sábado, 19 de janeiro de 2019

Lázaro Xarão vive...

Lázaro Guterres Xarão foi um dos políticos mais honestos que conheci. Trabalhista dos quatro costados, brizolista de alma e coração fez história na Câmara Municipal de São Gabriel como um vereador combativo, sempre procurando o melhor, principalmente para aquelas massas mais pobres da população.

Não sou do tempo em que ele servia ao Exército. Nos conhecemos quando Lázaro já era vereador. Lembro bem dele, cabeleira grisalha, levemente ondulada, e bigode branco, lembrando o velho Rui Ramos, deputado federal que faleceu em acidente aéreo, no dia 20 de setembro de 1962, aos 53 anos de idade, junto de sua esposa Nehyta Martins Ramos. Tratava-se de um grande tribuno, dos maiores que o Rio Grande do Sul produziu em toda a sua história.

Seu Lázaro, era assim que eu o chamava, gozava de enorme popularidade na cidade e zona rural. E era um homem solidário ao extremo. Como conhecia quase todo o mundo, estava sempre presente nas horas boas e ruins.
Por isso não era de se estranhar que quase sempre se fazia presente quando algum conhecido falecia. Levava sua palavra de conforto aos familiares e os acompanhava até o último momento.

Em 10 de janeiro de 1946 Lázaro Xarão casou com dona Iolita Borges Xarão, com quem teve os filhos Vanderlei, Eider, Ivel, Oneil, Sandra, Luzair, Eva Elaine, e Anita Eliza. Apenas Luzair não é viva, faleceu quando tinha 3 anos de idade. Dona Iolita ainda é viva e goza de boa saúde.

A filha Sandra Xarão seguiu a mesma vocação política do pai, tendo sido vereadora na Câmara Municipal de São Gabriel por mais de uma legislatura e candidata a Assembléia Legislativa do Estado. 

Ela garante que jamais esquecerá de que herdou de seu saudoso pai, o gosto pela política. Garante que até já sentiu por muitas vezes a presença espiritual dele, lhe dando força para seguir adiante. Sandra se constituiu na primeira mulher a presidir a Câmara Municipal de São Gabriel.

A primeira vez que Sandra chegou ao legislativo municipal foi em 1993, quando a chamada “Casa do Povo” ficou assim constituída:

Antônio Devair Rodrigues Moreira (Beka), Adão Cavalheiro da Rosa, Ana Rita Fagundes Léo, Arlindo Roso de Vargas, Bento Fontoura Borges, Caio Flávio Rocha, Carlos Alberto Mac-Cord Lannes, Dalto da Silva Moreira, Élbio da Silva Capiotti, Francisco de Paula Mello da Silva, Francisco Renato Andrade da Silva, Miguel Moacir Barbosa, Roque Osmar Hermes, Sandra Maria Borges Xarão Teixeira e Zelso Prates de Andrade.

Desses, alguns já nos deixaram: Francisco de Paula Mello da Silva, Francisco Renato Andrade da Silva e Miguel Moacir Barbosa. E são vereadores até hoje Carlos Alberto Mc Cord Lannes e Antônio Devair Rodrigues Moreira (Beka).
Embora São Gabriel tenha fama de ser um município machista, várias mulheres já chegaram a Câmara Municipal. A primeira delas foi Maurícia Borges de Oliveira.

Depois vieram Eudóxia Garcia Chagas, Rita Dias, Ana Rita Fagundes Léo, Elta Obaldia, Sandra Xarão, Neca Bragança, Karen Lannes e Flávia Batista, não especificamente nessa ordem.

Sandra é mãe de quatro filhos, três deles, Soraia, Lázaro Fabiano e Igor, do primeiro casamento, com Quirino Santana Figueiredo, e Rodrigo, do segundo casamento com Francisco Teixeira.

Soraia é casada com Jodriom Figueiredo e mãe de Helena. Igor é casado com Lidiane Facco e pai de Valentina. E Lázaro Fabiano com Fabiana Phollmann e pai de Maria Antônia. Rodrigo é solteiro e desde o início do ano mora em Santa Maria, onde estuda.

Sandra cursou Agronomia e Direito, mas não completou nenhum deles. É adepta da religião Metodista, mas não se considera praticante, preferindo dizer que é cristã acima de tudo.

Seu Lázaro viveu no mesmo tempo de outros grandes nomes do trabalhismo gabrielense, como Ari Freire, meu conterrâneo de Dom Pedrito, filho do saudoso general Gonzaga Freire, que foi vizinho de minha família quando morávamos na bonita cidade onde nasci.

Era irmão de Danilo, grande jogador de futebol. Ari foi chefe de cerimonial na Câmara Municipal de São Gabriel.

Seu Lázaro foi correligionário dos saudosos Telmo Menezes e Paulo Pinto, verdadeiras relíquias da política da terra e que conheci muito. E tive a honra de ser amigo de ambos. Junto dessa turma, Lázaro estava presente quando da visita do grande líder trabalhista gaúcho, Leonel de Moura Brizola, nos anos 1980.

Nessa época existiam apenas dois partidos no Brasil, Arena e MDB. Depois é que veio a anistia e o pluripartidarismo reimplantado. Mas Brizola acabou perdendo o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), para Ivete Vargas, sobrinha do falecido presidente Getúlio Vargas.

E foi obrigado a criar o Partido Democrático Trabalhista (PDT), em 17 de julho de 1979, usando as cores azul, vermelho e branco, logicamente pensando em unir as torcidas dos dois grandes clubes de futebol do Estado, Grêmio e Internacional.

Por outro lado, a Arena virou Partido Democrático Social (PDS) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), se dividiu em várias siglas, já que a oposição no Brasil era uma verdadeira torre de Babel.

Em 1976 Lázaro foi reeleito vereador, ficando a Câmara Municipal assim constituída: Bento Rocha, Mauro Codevilla, Wanderley Machado, Lázaro Xarão, Noé Macedo, Édson Godóy, Joel Moreira, Clóbis Saccol dos Santos, Sidomar Goularte, Zoé Laureano, Sérgio Medina Mércio, José Dias, Idalino Ramos, Itajar Maldonado Chaves, Luzardo Mello, Eudóxia Chagas e Bento Borges.

Dessa turma apenas Bento Borges, Itajar Maldonado Chaves, Luzardo Mello, Idalino Ramos, José Dias, Sérgio Medina Mércio e Clóbis Saccol dos Santos continuam entre nós. Os demais já partiram.

Em outubro do ano passado foi realizado em São Gabriel, o 2º Encontro da Família “Xarão” e “Charão”. Ao que se sabe, seu Lázaro sempre sonhou em realizar um encontro desse tipo. Pena que só tenha se tornado realidade muitos anos depois de sua partida.

A história da família nos remete ao século 18, quando alguns alemães chegaram ao Rio Grande do Sul, de forma isolada, sem fazerem parte de um processo de povoamento. A família Schramm, que aqui ganhou as grafias “Xarão” ou “Charão”, é um exemplo.

O médico Johann Adolph Schramm, de Braunschweig, casou em 1727 no Rio de Janeiro com Cecília de Sousa da Conceição, com quem teve o filho Antônio Adolfo Charão.

Antônio era alferes dos Dragões em Rio Pardo, casou em Viamão, em 1758, com Joana Velosa Fontoura. Os descendentes deste casal tiveram ativa participação nas guerras e revoluções gaúchas.

O capitão Antônio Adolfo Xarão, membro da família, escreveu seu nome na história do município, quando em 1881 salvou a imagem do Arcanjo São Gabriel de ser queimada, ocasião em que as tropas portuguesas mobilizaram-se para destruir os postos de guarda espanhóis, visando ampliar os domínios portugueses.

No dia 29 de julho a vila de São Gabriel do Batovi foi ocupada e incendiada. Por ordem do Vice-Rei do Rio da Prata, Dom Gabriel Del Avilés e de Fierro, a imagem do Arcanjo, esculpida em Buenos Aires e que se encontra hoje acima da escadaria no prédio da Prefeitura Municipal, foi salva por Xarão.

Lázaro Xarão não foi esquecido pelos atuais vereadores. Hoje, a Sala de Reuniões do Legislativo gabrielense leva o seu nome.

Lembro muito bem da casa do seu Lázaro, na rua Nei Fária Corrêa, próximo ao 6º BE. Muitas vezes fui visita-lo, depois que ficou preso a uma cadeira de rodas.

Quando ele faleceu, em 26 de setembro de 2000, eu já não estava mais em São Gabriel. E mesmo a distância, senti muito a sua partida, porque era um grande amigo e tinha muita admiração e respeito por ele.

Talvez nem todas as pessoas que conheceram Lázaro Xarão saibam que ele também foi tradicionalista e radialista, dos bons. O saudoso “Canário Alegre” foi quem me contou, certa ocasião lá na Mercearia Nossa Senhora Aparecida, do amigo Gil, na Vila Maria.

O imortal Carlos da Silva Leite foi quem lançou o primeiro programa de cunho tradicionalista na Rádio São Gabriel, “O Inverno no Galpão”. O Lázaro Xarão fazia parte e levou o “Canário Alegre” para o rádio, alcançando grande sucesso. (Texto e pesquisa: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, no dia 16 de janeiro de 2019)


Um comentário:

  1. Buscando pelo nome Lazaro Guterres Xarão, me deparei com este conteúdo, sou familiar, pois me consta que meu avô Teodoro Vargas Guterres era primo do Lazaro, também não me surpreendi que tivesse este relato atestando a honestidade e a índole de Lazaro. Lembro que mesmo sendo analfabeto meu avô nos ensinava que a honestidade e a palavra de um homem eram sua maior riqueza.
    Obrigado

    Haroldo Urrutia Gutierres

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