Lázaro Guterres Xarão foi um dos políticos mais honestos que
conheci. Trabalhista dos quatro costados, brizolista de alma e coração fez
história na Câmara Municipal de São Gabriel como um vereador combativo, sempre
procurando o melhor, principalmente para aquelas massas mais pobres da
população.
Não sou do tempo em que ele servia ao Exército. Nos conhecemos
quando Lázaro já era vereador. Lembro bem dele, cabeleira grisalha, levemente
ondulada, e bigode branco, lembrando o velho Rui Ramos, deputado federal que
faleceu em acidente aéreo, no dia 20 de setembro de 1962, aos 53 anos de idade,
junto de sua esposa Nehyta Martins Ramos. Tratava-se de um grande tribuno, dos
maiores que o Rio Grande do Sul produziu em toda a sua história.
Seu Lázaro, era assim que eu o chamava, gozava de enorme
popularidade na cidade e zona rural. E era um homem solidário ao extremo. Como
conhecia quase todo o mundo, estava sempre presente nas horas boas e ruins.
Por isso não era de se estranhar que quase sempre se fazia
presente quando algum conhecido falecia. Levava sua palavra de conforto aos
familiares e os acompanhava até o último momento.
Em 10 de janeiro de 1946 Lázaro Xarão casou com dona Iolita Borges
Xarão, com quem teve os filhos Vanderlei, Eider, Ivel, Oneil, Sandra, Luzair,
Eva Elaine, e Anita Eliza. Apenas Luzair não é viva, faleceu quando tinha 3
anos de idade. Dona Iolita ainda é viva e goza de boa saúde.
A filha Sandra Xarão seguiu a mesma vocação política do pai, tendo
sido vereadora na Câmara Municipal de São Gabriel por mais de uma legislatura e
candidata a Assembléia Legislativa do Estado.
Ela garante que jamais esquecerá de que herdou de seu saudoso pai,
o gosto pela política. Garante que até já sentiu por muitas vezes a presença
espiritual dele, lhe dando força para seguir adiante. Sandra se constituiu na
primeira mulher a presidir a Câmara Municipal de São Gabriel.
A primeira vez que Sandra chegou ao legislativo municipal foi em
1993, quando a chamada “Casa do Povo” ficou assim constituída:
Antônio Devair Rodrigues Moreira (Beka), Adão Cavalheiro da Rosa,
Ana Rita Fagundes Léo, Arlindo Roso de Vargas, Bento Fontoura Borges, Caio
Flávio Rocha, Carlos Alberto Mac-Cord Lannes, Dalto da Silva Moreira, Élbio da
Silva Capiotti, Francisco de Paula Mello da Silva, Francisco Renato Andrade da
Silva, Miguel Moacir Barbosa, Roque Osmar Hermes, Sandra Maria Borges Xarão
Teixeira e Zelso Prates de Andrade.
Desses, alguns já nos deixaram: Francisco de Paula Mello da Silva,
Francisco Renato Andrade da Silva e Miguel Moacir Barbosa. E são vereadores até
hoje Carlos Alberto Mc Cord Lannes e Antônio Devair Rodrigues Moreira (Beka).
Embora São Gabriel tenha fama de ser um município machista, várias
mulheres já chegaram a Câmara Municipal. A primeira delas foi Maurícia Borges
de Oliveira.
Depois vieram Eudóxia Garcia Chagas, Rita Dias, Ana Rita Fagundes
Léo, Elta Obaldia, Sandra Xarão, Neca Bragança, Karen Lannes e Flávia Batista,
não especificamente nessa ordem.
Sandra é mãe de quatro filhos, três deles, Soraia, Lázaro Fabiano
e Igor, do primeiro casamento, com Quirino Santana Figueiredo, e Rodrigo, do
segundo casamento com Francisco Teixeira.
Soraia é casada com Jodriom Figueiredo e mãe de Helena. Igor é
casado com Lidiane Facco e pai de Valentina. E Lázaro Fabiano com Fabiana
Phollmann e pai de Maria Antônia. Rodrigo é solteiro e desde o início do ano
mora em Santa Maria, onde estuda.
Sandra cursou Agronomia e Direito, mas não completou nenhum deles.
É adepta da religião Metodista, mas não se considera praticante, preferindo
dizer que é cristã acima de tudo.
Seu Lázaro viveu no mesmo tempo de outros grandes nomes do
trabalhismo gabrielense, como Ari Freire, meu conterrâneo de Dom Pedrito, filho
do saudoso general Gonzaga Freire, que foi vizinho de minha família quando
morávamos na bonita cidade onde nasci.
Era irmão de Danilo, grande jogador de futebol. Ari foi chefe de
cerimonial na Câmara Municipal de São Gabriel.
Seu Lázaro foi correligionário dos saudosos Telmo Menezes e Paulo
Pinto, verdadeiras relíquias da política da terra e que conheci muito. E tive a
honra de ser amigo de ambos. Junto dessa turma, Lázaro estava presente quando
da visita do grande líder trabalhista gaúcho, Leonel de Moura Brizola, nos anos
1980.
Nessa época existiam apenas dois partidos no Brasil, Arena e MDB.
Depois é que veio a anistia e o pluripartidarismo reimplantado. Mas Brizola
acabou perdendo o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), para Ivete Vargas,
sobrinha do falecido presidente Getúlio Vargas.
E foi obrigado a criar o Partido Democrático Trabalhista (PDT), em
17 de julho de 1979, usando as cores azul, vermelho e branco, logicamente
pensando em unir as torcidas dos dois grandes clubes de futebol do Estado,
Grêmio e Internacional.
Por outro lado, a Arena virou Partido Democrático Social (PDS) e o
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), se dividiu em várias siglas, já que a
oposição no Brasil era uma verdadeira torre de Babel.
Em 1976 Lázaro foi reeleito vereador, ficando a Câmara Municipal
assim constituída: Bento Rocha, Mauro Codevilla, Wanderley Machado, Lázaro
Xarão, Noé Macedo, Édson Godóy, Joel Moreira, Clóbis Saccol dos Santos, Sidomar
Goularte, Zoé Laureano, Sérgio Medina Mércio, José Dias, Idalino Ramos, Itajar
Maldonado Chaves, Luzardo Mello, Eudóxia Chagas e Bento Borges.
Dessa turma apenas Bento Borges, Itajar Maldonado Chaves, Luzardo
Mello, Idalino Ramos, José Dias, Sérgio Medina Mércio e Clóbis Saccol dos
Santos continuam entre nós. Os demais já partiram.
Em outubro do ano passado foi realizado em São Gabriel, o 2º
Encontro da Família “Xarão” e “Charão”. Ao que se sabe, seu Lázaro sempre
sonhou em realizar um encontro desse tipo. Pena que só tenha se tornado
realidade muitos anos depois de sua partida.
A história da família nos remete ao século 18, quando alguns
alemães chegaram ao Rio Grande do Sul, de forma isolada, sem fazerem parte de
um processo de povoamento. A família Schramm, que aqui ganhou as grafias
“Xarão” ou “Charão”, é um exemplo.
O médico Johann Adolph Schramm, de Braunschweig, casou em 1727 no
Rio de Janeiro com Cecília de Sousa da Conceição, com quem teve o filho Antônio
Adolfo Charão.
Antônio era alferes dos Dragões em Rio Pardo, casou em Viamão, em
1758, com Joana Velosa Fontoura. Os descendentes deste casal tiveram ativa
participação nas guerras e revoluções gaúchas.
O capitão Antônio Adolfo Xarão, membro da família, escreveu seu
nome na história do município, quando em 1881 salvou a imagem do Arcanjo São
Gabriel de ser queimada, ocasião em que as tropas portuguesas mobilizaram-se
para destruir os postos de guarda espanhóis, visando ampliar os domínios
portugueses.
No dia 29 de julho a vila de São Gabriel do Batovi foi ocupada e
incendiada. Por ordem do Vice-Rei do Rio da Prata, Dom Gabriel Del Avilés e de
Fierro, a imagem do Arcanjo, esculpida em Buenos Aires e que se encontra hoje
acima da escadaria no prédio da Prefeitura Municipal, foi salva por Xarão.
Lázaro Xarão não foi esquecido pelos atuais vereadores. Hoje, a
Sala de Reuniões do Legislativo gabrielense leva o seu nome.
Lembro muito bem da casa do seu Lázaro, na rua Nei Fária Corrêa,
próximo ao 6º BE. Muitas vezes fui visita-lo, depois que ficou preso a uma
cadeira de rodas.
Quando ele faleceu, em 26 de setembro de 2000, eu já não estava
mais em São Gabriel. E mesmo a distância, senti muito a sua partida, porque era
um grande amigo e tinha muita admiração e respeito por ele.
Talvez nem todas as pessoas que conheceram Lázaro Xarão saibam que
ele também foi tradicionalista e radialista, dos bons. O saudoso “Canário
Alegre” foi quem me contou, certa ocasião lá na Mercearia Nossa Senhora
Aparecida, do amigo Gil, na Vila Maria.
O imortal Carlos da Silva Leite foi quem lançou o primeiro
programa de cunho tradicionalista na Rádio São Gabriel, “O Inverno no Galpão”.
O Lázaro Xarão fazia parte e levou o “Canário Alegre” para o rádio, alcançando
grande sucesso. (Texto e pesquisa: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal
"O Fato", de São Gabriel-RS, no dia 16 de janeiro de 2019)
Buscando pelo nome Lazaro Guterres Xarão, me deparei com este conteúdo, sou familiar, pois me consta que meu avô Teodoro Vargas Guterres era primo do Lazaro, também não me surpreendi que tivesse este relato atestando a honestidade e a índole de Lazaro. Lembro que mesmo sendo analfabeto meu avô nos ensinava que a honestidade e a palavra de um homem eram sua maior riqueza.
ResponderExcluirObrigado
Haroldo Urrutia Gutierres