segunda-feira, 11 de abril de 2016

São Gabriel, um celeiro de craques (Parte 2)

Sem futebol profissional o negócio foi prestigiar o futebol amador. E num clube local, o Oriental, surgiu o goleiro Dilon, que foi contratado pelo S.C. Internacional, de Porto Alegre.

Uma seleção amadora da cidade jogou contra a Seleção de Veteranos do Rio Grande do Sul, que tinha na sua equipe o grande craque Osmar Forte Barcelos, o "Tesourinha". Time de São Gabriel ganhou por 1 X 0, gol de “Sapinho”, que recém aparecia para o futebol.

Em 1 de maio de 1974, a cidade voltou a ter um time profissional, com a fundação da Associação São Gabriel de Futebol, tendo como seu primeiro presidente Clóbis Saccol dos Santos. Suas cores eram o verde e branco.

O time participou da Copa Cícero Soares em 1974 e 1975, da Copa Governador do Estado em 1975 e 1976 e do campeonato estadual da 2ª Divisão de Profissionais em 1976.

Paralelamente surgiu o Oriente F.C., com sede na Vila Maria. Disputou campeonatos da cidade com a Associação São Gabriel e tomou parte no Campeonato Estadual de Amadores em 1975, sem qualquer brilhantismo e também da Copa Governador do Estado, junto com a Associação São Gabriel.

O ano de 1976 foi o último da curta existência da Associação São Gabriel de Futebol. Em 1977, o prefeito Erasmo Chiappetta, por razões inexplicáveis, ordenou que tratores lavrassem o gramado do Estádio Silvio de Faria Corrêa, o que não permitiu a prática do futebol durante aquele ano.

Em vista disso, a Associação São Gabriel de Futebol, mesmo classificada para o campeonato principal do Estado foi obrigada a encerrar definitivamente as suas atividades.

O Oriente F.C. se licenciou e na década de 1990 ainda teve uma frustrada tentativa de disputar o campeonato estadual de amadores. Jogou algumas partidas e enrolou a bandeira em definitivo.

Em 1979, ressurgiu o futebol profissional em São Gabriel. Sob a liderança do radialista e jornalista Domingos Olímpio Rivas foi fundada a Sociedade Esportiva e Recreativa São Gabriel, o clube com maior duração na cidade, em toda a história.

Em 1980, um ano após ser fundada a S.E.R. São Gabriel conseguiu o grande feito de subir para a Divisão Principal do futebol gaúcho. No dia 29 de novembro, no Silvio de Faria Corrêa derrotou o F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande por 2 X 0, gols de Cigano e Duira. Antes, havia perdido em Rio Grande por 3 X 1.

Com isso a decisão foi para os pênaltis, com vitória da S.E.R São Gabriel e a consequente classificação junto com o Armour F.C., de Santana do Livramento, para o Campeonato Gaúcho da Divisão Principal de 1981.

Pena que o time não correspondeu, chegando ao fim do campeonato com a ingrata tarefa de decidir com o Juventude, de Caxias do Sul, quem cairia para a “Segundona” do ano seguinte. A S.E.R. São Gabriel chegou a essa situação depois de ter escalado de forma irregular o jogador Saraco, numa partida contra o São Borja e ter perdido os pontos.

Em jogo extra, realizado no Estádio dos Plátanos, em Santa Cruz do Sul, o Juventude venceu por 3 X 1 e se manteve na Divisão Principal.

A S.E.R. São Gabriel começou o campeonato com este time: Ricardo - Sérgio Vieira - Serginho - Caio Rocha e Miralha. Caio Flávio - Júnior (Paulo Molina) e Saraco. Batista - Cigano e Betinho.

As boas atuações do centroavante Cigano chamaram a atenção de vários clubes. Além de Internacional, Caxias e São Paulo, o Palmeiras também mostrou interesse em contar com o goleador. O clube paulista estaria disposto a pagar Cr$ 15 milhões por seu passe. Quem acabou ficando com Cigano foi o Internacional, de Porto Alegre.

Depois disso a S.E.R. São Gabriel nunca mais disputou a Divisão Principal do Campeonato Gaúcho. Andou sempre nas divisões inferiores e parando em determinados momentos. O retorno a elite gaúcha só aconteceu em 2001 já com a denominação de São Gabriel F.C.

Em 1988 os desportistas Rudyar Guarani de Bem e José Boneval Nunes, tentaram levantar novamente o E.C. Cruzeiro. A intenção inicial era disputar como amador, para depois de consolidado se tornar de novo profissional.

Mas não deu certo. Chegou a participar do Campeonato Estadual da categoria em 1988, tendo se sagrado campeão da Chave Fronteira. No ano seguinte em razão de dificuldades financeiras, encerrou definitivamente as atividades.

No dia 26 de abril de 1992, num jogo entre S.E.R. São Gabriel X Guarany, de Bagé, o hino do Rio Grande do Sul foi tocado pela primeira vez num estádio de futebol.

O que poucas pessoas sabem é que a primeira pessoa a defender a execução do Hino do Rio Grande do Sul, em jogos de futebol foi o tradicionalista gabrielense, João Carlos Fagundes Cardoso, de saudosa memória. Ele apresentou essa sugestão durante o 37º Congresso Tradicionalista, realizado na cidade de Pelotas.

Em 1998, algumas semanas antes do início do campeonato assumiu a presidência da S.E.R São Gabriel o coronel reformado do Exército, Pedro Martino, que conseguiu apoio da prefeitura para cobrir os gastos com as viagens.

No dia 13 de Outubro de 1998, depois de ficar inativo durante 32 anos o G.E. Gabrielense oficializou seu retorno aos gramados. Participou do Campeonato da Segunda Divisão de 1999.

O time contratou jogadores experientes como o goleiro Jairo, ex-14 de Julho, de Livramento e Penãrol, de Montevidéu, Ronaldo Martins, também vindo de Livramento, Luís Carlos Gaúcho, que brilhou no E.C. Pelotas e Márcio Ferreira, vindo do próprio São Gabriel. Ao fim do campeonato o clube se licenciou e não voltou mais as disputas oficiais.

No dia 13 de fevereiro de 1999 morreu o coronel Pedro Marins Martino, presidente da S.E.R. São Gabriel. Com isso assumiu a presidência do clube o desportista Roque Oscar Hermes.

Na tarde de 6 de novembro de 1999 a tragédia abateu o principal jogador da S.E.R. São Gabriel. O atacante Ademir Vega, que teve uma breve passagem pelo Internacional, de Porto Alegre, foi morto aos 25 anos com um tiro no peito, desferido pelo policial militar José Henrique Siqueira de Oliveira, com quem tinha uma rixa.

Nascido e criado em São Gabriel, Ademir Antunes dos Santos, nome de batismo do jogador, era o craque do time e ídolo em sua terra natal. Era filho de um ex-goleiro do futebol amador gabrielense, de apelido “Cabo Velho”, já falecido.

O crime chocou e comoveu a comunidade gabrielense. O caso repercutiu também em Bagé, onde o jogador era benquisto desde que atuou pelo Grêmio Bagé.

Ao final de 2000 a S.E.R. São Gabriel mudou a denominação para São Gabriel F.C. E com a desistência da S.E.R.C. Brasil, da cidade de Farroupilha, ganhou o direito de disputar em 2001 a Série “B" do Campeonato Gaúcho, denominada “Taça Doutor James Vidal".

Após 21 anos em divisões intermediárias, o futebol de São Gabriel em 2001 voltou à Primeira Divisão do estadual gaúcho. O clube não era mais S.E.R. São Gabriel, sim São Gabriel FC. O nome mudou, mas a estrutura continuou a mesma.

A lista de jogadores contratados contou com o atacante João Pedro, que jogou no América, do Rio de Janeiro e estava no Vitória de Setúbal, Portugal; o centroavante Gustavo, que passou pela categoria de juniores do Grêmio, pelo São Luiz de Ijuí, Bagé e por um time da terceira divisão da Alemanha; Jeferson Alves, que veio do Esportivo, e três atletas do Grêmio – o goleiro André, o quarto zagueiro Roberto e o volante Pansera, que chegou a ser titular do tricolor da Capital, quando o time era treinado por Emerson Leão.

Time base: Goico (André), Elizeu, Aléx, Charles e Itaqui. Darzoni, Ivanildo, Rondinha e Donizete. João Pedro e Fábio Petrolina. Técnico: Gilmar da Luz Gasparoni (Suca).

Em 2002 o São Gabriel F.C. participou do Campeonato Brasileiro da Série C. Foi o primeiro clube gabrielense a participar da competição. Ficou no Grupo 16 ao lado de S.C. Ulbra (Canoas), G.E. Brasil (Pelotas) e Tubarão F.C. (Tubarão-SC).
O time não foi bem. Não ganhou nenhum jogo, obteve apenas três empates.

No “Gauchão” de 2002 o São Gabriel foi bem, sendo campeão do primeiro turno. No segundo turno chegou em segundo lugar. Terminou a competição em, terceiro lugar.

O time base era: André, Darzoni, Elizeu, Scharles e Roberto. Ivanildo, Pansera, Itaqui e João Pedro (Donizete). Rondinha (Aléx) e Gustavo (Canhão).

Em 2003 o São Gabriel F.C. fez uma campanha sensacional, classificando-se para o quadrangular final, junto de 15 de Novembro, de Campo Bom, S.C. Internacional (Porto Alegre) e E.C. Juventude (Caxias do Sul). Nas semi-finais foi eliminado pelo Internacional.

Em 2004 o São Gabriel F.C. conquistou o seu 1º título, o Torneio de Verão Cidade de São Gabriel.

E também disputou pela primeira vez a Copa do Brasil e fez bonito. Na 1ª fase da competição eliminou o Figueirense F.C. (Florianópolis), clube integrante da Série A do campeonato Brasileiro.

Na segunda fase, foi eliminado pela S.E. Palmeiras (São Paulo), depois de ter vencido o primeiro jogo disputado no Estádio Sílvio de Faria Corrêa, por 2 X 1. No jogo da volta, no Parque Antártica em São Paulo acabou sendo eliminado da competição, perdendo por 4 X 0.

De qualquer maneira, o São Gabriel F.C. conseguiu projeção nacional, aparecendo nos noticiários dos jornais, emissoras de rádio e televisões de todo o Brasil. Os jogos do São Gabriel F.C. foram televisionados ao vivo para todo o país.

No “Gauchão” 2004 uma campanha apenas razoável, não conseguindo chegar as finais da competição. O time base tinha Altieri - Beto - Morelli e Mano Paulista. Eliseu (Márcio Ferreira) - Ivanildo - Pansera - Clóvis e Itaqui. Luciano Fonseca e Alê Meneses. -

O campeonato de 2005 não poderia ter sido pior para o São Gabriel F.C.. Uma série de equívocos fez com que o time realizasse uma péssima campanha e terminasse o ano rebaixado para a segunda divisão.

Nem uma histórica vitória sobre o Grêmio, em pleno Estádio Olímpico, em Porto Alegre foi suficiente para evitar o desastre. Em casa, a equipe deixou a desejar e foi presa fácil para muitos adversários. Com apenas 8 pontos ganhos em 36 disputados, 22% de aproveitamento, não tinha mesmo como se salvar.

O time base tinha Márcio, Jorge Luis, Aléx, Fabiano e Marcelo Xavie. Jonatan, Carlos Rogério, Luis Américo e Thales. Davi e Gustavo. Técnico: Cacau.

Em 2006 o time foi eliminado na segunda fase. Na Série B de 2007 não conseguiu voltar a elite do futebol gaúcho.

Time base de 2007: Vagner - Emerson - Carlão - Leandro e Itaqui. Cristiano Rio Pardinho - Bruno Ferro - Marcelo Xaxá e Marcelinho. Sinval e Fabinho.

O clube ainda participou em 2007 da Copa Paulo Rogério Amoretty, antiga Copa FGF, conquistando apenas três vitórias.

Na Série B de 2008 o time foi muito mal. Chegou a segunda fase da competição, mas acabou na última colocação.

O ano de 2009 foi trágico para o futebol de São Gabriel. Com nova direção, tendo na presidência o desportista André Petrarca, que fora vice-presidente na gestão de Roque Oscar Hermes, o time realizou uma campanha para ser esquecida.

Foi último colocado e só não aconteceu mais um rebaixamento, porque não existia terceira divisão na época. Em razão de dificuldades financeiras de toda ordem, ao final da competição o clube solicitou licenciamento na FGF.

Em 2009, mais dois conhecidos desportistas gabrielenses faleceram: Geraldo Edmir Vargas de Souza, que foi ativo dirigente do G.E. Gabrielense nas décadas de 50 e 60 e Jorge Gomes, incentivador do futebol amador.

Os mais jovens talvez não saibam que em São Gabriel residiu um ex-craque da dupla Grenal e de outros grandes clubes do futebol brasileiro, que chegou até a brilhar no exterior.

Tratava-se de Jaime Vargas dos Santos, popularmente conhecido por “Geada”, que morou na rua XV de Novembro, 326, no bairro Menino Jesus. Foi casado com dona Maria Eunice, já falecida, e viveu de maneira pacata, gozando a aposentadoria, participando de churrascos e outras festas no clube da Cohab (o Bereci Macedo não gosta que chame assim), ou tomando parte em agradáveis pescarias no rio Vacacaí, junto com amigos.

Sua carreira de futebolista teve início em 1942, nos juvenis do Internacional, de Porto Alegre, tendo em seguida passado a profissional, fazendo parte do famoso “rolo compressor”, embora na reserva da meia-esquerda, sua posição, e somando títulos de campeão de Porto Alegre e do Estado, até 1948, com o hepta campeonato.

Depois, transferiu-se para o Grêmio Portoalegrense, onde foi titular absoluto, alcançando, talvez, um dos melhores momentos da profissão. Lesionado em um dos joelhos, “Geada” esteve parado por algum tempo.

Quando retornou aos gramados, foi cedido ao Juventude, de Caxias do Sul, atuando posteriormente em vários outros clubes, como a Ponte Preta, de Campinas, o América, de Calli, na Colômbia, Juventus, de São Paulo, Batatais, interior paulista e no Cruzeiro, de São Gabriel, trazido pelo saudoso dirigente Dr. Vicente Astarita. No Rio Grande do Sul, “Geada”, ainda atuou pelo Cachoeira F.C., de Cachoeira do Sul.

Frederico Humberto Fernandez Branca, ou simplesmente “Fernandez”, ou “Castelhano”, foi um dos melhores goleiros que nosso futebol conheceu em todos os tempos. Chegou a São Gabriel, por acaso, pois o trem em que viajava descarrilou. E acabou sendo contratado pelo Cruzeiro local.

“Fernandez” aposentou-se como funcionário do Clube Caixeiral. Foi uma das maiores glórias do futebol gabrielense. Era casado com dona Maria Cléia Gomes Fernandez e pai de quatro filhos. Faleceu em 2001.

Não se pode esquecer de Airton Meireles Jacobsen, o “Aita”, que nasceu em São Gabriel no dia 9 de junho de 1949. Habilidoso meia-esquerda revelado pelo G.E. Gabrielense, transferiu-se para o Grêmio Portoalegrense onde se profissionalizou.

Depois, foi contratado pelo G.E. Bagé, onde atuou por várias temporadas, chegando a integrar o selecionado do Rio Grande do Sul. Jogou ainda no Guarany, de Bagé e São Luiz, de Ijuí. Retornou ao Bagé para encerrar a carreira. (Texto: Nilo Dias. Fonte: Livro “100 anos de futebol em São Gabriel” e arquivo pessoal – Continua).

Ademir Vega foi um jogador de rara habilidade e tinha um futuro promissor pela frente. Pena que morreu cedo, assassinado em um bar da cidade.

Um comentário:

  1. muito linda matéria lembrando grandes feitos do futebol da terra dos marechais. só uma ressalva. o jogo citado Riograndense 1 X 0 SER São Gabriel que decidiu passagem para o Gauchão 1981. na verdade fora 3 X 1 á favor do Riograndense, no jogo de volta sim 2 X 0 SER São Gabriel. abraços.

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