terça-feira, 22 de setembro de 2015

Chimangos e Maragatos

Segundo a “História do Exército Brasileiro”, de autoria do Estado Maior do Exército, o Rio Grande do Sul, desde 1898 a 1922, esteve submetido ao “arbítrio paternalista” de Borges de Medeiros, numa verdadeira “ditadura republicana”, amparada na Constituição Estadual, que vinha de Júlio de Castilhos, com o seu caráter positivista e autoritário.

A oposição, comandada por Assis Brasil, natural de São Gabriel, quando viu alterado pelo Governo o resultado das eleições de 1922, segundo todas as expectativas, levantou-se em armas para defender o regime democrático.

Em 1923 vários grupos armados enfrentaram o forte esquema militar, montado pelo “velho Borges”. De Bagé, Dom Pedrito, Lavras, Caçapava e São Gabriel saiu a “3ª Divisão do Exército Libertador”, operando na região Centro-Sul.

Na Região Sul atuou a “4ª Divisão do Exército Libertador”, comandada pelo general Zeca Neto, de 72 anos, e natural de Jaguarão-Chico, no lado uruguaio da linha divisória, mas radicado muitos anos em Camaquã.

Entretanto, a mais destemida tropa revolucionária foi a comandada por Honório Lemes, o “Leão do Caverá”, com gente de São Francisco de Assis, Rosário, Alegrete, Quarai e Uruguaiana.

Em São Gabriel, segundo o historiador Osório Santana Figueiredo, em seu esplendido livro “São Gabriel desde o princípio”, foi criado o 3º Corpo Auxiliar, comandado pelo tenente-coronel Manoel Bica, que integrava a 6ª Brigada Provisória, ao comando do coronel Claudino Nunes Pereira. Toda essa força foi lançada contra os revolucionários. A cidade esteve nas mãos de uns, ora de outros os combatentes.

Conta este historiador que, em 20 de maio de 1923, pelas 10 horas da manhã, o general Honório Lemes entrou triunfante na cidade, percorrendo várias ruas, à frente de numerosa coluna de cavalaria “Maragata”.
Houve festa em sua homenagem, e a força acampou a um lado da cidade, próximo do cemitério, onde a foram visitar numerosos grupos de pessoas, sobretudo damas e senhorinhas da sociedade local.

O general Honório Lemes visitou o doutor Fernando Abbott, que estava adoentado. Mas, tão logo a coluna revolucionária deixou a cidade, chegou uma coluna governista, comandada pelo próprio general Flores da Cunha. Acampou na Estância do Pirai.

Após quase 10 meses de luta resolveu o Governo da República intervir, pela mediação do Ministro da Guerra, marechal Setembrino de Carvalho.

Na sessão de 21 de novembro de 1924 ficou constando que o serviço de assistência, denominado “Cruz Vermelha Maçônica”, mantido pela Loja Rocha Negra, ante a ameaça de forças revolucionárias invadirem a cidade, foi mandado extinguir, por não mais ser necessário.

Como resultado do "Tratado de Paz de Pedras Altas" a Constituição Riograndense foi modificada, não permitindo as reeleições.

O historiador Celso Schrôder narra em seus inúmeros trabalhos publicados, que na Revolução de janeiro de 1923, contra o 5º quinquênio do governo do doutor Borges de Medeiros, São Gabriel também tomou parte, levantando-se em armas na campanha do município, o elemento oposicionista no dia 20 de abril, indo incorporar-se a Divisão do general Estácio Xavier de Azambuja, da qual formou a 2ª Brigada, comandada no início pelo coronel José Narciso Antunes, que foi intendente de 1896 a 1907. E depois pelo coronel Camilo de Freitas Mércio e composta de dois Regimentos, dirigidos pelos coronéis Clarestino Bento da Silva e Sabino Rosado, respectivamente.

Pelo outro lado, o elemento governista também congregou-se, formando mais tarde, uma Guarda Republicana e um Corpo Provisório de Cavalaria, comandado pelo coronel Manoel Bica.

A ocupação de São Gabriel, por Honório Lemes, se deu como já descrito, em 20 de maio. E a 26, coube ao general Flores da Cunha, governista, reocupar a cidade. A 30, se deu o choque de ambas as forças no Passo dos Alemães, no arroio Jacaré.

Em 19 de setembro, houve tiroteio junto à cidade, na ponte do rio Vacacaí; a seguir outros pequenos combates. Mas a 27 de outubro, no 6º Distrito, os renhidos combates de Olhos D’água e Passo do Ibicuí da Armada, entre Flores da Cunha e Honório Lemes, sendo ferido e aprisionado o caudilho uruguaio Leônidas Espartano Barrios, mais conhecido por Negrito Barrios.

Seguiu-se o armistício de 7 de novembro, e em 14 e 17, estiveram na cidade e foram recebidos festivamente os generais Honório Lemes, Felipe Neri Portinho, Leonel Maria da Rocha e João Rodrigues Mena Barreto.
Como se vê, nessa altura dos acontecimentos, São Gabriel era nitidamente oposicionista.

Depois do "Tratado de Pedras Altas", em 14 de dezembro, reuniu-se em São Gabriel um congresso das oposições coligadas, com representantes de todos os municípios, quando foi fundada em 12 de janeiro de 1924 a “Aliança Libertadora”.

Quando estava sendo preparado o movimento revolucionário de São Paulo, esteve por duas vezes em São Gabriel, em missão junto à guarnição federal, o capitão Juarez Távora, nos meses de janeiro e fevereiro de 1924.

Na revolução iniciada no Estado em 29 de outubro de 1924, apesar da passagem pelo município das forças do coronel Claudino Nunes Pereira e do general Honório Lemes, não houve combate algum entre os beligerantes, à não ser o ataque a Estância do Céu, pertencente ao doutor José Antônio Martins, levado a efeito pelo major legalista Adão Marinho da Silva, em 24 de novembro.

Por ocasião da invasão feita pela general Honório Lemes em 29 de setembro de 1925 alguns grupos revolucionários apareceram no município. Porém com a rendição daquele chefe revoltoso no Passo da Conceição em 8 de outubro, os mesmos desapareceram sem luta. Estava escrito, entretanto, que a hora da tranquilidade não soaria ainda para o município.

Em 1926, na noite de 13 de novembro, revoltou-se uma das unidades da Guarnição de São Gabriel, o 9º Regimento de Cavalaria Independente, dirigido por diversos sargentos, e depois de tirotear até o amanhecer de 14 com os elementos legalistas, seguiu em direção ao município de Caçapava.

No dia 19 revoltou-se outra unidade da Guarnição, o 6ºGrupo de Artilharia a Cavalo, sob o comando do 1º tenente Vicente Mário de Castro e foi em seguimento do 9º Regimento de Cavalaria Independente, com o qual fez junção em Caçapava, ficando ambos aguardando  a chegada das forças que haviam se revoltado em Santa Maria, sob a direção dos 1ºs tenentes Alcides Gonçalves Etchegoyen, Nélson Gonçalves Etchegoyen, Iguatemy Graciliano Moreira e Heitor Lobato do Vale.

Estas forças, compostas em grande parte de elementos gabrielenses, combateram ainda em novembro e dezembro, através do Estado. Inclusive o general Neto atravessou o município de São Gabriel, até se internar no Uruguai, no dia 30 de dezembro.

Em 15 de setembro de 1928 houve em São Gabriel uma disputadíssima eleição intendencial, para a sucessão de Antônio Cândido da Silveira. Concorreram três candidatos e o pleito depois foi anulado pelo Superior Tribunal do Estado. (Fonte: Livro "Rocha Negra, a Legendária", de autoria de Morivalde Calvet Fagundes)

Maragatos de Honório Leme, o "Leão do Caverá", na Revolução de 1923. (Foto: Isaias Evangelho)

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