quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Antecedentes históricos

A história de São Gabriel é a mesma do Rio Grande do Sul em âmbito resumido. No tempo das Missões Jesuíticas, alguns tratados, bulas e outros documentos da época foram estabelecidos para garantir a divisão de terras e fixação de limites entre os domínios portugueses e espanhóis, sob cuja jurisdição encontrava-se o território rio-grandense.

Desses documentos, iremos apenas tratar dos que diretamente disseram respeito a São Gabriel, que foram inicialmente o Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494 e várias vezes retificado e o de Madrid em 1750, nos quais a Espanha e Portugal estabeleceram entre si os limites de suas conquistas coloniais.

O primeiro, firmado na cidade espanhola de Tordesilhas, na Província de Valladolid, estabelecia que as terras a Oriente e Ocidente dum meridiano a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde, pertenceriam a Portugal e Espanha, respectivamente.

Esses países eram os mais ativos quanto aos descobrimentos e, justamente por isso, viviam em constantes desentendimentos que redundavam em guerras frequentes. Como se observa, o próprio Brasil ainda não havia sido descoberto na vigência desse tratado.

O Tratado de Madrid firmado na capital espanhola em 1750, acertava entre Portugal e Espanha a troca da Colônia do Sacramento pelas Missões Jesuíticas, que se encontravam então sob o domínio dos padres espanhóis. Circunstância bastante curiosa é a de que em todos os tratados de limites estabelecidos, São Gabriel sempre ficou circunscrito na região atribuída à Espanha.

Ainda como determinação histórica digna de registro, a primeira estância jesuítica estabelecida em sua área, a Estância de São Miguel, teve como fundadores os espanhóís padre Cristóvão de Mendoza e Dom Félix de Azara, o fundador de São Gabriel.

Dificilmente os signatários dos Tratados cumpriam o consubstanciado nos pergaminhos, alegando dificuldades existentes ou forjadas, como aconteceu ao Tratado de Tordesilhas. Se o Tratado de Madrid foi cumprido com relativa pressa, deve-se apenas ao interesse de ambas as partes em ultimar a troca de possessões coloniais, prevendo interferências danosas e estranhas aos propósitos dos signatários.

Os padres espanhóis que dirigiam as Missões, diante do fato consumado, não se conformaram e resolveram resistir pelas armas à pretensão das Comissões Demarcadoras das áreas. Era então crença geral na Europa, inquietando sobremodo a Espanha a lenda, negada pela maioria dos historiadores, de dispor o domínio jesuítico de um poderoso Exército, tendo a frente o cacique Nicolau Neeguiru, que pretendia corar-se como imperador do Paraguai e das Missões Orientais do Uruguai, sob o nome de Nicolau I. Constava, ainda, já terem sido impressos os símbolos reais, inclusive cunhadas moedas com a efigie do pretenso monarca.

Além dos 7 Povos, as Missões eram constituídas por mais 23, sendo 13 no Paraguai e 10 na Argentina, quase todas elas situadas às margens do rio Uruguai. Escolhiam locais altos e planos para estabelecer os povoados, um pouco afastados dos rios para evitar-lhes a umidade das margens e os inconvenientes das inundações, segundo se crê.

Em 1631, além dos Povos conhecidos já tinham os jesuítas fundado 20 aldeias e um século após já possuíam 30 Povos, com mais de 100 mil almas. O Guarani era a língua geral de todas as Missões e para a qual os jesuítas organizavam vocabulários e gramáticas. Assim puderam transmitir seus ensinamentos, ordens, regulamentos militares, sermões e mesmo suas próprias memórias.

Durou século e meio o domínio dos Jesuítas nas Missões. As datas e fatos que se relacionam com o apogeu e a decadência das reduções, ficaram assim estabelecidas.

Com a expulsão dos Jesuítas pelo domínio espanhol em 1708, as Missões passaram a denominar-se ”Província das Missões “ e ficaram então subordinadas ao governador geral de Buenos Aires e ao Bispado do Paraguai.

Em 1801 as Missões passaram ao domínio dos portugueses. No ano de 1810 verificou-se a invasão de Artigas e em 1828 a de Rivera, completando a destruição dos 7 Povos.

Conhecida a disposição dos Jesuítas de antepor-lhe as armas, a Comissão Mista de Demarcação, fez-se apoiar por um considerável Exército a mando de Gomes Freire de Andrade pelos portugueses e Dom José Andonaegue pelos espanhóis.

Em 1768 esse Exército misto, tendo destruído os Guaranis e seu alferes real Sepé Tiaraju, em terras gabrielenses do Caiboaté, desbarataram as Missões, decretando-lhes a decadência total.

Além de Sepé Tiaraju e Nicolau Neenguiru, corregedores de São Miguel e São João, respectivamente, o Exército Guarani contava nessa aventura guerreira com mais os seguintes chefes:

Francisco Antônio, cacique do povo de Santo Ângelo que concorreu com 200 combatentes; Cristóvão Acatu e Bartolo Candu, caciques do Povo de São Luiz, com 150 guerreiros; Francisco Guaçu, corregedor do dito Povo e mais Mbaenguê, cacique do Povo de São João, com 150 combatentes e mais 400 de São Miguel, 50 de São Lourenço, 200 de São Nicolau e 200 de Concepción, num total de 1.350 índios.

O historiador gabrielense, general Ptolomeu de Assis Brasil em seu livro “Batalha do Caiboaté”, estabeleceu, até hoje sem contestação, geograficamente apoiado em mapas e documentos antigos, além do conhecimento próprio de toda a região, o local da morte do alferes mor Sepé Tiaraju, por alcunha “Sepé”, junto a um capão até hoje existente na sanga denominada de “Bica”, junto ao perímetro urbano da cidade de São Gabriel.

Dias após concretizou-se o morticínio de Caiboaté, onde a coluna indígena, agora sob a chefia de Nicolau Neenguiru, experimentou sangrenta derrota, perdendo acima de um milhar de bravos em solo gabrielense.

Terminou assim o dourado sonho do “Império Jesuítico”, tão sonhado pelos padres espanhóis que na sua ambição levantaram armas contra a própria pátria de origem, a lendária Espanha.

Arrastaram na sua insânia, infelizes indígenas que pagaram com as próprias vidas o erro de acreditarem na sublimidade utópica de uma causa impatriótica e como vimos, inatingível. (Fonte: Livro “São Gabriel na História”, de autoria de Aristóteles Vaz de Carvalho e Silva)

Cópia do "Tratado de Tordesilhas". (De Domínio Público)

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