sábado, 14 de abril de 2018

Um castelo no Pampa gaúcho

O castelo fica em Pedras Altas, mas a história mora em São Gabriel. Assis Brasil era gabrielense de nascimento. E construiu um castelo em estilo medieval para dar de presente a sua esposa Lídia de São Mamede, filha de um conde europeu e que residia em um local semelhante na Europa.

O castelo está tombado desde 1999 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Pena que hoje se encontre em progressiva degradação. O prédio tem 44 cômodos, inúmeras peças históricas e uma valiosa biblioteca de 8 mil volumes.

O castelo mantém até hoje móveis trazidos de Nova Iorque. Foram instaladas 12 lareiras, espalhadas pelo prédio para enfrentar o rigoroso inverno do pampa gaúcho. A quantidade de objetos históricos impressiona. Um deles é uma prosaica janela que ainda preserva os vidros quebrados durante a invasão dos chimangos. “Toda a casa deve ter suas cicatrizes”, explicou Assis Brasil para justificar a manutenção dos cacos de vidro que perduram na janela.

Assis Brasil queria provar que era possível ser homem do campo sem ser rude. Assis Brasil queria enobrecer o campo. Para enobrecê-lo, ele não apenas comprou livros, mas também introduziu no local (e no Brasil) os gados Jersey e Devon, a ovelha Karakul e o cavalo árabe.

Tinha a tese — na época revolucionária — de que uma área pequena e bem trabalhada poderia produzir mais do que as tradicionais fazendas gaúchas, onde o gado era criado sem maiores cuidados. Havia uma estação de trem próxima ao castelo, hoje desativada. Ali embarcavam animais das raças Devon, Jersey, Karakul, além da lã de ovelha, banha de porco, queijos, manteiga e frutas secas.

No sonho de Assis Brasil, o trabalho caminharia junto com a educação. “O arado e o livro são ferramentas do progresso”, escreveu. Depois de trabalharem na terra, os trabalhadores poderiam estudar.

O que Assis Brasil não previu foi que a fazenda poderia até sobreviver de sua produção, mas jamais sustentar um oneroso castelo que se ressentiria das infiltrações naturais do clima úmido do Pampa. O castelo tem aparência medieval, mas seu projeto trazia novidades exclusivas, como o fato de os banheiros ficarem dentro da fortaleza, numa época em que a lei mandava instalar sanitários fora das casas.

O castelo não é apenas um curioso exemplar arquitetônico, ele tem história. Ali, deu-se a assinatura do acordo de paz que encerrou a revolução gaúcha de 1923.  Em sua biblioteca foi assinada a paz de Pedras Altas entre as forças políticas que apoiavam Borges de Medeiros e suas enjoativas reeleições — foi presidente do Estado entre 1898 e 1927 — e aquelas que se insurgiam contra o fato.

A paz foi assinada em 14 de dezembro de 1923. A Revolução de 23 durou apenas 11 meses, mas assustou um Estado onde — com suas degolas — estavam presentes as lembranças da guerra de 1893, o mais sangrento dos confrontos da história do Rio Grande.

O castelo em sua magnitude. (Foto: Assis Brasil)

O castelo visto por uma das laterais (Foto: Cecília Assis Brasil)

Foto antiga do castelo, ainda em toda a sua plenitude. (Foto: Almanaque Literário)

O retrato atual do castelo mostra a situação de abandono em que se encontra. (Foto: Almanaque Literário)

Eis a filosofia do criador do castelo, Joaquim Francisco de Assis Brasil: Suor e sabedoria.

Portão de ferro. (Foto: Portal Férias)

Chalé. (Foto: Portal Férias)


A biblioteca, composta de 15 mil exemplares, foi construída a partir de um profundo estudo sobre a orientação solar para evitar a proliferação de mofo. O lugar abriga obras em inglês, francês, português e latim. (Fotos: Almanque Literário)

Estábulo. (Foto: Pinterest)

Criação de gado Devon. (Foto: Portal Férias)

Piano. (Foto: Pinterest)

Lavabo. (Foto: Pinterest)

Caixa d'água. (Foto: Pinterest)

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