domingo, 12 de junho de 2016

A memória viva da cidade

Cada pessoa tem seu ídolo. Alguns se inspiram em jogadores de futebol, cantores, artistas de cinema e TV. Outros preferem pilotos de Fórmula 1, atletas de basquete, tênis e outros esportes. Há quem não tenha nenhuma preferência.

Eu penso diferente. Meu ídolo não é famoso, não frequenta páginas de jornais, não é visto na TV. No máximo é notícia em jornais da cidade.

Meu ídolo recentemente completou 86 anos de idade. É militar reformado, historiador, pesquisador e escritor. Sou admirador incondicional do “amigo, amigo”, Osório Santana Figueiredo.

Foi ele que me honrou com essa denominação, em uma carta que recebi dele logo que nos mudamos de São Gabriel para Brasília, e que guardo até hoje como uma verdadeira relíquia. Ele fez essa referência, ao dizer que existe “amigo”, o que é comum. E também “amigo, amigo”, categoria em que ele me inclui.

O historiador Osório Santana Figueiredo é talvez o nome mais importante da cultura de nossa terra. Embora a idade avançada continua a trabalhar pela valorização do que é nosso, buscando cada vez mais fatos históricos que garantam a preservação da nossa memória

Osório é filho de João Baptista Figueiredo e Maria Zoraide Figueiredo. Nasceu na localidade de Passo do Ivo, município de São Gabriel, no dia 7 de fevereiro de 1926.

De origem humilde, foi peão de estância, agricultor e carreteiro. Viveu numa época em que a carreta era um grande meio de transporte, principalmente nas zonas rurais. Seu Osório carreteou muito do Batovi para São Gabriel.

E afirma que a carreta oferece uma espécie de magia que só o carreteiro entende. Ela transforma os bois, os cavalos, os cachorros, tudo, numa grande família, muito íntima e harmoniosa. Para ele a vida de carreteiro é muito bonita.

Ingressou no Exército Brasileiro, em 1946. No ano de 1970 passou para a Reserva Remunerada. E agradece ao Exército por tudo que conquistou.

Seu Osório gosta de contar que quando era subtenente e servia no 9º RCB, era o responsável por preparar o cardápio dos oficiais, que sempre contavam com nove pratos diferentes. E sobremesas deliciosas.

Com mais seis companheiros, liderados pelo benemérito cidadão Rolino Leonardo Vieira, fundaram o Centro de Tradições Gaúchas Caiboaté. Juntamente com Rolino, ergueram os Monumentos da Batalha de Caiboaté, na coxilha do mesmo nome; e do Combate do Cerro do Ouro, na mesma localidade.

Foi um dos idealizadores e fundadores do Piquete de Tradições Gaúchas, Batovi, no subdistrito desse nome, o primeiro criado no Rio Grande do Sul, e o primeiro filiado ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), presidindo-o por um período estatutário.

Idealizado pelo doutor Milton Teixeira, foi um dos fundadores e presidiu nos seus primórdios, a Associação Cultural Alcides Maya
(ACAM).

Juntamente com alguns companheiros de farda, fundaram a Associação dos Militares da Reserva Remunerada, Reformados e Pensionistas das Forças Armadas (Asmir). É o mais antigo do seu quadro social.

Dirigiu por nove anos os Museus João Pedro Nunes e o Museu Gaúcho da FEB.

Foi casado com a saudosa dona Juracy Lopes Figueiredo, de cujo consórcio nasceram os filhos Maria de Lourdes, Marilene e Beraldo.

Beraldo, o único filho homem do seu Osório, começou os estudos em 1964 na Escola Doutor Fernando Abbott, onde cursou da 1ª série até a 5ª Série Primária.

Em 1970 entrou na Escola XV de Novembro onde estudou do 1º ao 4º ano ginasial. Depois fez o curso Científico, com duração de 3 anos. Em 1975 teve seu primeiro emprego, no Sindicato Rural.

Em 1976 serviu ao Exército Brasileiro, no 6º BE Comb, quartel onde seu pai serviu por muitos anos.

Depois de dar baixa, foi trabalhar no antigo Armazém Salgado. Seguiu a vida profissional em Porto Alegre, trabalhando na Morganti, em 1978.

Em 1979 casou com Jussara Camargo. Nesse mesmo ano trabalhou na Comaig. Em 1980 cursou a Faculdade de Ciências Econômicas na FESG.

Em 1989 trabalhou como professor na Escola Técnica de Comércio, na disciplina de Contabilidade. Em 1997 lecionou na Escola Rolino Leonardo Vieira, na condição de funcionário da Urcamp.

Em 1998 fez pós Graduação de Informática, na Urcamp de Alegrete. Em 1999 foi professor Universitário do Curso Superior de Informática da Urcamp de São Gabriel.

Em 2013 foi nomeado diretor da Escola Municipal de Ensino Fundamental Menino Jesus (CAIC), onde se encontra até hoje.

Lourdes Figueiredo, modesta, garante que sua história não é importante. Mas é. Trabalhou por 31 anos consecutivos sem nunca parar, até conseguir a aposentadoria. Só isso já basta para mostrar a importância de lutar para atingir seus objetivos.

Cursou Economia na Urcamp. Seu primeiro emprego, quando tinha apenas 17 anos, foi de secretária de Luiz Loureiro de Souza que trabalhava no Banco da Província e era agente do Ministério do Trabalho. Sua função era preencher carteiras profissionais.

Depois, por iniciativa do senhor Luiz Loureiro de Souza arrumou trabalho na antiga Casa Azul, de Marcos Rabin. E por lá ficou por quase 2 anos, até surgir uma vaga no Bradesco.

Ficou lá por 13 anos e só saiu para acompanhar o marido que tinha arrumado um emprego em Porto Alegre na Habitasul. Mas veio o imprevisível, a separação do casal. E teve de voltar para São Gabriel, segundo ela, “sem eira e nem beira”.

Lourdes lembra de uma frase dita por seu Osório, que nunca esqueceu: “A casa aqui está de portas abertas e a do coração, também”.

Ficou na casa de seu pai por 2 anos, até que um amigo lhe arrumou um emprego na Habitasul que acabara de se instalar em São Gabriel. Trabalhou lá por 9 meses, até a empresa quebrar.

A Caixa Estadual reassumiu os funcionários da Habitasul. Mas houve uma guerra de nervos - diziam assim: “A Caixa vai demitir todos os contratados. Só vai ficar com os efetivos”.

Foi quando dois colegas seus compraram o Posto Batovi e a convidaram para trabalhar com eles de chefe de escritório. Já estava com mais de 50 anos de idade e aceitou a empreitada. E lá se aposentou.

Nesse meio tempo, sua filha estava cursando a Faculdade de Administração na Urcamp e conseguiu formá-la com a ajuda de seu Osório.

Hoje, já fazem 13 anos que essa filha passou em 1ºlugar no concurso do Tribunal Regional Eleitoral (TSE) e está muito bem, residindo em Porto Alegre. Lourdes tem sua casa em São Gabriel. Sem dúvida uma bonita história.

Marilene Figueiredo Nunes é professora aposentada, formada na Escola Normal Perpétuo Socorro e cursada em Ciências Sociais, na Urcamp em Bagé. É casada com o primeiro tenente da Reserva Odacir Durand Nunes, tendo dois filhos, Patricia Figueiredo Nunes Bassotto e Rodrigo Figueiredo Nunes e a neta Helena Nunes Bassotto.

Trabalhou em três Escolas de Bagé, sendo que na última, a E.E. Julinha Costa Taborda se aposentou, depois de nela ter ficado por 17 anos. Marilene reside há 38 anos em Bagé. Costuma dizer que tem duas terras, uma de alma, a terra natal e outra de adoção, aonde vive.

Aprecia muito ler e escrever, costumes herdados pela formação que tiveram, através de seu Osório. Ela, Beraldo e Maria de Lourdes foram criados arrodeados por livros e o gosto por plantar, herdados pela mãe, tal a enorme paixão, que ela tinha pela cultura da terra.

Depois de aposentada, Marilene adquiriu o hábito da fotografia. Costuma fotografar tudo o que seu olhar alcança, perto e longe. Descobriu desse modo, o prazer de fotografar e também de escrever, sem compromisso, somente para exercitar a veia literária e genética. Gosta também de viajar.

Quando do falecimento de Eroci Vaz, conhecido tradicionalista gabrielense, Osório Santana Figueiredo escreveu uma bonita mensagem, que foi publicada no jornal “Tribuna do Povo”:

A mãe do Eroci, Joana Santana, orfã de mãe, criou-se e se fez moça com minha mãe. Quando nasci ela me batizou. Foi minha primeira madrinha. Criamo-nos juntos. Como nós, a família dele era muito pobre. Parece que teve um mês e pouco de ensino escolar.

Porém, inteligente, alegre, divertido, responsável, dedicado e trabalhador. Não tinha complexo de pobreza. Dotado de uma personalidade forte. Conseguiu um emprego de Fiscal Rural.

E segue: “Teve, porém, a sorte de casar com uma grande mulher. Mulher excepcional. Era professora e dedicou-se ao estudo dos filhos, dando tudo de si em benefício deles. Conheci-a oito dias depois de casados.

Era muito bonita e ele um rapaz afeiçoado, bem trajado. Formavam um casal, parelho, admirável, os dois alegres e dados. Firmamos nossa amizade até seus últimos dias. Enfrentamos situações juntos. Ele nunca falhou. Ele foi um bom filho. Retribuído pelos seus filhos, que foram de uma dedicação a toda a prova, com ternura e muito amor. Tanto o Eroci como a Maria foram amplamente recompensados pelos amorosos filhos que tiveram.

Eu queria muito a ambos. Mas quando ele esteve aqui, e me disse que o caso dele não suportava mais transplante, senti que era um pré-morto. Assim que a sua morte não me surpreendeu.

Ele não acreditava na morte. Pensava em viver. Contou-me o Lúcio, seu filho, aqui em casa, que ele semanalmente, gastava bastante jogando na Mega Sena, para comprar uma estância em São Gabriel e voltar para cá. Perdi mais um grande pedaço de mim.

Em 2014, o historiador foi surpreendido com um duro golpe, o falecimento da sua neta e secretária, a bióloga Luciana Figueiredo, 32 anos, filha do casal amigo Beraldo e Jussara. Ela sofreu um aneurisma cerebral e foi levada para Porto Alegre, onde não resistiu a intervenção cirúrgica.

Seu Osório levou muito tempo para diminuir a dor da ausência da neta querida. Mas como bom cristão que é, rendeu-se a vontade divina, que afinal de contas não tem como se discutir.

Osório é um literato consagrado. Descobriu através de estudos continuados, o pendor irresistível pela pesquisa histórica, ao mesmo tempo em que estudou Sociologia, Etnologia, Biografia e Filosofia. Colabora na imprensa local, estadual e nacional. É autodidata. Militar da Reserva Remunerada do Exército.

No campo cultural a sua atuação tem sido intensa e acentua-se a cada ano, pelo número de publicações literárias e participações em eventos realizados por diversas entidades afins, em vários pontos do Estado do Rio Grande do Sul, nos quais se revelou grande conferencista e muito apreciado pela juventude com a qual se comunica de modo notável.

Instituições Culturais a que pertence:

Sócio fundador do Instituto Histórico e Tradições do Rio Grande do Sul, no qual desempenha as funções de secretário-geral; Sócio fundador da Associação Cultural Alcides Maya (ACAM), de São Gabriel; Membro da Academia Sul Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira número 25, que tem como patrono o poeta Guilherme de Almeida; Membro acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, ocupando a cadeira número 13, sendo patrono o general João Borges Fortes.

É membro correspondente das seguintes instituições:

Academia Canguçuense de História; Centro de Pesquisas Literárias (CIPEL), de Porto Alegre; Academia Riograndense de Imprensa (ARI), de Porto Alegre; Federação das Entidades Culturais Fronteiriças, de Uruguaiana; Sócio Benemérito da Ordem Brasileira dos Poetas de Literatura de Cordel, de Salvador (BA); Membro colaborador da Associação Brasileira de Folclore, de Porto Alegre; Membro Honorário da Universitá Internazionale Sveva Frederico II, de Bergamo (Itália) e
Sócio colaborador da Comissão Gaúcha de Folclore.

Distinções Civis e Militares recebidas:

Mérito Cultural pela Academia Internacional de Heráldica e Genealogia de Uruguaiana, 1980; Diploma de Honra, pela Academia de Ar. Et Letteres de Quebec, Montreal, Canadá, 1980; Colaborador Emérito do Exército, Porto Alegre, 1980; Diploma do Mérito João Propício, pelo 9 RCB, 1984; DIploma de Gabrielense Emérito, 1989; Medalha do Pacificador, 1989; Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes, 1992; Medalha da Ordem do Mérito Militar - Grau Cavaleiro, 1998; Comenda Dante de Laytano, Comissão Gaúcha de Folclore, 1999; Organizou e dirigiu os museus municipais de São Gabriel por largo período.

Escreveu os seguintes livros:

“Maneco Pereira o homem que laçava com o pé” – 1967 - 3ª edição; “São Gabriel Desde o Princípio” – 1977 – 3ª Edição; “Cooperativa Rural Gabrielense - 50 anos na História” -1985; “Cronologia da Revolução Farroupilha em São Gabriel” – 1985; “O Combate da Estância da Caieira – Crônica” – 1985; “Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, plaqueta”- 1985 - 2ª Edição; “Carreteadas Heróicas” – 1986 – 2ª Edição; “Alcides Maya o Clássico dos Pampas”, 1987; “Cronologia da Família Santana e Heberlê – plaqueta” – 1988; “Combate do Cerro Alegre”, 1932, com José Luiz Silveira - 1988; “História dos Apelidos Urbanos de São Gabriel”, 1991; “História de São Gabriel”, 1993; “As Revoluções da República” – 1995; “Marco de Ferro Vila Nova do Sul, plaqueta”, 1995; “Sesquicentenário, Caserna de Bravos” – 1996 – 3ª Edição; “Uma Santa Casa Feita de Amor” -1988; “Lendas, Causos e Assombrações” – 2002; “Caxias o Predestinado da Pátria” – 2003; “Tempos Bárbaros” – 2004; “Vida e Morte de Sepé Tiaraju” – 2005; “Dom Félix de Azara Terra e Céu” – 2006; “Plácido de Castro O Colosso do Acre” – 2007; “General Osório o Perfil do Homem” – 2008; “Marechal João Propício Menna Barreto – Barão de São Gabriel” - 2008; “Sua Excelência O Livro” – 2008; “Os Santos Populares” – 2009; “A Igreja do Galo de São Gabriel” – 2011 e “Judite, a Cavaleira Divina, 2013”.

O historiador não para. Agora está escrevendo um livro sobre o distrito de Azevedo Sodré, onde narra fatos históricos e destaca pessoas importantes da localidade.

Eu tenho na minha biblioteca quase todos os livros do seu Osório. Acho que só me faltam o “Marco de Ferro Vila Nova do Sul”, “O Combate do Cerro Alegre” e “Cronologia da Família Santana e Heberlê”.

Todos os livros são excelentes, mas os de minha predileção são três: “Maneco Pereira, o homem que laçava com o pé”, “Os Santos Populares” e “Judite a Cavaleira Divina”.

Manoel Bento Pereira, o “Maneco Pereira”, foi um dos nomes mais célebres do Rio Grande do Sul, símbolo da vida campeira. Ele viveu de 1845 a 1926, grande parte em São Gabriel.

Maneco ficou célebre pelo seu talento como laçador, imortalizado pelo livro de Osório Santana Figueiredo. Não menos famosa ficou sua neta Maneca Pereira (1913-1964), exímia cavaleira, grande laçadora, capaz também de façanhas como laçar filhotes de caturritas no alto de eucaliptos de 30 metros de altura.

Em Francisco Beltrão, Paraná, reside uma bisneta e um trineto de Maneco Pereira: dona Cantalícia Fonseca Vincensi e o advogado Geonir Vincensi.

A notícia de que esses parentes de Maneco viviam em Francisco Beltrão chegou ao historiador Osório Santana Figueiredo, que pediu ao estudioso Jorge Baleeiro de lacerda, autor do livro “Os Dez Brasis”, que entrevistasse esses descendentes de Maneco e Maneca Pereira para ele. Baleeiro, que já foi hóspede de Osório por cinco vezes, o atendeu.

A conversa acabou acontecendo no galpão crioulo da “Cabanha Maneco Pereira”, que trabalha com criação de cavalos crioulos. Dona Cantalícia disse a Baleeiro que é bisneta de Maneco Pereira e sobrinha-neta de Maneca.

Sua avó Cecília era irmã da mãe (Maria Manoela - Princesa) de Maneca Pereira. Maneco era pai de 12 filhos, tendo numerosos descendentes. Cantalícia nasceu em Cruz Alta.

Já “Judite, a Cavaleira Divina”, é um romance histórico com fatos reais ocorridos em São Gabriel sobre os chacreiros do Batovi, as guerras, hábitos e costumes caseiros, missões secretas, queimador de campo, a batalha que quebrou o eixo da carreta e tenente Antônio em Pelotas e muitos outros capítulos imperdíveis.

O livro “Os Santos Populares” resgata fatos que são reais, é leitura obrigatória e envolvente. Ele não trata só da “Guapa”, leva o leitor a percorrer um verdadeiro roteiro turístico espiritual, por locais onde são veneradas outras “santidades” eleitas pelo povo: “Capelinha dos Fuzilados”, “Negrinho da Sanga Funda” e túmulos da “Ciganinha” e do “Lopes”, além de histórias de assombrações que enriquecem o nosso lendário.

Osório lembra que São Gabriel não é um município privilegiado por riquezas naturais. Não tem mar, montanhas, balneários, rios arenosos e outras atrações ditas turísticas. Mas tem muita história, social, política, militar e geral.

Sente pena em ver o patrimônio histórico da cidade ser destruído. Prédios históricos e importantes estão desaparecendo. Acha que falta um órgão controlador para evitar que isso tenha continuidade.

Saúda movimentos que tem beneficiado a preservação de edifícios como a Igreja do Galo, Sobrado da Praça e Harmonia. E exalta o trabalho da senhora Geni Chagas, grande responsável pela execução das obras. E disse que precisou vir uma pessoa de fora, para fazer o que os filhos da terra não fizeram.

Graças ao amigo Osório Santana Figueiredo consegui fazer justiça a um dos grandes nomes do futebol gabrielense em todos os tempos. A biografia de Algenor Bastos de Melo, o “Cherpa” foi publicada em meu livro “100 anos de futebol em São Gabriel”. O historiador foi até sua casa entrevistá-lo para mim.

O seu Osório é único. Para atender um pedido deste amigo, ele não tem dia e nem hora. Pacientemente foi até a casa do “Cherpa” e conseguiu os dados que eu precisava.

E aproveitou para bater um longo papo com o ex-craque, que na época, mesmo com 79 anos de idade não deixava de fazer diariamente seus exercícios físicos. Até bem pouco tempo ainda participava de “peladas” com os amigos. Esse é um bom exemplo a ser seguido.

Lembro que uma ocasião o historiador Osório Santana Figueiredo lançou a idéia dos museus rurais, que seriam organizados nas ditas propriedades. Mas parece que a coisa ficou só no terreno das cogitações. Mas acho que centralizar tudo num único lugar seria o ideal.

Eu seu que muitas pessoas não vão querer perder coisas que lhes são tão caras, que lembram toda uma história, até familiar. Mas a causa é bem maior. É preservar objetos que acima de tudo contam a história de nossas tradições. Os alunos das nossas escolas poderiam visitar o museu, e receberiam verdadeiras aula sobre nossas origens.

Não sei se vai servir para encorajar alguém a se desfazer de bens de valor pessoal tão grande. Quando nos mudamos para Brasília, doamos ao Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF), mais de 500 LPs de músicas regionalistas gaúchas, entre eles verdadeiras relíquias, e ainda cerca de 100 livros sobre temas do Rio Grande do Sul.

Para o CAIC, na época dirigido pelo saudoso amigo doutor Hélio Machado, doamos algumas coleções de enciclopédias, que certamente até hoje servem aos alunos. E para o Centro de Estudos do Integralismo, em Porto Alegre doamos dezenas de livros e fotografias acerca daquele movimento político em nosso país.

Pouca gente em São Gabriel sabia disso. Foram doações espontâneas, sem nenhum outro sentido que não fosse o de compartilhar conhecimentos. De que adiantaria eu ficar com um acervo tão valioso dentro de minha casa?

E a mesma coisa eu acho que se pode aplicar em relação a possibilidade de se criar esse “Museu da Tradição”. As pessoas entenderem que com simples gestos de desprendimento, é possível fazer coisas grandiosas. A idéia está lançada.

Um momento marcante na vida do historiador aconteceu em 2007, quando da realização da II Feira do Livro de São Gabriel, em que ele foi o Patrono. Os alunos da Escola Marechal Deodoro prestaram uma homenagem ao grande Osório Santana Figueiredo.

A homenagem feita pelos escolares ao historiador aludiu à época em que este carreteava, de pés descalços, percorrendo quilômetros para trazer à cidade a produção do campo, e o deixou surpreso com a própria reação emocionada.

“Eu pensava estar fora da emoção, mas não estou, porque eles prepararam uma homenagem aos carreteiros em que eu me senti vivendo aquela situação”, desabafou Osório, que com suas dezenas de títulos já publicados, e alguns esgotados, lançou uma nova obra especialmente para a Feira, “Sua Excelência, o livro”.

Trata-se de uma obra auto referencial que compila os principais momentos históricos deste personagem. Em sessão solene na Câmara de Vereadores, também foi prestada homenagem especial a Milton Teixeira, considerado um verdadeiro mecenas pelo seu apoio à cultura gabrielense. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias - Publicado no jornal "O Fato", de São Gabtiel-RS, edição de 10 de junho de 2016)
Osório Santana Figueiredo e Nilo Dias. (Foto: Arquivo de Nilo Dias)

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