domingo, 1 de fevereiro de 2015

Um valente general farrapo

João Antônio da Silveira nasceu no decênio de 1790 e faleceu em São Gabriel a 28 de março de 1872. Tomou parte ativa na campanha de 1816. Em 1835 achava-se reformado no posto de tenente-coronel e residindo em São Gabriel. Aí veio encontrá-lo a Revolução Farroupilha, da qual foi um dos maiores vultos e um de seus grandes generais.

Era dotado de excelsas virtudes morais e de extraordinária bravura. Modesto, abnegado e desprendido, foi promovido a general contra sua vontade. Seus extraordinários serviço davam-lhe direito a esse posto e o governo rio-grandense o elevou a general do Exército Republicano por decreto de 3 de julho de 1841.

Com o fim de evitar essa promoção escreveu João Antônio uma carta a Uchoa Cintra, onde dizia: “Isso é completamente de meu desagrado, pois a recompensa que espero de meus serviços é que me deixem sossegado logo que se conclua a guerra e que não se conte comigo nem para inspetor de quarteirão”.

Terminada a luta foi residir em São Gabriel, mas ai não pode descansar como pensava. Acima de seus desejos estavam seus sentimentos de brasilidade e por isso atendeu, pressuroso, ao chamado do governo imperial em 1851. Foi-lhe então confiado o comando da 12ª Brigada de Exército, organizada pelo Conde de Caxias.

Quando em fins de 1864 foi organizada uma divisão sob as ordens de Canabarro, coube-lhe o comando da 2ª Brigada dessa divisão. Passou depois a comandar esta, em substituição de Canabarro, submetido a Conselho de Guerra.

Prestou assinalados serviços e concorreu para a organização do 2º Corpo de Exército levantado no Rio Grande do Sul, usando do grande prestigio de que gozava e com o seu exemplo, empunhando quase octagenário, as armas para a defesa da Pátria.

É um dos mais ilustres varões do decênio Farroupilha e dos mais lídimos exemplos do patriotismo de nossos maiores. Amava extremamente sua província natal, mas sabia sentir o Brasil e por isso sempre o colocou acima de seus ideais políticos e o serviu com abnegação, em todas as crises externas, durante mais de meio século". (Artigo do general E.F. Souza Docca) 

O notável historiógrafo e jornalista Apolinário Porto Alegre escreveu o seguinte sobre o general João Antônio da Silveira: “Ele foi um dos que mais se esforçaram pelas liberdades rio-grandenses no decênio revolucionário. Desde 20 de setembro, como capitão da Guarda Nacional, tomou parte no movimento e desde essa data sua fama cresceu de dia em dia. Idolatravam-no os gaúchos. Suas feições varonis radiavam a luz de bondade que aluía do coração.

Era o que era, nem mais nem menos, porque não ocultava jamais os seus sentimentos pessoais. Caráter sem dobrez, inteligente, posto que rude, ressaltavam-se numa honestidade a toda a prova, a par de uma bravura e sangue frio extraordinários.

Aí vão fatos que lhe são concernentes. Uma noite no acampamento, deitado sobre as costas, despertou com desusado peso no estômago. Ao vago e bruxoleante clarão da fogueira, vê uma grande serpente que, enrodilhada, parecia adormecida. Não se moveu.

Camarada, disse ele ao ordenança que perto dele dormia. Que deseja comandante? Não faça barulho, tome um tição e devagar aproxime desta cobra que veio dormir em cima de meu peito. O soldado assim o fez. O réptil, diante do fogo, foi lento e lento desenroscando-se e saindo.

Quando se deu a tomada de Rio Pardo, em 30 de abril de 1838, comprou ele por 81 mil réis um chapéu na loja de um negociante italiano e, como não tivesse dinheiro, passou-lhe um vale que, depois dum ano foi resgatado.

Feita a paz em 1845, os débitos que foram tomados sob sua assinatura, ele os pagou desprezando a cláusula do tratado em que o Império se responsabilizava pelas dívidas da Revolução. Para este efeito, vendeu a Fazenda e recomeçou a vida como tropeiro, ora carreteando. E eram estes, concluiu o autor, os bandidos e saqueadores, segundo o jornais da legalidade”.

Segundo registra, ainda, M. Marafiga, sobre o general João Antônio da Silveira, que: “Terminando a Revolução, onde na ata da pacificação de Ponche Verde consta a sua assinatura, o valente general farrapo recolheu-se a vida privada, ganhando sol a sol o seu pão diário, tal a honradez dos heroicos combatentes.

E quando faleceu em São Gabriel, não havia no rancho deste denodado farroupilha, um lençol para cobrir seu corpo, o qual fora tantas vezes, posto a descoberto nas cargas de Cavalaria e nos entreveros em defesa da integridade da liberdade e da soberania do Rio Grande”. (Fonte: Livro "São Gabriel na História", de autoria de Aureliano Vaz de Carvalho e Silva)

Foto publicada na reportagem "História Ilustrada do Rio Grande do Sul", de autoria do jornalista Elmar Bones)

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