sexta-feira, 19 de maio de 2017

São Gabriel na Guerra dos Farrapos (Final)

A Revolução Farroupilha em São Gabriel (Final)

Já o historiador gabrielense, Osório Santana Figueiredo, escreveu em seu livro “História de São Gabriel”, todo um capítulo dedicado a Revolução Farroupilha no município, que, resumidamente, diz o seguinte:

No decênio farroupilha, São Gabriel era apenas uma vila, então terceiro distrito de Caçapava. Em seu solo ocorreram combates cruentos e entreveros épicos. Era comum estar um dia de posse dos revolucionários, e outro nas mãos governistas.

Tão logo os revoltosos ficaram sabendo que o presidente Antônio Rodrigues Fernandes Braga, fora deposto, reuniram-se nas proximidades, constituindo uma força de mais de 300 homens, sob o comando do coronel João Antônio da Silveira, e puseram cerco à vila. A 4 de outubro, ante a iminência do ataque rebelde, as forças legais se renderam confraternizando-se logo após com os atacantes.

Antônio Rodrigues Fernandes Braga foi um juiz, ouvidor de comarca, desembargador e político. Ele foi deputado geral, presidente da província do Rio Grande do Sul quando da Revolução Farroupilha, ministro do Supremo Tribunal de Justiça e senador do Império do Brasil.

Quando Bento Gonçalves marchou para Porto Alegre em 20 de setembro de 1835, o presidente Fernandes Braga se refugiou na cidade de Rio Grande, que se tornou assim a base principal do Império do Brasil no Rio Grande do Sul. Os farroupilhas, como ficaram conhecidos os rebeldes, empossaram Marciano José Pereira Ribeiro como novo presidente. (Wikipédia)

A uma hora da madrugada de 5 de outubro, uma coluna revolucionária dispersou, no distrito de Batovi, uma tropa governista, comandada pelo marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto.

Após um período de arrefecimento das hostilidades, chegou o ano de 1839, registrando-se a 5 de fevereiro um combate junto ao rio Vacacai, onde foi derrotado o caudilho legalista Juca Cipriano, deixando na fuga precipitada, seis mortos e dois feridos. São Gabriel voltava às mãos dos revolucionários.

Em meados desse mesmo ano Bento Gonçalves da Silva esteve em São Gabriel e determinou a criação de uma escola pública, sendo nomeado para dirigi-la o professor Luiz Carlos de Oliveira. A abertura desse colégio teve lugar a 12 de agosto e a matrícula constou de 68 alunos, sendo 43 do sexo masculino.

Durante o ano de 1840, São Gabriel passou ao poder dos imperiais, após a derrota de uma força farroupilha no Passo do Salso, quando foi morto seu comandante, capitão Fileno de Oliveira Santos, e mais três revolucionários.

O coronel legalista Manoel dos Santos Loureiro após infligir essa derrota ao inimigo, ocupou a povoação a 13 de junho, a frente de 700 homens.

O COMBATE DE SÃO FILIPE

A 16 de novembro feriu-se o sangrento combate de São Filipe, distrito de Azevedo Sodré, quando o general Antônio de Souza Neto e o coronel João Antônio da Silveira, bateram a brigada do coronel Gerônimo Jacinto.

No campo de batalha foram contados 80 mortos, 162 prisioneiros, armas e munições em profusão, rica bagagem e 1.500 cavalos. O coronel Jacinto conseguiu escapar com alguns oficiais e praças.

No ano de 1841, São Gabriel novamente voltou às mãos dos revolucionários, passando a ser Capital da República Rio-Grandense. A 27 de fevereiro, Bento Gonçalves chegou na localidade e recebeu o governo do vice-presidente em exercício, coronel José Mariano de Matos. No outro dia, houve um combate em Batovi, sendo derrotados os legalistas, que abandonaram o lugar.

José Mariano de Matos era engenheiro e militar, carioca e republicano, formado pela Escola Militar, foi soldado voluntário no 1º Corpo de Artilharia de Posição.

Foi transferido para o Rio Grande do Sul, em 1830, onde, em 1833, comandou o Corpo de Artilharia a Cavalo e liderou, junto com João Manuel de Lima e Silva, os protestos populares contra a Sociedade Militar, cuja filial tinha sido recém criada em Porto Alegre. A sociedade era suspeita de simpatizar com a restauração de D. Pedro I e não era vista com bons olhos pelos estancieiros.

Foi deputado provincial eleito à 1ª Legislatura da Assembleia Provincial. Esteve presente na sessão de 18 de setembro de 1835 da “Loja Maçônica Philantropia e Liberdade”, que decidiu iniciar a Revolução Farroupilha.

Na República Rio-grandense foi ministro da Guerra e da Marinha, vice-presidente da República e presidente da república interino, em substituição a Bento Gonçalves, de 23 de novembro de 1840 a 14 de março de 1841. Autor do brasão que foi adotado para o Rio Grande do Sul pelos constituintes de 1891.

Próximo do final da revolução foi preso em Piratini, junto com o coronel Joaquim Pedro, por Chico Pedro, o “Moringue”, e encarcerado em Canguçu, na cadeia que este mandara construir como “quarto de hóspedes para os farrapos”, o que ironicamente divulgava.

Finda a revolução, foi ajudante-geral do Duque de Caxias durante a guerra contra Oribe e Rosas entre 1851 e 1852 e, ao voltar ao Rio de Janeiro, retomou sua carreira. Em 1855 participou de diversas experiências sobre o uso de foguete de Halle, conhecidos também como foguetes rotativos, juntamente com o Barão de Capanema.

José Mariano de Matos foi ainda Ministro da Guerra do Império em 1864. Foi o farrapo que chegou mais alto na hierarquia militar do Império, como general, sendo ministro do Conselho Supremo Militar ao falecer. (Wikipédia)

Durante sua permanência em São Gabriel Bento Gonçalves criou uma fábrica de lombilhos, oficinas de armeiros, alfaiatarias e um matadouro de gado. Por essa época viveu no lugar o legendário José Garibaldi, com sua mulher Anita e seu filho Menotti, mais tarde general italiano.

A 18 de junho, na Estância do Meio, foram os revolucionários derrotados, ficando 10 mortos no local, um prisioneiro e muitos feridos. No outro dia, bem próximo, no Batovi, sofreram novo revés, perdendo 30 homens mortos e mais 30 feridos.

Outra vez, a 28 de fevereiro, o tenente-coronel legalista Francisco Pedro de Abreu, o famoso “Morigue” ou “Chico Pedro”, tomou de assalto São Gabriel, fazendo grande número de prisioneiros, volumosa bagagem de guerra, inclusive grande quantidade de armamento novo de infantaria, enviado por Frutuoso Rivera, do Uruguai. O ano de 1842 foi de apenas escaramuças no município.

CAXIAS EM SÃO GABRIEL

A 19 de março de 1941, chegou a São Gabriel o novo comandante em chefe das Forças Imperiais, o Barão de Caxias, instalando no local a sua principal base de operações de combate. Mandou construir um grande entricheiramento aos fundos da Estância do Trilha, denominado de “Entricheiramento do Trilha”.

Ali empotreirou numerosa cavalhada, gado de municio, quatro canhões, grande cópia de munições e demais provisões necessárias. Mais tarde, em 1856, esteve acantonado nesse local o 5º Regimento de Cavalaria Ligeira.

Em São Gabriel, Caxias fez-se forte de 7 mil homens e coordenou o ataque aos farroupilhas em várias direções. Tendo de se afastar deixou ao coronel Jacinto Pinto de Araújo a guarnição de três batalhões de infantaria e 600 cavalarianos, com o fim de proteger os armazéns militares e o gado de reserva.

Sabendo da ausência de Caxias, o coronel Antônio da Silveira, à frente de mil homens, investiu contra o “Trilha” e o fez com tal ímpeto que se apoderou de várias carretas, do gado de abate e de toda a cavalhada.

Durante os oito dias de constantes ataques, prendeu um coronel e deixou mais de 80 inimigos mortos. Só não ocupou a vila porque o Barão, sabendo do desastre de sua tropa, retornou às pressas de Santana do Livramento, fazendo esse percurso em 48 horas, a tempo de salvá-la, com a retirada dos revolucionários.

Em novembro, repetiu-se a façanha. O comandante imperial afastou-se outra vez de São Gabriel e o intrépido farrapo voltou à carga. Foi quando o coronel João Antônio da Silveira aproveitou-se da sua ausência e entrou de novo na vila, cobrando em fazendas para vestir suas tropas, os impostos ha tempos atrasados.

A 28 de abril de 1844, o célebre coronel Carvalhinho derrotou, nas proximidades de São Gabriel, o caudilho legalista João Batista, surpreendendo ainda no dia seguinte a força do tenente-coronel Andrade Neves, futuro Barão do Triunfo.

ENFIM, A PAZ

Por fim raiou o ano de 1845, trazendo a paz e a concórdia a esta heroica província, devastada por 10 logos anos de sangrenta peleja.

Tão logo chegou a São Gabriel a tão ansiada notícia da paz, houve festas e a população, tomada de grande júbilo, percorreu as ruas precedida de uma banda de música, cantando e dançando de alegria. Davam vivas aos pacificadores, notadamente a Caxias, que tanto dera de si pela concretização desse evento.

A 8 de março, às cinco horas e meia da madrugada, chegou inesperadamente em São Gabriel o denodado pacificador, que assim fizera com a modesta intenção de fugir à receptividade que lhe estava reservada.

Não pode, contudo, furtar-se à passagem pelos arcos do triunfo, erguidos no portão de entrada da Caieira, por onde ingressou, na Praça da Matriz e o da Estrada do Forte.

Em São Gabriel, o Barão de Caxias foi alvo das mais retumbantes manifestações de aplausos e regozijos populares. Uma comissão foi organizada para coordenar os festejos, constituída do Juiz de Paz, Antônio de Faria Corrêa, José Ilidório de Figueiredo, Antônio Ferreira Valle, Joaquim José de Freitas Santos, João Raimundo da Silva Santos, Francisco Cândido de Campos, Inocêncio Cócio e Macedônio.

Durante a estada em São Gabriel, o Barão recebeu a visita de um grupo de 11 meninas, sendo a mais velha com 11 anos, assistiu um “Te Deum” na Igreja Matriz, participou de dois bailes em sua homenagem e recebeu a visita de David Canabarro.

No Museu João Pedro Nunes existe um documento raro, onde consta toda a programação em homenagem ao Barão de Caxias, durante sua estada em São Gabriel. Esse folheto, contendo 12 páginas, foi impresso pela tipografia do Exército, na época existente em São Gabriel, composta em quatro dias daquele longínquo mês de março de 1845.

HERÓIS ESQUECIDOS

Embora São Gabriel tenha tido uma participação importante na Revolução Farroupilha, são raras às ruas que lembram os nomes de alguns vultos do decênio guerreiro. Que eu saiba nem o chefe farroupilha, Bento Gonçalves, é lembrado.

E muito menos Antônio de Souza Neto, Anita Garibaldi, Giuseppe Garibaldi, David Canabarro, Onofre Pires, Lucas de Oliveira, Vicente da Fontoura, Gomes Jardim e tantos outros. Não tenho certeza se ao menos tem alguma rua que homenageie a data, 20 de setembro.

Além do acervo existente no Museu João Pedro Nunes, que é valioso, e hoje encontra-se no novel Museu Nossa Senhora do Rosário Bonfim, este guarda com carinho uma lembrança do ciclo farroupilha. Trata-se de um clarim em bronze e cobre, que segundo se sabe teve um papel estratégico desde a primeira vitória dos farrapos, na tomada de Porto Alegre, em 20 de setembro de 1835.

A história, que é contada de boca em boca narra um desfecho improvável: ao analisar a capacidade de reação dos imperiais, o comandante farrapo teria dado a ordem ao corneteiro para que anunciasse à tropa a necessidade de recuar.

Mas o instrumentista teria se atrapalhado e dado um toque de “avançar”, alterando os rumos do confronto. Apesar da confusão, os soldados farrapos teriam derrotado os inimigos, transformando o instrumentista em protagonista da conquista.

Os livros de história atestam que a atrapalhação estratégica no toque de clarim realmente aconteceu. Mas não na Guerra dos Farrapos, nem sequer no Rio Grande do Sul. O episódio teria sido decisivo para outro combate, ocorrido na Bahia. Treze anos antes. Foi na batalha de Pirajá, em 1822, quando o Brasil lutava contra Portugal para consolidar a independência nacional.

Mesmo não sendo tão ilustre como na versão mais popular, a corneta guardada em São Gabriel é considerada autêntica relíquia da Revolução Farroupilha. Os registros do museu atestam que foi doada pelo ex-governador de Santa Catarina Ptolomeu de Assis Brasil, em 1932.

Mas o que um ex-governador catarinense tem a ver com a corneta dos farrapos? Simples. Ptolomeu era natural de São Gabriel e quis devolver ao Rio Grande do Sul o instrumento que teria sido levado para o Estado vizinho durante as ações militares que desencadearam a proclamação da República Juliana, em 1839.

Assim, quase um século depois de ter anunciado combates, avanços e recuos de tropas dos farrapos que lutaram pela proclamação da república catarinense, a peça acabou retornando ao solo rio-grandense.

O historiador Osório Santana Figueiredo lembra que, naquela época, cada exército tinha a sua corneta — e o corneteiro andava sempre ao lado do comandante, cumprindo uma função importante. “O clarim era um instrumento de guerra”, define o pesquisador.

O corneteiro oficial dos farrapos foi Antônio Ribeiro, que era peão da estância de Bento Gonçalves e permaneceu morando na estância Cristal, em Camaquã, após o fim da guerra, em 1845. Quando morreu, com mais de 80 anos, teria sido enterrado com sua inseparável corneta, que tantos combates anunciou nos 10 anos da Guerra dos Farrapos.

Tataraneto de Bento Gonçalves, o publicitário Raul Moreira diz que até o fim da vida Ribeiro manteve o hábito de tocar a corneta diariamente, como forma de homenagear o antigo líder, morto em 1847. Mas esta já é outra história. (Fonte: Jornal “Zero Hora”)

A SEMANA FARROUPILHA

Em São Gabriel é realizada anualmente uma extensa programação para comemorar a Revolução Farroupilha. Nos CTGs realizam-se fandangos e penhas (comida gaúcha, músicas e danças). No Parque de Exposições Assis Brasil, forma-se o acampamento gaúcho, com barracas montadas e churrasco o dia todo.

No dia 20, data consagrada aos gaúchos, realiza-se o desfile de cavalarianos, um dos maiores do Estado, chegando a reunir cerca de 5 mil participantes.

Dentro das comemorações da Semana Farroupilha 2011, o Museu Nossa Senhora do Rosário Bom Fim, de São Gabriel, foi o palco de uma mesa redonda para debater a vida de David Canabarro e participação do espanhol Don José Guasque na Revolução Farroupilha. Foram palestrantes: doutor Gerson Oliveira (descendente de Guasque) e Elma Sant’Ana, autora do livro sobre o espanhol. (Diversas fontes) (Pesquisa: Nilo Dias)

 Desfile da Semana Farroupilha em São Gabriel, é um dos maiores do Estado. (Foto: Divulgação)

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