sábado, 6 de junho de 2015

Lembrando Plácido de Castro

*Na foto abaixo, trecho da rua Barão de São Gabriel, vendo-se a Relojoaria de Ismael Meyer (seta) onde trabalhou Plácido de Castro, o "Libertador do Acre", na sua adolescência, estudando a noite. Depois foi trabalhar em Bagé, ainda no ramo relojeiro. Já em São Francisco de Paula, foi funcionário do cartório de um de seus irmãos por parte de pai.

Regressando a São Gabriel arrumou emprego na casa comercial de Vitor Barreto de Oliveira e Manoel Pinto da Costa Brandão Júnior, na qual permaneceu até os 16 anos, quando prestou serviço militar.

Em 12 de dezembro de 1889, completando a idade almejada para servir às armas, a 27 assentou praça no glorioso 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, aquartelado em São Gabriel, tendo por Ordem do Dia nº 92, de 7 de agosto de 1890, reconhecido como segundo cadete.

Nesse ano passou como aluno da Escola Tática e de Tiro, de Rio Pardo, obtendo grau 7, após exames finais. Em 1802 obteve licença do Ministério da Guerra para matricular-se na Escola Militar, em Porto Alegre, quando já era segundo sargento, mas não pode ser matriculado por falta de vagas. Renovada a matricula em 1803, foi preterido novamente, pelo seguinte motivo:

Chegando Plácido de Castro à capital do Estado, ficou adido ao 13º Batalhão de Infantaria, enquanto se lhe processava o encaminhamento dos papéis para o ingresso na Escola. Certa noite, porém, foi dada ordem ao 13º Batalhão de seguir imediatamente para a fronteira, onde as tropas federalistas de Joca Tavares estavam preparadas para a sangrenta revolução que se seguiria posteriormente.

A ordem de embarque não fazia menção sobre os que se encontravam adidos para efeito de matricula na Escola Militar, e Plácido de Castro, esgotada toda a argumentação, não teve outra alternativa senão acompanhar seu Regimento. Somente quando o Batalhão chegou a São Gabriel é que teve ordem de mandar retornarem os futuros alunos da Escola, em cujo número se encontrava o gabrielense.

Assim, em fevereiro de 1893, afinal conseguiu Plácido de Castro matricular-se e iniciar seus estudos, sob a convulsão que existia no Rio Grande, de um lado os partidários de Floriano Peixoto e de outro lado os revolucionários chefiados por Silveira Martins e Joca Tavaeres. Dividida estava a preferência dos alunos.

Ao finalizar esse ano, os estudantes simpáticos ao Governo, assinaram um memorial, pedindo o fechamento da Escola e seu aprovaitamento no combate à Revolução que ia acesa no Estado. Plácido não assinou o manifesto, pois declarou, estava apenas desejoso de estudar e progredir na carreira que abraçara.

Dessa maneira tornou-se suspeito, desligaram-no da Escola, prenderam-no e o encaminharam, sob escolta para o "Corpo de Transportes", em Bagé. Não foi dificil a Plácido de Castro, face a injutiça que estava sofrendo, transferir-se para as hostes de Joca Tavares, às vésperas do célebre "Combate do Rio Negro".

O guerreiro gabrielense, no curso da guerra, a par de demonstrar bravura sem igual, demonstrou sempre gestos de nobreza e respeito a vida do próximo. Acometia o adversário quando era mister fazê-lo, porém o poupava quando havia oportunidade.

Ao término da Revolução de 1895, conquistara o alto posto de major, com apenas 22 anos de idade, nada condicionando em troca de sua adesão aos revolucionários. Foi digno de registro, não ter querido aproveitar-se da anistia dada a todos os revolucionários, quer militares ou estudantes como seu caso. Esse foi um dos mistérios da sua vida.

A vida de Plácido de Castro tornou-se então, uma verdadeira "via-crucis". Guarda do Colégiio Militr do Rio de Janeiro, funcionário da Companhia Doca de Santos, e, finalmente agrônomo que era, resolveu a conselho de amigos dirigir-se a Manaus, onde logo integrou-se na colônia rio-grandense que então lá havia.

Somente em 21 de maio de 1900, conforme documentos da Campanha do Acre, é que Plácido de Castro começou a interessar-se pelo estado em que se encontrava aquele território, disputado entre acrenses e bolivianos.

Foi quando se achava no lugar denominado "Goiânia", na Bolívia, demarcando o seringal "Vitória", que teve conhecimento pelos jornais, do arrendamento do Acre a um sindicato norte-americano. Todo seu patriotismo revoltou-se, prevendo uma séria ameaça à integridade do Brasil.

O bravo rio-grandense, guardando seus instrumentos profissionais, empunhou a espada de ,solddo, de major, das cruental batalhas de 93. Arregimentou gente que lhe era afeiçoada e que, por ele daria a própria vida.

Paradoxalmente, preparava-se para guerrear a Bolivia, quando o próprio Governo de seu país, reconheceu os direitos bolivianos sobre o Acre. Do que foi essa epopéia, a exiguidade desta história, não poderia comportar.

E o povo brasileiro, encorajou Plácido que, juntando o heroismo gaúcho à bravura do cearense, que predominava no Acre, iniciou as hostilidade contra a Bolívia. Os revoltosos derrotaram os bolivianos, forçando a retirada de todas as suas forças e proclamaram a autonomia do Acre, organizando-se um Governo provisório chefiado pelo coronel Plácido de Castro.

Afinal, sob os auspicios do Barão do Rio Branco, que deu o nome a capital do Acre, foi assinado em 1903 o "Tratado de Petrópolis", no qual a Bolívia cedia ao Brasil o "Território do Acre", recebendo, em troca setores territoriais na sua fronteira com o Estado do Mato Grosso, além de uma indenização de 2 milhões de esterlinos.

Comprometia-se, ainda, o Brasil, de construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, que, contornando as cachoeiras de Santo Antîonio, no rio Madeira, daria escoamento aos produtos de ampla faixa do território boliviano.

Entretanto, os meios administrativos do país, invejosos da glória do bravo gabrielense, tramaram toda a sorte de calunias e infâmias com o ilustre brasileiro, que se sobrepuha a tudo em nome da Pátria. Desgostoso com os acontecimentos, resolveu voltar ao seu Estado natal, para dedicar-se exclusivamente às lides ruralistas. Entretanto, o destino teria um novo roteiro para o herói.

Plácido de Castro, no dia 9 de agosto de 1908, foi covardemente assassinado, a mando de Gabino Besouro, de emboscada, justamente na véspera de retornar ao Rio Grande do Sul e a São Gabriel, seu berço natal.

O Museu João Pedro Nunes, em São Gabriel, atualmente desativado, conserva como reliquias inestimáveis as abotoaduras, relógio e corrente de ouro, anel, facão e até parte da camisa que vestia o herói gabrielense quando assassinado.

Existe ainda, um precioso cartão de prata com a inscrição: "Ao bravo coronel Plácido de Castro - São Gabriel, 1-1-1906". Há também uma estrela de ouro, onde está escrito: "Pela Pátria e para a História. A Plácido de Castro oferece, dedica e consagra o seu Exército Acreano, 24 de janeiro de 1903". Além desses raros objetos, existe no citado Museu um volumoso arquivo deixado pelo heróico conterrâneo. (Fonte: Texto e foto, livro "São Gabriel na História", de autoria de Aristóteles Vaz de Carvalho e Silva)


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