimas e quadrinhas. Um de seus versos mais apreciados dizia: “Ó! Quem me dera/Partir para os paramos de luz/Para viver eternamente/ Nos braços de Jesus! (Trechos copiados do livro “São Gabriel na História”, de autoria de Aristóteles Vaz de Carvalho e Silva)

Eu consultei o historiador Osório Santana Figueiredo, para saber mais detalhes sobre a vida dessa figura humana. Disse ele que conheceu muito o “Traíra Velho”, que costumava ir ao quartel onde o historiador servia para conversar com a turma. Era muito estimado. Seu Osório garante que gostava de conversar com ele. Tinha muitas histórias para contar. Boa prosa e como figura pobre vestia-se o melhor possível. Não dispensava a gravata e o chapéu.

E conheceu também o “Traíra Novo”. Este assentou praça junto com o historiador em 1946. Era uma criatura muito boa, mas que não batia muito bem da cabeça. Certa vez o sargento ensinando ele a marchar para a direita e esquerda, notou que não fazia a menor diferença.

Certo momento o sargento perdeu a paciência e agarrando ele das mãos começou a repetir: “esta é direita, esta é esquerda”. E repetia: “esta é esquerda, esta é direita”. E depois mais calmo perguntou: “Traíra. Qual é a tua mão esquerda?” Ele olhou firme para o sargento e respondeu: “agora não sei, o senhor misturou tudo”.

O sargento Silvio num ato de impaciência atirou o gorro para cima e saiu, foi dar uma volta. Enquanto isso a soldadama  gargalhava sem parar. No fim ele foi dispensado do E Exército. Morreu na frente de um carro.

Seu Osório não sabe mais nada sobre essa família, que no seu entender foi extinta em São Gabriel, já que não conheceu mais nenhum descendente. 

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