Médico Nefrologista da Santa Casa de São Gabriel
O restaurante Esquina Bianchetti, em Bagé, durou 16 anos, no seu auge dos primeiros 10 anos, era um local onde todos se encontravam, comiam bem e, em alguns casos, bebiam bastante.
Meu pai comprava vinhos (foi um dos primeiros a comprar
os chilenos para que fossem consumidos pelos clientes da casa), para servir
durante o jantar. A casa ficava um corre corre quando chegava o fim de semana,
momento de maior frequência das famílias que saiam para comer fora, e buscavam
as massas que nossa família era pródiga em fazer, geralmente havia algum pedido
de bebida para os adultos.
Os vinhos eram guardados fechados à chave no local
que o pai usava como escritório.
Havia uma trupe numerosa de amigos do meu pai que
apareciam noite após noite, para jogar conversa fora, e ver o movimento de quem
circulava pelo salão. Essa era turma do whisky e da cerveja, tinham até uma
denominação “Plenário”.
Um acontecimento era quando chegavam “os gringos“. Meu pai
tinha alguns amigos da Serra Gaúcha. Quando recém-casado com minha mãe, ele
chegou a ser convidado por um desses amigos, que queria que ele fosse trabalhar
no frigorífico que administrava. Mas meu pai ficou com receio de morar longe da
mãe dele, que viuvara cedo e dele dependia por ser o único filho homem.
Esse amigo pródigo era um italiano baixo, gordo, com um
temperamento extrovertido, cabelo branco cortado no formato escovinha. Ao
adentrar ao salão vindo da sua cidade já ia gritando com os braços abertos, e
um sotaque carregado: “Sirinho!” Meu pai abria um sorriso e abraçavam-se
efusivamente no meio do salão.
Em Caxias, ele era também dono de um hotel, que foi o
lugar onde meus pais recém casados passaram a lua de mel. Foi servido na
ocasião (isso lá por 1962) a deliciosa salada de figos maduros e presunto que
meu pai adotaria como sua predileta para o resto da vida, e que eu compartilho
até hoje.
O italiano, quando ia a Bagé, pedia permissão à minha mãe
para usar a cozinha do Bianchetti, queria homenagear a sua visita à minha
família com um prato de massa, geralmente “à carbonara“, minha mãe suspirava e
deixava. O ambiente da cozinha era devolvido como se um furacão passasse
deixando tudo revirado. Meu pai adorava a função. A massa do amigo era de outro
planeta, uma delícia.
Nas outras noites, o “gringo“ aprontava. Ele ia a um
conhecido lugar de moças, como falar para não ferir suscetibilidades nestas
páginas sem censura, moças alegres que gostavam de se divertir com homens à
procura de muita diversão.
Ele ligava de lá para o Bianchetti, fazia o pedido de
muitas “À la Minutas“ (prato que tem seu preparo rápido, um bife, ovo, arroz,
feijão, salada e batatas fritas), e exigia que o meu pai entregasse.
Meu pai ia
entregar e voltava às gargalhadas: “acreditas que ele está se passando por um
cardeal de Roma, e pede para que todas beijem o anel do cardinale “. Minha mãe
que anotara o pedido, séria olhava para o relógio, e o pai ainda rindo: “ele
queria que eu ficasse”. O italiano quase causa uma crise no casamento dos meus
pais, mas a história era tão burlesca que minha mãe não aguentava e também
começava a rir.
Outra figura que marcou as noites do Bianchetti era um
americano alto, forte que nem um touro e com a cara mais vermelha que eu
conheci. Ele era um técnico viticultor da Califórnia chamado simplesmente pelo
pai de Mister Bill.
Poucos ainda lembram que uma reconhecida vinícola quis
começar suas plantações de extenso parreiral primeiro em Bagé, o que
inicialmente não foi um sucesso.
O americano entornava uma garrafa de vodka antes do
jantar, para assombro do pai, e depois pedia vinho e a cara cada vez mais
vermelha parecia que inchava. Ninguém aguentava beber junto com ele. O pai que
bebia moderadamente, e não falava inglês, tinha se tornado muito amigo do Mister
Bill.
Este, o entrar no Bianchetti, também abria, tal qual o “gringo“ de
Caxias, os braços de enorme envergadura e gritava alto ao ver meu pai “Mister
BIanchetti!“ e começava outro abraço efusivo.
Minha mãe perguntava: “mas do que vocês falam?”. Ele respondia:
“depois do segundo copo eu não sei qual idioma estou falando, só sei que a
conversa é boa”.
E antes de Rivera ter seus free-shops meu pai era presenteado
com muitas garrafas das mais finas bebidas, de licores, conhaques e scotch, era
o mister Bill que trazia da Califórnia toda vez que vinha a Bagé.O cardeal e o
amigo americanoO restaurante Esquina Bianchetti, em Bagé, durou 16 anos, no seu
auge dos primeiros 10 anos, era um local onde todos se encontravam, comiam bem
e, em alguns casos, bebiam bastante.
Meu pai comprava vinhos (foi um dos primeiros a comprar
os chilenos para que fossem consumidos pelos clientes da casa), para servir
durante o jantar. A casa ficava um corre corre quando chegava o fim de semana,
momento de maior frequência das famílias que saiam para comer fora, e buscavam
as massas que nossa família era pródiga em fazer, geralmente havia algum pedido
de bebida para os adultos. Os vinhos eram guardados fechados à chave no local
que o pai usava como escritório.
Havia uma trupe numerosa de amigos do meu pai que
apareciam noite após noite, para jogar conversa fora, e ver o movimento de quem
circulava pelo salão. Essa era turma do whisky e da cerveja, tinham até uma
denominação “Plenário”.
Um acontecimento era quando chegavam “os gringos“. Meu
pai tinha alguns amigos da Serra Gaúcha. Quando recém-casado com minha mãe, ele
chegou a ser convidado por um desses amigos, que queria que ele fosse trabalhar
no frigorífico que administrava. Mas meu pai ficou com receio de morar longe da
mãe dele, que viuvara cedo e dele dependia por ser o único filho homem.
Esse amigo pródigo era um italiano baixo, gordo, com um
temperamento extrovertido, cabelo branco cortado no formato escovinha. Ao
adentrar ao salão vindo da sua cidade já ia gritando com os braços abertos, e
um sotaque carregado: “Sirinho!” Meu pai abria um sorriso e abraçavam-se
efusivamente no meio do salão.
Em Caxias, ele era também dono de um hotel, que foi o
lugar onde meus pais recém casados passaram a lua de mel. Foi servido na
ocasião (isso lá por 1962) a deliciosa salada de figos maduros e presunto que
meu pai adotaria como sua predileta para o resto da vida, e que eu compartilho
até hoje.
O italiano, quando ia a Bagé, pedia permissão à minha mãe
para usar a cozinha do Bianchetti, queria homenagear a sua visita à minha
família com um prato de massa, geralmente “à carbonara“, minha mãe suspirava e
deixava. O ambiente da cozinha era devolvido como se um furacão passasse
deixando tudo revirado. Meu pai adorava a função. A massa do amigo era de outro
planeta, uma delícia.
Nas outras noites, o “gringo“ aprontava. Ele ia a um
conhecido lugar de moças, como falar para não ferir suscetibilidades nestas
páginas sem censura, moças alegres que gostavam de se divertir com homens à
procura de muita diversão.
Ele ligava de lá para o Bianchetti, fazia o pedido de
muitas “À la Minutas“ (prato que tem seu preparo rápido, um bife, ovo, arroz,
feijão, salada e batatas fritas), e exigia que o meu pai entregasse. Meu pai ia
entregar e voltava às gargalhadas: “acreditas que ele está se passando por um
cardeal de Roma, e pede para que todas beijem o anel do cardinale “.
Minha mãe
que anotara o pedido, séria olhava para o relógio, e o pai ainda rindo: “ele
queria que eu ficasse”. O italiano quase causa uma crise no casamento dos meus
pais, mas a história era tão burlesca que minha mãe não aguentava e também
começava a rir.
Outra figura que marcou as noites do Bianchetti era um
americano alto, forte que nem um touro e com a cara mais vermelha que eu
conheci. Ele era um técnico viticultor da Califórnia chamado simplesmente pelo
pai de Mister Bill.
Poucos ainda lembram que uma reconhecida vinícola quis
começar suas plantações de extenso parreiral primeiro em Bagé, o que
inicialmente não foi um sucesso.
O americano entornava uma garrafa de vodka antes do
jantar, para assombro do pai, e depois pedia vinho e a cara cada vez mais
vermelha parecia que inchava. Ninguém aguentava beber junto com ele. O pai que
bebia moderadamente, e não falava inglês, tinha se tornado muito amigo do
Mister Bill.
Este, o entrar no Bianchetti, também abria, tal qual o “gringo“ de
Caxias, os braços de enorme envergadura e gritava alto ao ver meu pai “Mister
BIanchetti!“ e começava outro abraço efusivo.
Minha mãe perguntava: “mas do que vocês falam?”.
Ele
respondia: “depois do segundo copo eu não sei qual idioma estou falando, só sei
que a conversa é boa”. E antes de Rivera ter seus free-shops meu pai era
presenteado com muitas garrafas das mais finas bebidas, de licores, conhaques e
scotch, era o mister Bill que trazia da Califórnia toda vez que vinha a Bagé. ( Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 28 de agosto de 2019)
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