quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Um médico que honra a profissão

Desde 6 de junho de 2015 o prédio da antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário – Bom Fim, popularmente conhecida como “Igreja do Galo”, e que hoje abriga  um museu, tem de volta o galo, embora não mais o original, que foi roubado em 11 de setembro de 1985 e nunca mais foi encontrado.

Desde então, foram várias suposições sobre o seu paradeiro, dando origem a várias lendas. O galo de bronze atual foi feito pelo “Movimento Resgate Cultural de São Gabriel”, formado por Émerson Fernandes, Rodrigo Porciúncula, Amilcar Varella, Maria Angélica Buere e Marcelo Ribeiro.

O galo foi doado pelo médico gastroenterologista gabrielense doutor Manoel Francisco Assis Brasil Macedo, um apaixonado pela memória histórica e cultural da cidade. Para ele, é uma alegria imensa poder passar pela rua Andrade Neves e ver o que chama de “símbolo do despertar”, novamente em seu devido lugar.

O doutor Manoel Francisco é um homem de muita fé, que ama a profissão escolhida e dedica um enorme carinho a seus pacientes. Tanto é verdade, que por coincidência aniversaria no dia 13 de outubro, na mesma semana, em que se comemora o “Dia do Médico” (18).

PAIXÃO PELO CAMPO

Outra paixão de Manoel Francisco, além da Medicina, é o campo. Garante ter um fascínio muito grande pela liberdade que o campo inspira e que no seu entender ajuda a completar a vida familiar e a vida profissional. Esse gosto pelo campo tem uma razão de ser. Várias gerações da sua família descendem da área rural.

Os estudos de Manoel Francisco tiveram início no tradicional Colégio Menna Barreto, continuando depois no Ginásio São Gabriel, atual Colégio Marista. A família morava na zona rural, por isso era obrigado a se deslocar diariamente para estudar na cidade.

Lembra que naquele tempo, o uniforme era um avental branco, chamado de “tapapó”. Eu, Nilo Dias, também cheguei a usar quando estudava no Grupo Escolar Bernardino Ângelo, em Dom Pedrito, minha terra natal.

Para ele, que gostava de brincar, andar a cavalo e pescar na calmaria da campanha, ter de sair disso e ir para o Menna Barreto estudar, de avental branco era um “inferno”.

A infância de Manoel Francisco traz lembranças do mundo rural. Seu pai era um homem de recursos, mas gostava de uma vida bastante simples, ao lado de sua mãe. Naquela época não havia o conforto de hoje no campo, vivia-se a luz de velas ou de lampiões a querosene.

Durante as férias convivia com os avós no Castelo de Pedras Altas, que era e é muito bonito até hoje. Também lá não havia ostentação, e sim, um ritmo de vida diferente. Esse contraste para a sua formação foi muito bom. Ele viveu os dois lados.

FAMÍLIA REAL

A sua avó pelo lado paterno era portuguesa. A família dela morava em Lisboa. O bisavô José Ferreira Pereira Felício, era secretário particular do rei Dom Carlos, de Portuga. Então sua avó sempre conviveu naquele ambiente da corte.

Eles moravam numa das alas residenciais do Palácio de Queluz.  E seu avô Joaquim Francisco Assis Brasil, era embaixador do Brasil em Lisboa e quando foi apresentar as credenciais ao rei conheceu a sua avó.

A corte estava reunida e ela estava junto. Ele se apaixonou por ela e depois se casaram. E pagou a promessa de construir uma casa só para ela morar, nascendo assim o “Castelo de Pedras Altas”.

Considera a família uma coisa muito preciosa. Se considera um homem feliz porque escolheu para companheira uma pessoa que ama muito. Laura Maria é a sua companheira 24 horas por dia.

São mais de 40 anos juntos e dois filhos, o Flávio, que é medico veterinário e a Laura Maria, que é publicitária. Pra completar a felicidade, dois netos, filhos do Flávio, o Gabriel e o Manoel.

O doutor Manoel Francisco esteva com a esposa, em Portugal, e conheceu o Palácio de Queluz, onde sua avó morou isso lhe trouxe muita emoção. Lembrou dela contando as histórias de quando conheceu seu avô, falando sobre a roupa de embaixador que ele usava quando se conheceram.

Aquela roupa pomposa, e que tocaram o hino nacional brasileiro com o rufar de tambores para recebê-lo. Meu avô se apaixonou perdidamente por ela. Depois dessa missão diplomática em Portugal, ele foi nomeado para ser embaixador em Washington, onde eles estiveram por nove anos e onde a sua avó teve seus primeiros filhos.

JUNTO DE RUI BARBOSA

Seu avô foi nomeado, ele e Rui Barbosa, pelo Barão do Rio Branco, para fazerem o tratado do Acre. E seu avô se desentendeu com Rui Barbosa, pois este era uma pessoa extremamente inteligente, mas muito vaidoso.

Seu avô resolveu com um toque de diplomacia, provocá-lo e, em discussão pública disse: “Vossa Excelência é um oceano de sabedoria, mas cujo oceano, eu caminho com a água pelas canelas” O Rui Barbosa se sentiu ofendido e pediu demissão.

O Assis Brasil era muito profundo, era advogado e tinha um largo conhecimento de botânica, agronomia falava Italiano, Francês, Inglês, Espanhol e aprendeu mandarim.

Manoel Francisco desde pequeno tinha  vontade de ser médico. Teve influência familiar com dois tios que eram médicos, Amarílio Macedo, um cirurgião muito conhecido, formado na Alemanha, que era irmão de seu pai.

O outro tio, igualmente médico foi Dácio Assis Brasil. Não tem certeza se foi a influência deles e a convivência, próxima a eles, que despertou esse profundo gosto pela profissão.

Formou-se na Faculdade de Medicina de Rio Grande, na segunda turma da Fundação Universidade de Rio Grande (FURG), em 1972. Fez residência em Porto Alegre, na Faculdade Católica de Medicina e depois, aperfeiçoamento em Gastroenterologia e também em Endoscopia.

Teve a oportunidade, ao longo desse período, de fazer vários cursos dentro dessa especialidade, não só no país como fora. Esteve na Venezuela, nos Estados Unidos, México, Uruguai e na Argentina.

Desde o Ginásio, sempre foi um aluno que gostava de tirar notas boas. Na Faculdade, a única disciplina em não tirou nota boa, foi justamente em Gastroenterologia.

Por isso estudou muito a especialidade, o que lhe deu um profundo prazer em dominar a matéria, tanto que eu optei por essa área. Não foi uma coisa pensada, foi de repente.

Começou a trabalhar em 1975, em São Gabriel. Naquela época, o médico era bastante considerado, recebia muitos presentes, homenagens. Não esquece de um fato que lhe marcou muito.

Atendia um paciente, já há muito tempo, tanto que se formou uma afeição entre ambos e a família dele. Ele tinha câncer de próstata e aquela relação durou muitos anos. Além disso, sofria com problemas de pressão, digestivos e dores,. Era atendido em casa.

Todos os dias ia vê-lo. Quando não ia, ele mandava o motorista lhe buscar. Estava recém-casado, e falou a ele que ficaria uma semana fora. Na verdade, disse isso só para poder ficar em casa, pois nem estava pensando em viajar.

Foi quando ele perguntou: “Para onde tu vais?” E no ímpeto do momento, disse que iria para o Rio de Janeiro. Ele então retrucou:

“Passa aqui antes, que eu quero falar contigo”. Para a surpresa de Manoel, ele esperou com duas passagens de avião, de ida e volta e as reservas de uma semana de estadia no Copacabana Palace. Foi uma mentira inocente que resultou numa viagem.

VIAGEM A EUROPA

O doutor Manoel Francisco teve a oportunidade de visitar a Inglaterra, França e Portugal, onde fez pesquisas e conheceu os sistemas de saúde pública desses países, constatando que são muito eficientes.

As instalações são excelentes, enquanto que aqui, os nossos hospitais são muito deficitários, existe uma falta de valorização profissional de médicos e enfermeiros. Ele acha que o grande mal no Brasil, é o não reconhecimento profissional, não só o médico como o professor e o funcionário público, em especial.

A maioria dos nossos médicos se concentra nos grandes centros e não vem para o interior em razão de não terem uma remuneração condizente com o trabalho. Não há estímulo.

É católico, por convicção. Considera a religião uma coisa muito importante. Teve a oportunidade, tempos atrás, de ir a Zaragoza, na Espanha, visitar o Santuário de Nossa Senhora do Pilar.

Depois esteve no México, no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe. E por último foi ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, numa época em vinha dizendo a sua esposa que precisava de um “banho” de fé.

Em 2012, o médico e produtor rural Manoel Francisco de Assis Brasil Macedo foi um dos homenageados durante a 78ª Exposição Feira de São Gabriel, com o “Troféu Persona”. (Pesquisa: Nilo Dias - Publicado no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 15 de janeiro de 2020)

Doutor Manoel Francisco de Assis Brasil Macedo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário