São Gabriel teve seis charqueadas funcionando ao mesmo
tempo. Elas tomaram forças graças à malha ferroviária que passara a ser na
época a única via de aproximação. Cabe lembrar, contudo que em 1.841, por decisão de Bento
Gonçalves, foi instalado em campo aberto na Freguesia de São Gabriel, um
matadouro de emergência (charqueada a campo aberto) para vender charque para o
Uruguai, arrecadando fundos para a revolução.
CHARQUEADA VACACAÍ - A primeira de São Gabriel,
localizada a 12 km da sede do município. Localizada a margem direita do Rio
Vacacaí, teve como fundador Manoel Patrício de Azambuja e Filhos, ele pai de
Fábio Azambuja, engenheiro responsável pela construção da mesma, fundada no ano
de 1.885.
O ano de fundação foi escolhido para coincidir com a
chegada da estrada de ferro, que atrasou por conseqüência da Revolução
Federalista de 1.853. No início, sem a estrada de ferro, a charqueada usava
como meio de transporte a carreta. Em 1.918 a Charqueada foi adquirida pela
firma José Antônio Martins (Filho) que passou a assumir a firma e arrendou três
estâncias: a da Barra, do Pavão e do Jacques.
COMPLEXO INDUSTRIAL DA FIRMA MARTINS - Essa empresa era
poderosa por grandes extensões de campo. Com um grande planejamento, tirou o
máximo rendimento das terras. Assim o agrônomo Retamal Andes cultivou mudas de
eucaliptos, que hoje são famosas florestas de produção permanente no Waick e
Ferrugem.
Desenvolveu criação de suínos, produzindo carne, charque, banha, toucinho e outros derivados, também plantou arroz, milho e feijão e mais um milhão de pés de mandioca para o preparo da farinha, polvilho e outros.
COOPERATIVA RURAL GABRIELENSE E A CHARQUEADA DO VACACAÍ -
A Cooperativa Rural Gabrielense comprou em 1.936 a Charqueada do Vacacaí,
conhecida como Charqueada Velha. Exigiu reformas internas e externas.
A Charqueada do Vacacaí viveu um grande progresso,
vencendo crises de oscilação dos preços do gado. Por envelhecimento de suas
instalações, transformou-se mais tarde na Indústria da Frigorificação de Carne
Gabrielense. Em 1.957 encerrava suas atividades, realizando as últimas
matanças.
Suas dependências foram demolidas, casas, galpões e a
povoação do local, tudo desapareceu, no local restaram apenas ruínas. Mantém-se
ainda a velha chaminé, considerada hoje como excelente fotografia para cartão
postal, antecede ao Balneário do Pedroso.
CHARQUEADA SANTA BRÍGIDA - O jornalista Fileto da Cunha
Ramos escreveu um minucioso trabalho em 1898 publicado no Anuário do Rio Grande
do Sul em 1.889. Ele cita a existência de três charqueadas em São Gabriel
(Correio do Povo - 15.05.1.977, Mário Gardelin).
Todas as charqueadas do interior foram tributárias da
estrada de ferro. O jornalista destaca “Charqueadas do Vacacaí, do Trilha,
localizada após o Balneário do Passo do Pinto e a de Azevedo Sodré. A
Charqueada do Trilha possuía uma industrialização diversificada com o
aproveitamento do couro”.
Em 1.912 seu proprietário Augusto Nogueira firmou
sociedade com Boaventura Ferreira da Silva. Em 1.914 desfizeram a sociedade.
Boaventura adquiriu a charqueada até 1.934, quando admitiu como sócios os seus
filhos e denominou-a Boaventura Ferreira da Silva e Cia.
O nome da Charqueada - Na década de 40 encerrou suas
atividades com a falência dos proprietários. Boaventura Ferreira da Silva era
casado com Brígida Cironi Ferreira da Silva, com seu falecimento, foi dado a
Charqueada e a Estação Rodoviária o nome de Santa Brígida.
Em 1.932 a família de Boaventura da Silva mandou
inaugurar uma capela para receber a imagem da Santa Padroeira.
CHARQUEADA DO AZEVEDO SODRÉ - Essa charqueada já existia
no ano de 1.898. Quando foi fundada a charqueada só existia no local a Estação
Ferroviária. Foi construída por Ramão Lopes da Rosa, considerado na época um
homem humanitário. Era chamado de Dr. Ramão.
Depois de enfrentar muitas dificuldades econômicas, Ramão
teve de vendê-la a Antônio Cândido da Silveira (Tunuca Silveira) que viveu
excelente momento econômico chegando ao auge de produção.
A crise de 1.929 fez com que a Charqueada do Azevedo
Sodré entrasse em colapso, chegando em 1.935 a ser Cooperativa Rural
Gabrielense. Encerrou suas atividades em 1.940. Da velha charqueada restaram
apenas vestígios, hoje quase desaparecidos.
CHARQUEADA SANTO ANTÔNIO - Era a charqueada mais nova de
São Gabriel. Seu grande criador e charqueador, Antônio Coimbra Gonçalves,
juntamente com Fernando Gonçalves, Egídio Brenner e José Franco (Zeca Franco)
fundaram a firma Antônio Coimbra Gonçalves. Com o afastamento dos demais
sócios, assumiram a Charqueada Coimbra e seu filho Fernando, até 1.941 quando
fechou suas portas.
A Charqueada iniciou suas atividades em 1.929. Coimbra
possuía a mística dos negócios, segundo contam, nunca foi surpreendido com
crises que abalaram fortunas na industrialização do charque. Assim fez-se forte
criador de gado tendo adquirido as Estâncias Santa Cruz, Tiaraju e Estância
Velha. Tendo dado inclusive sinal em dinheiro para compra da Estância da Barra.
Sua povoação ainda existe. É sede distrital, (Tiaraju) é
o único povoado das principais charqueadas gabrielenses que não pereceu. Na
época devido à idéia empreendedora de Antônio Coimbra Gonçalves, foi construída
a escola e a capela que ainda hoje existem no Tiaraju.
Hoje ainda restam vestígios da velha charqueada, no
Distrito, naturalmente perto da velha estação férrea da localidade. No início a
estação era chamada de Bela Vista. Em 1.935 passou a chamar-se Tiaraju.
A CHARQUEADA SÃO GABRIEL - Foi uma das menores charqueada
gabrielense. Nasceram da tradicional família Manoel Bicca Filho (Polaco) e José
Rodrigues Barbosa Bicca (Dodigo). Foi constituída no local onde antes havia
matadouro público que abastecia o município. Ficava próximo ao Rio Vacacaí, no
alto de uma coxilha, onde hoje se localiza a Estação de Tratamento da CORSAN.
Era a única distante da Estrada de Ferro. Os galpões do matadouro foram
aproveitados para a construção da charqueada. O saladeiro era de pequeno porte.
A cancha de carneação apenas para seis animais, enquanto as outras comportavam
30 a 40 animais. O povo a chamava de “Charqueadinha do Dodigo”.
Abaixo da Charqueda existia uma fábrica de sabão a vapor,
era chamada de saboeira e aproveitava a gordura das reses abatidas. Foi erguida
no ano de 1.924.
Da charqueadinha existem apenas vestígios e lembranças
marcados por ruínas soterrados pelo tempo em meios aos matos da Vila Maria.
O FIM DOS CICLOS DAS CHARQUEADAS - As charqueadas
entraram em declínio depois de mais de 250 anos. A causa principal no contexto
gabrielense foi o advento dos frigoríficos a partir de 1.910. Naturalmente
fizeram à história, como ciclo fundamental a participação na histórica
econômica e social do município.
Em relação ao fim do ciclo das charqueadas é importante
ressaltar a falta de associativismo dos proprietários na época, motivo pela
qual, organizações européias começaram a comprar gado a preço mais alto que as
charqueadas podiam pagar, motivo pela qual também começaram a sucumbir.
DA CHARQUEADA AO COORIVA - Das seis charqueadas
existentes na época somente a do Vacacaí sobreviveu, primeiro pela união de
forças que criaram a Cooperativa Rural Gabrielense, transformando-se mais tarde
em Frigorífico Santa Brígida, que encerrou suas atividades em 1.991. O
Patrimônio veio a ser destruído mais tarde.
Recuperado totalmente por um grupo de empresários, foi
inaugurada no mesmo local a Cooperativa de Derivados Rio Vacacaí - Cooriva -
Frigorífico. Com apoio da Administração Municipal recebendo incentivo para
funcionamento em 2.001.
Curiosidade - Nas proximidades de cada charqueada eram
construídos cemitérios, onde eram enterrados os funcionários e familiares de
proprietários. Alguns proprietários de charqueadas tornaram-se mais tarde
fazendeiros, por isso os cemitérios também eram construídos perto das
Estâncias, pois não haviam devido às distâncias, cemitérios comunitários. (Fonte: Prefeitura Municipal de São Gabriel-RS)
Charqueada do Vacacai, em 1948.
Charqueada do Vacacai, em 1948.
Fundador da firma Martins foi meu tataravô, Wenceslau Martins - Oriental de nascença, Brasileiro por casamento.
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