Cada pessoa tem seu ídolo. Alguns se inspiram em jogadores de
futebol, cantores, artistas de cinema e TV. Outros preferem pilotos de Fórmula
1, atletas de basquete, tênis e outros esportes. Há quem não tenha nenhuma
preferência.
Eu penso diferente. Meu ídolo não é famoso, não frequenta páginas
de jornais, não é visto na TV. No máximo é notícia em jornais da cidade.
Meu ídolo recentemente completou 86 anos de idade. É militar
reformado, historiador, pesquisador e escritor. Sou admirador incondicional do
“amigo, amigo”, Osório Santana Figueiredo.
Foi ele que me honrou com essa denominação, em uma carta que
recebi dele logo que nos mudamos de São Gabriel para Brasília, e que guardo até
hoje como uma verdadeira relíquia. Ele fez essa referência, ao dizer que existe
“amigo”, o que é comum. E também “amigo, amigo”, categoria em que ele me
inclui.
O historiador Osório Santana Figueiredo é talvez o nome mais
importante da cultura de nossa terra. Embora a idade avançada continua a
trabalhar pela valorização do que é nosso, buscando cada vez mais fatos
históricos que garantam a preservação da nossa memória
Osório é filho de João Baptista Figueiredo e Maria Zoraide
Figueiredo. Nasceu na localidade de Passo do Ivo, município de São Gabriel, no
dia 7 de fevereiro de 1926.
De origem humilde, foi peão de estância, agricultor e carreteiro.
Viveu numa época em que a carreta era um grande meio de transporte,
principalmente nas zonas rurais. Seu Osório carreteou muito do Batovi para São
Gabriel.
E afirma que a carreta oferece uma espécie de magia que só o
carreteiro entende. Ela transforma os bois, os cavalos, os cachorros, tudo,
numa grande família, muito íntima e harmoniosa. Para ele a vida de carreteiro é
muito bonita.
Ingressou no Exército Brasileiro, em 1946. No ano de 1970 passou
para a Reserva Remunerada. E agradece ao Exército por tudo que conquistou.
Seu Osório gosta de contar que quando era subtenente e servia no
9º RCB, era o responsável por preparar o cardápio dos oficiais, que sempre contavam
com nove pratos diferentes. E sobremesas deliciosas.
Com mais seis companheiros, liderados pelo benemérito cidadão
Rolino Leonardo Vieira, fundaram o Centro de Tradições Gaúchas Caiboaté.
Juntamente com Rolino, ergueram os Monumentos da Batalha de Caiboaté, na
coxilha do mesmo nome; e do Combate do Cerro do Ouro, na mesma localidade.
Foi um dos idealizadores e fundadores do Piquete de Tradições
Gaúchas, Batovi, no subdistrito desse nome, o primeiro criado no Rio Grande do
Sul, e o primeiro filiado ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG),
presidindo-o por um período estatutário.
Idealizado pelo doutor Milton Teixeira, foi um dos fundadores e
presidiu nos seus primórdios, a Associação Cultural Alcides Maya
(ACAM).
Juntamente com alguns companheiros de farda, fundaram a Associação
dos Militares da Reserva Remunerada, Reformados e Pensionistas das Forças
Armadas (Asmir). É o mais antigo do seu quadro social.
Dirigiu por nove anos os Museus João Pedro Nunes e o Museu Gaúcho
da FEB.
Foi casado com a saudosa dona Juracy Lopes Figueiredo, de cujo
consórcio nasceram os filhos Maria de Lourdes, Marilene e Beraldo.
Beraldo, o único filho homem do seu Osório, começou os estudos em
1964 na Escola Doutor Fernando Abbott, onde cursou da 1ª série até a 5ª Série
Primária.
Em 1970 entrou na Escola XV de Novembro onde estudou do 1º ao 4º
ano ginasial. Depois fez o curso Científico, com duração de 3 anos. Em 1975
teve seu primeiro emprego, no Sindicato Rural.
Em 1976 serviu ao Exército Brasileiro, no 6º BE Comb, quartel onde
seu pai serviu por muitos anos.
Depois de dar baixa, foi trabalhar no antigo Armazém Salgado.
Seguiu a vida profissional em Porto Alegre, trabalhando na Morganti, em 1978.
Em 1979 casou com Jussara Camargo. Nesse mesmo ano trabalhou na
Comaig. Em 1980 cursou a Faculdade de Ciências Econômicas na FESG.
Em 1989 trabalhou como professor na Escola Técnica de Comércio, na
disciplina de Contabilidade. Em 1997 lecionou na Escola Rolino Leonardo Vieira,
na condição de funcionário da Urcamp.
Em 1998 fez pós Graduação de Informática, na Urcamp de Alegrete.
Em 1999 foi professor Universitário do Curso Superior de Informática da Urcamp
de São Gabriel.
Em 2013 foi nomeado diretor da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Menino Jesus (CAIC), onde se encontra até hoje.
Lourdes Figueiredo, modesta, garante que sua história não é
importante. Mas é. Trabalhou por 31 anos consecutivos sem nunca parar, até
conseguir a aposentadoria. Só isso já basta para mostrar a importância de lutar
para atingir seus objetivos.
Cursou Economia na Urcamp. Seu primeiro emprego, quando tinha
apenas 17 anos, foi de secretária de Luiz Loureiro de Souza que trabalhava no
Banco da Província e era agente do Ministério do Trabalho. Sua função era
preencher carteiras profissionais.
Depois, por iniciativa do senhor Luiz Loureiro de Souza arrumou
trabalho na antiga Casa Azul, de Marcos Rabin. E por lá ficou por quase 2 anos,
até surgir uma vaga no Bradesco.
Ficou lá por 13 anos e só saiu para acompanhar o marido que tinha
arrumado um emprego em Porto Alegre na Habitasul. Mas veio o imprevisível, a
separação do casal. E teve de voltar para São Gabriel, segundo ela, “sem eira e
nem beira”.
Lourdes lembra de uma frase dita por seu Osório, que nunca
esqueceu: “A casa aqui está de portas abertas e a do coração, também”.
Ficou na casa de seu pai por 2 anos, até que um amigo lhe arrumou
um emprego na Habitasul que acabara de se instalar em São Gabriel. Trabalhou lá
por 9 meses, até a empresa quebrar.
A Caixa Estadual reassumiu os funcionários da Habitasul. Mas houve
uma guerra de nervos - diziam assim: “A Caixa vai demitir todos os contratados.
Só vai ficar com os efetivos”.
Foi quando dois colegas seus compraram o Posto Batovi e a
convidaram para trabalhar com eles de chefe de escritório. Já estava com mais
de 50 anos de idade e aceitou a empreitada. E lá se aposentou.
Nesse meio tempo, sua filha estava cursando a Faculdade de
Administração na Urcamp e conseguiu formá-la com a ajuda de seu Osório.
Hoje, já fazem 13 anos que essa filha passou em 1ºlugar no
concurso do Tribunal Regional Eleitoral (TSE) e está muito bem, residindo em
Porto Alegre. Lourdes tem sua casa em São Gabriel. Sem dúvida uma bonita
história.
Marilene Figueiredo Nunes é professora aposentada, formada na
Escola Normal Perpétuo Socorro e cursada em Ciências Sociais, na Urcamp em
Bagé. É casada com o primeiro tenente da Reserva Odacir Durand Nunes, tendo
dois filhos, Patricia Figueiredo Nunes Bassotto e Rodrigo Figueiredo Nunes e a
neta Helena Nunes Bassotto.
Trabalhou em três Escolas de Bagé, sendo que na última, a E.E.
Julinha Costa Taborda se aposentou, depois de nela ter ficado por 17 anos.
Marilene reside há 38 anos em Bagé. Costuma dizer que tem duas terras, uma de
alma, a terra natal e outra de adoção, aonde vive.
Aprecia muito ler e escrever, costumes herdados pela formação que
tiveram, através de seu Osório. Ela, Beraldo e Maria de Lourdes foram criados
arrodeados por livros e o gosto por plantar, herdados pela mãe, tal a enorme
paixão, que ela tinha pela cultura da terra.
Depois de aposentada, Marilene adquiriu o hábito da fotografia.
Costuma fotografar tudo o que seu olhar alcança, perto e longe. Descobriu desse
modo, o prazer de fotografar e também de escrever, sem compromisso, somente
para exercitar a veia literária e genética. Gosta também de viajar.
Quando do falecimento de Eroci Vaz, conhecido tradicionalista
gabrielense, Osório Santana Figueiredo escreveu uma bonita mensagem, que foi
publicada no jornal “Tribuna do Povo”:
A mãe do Eroci, Joana Santana, orfã de mãe, criou-se e se fez moça
com minha mãe. Quando nasci ela me batizou. Foi minha primeira madrinha.
Criamo-nos juntos. Como nós, a família dele era muito pobre. Parece que teve um
mês e pouco de ensino escolar.
Porém, inteligente, alegre, divertido, responsável, dedicado e
trabalhador. Não tinha complexo de pobreza. Dotado de uma personalidade forte.
Conseguiu um emprego de Fiscal Rural.
E segue: “Teve, porém, a sorte de casar com uma grande mulher.
Mulher excepcional. Era professora e dedicou-se ao estudo dos filhos, dando
tudo de si em benefício deles. Conheci-a oito dias depois de casados.
Era muito bonita e ele um rapaz afeiçoado, bem trajado. Formavam
um casal, parelho, admirável, os dois alegres e dados. Firmamos nossa amizade
até seus últimos dias. Enfrentamos situações juntos. Ele nunca falhou. Ele foi
um bom filho. Retribuído pelos seus filhos, que foram de uma dedicação a toda a
prova, com ternura e muito amor. Tanto o Eroci como a Maria foram amplamente
recompensados pelos amorosos filhos que tiveram.
Eu queria muito a ambos. Mas quando ele esteve aqui, e me disse
que o caso dele não suportava mais transplante, senti que era um pré-morto.
Assim que a sua morte não me surpreendeu.
Ele não acreditava na morte. Pensava em viver. Contou-me o Lúcio,
seu filho, aqui em casa, que ele semanalmente, gastava bastante jogando na Mega
Sena, para comprar uma estância em São Gabriel e voltar para cá. Perdi mais um
grande pedaço de mim.
Em 2014, o historiador foi surpreendido com um duro golpe, o
falecimento da sua neta e secretária, a bióloga Luciana Figueiredo, 32 anos,
filha do casal amigo Beraldo e Jussara. Ela sofreu um aneurisma cerebral e foi
levada para Porto Alegre, onde não resistiu a intervenção cirúrgica.
Seu Osório levou muito tempo para diminuir a dor da ausência da
neta querida. Mas como bom cristão que é, rendeu-se a vontade divina, que
afinal de contas não tem como se discutir.
Osório é um literato consagrado. Descobriu através de estudos
continuados, o pendor irresistível pela pesquisa histórica, ao mesmo tempo em
que estudou Sociologia, Etnologia, Biografia e Filosofia. Colabora na imprensa
local, estadual e nacional. É autodidata. Militar da Reserva Remunerada do
Exército.
No campo cultural a sua atuação tem sido intensa e acentua-se a
cada ano, pelo número de publicações literárias e participações em eventos
realizados por diversas entidades afins, em vários pontos do Estado do Rio
Grande do Sul, nos quais se revelou grande conferencista e muito apreciado pela
juventude com a qual se comunica de modo notável.
Instituições Culturais a que pertence:
Sócio fundador do Instituto Histórico e Tradições do Rio Grande do
Sul, no qual desempenha as funções de secretário-geral; Sócio fundador da
Associação Cultural Alcides Maya (ACAM), de São Gabriel; Membro da Academia Sul
Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira número 25, que tem como patrono o
poeta Guilherme de Almeida; Membro acadêmico da Academia de História Militar
Terrestre do Brasil, ocupando a cadeira número 13, sendo patrono o general João
Borges Fortes.
É membro correspondente das seguintes instituições:
Academia Canguçuense de História; Centro de Pesquisas Literárias
(CIPEL), de Porto Alegre; Academia Riograndense de Imprensa (ARI), de Porto
Alegre; Federação das Entidades Culturais Fronteiriças, de Uruguaiana; Sócio
Benemérito da Ordem Brasileira dos Poetas de Literatura de Cordel, de Salvador
(BA); Membro colaborador da Associação Brasileira de Folclore, de Porto Alegre;
Membro Honorário da Universitá Internazionale Sveva Frederico II, de Bergamo
(Itália) e
Sócio colaborador da Comissão Gaúcha de Folclore.
Distinções Civis e Militares recebidas:
Mérito Cultural pela Academia Internacional de Heráldica e
Genealogia de Uruguaiana, 1980; Diploma de Honra, pela Academia de Ar. Et
Letteres de Quebec, Montreal, Canadá, 1980; Colaborador Emérito do Exército,
Porto Alegre, 1980; Diploma do Mérito João Propício, pelo 9 RCB, 1984; DIploma
de Gabrielense Emérito, 1989; Medalha do Pacificador, 1989; Medalha Marechal
Mascarenhas de Moraes, 1992; Medalha da Ordem do Mérito Militar - Grau
Cavaleiro, 1998; Comenda Dante de Laytano, Comissão Gaúcha de Folclore, 1999;
Organizou e dirigiu os museus municipais de São Gabriel por largo período.
Escreveu os seguintes livros:
“Maneco Pereira o homem que laçava com o pé” – 1967 - 3ª edição;
“São Gabriel Desde o Princípio” – 1977 – 3ª Edição; “Cooperativa Rural
Gabrielense - 50 anos na História” -1985; “Cronologia da Revolução Farroupilha
em São Gabriel” – 1985; “O Combate da Estância da Caieira – Crônica” – 1985;
“Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, plaqueta”- 1985 - 2ª Edição;
“Carreteadas Heróicas” – 1986 – 2ª Edição; “Alcides Maya o Clássico dos
Pampas”, 1987; “Cronologia da Família Santana e Heberlê – plaqueta” – 1988;
“Combate do Cerro Alegre”, 1932, com José Luiz Silveira - 1988; “História dos
Apelidos Urbanos de São Gabriel”, 1991; “História de São Gabriel”, 1993; “As
Revoluções da República” – 1995; “Marco de Ferro Vila Nova do Sul, plaqueta”,
1995; “Sesquicentenário, Caserna de Bravos” – 1996 – 3ª Edição; “Uma Santa Casa
Feita de Amor” -1988; “Lendas, Causos e Assombrações” – 2002; “Caxias o
Predestinado da Pátria” – 2003; “Tempos Bárbaros” – 2004; “Vida e Morte de Sepé
Tiaraju” – 2005; “Dom Félix de Azara Terra e Céu” – 2006; “Plácido de Castro O
Colosso do Acre” – 2007; “General Osório o Perfil do Homem” – 2008; “Marechal
João Propício Menna Barreto – Barão de São Gabriel” - 2008; “Sua Excelência O
Livro” – 2008; “Os Santos Populares” – 2009; “A Igreja do Galo de São Gabriel”
– 2011 e “Judite, a Cavaleira Divina, 2013”.
O historiador não para. Agora está escrevendo um livro sobre o
distrito de Azevedo Sodré, onde narra fatos históricos e destaca pessoas
importantes da localidade.
Eu tenho na minha biblioteca quase todos os livros do seu Osório.
Acho que só me faltam o “Marco de Ferro Vila Nova do Sul”, “O Combate do Cerro
Alegre” e “Cronologia da Família Santana e Heberlê”.
Todos os livros são excelentes, mas os de minha predileção são
três: “Maneco Pereira, o homem que laçava com o pé”, “Os Santos Populares” e
“Judite a Cavaleira Divina”.
Manoel Bento Pereira, o “Maneco Pereira”, foi um dos nomes mais
célebres do Rio Grande do Sul, símbolo da vida campeira. Ele viveu de 1845 a
1926, grande parte em São Gabriel.
Maneco ficou célebre pelo seu talento como laçador, imortalizado
pelo livro de Osório Santana Figueiredo. Não menos famosa ficou sua neta Maneca
Pereira (1913-1964), exímia cavaleira, grande laçadora, capaz também de
façanhas como laçar filhotes de caturritas no alto de eucaliptos de 30 metros
de altura.
Em Francisco Beltrão, Paraná, reside uma bisneta e um trineto de
Maneco Pereira: dona Cantalícia Fonseca Vincensi e o advogado Geonir Vincensi.
A notícia de que esses parentes de Maneco viviam em Francisco
Beltrão chegou ao historiador Osório Santana Figueiredo, que pediu ao estudioso
Jorge Baleeiro de lacerda, autor do livro “Os Dez Brasis”, que entrevistasse
esses descendentes de Maneco e Maneca Pereira para ele. Baleeiro, que já foi
hóspede de Osório por cinco vezes, o atendeu.
A conversa acabou acontecendo no galpão crioulo da “Cabanha Maneco
Pereira”, que trabalha com criação de cavalos crioulos. Dona Cantalícia disse a
Baleeiro que é bisneta de Maneco Pereira e sobrinha-neta de Maneca.
Sua avó Cecília era irmã da mãe (Maria Manoela - Princesa) de
Maneca Pereira. Maneco era pai de 12 filhos, tendo numerosos descendentes.
Cantalícia nasceu em Cruz Alta.
Já “Judite, a Cavaleira Divina”, é um romance histórico com fatos
reais ocorridos em São Gabriel sobre os chacreiros do Batovi, as guerras,
hábitos e costumes caseiros, missões secretas, queimador de campo, a batalha
que quebrou o eixo da carreta e tenente Antônio em Pelotas e muitos outros
capítulos imperdíveis.
O livro “Os Santos Populares” resgata fatos que são reais, é
leitura obrigatória e envolvente. Ele não trata só da “Guapa”, leva o leitor a
percorrer um verdadeiro roteiro turístico espiritual, por locais onde são
veneradas outras “santidades” eleitas pelo povo: “Capelinha dos Fuzilados”,
“Negrinho da Sanga Funda” e túmulos da “Ciganinha” e do “Lopes”, além de
histórias de assombrações que enriquecem o nosso lendário.
Osório lembra que São Gabriel não é um município privilegiado por
riquezas naturais. Não tem mar, montanhas, balneários, rios arenosos e outras
atrações ditas turísticas. Mas tem muita história, social, política, militar e
geral.
Sente pena em ver o patrimônio histórico da cidade ser destruído.
Prédios históricos e importantes estão desaparecendo. Acha que falta um órgão
controlador para evitar que isso tenha continuidade.
Saúda movimentos que tem beneficiado a preservação de edifícios
como a Igreja do Galo, Sobrado da Praça e Harmonia. E exalta o trabalho da
senhora Geni Chagas, grande responsável pela execução das obras. E disse que
precisou vir uma pessoa de fora, para fazer o que os filhos da terra não
fizeram.
Graças ao amigo Osório Santana Figueiredo consegui fazer justiça a
um dos grandes nomes do futebol gabrielense em todos os tempos. A biografia de
Algenor Bastos de Melo, o “Cherpa” foi publicada em meu livro “100 anos de
futebol em São Gabriel”. O historiador foi até sua casa entrevistá-lo para mim.
O seu Osório é único. Para atender um pedido deste amigo, ele não
tem dia e nem hora. Pacientemente foi até a casa do “Cherpa” e conseguiu os
dados que eu precisava.
E aproveitou para bater um longo papo com o ex-craque, que na
época, mesmo com 79 anos de idade não deixava de fazer diariamente seus
exercícios físicos. Até bem pouco tempo ainda participava de “peladas” com os
amigos. Esse é um bom exemplo a ser seguido.
Lembro que uma ocasião o historiador Osório Santana Figueiredo
lançou a idéia dos museus rurais, que seriam organizados nas ditas
propriedades. Mas parece que a coisa ficou só no terreno das cogitações. Mas
acho que centralizar tudo num único lugar seria o ideal.
Eu seu que muitas pessoas não vão querer perder coisas que lhes
são tão caras, que lembram toda uma história, até familiar. Mas a causa é bem
maior. É preservar objetos que acima de tudo contam a história de nossas
tradições. Os alunos das nossas escolas poderiam visitar o museu, e receberiam
verdadeiras aula sobre nossas origens.
Não sei se vai servir para encorajar alguém a se desfazer de bens
de valor pessoal tão grande. Quando nos mudamos para Brasília, doamos ao
Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF), mais de 500 LPs de músicas
regionalistas gaúchas, entre eles verdadeiras relíquias, e ainda cerca de 100
livros sobre temas do Rio Grande do Sul.
Para o CAIC, na época dirigido pelo saudoso amigo doutor Hélio
Machado, doamos algumas coleções de enciclopédias, que certamente até hoje
servem aos alunos. E para o Centro de Estudos do Integralismo, em Porto Alegre
doamos dezenas de livros e fotografias acerca daquele movimento político em
nosso país.
Pouca gente em São Gabriel sabia disso. Foram doações espontâneas,
sem nenhum outro sentido que não fosse o de compartilhar conhecimentos. De que
adiantaria eu ficar com um acervo tão valioso dentro de minha casa?
E a mesma coisa eu acho que se pode aplicar em relação a
possibilidade de se criar esse “Museu da Tradição”. As pessoas entenderem que
com simples gestos de desprendimento, é possível fazer coisas grandiosas. A
idéia está lançada.
Um momento marcante na vida do historiador aconteceu em 2007,
quando da realização da II Feira do Livro de São Gabriel, em que ele foi o
Patrono. Os alunos da Escola Marechal Deodoro prestaram uma homenagem ao grande
Osório Santana Figueiredo.
A homenagem feita pelos escolares ao historiador aludiu à época em
que este carreteava, de pés descalços, percorrendo quilômetros para trazer à
cidade a produção do campo, e o deixou surpreso com a própria reação
emocionada.
“Eu pensava estar fora da emoção, mas não estou, porque eles
prepararam uma homenagem aos carreteiros em que eu me senti vivendo aquela
situação”, desabafou Osório, que com suas dezenas de títulos já publicados, e
alguns esgotados, lançou uma nova obra especialmente para a Feira, “Sua
Excelência, o livro”.
Osório Santana Figueiredo e Nilo Dias. (Foto: Arquivo de Nilo Dias)
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