segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O goleiro Sílvio de Fária Corrêa


O "Diário de Notícias", extinto jornal que era editado em Porto Alegre deixou uma grande contribuição ao futebol do Rio Grande do Sul, com matérias que contam bonitas histórias, que certamente, não fosse isso, ficariam para sempre perdidas.

É o caso da presente matéria que revela algo que talvez poucos gabrielenses saibam, que o doutor Sílvio de Fária Corrêa, que dá seu nome ao estádio municipal de São Gabriel, um dia jogou futebol e foi um dos grandes goleiros que vestiram a camisa gloriosa do E.C. Cruzeiro, de Porto Alegre.

Sílvio, como era conhecido, contou ao velho "Diário" fatos históricos da fundação do E.C. Cruzeiro, alguns com certeza desconhecidos da maioria dos torcedores alvi-azuis da Capital, como o hino de guerra dos estrelados, que foi o canto de moços idealistas, que colocaram as primeiras pedras de alicerce sobre o qual assenta hoje a organização esportiva.

O doutor Silvio de Faria Corrêa, foi um conhecido advogado e desportista de São Gabriel, muito conceituado na época em todo o Estado, principalmente dentro do antigo Partido Libertador , que lhe conferiu os lugares de membro efetivo do Diretório Nacional e membro dos diretórios Estadual e Municipal de São Gabriel.

O atual E.C. Cruzeiro, a principio era uma sociedade de "bailanta", sediada no Partenon. Em 1913, entrou para a Liga com um contingente de jogadores saídos das fileiras do S.C. Internacional: Pedro Pinto, Léo Pinto, Barbieri, Oscar, Carlos Mena Barreto, Celestino Prunes, Laurentino Bonorini, Cândido Borba, Vieira Paiva, Teciano Suqiera, etc.

A saída dos jogadores do Internacional deu-se por uma espécie de dissidência de jogadores. Entretanto, guardados por muito tempo, uma grande unidade moral entre cruzeiristas e internacionalistas. No time do Cruzeiro os jogadores eram divididos entre o primeiro e segundo quadros. A Sílvio coube, inicialmente o arco do quadro secundário.

Talvez a maior responsável pela aproximação entre Cruzeiro e Internacional, fosse a aversão ao Grêmio. Quando este jogava com o Internacional juntavam-se em desafio as torcidas alvi-azul e colorada. Não se tolerava a organização da "Baixada", também chamada de “clube de alemães”. Efetivamente, o Grêmio possuía muitos elementos de origem alemã, grandes jogadores como Schubac, Mordick, Telchmann e Hensans.

Dirigiam o Cruzeiro naquela época os senhores Mario Castelan, Felipe Janselmi, Cícero Soares, o popular “Sofia”, Paulo Mariath, Pacheco e os irmãos Artur e Cândido Canto.

Até 1915, o arqueiro do quadro principal alvi-azul foi o hoje general José Bina Machado. Nesse ano, porém, Silvio conquistou o arco do primeiro quadro onde se constituiu numa muralha quase intransponível. A sua agilidade, segurança e senso de colocação, deve o Cruzeiro a maioria de suas vitórias de então. Em 1916, participou da primeira partida intermunicipal do clube, jogando em Porto Alegre contra o São Paulo, de Rio Grande.

O jogo acabou empatado em 1 x 1, e Sílvio reclamou muito do juiz de gol, coronel Armando Catani, que anos mais tarde foi interventor na cidade de Rio Grande. Ele teria flagrado o goleiro devolvendo a campo uma bola que já havia transposto a meta.

Naquele tempo, o Colégio Militar fornecia o contingente maior para constituição dos quadros do Cruzeiro, o que talvez explique o ardor com que jogavam. Os times do Cruzeiro de então eram selecionados entre acadêmicos e alunos do referido colégio, de sorte que os jogadores poderiam sair do campo e entrar nas sociedades mais exigentes.

Sobre a situação dos jogadores de cor na época, Sílvio contou que não tinham entrada em nenhum dos clubes da Liga. A maior expressão de negros era constituída pelo S.C. Rio Grandense, time  de várzea, dirigido pelo pai do famoso compositor Lupicínio Rodrigues, que não conseguiu filiação na Liga, por ser integrado de elementos de cor.

Em 1917 o Cruzeiro realizou a sua primeira excursão, visitando a cidade de Montenegro, onde venceu o E.C. Montenegro por 2 X 0. A viagem foi a bordo do vaporzinho “Montenegro”. Na ocasião foi entoado pela primeira vez o ”hino de guerra” do Cruzeiro, de autoria de seu presidente, senhor Vitor Rodrigues, cuja letra era esta:

“Menelique/Tai tique, tai tique/La reine/Tei tuc, tei tuc/De la robine/Balisera pendant de la guerre/
Pur combatir/La Menelique/Cruzeiro, Cruzeiro, Cruzeiro”

O doutor Sílvio não soube dizer o significado desse hino,. Parecia-lhe, entretanto, que “Menelique” foi um rei africano que queria conquistar a rainha “Tei Tuc”. Mas assegurou que se tratava de um hino de grande efeito, que tinha o poder de inflamar os jogadores e os atirar a luta com grande entusiasmo.

O hino foi novamente entoado quando da segunda excursão do Cruzeiro, que se realizou em São Leopoldo, onde venceu ao Nacional também por 2 X 0. Nesse tempo a orientação técnica do time era dada por "Cangica", que depois tornou-se o tenente-coronel Aristides Prado.

No início de 1918, ano em que o Cruzeiro levantou o seu primeiro campeonato, Silvio, na iminência de formar-se e premido pela necessidade de dedicar-se mais seriamente aos estudos, deixou o arco contra a vontade geral. Foi substituído por Cícero Barreto, aluno do Colégio Militar.

A terceira excursão do Cruzeiro aconteceu em 1918, quando Sílvio já não fazia mais parte do quadro cruzeirista. Essa foi a mais sensacional de todas as excursões da época. O E.C. Pelotas tinha então o melhor esquadrão do Sul do Brasil. Integrado que estava de grandes jogadores, como o uruguaio Viola, Schegarai, os irmãos Varela, os paulistas Tufik e Moura, mais Cabelli e outros. Já havia batido o Grêmio e o Internacional. De sorte que o Cruzeiro embarcou para a “Princesa do Sul” como "bucha para canhão". Mas, desapontando os áureo-cerúleos venceu a partida por 3 X 2. 

Silvio, que na intimidade era conhecido por “Faria goal-keeper” só não integrou o Selecionado Gaúcho porque abandonou a prática do esporte em 1918, quatro anos antes de ser organizada a primeira representação estadual.

Foi entretanto um dos maiores craques de sua época. Por isso é que na história do futebol gaúcho o seu nome se escreve com letras de ouro. (Fonte: Jornal "Diário de Notícias", de Porto Alegre)

Doutor Sílvio deFária Corrêa. (Foto: Jornal "Diário de Notícias)

4 comentários:

  1. Ele era meu bisavô custaria de mais informações

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    1. Ele também é meu bisavô! Como se chama?

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  2. É um orgulho, para nós cruzeiristas ,de relembrar histórias como está de um valoroso atleta que engrandeceu o nosso esporte bretão .

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  3. Esta história enobrece, não só aos cruzeiristas, mas também aos Gabrielenses, que são nossos irmãos no esporte.

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