sábado, 7 de maio de 2016

Berço e morada de militares ilustres (1)


São Gabriel é uma das cidades brasileiras de maior tradição militar. Até na sua fundação, em 2 de novembro de 1800, pelo espanhol Dom Felix de Azara os militares estiveram presentes. Azara era filho de influente família aragonesa, estudou nas Universidades de Huesca e Barcelona, onde habilitou-se para as carreiras das armas e de engenharia, tendo obtido o posto de Cadete em 1764.

Depois disso, São Gabriel foi berço de militares ilustres e acolheu outros tantos vindos de outros lugares. Três unidades militares estão sediadas aqui, o 9º Regimento de Cavalaria Blindada, o 6º Batalhão de Engenharia de Combate e a 13º Companhia de Comunicações.

E no passado outros aquartelamentos e Grupos Provisórios estiveram instalados na cidade. Entre eles, o 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o famoso “Boi de Botas” e o “Tiro de Guerra 247”.

São Gabriel ainda é sede do Museu Gaúcho da FEB. E os militares daqui já foram campeões de Pólo do Rio Grande do Sul, em 1936 e vice-campeões do Brasil, no Rio de Janeiro, na mesma época.

A cidade é chamada de “Terra dos Marechais”, por nela ter nascido o marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, que foi Presidente da República de 1910 a 1914. Hermes era sobrinho de Deodoro da Fonseca, proclamador da República e primeiro presidente do Brasil.

Manoel Deodoro da Fonseca foi comandante do 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, sediado em São Gabriel. Foi também um maçom ativo, desde que iniciado, a 20 de setembro de 1873, na Loja "Rocha Negra", de São Gabriel, para promover a abolição e a instrução pública. Neste mesmo ano, ele e seus irmãos deram liberdade a todos os escravos da família.

No Museu Nossa Senhora do Rosário Bonfim encontram-se a cadeira e o avental usados pelo marechal Deodoro, relíquia da época em que ele ingressou na Maçonaria durante o período em que serviu ao Exército em São Gabriel.

O marechal João Propício Menna Barreto, o “Barão de São Gabriel”, era natural de Rio Pardo. Participou das Campanhas de 1825-1828, tomando parte nas Batalhas do Passo do Rosário e de Canhitas. Na Revolução Farroupilha lutou do lado legalista.

Na Campanha do Uruguai de 1851-1852, comandou a 5ª Brigada de Cavalaria. Na Campanha de 1864-1865 no Estado Oriental, exerceu o comando do exército que conquistou Montevidéu. Coube a ele o comando das forças terrestres do Exército do Sul.

De volta a sua terra, recebeu o título de “Barão de São Gabriel” e solicitou dispensa do serviço militar por doença. Faleceu em São Gabriel em 9 de fevereiro de 1867. Em sua homenagem, o 9º RCB foi batizado com a designação histórica de “Regimento João Propício”.

O marechal Emílio Luiz Mallet, o “Barão de Itapevi”, nasceu em Dunquerque, na França, em 10 de junho de 1801 e morreu no Rio de Janeiro, em 2 de janeiro de 1886.  Era um homem de grande porte físico, com 2,01 metros de altura e 120 quilos de peso. É Patrono da Artilharia do Brasil e na data de seu nascimento é comemorado o “Dia da Artilharia”.

Terminada a sangrenta Guerra do Paraguai, o veterano e valoroso 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o “Regimento Boi de Botas”, como foi batizado, retornou diretamente a São Gabriel, então sua sede, sob o comando do marechal Emílio Luiz Mallet.

A espada do marechal encontra-se no Museu João Pedro Nunes, em São Gabriel, cidade onde morou por longo período. No Quartel do 6º BE Cmb, o mais velho aquartelamento do Brasil, onde outrora esteve instalado o famoso “Boi de Botas”, ainda é mantido o lendário “Portão Mallet”, que no passado foi à saída principal do quartel.

O quartel também mantém o “Memorial Comandante Mallet”, inaugurado em 21 de agosto de 1995, quando foram transladados para Santa Maria os restos mortais do marechal Emilio Luiz Mallet e de sua esposa dona Joaquina de Medeiros Mallet.

O marechal João Thomaz de Cantuária nasceu em Porto Alegre no dia 24 de setembro de 1835 e faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1908. Era viúvo e pai de um casal de filhos. Foi uma figura de grande destaque no Exército Brasileiro. Tinha longas barbas alvinitentes e um belo porte militar.

Iniciou a carreira militar em 30 de março de 1854, assentando praça, voluntariamente, no 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o “Boi de Botas”, em São Gabriel, onde ficou até 14 de abril de 1855. Ali foi nomeado alferes aluno para a Arma de Artilharia.

Combateu na Guerra do Uruguai e na Guerra do Paraguai. Por sua atuação durante toda a guerra, foi agraciado com o título de "Cavaleiro da Ordem de São Bento de Aviz", em 24 de janeiro de 1871.

Recebeu, ainda, em 11 de abril de 1872, a medalha concedida às Forças Expedicionárias da província de Mato Grosso, e a medalha da Guerra do Paraguai. Foi, ainda, condecorado com as medalhas concedidas pela República da Argentina e pela República do Estado Oriental do Uruguai, referentes ao mesmo conflito.

Com a Proclamação da República, foi nomeado marechal em 1900. Foi comandante da Escola Militar do Rio de Janeiro e diretor do Arsenal de Guerra. Comandou a 3 ª Região Militar em 1896. Depois foi Ministro da Guerra, durante o governo de Prudente de Morais.

Em 1898 foi o primeiro Chefe do Estado-Maior do Exército. Exerceu importante cargo de Ajudante Geral do Exército. O marechal Cantuaria é denominação histórica da 6ª Região Militar.

O marechal Fábio Patrício Azambuja participou da Guerra Civil (1893-1895) ao lado de Gumercindo Saraiva. Atingiu o generalato em 1822, excedendo interinamente o comando da 3ª Região Militar, durante a Revolução de 1923.

Foi prestimoso auxiliar do ministro da Guerra, general Setembrino de Carvalho para pacificar a Revolução de 23 em Pedras Altas, dada a sua capacidade de dialogar com os revolucionários cuja causa simpatizou e até influenciou.

O Marechal Fábio deixou o Exército em 1924 e dedicou-se as atividades de estancieiro. Foi provedor assinalado da Santa Casa de São Gabriel, tendo falecido em janeiro de 1955 aos 93 anos, dos quais 35 de excelentes serviços a sua terra natal.

Em novembro de 2007, quase foram parar no lixo documentos, de valor histórico notáveis. Graças a dona de casa Carina Nunes, que ajudava os familiares da falecida professora Ilca Caldas a separar seus pertences, acabou encontrando em um móvel, grande quantidade de documentos antigos.

Tempos depois, em consulta ao Museu da FEB, Carina soube que se tratava de um material precioso sobre um dos vultos históricos do município, o marechal Fábio Azambuja, do qual pouco registro material se tinha até então. Todo o material foi doado ao Museu.

Outro militar que alcançou um cargo de relevância histórica foi o marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, que comandou a Força Expedicionária Brasileira, na Segunda Guerra Mundial durante a Campanha da Itália, entre 1944 e 1945. Era filho de São Gabriel, onde nasceu a 13 de novembro de 1883. Faleceu em 17 de setembro de 1968, no Rio de Janeiro onde residia.

Em 1943 foi nomeado o comandante da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE), a única da Força Expedicionária Brasileira (FEB). O então general chegou à Itália com as primeiras tropas brasileiras em julho de 1944 e comandou as forças verde e amarela a partir do mês de novembro até a rendição do “Eixo”, na Itália, em 2 de maio de 1945.

Após o fim da guerra, Mascarenhas de Moraes retornou ao Brasil e comandou a Zona Militar Sul entre 4 de abril e 29 de agosto de 1946. Ainda nesse ano, foi promovido a Marechal, por ato do Congresso Nacional.

Foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas entre 21 de janeiro de 1953 e 8 de setembro de 1954. Nesse período, acompanhou a crise política que levaria ao suicídio de Getúlio Vargas. Depois da morte do presidente, em agosto de 1954, retornou para a reserva e publicou as suas memórias, como comandante da Força Expedicionária Brasileira.

Em 1955, apoiou o Movimento de 11 de Novembro liderado pelo general Teixeira Lott, que garantiu a posse de Juscelino Kubitschek na presidência da República.

O marechal Artur da Costa e Silva não serviu em São Gabriel, mas veio a cidade em 3 de julho de 1969, quando era Presidente da República, para inaugurar a “Ponte General Abreu”, em Rosário do Sul. Ele foi obsequiado com um churrasco realizado no CTG Tarumã.

Outro Presidente da República, o general João Baptista Figueiredo, serviu como major no 9º Regimento de Cavalaria Blindada. Em 15 de maio de 1978 ele veio a São Gabriel para uma visita mais de caráter sentimental, para rever amigos e matar a saudade. Ao passar na antiga “Ponte Seca” abraçou efusivamente o saudoso tenente Orozimbo Pereira dos Santos, seu velho auxiliar e amigo dos tempos de caserna.

O doutor José Narciso da Silveira Antunes natural de São Gabriel foi major médico na Coluna Honório Lemes e após a revolução medico chefe na Companhia Swift do Brasil em Rosário do Sul.

Argemiro de Assis Brasil nasceu em São Gabriel no dia 11 de maio de 1907 e faleceu em Canoas (RS), em 1982. Ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre em 1921 e depois cursou a Escola Militar do Realengo, onde graduou-se oficial da Arma de Infantaria do Exército, em 1927.

Em 1930, como 2º tenente, negou-se a combater o governo de Washington Luiz, razão pela qual foi preso e anistiado três meses depois pelas forças vitoriosas de Getúlio Vargas.

Em 1932, quando era 1º Tenente, tomou parte no movimento revolucionário paulista de caráter constitucionalista, o que lhe valeu dois anos de exílio na Europa e clandestinidade na Argentina. Foi anistiado por Getúlio Vargas em 1934.

Em 1950 foi nomeado membro da Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai, onde permaneceu até 1953. Regressando ao Brasil foi comandante da 3ª Região Militar, em Porto Alegre.

Como Coronel comandou o 2º Regimento de Infantaria em Santa Maria e o 19º Regimento de Infantaria em São Leopoldo. Foi Chefe de Estado-Maior da 3ª Região Militar. Em 1962 foi nomeado Adido Militar à Embaixada do Brasil em Buenos Aires.

Promovido a General-de-Brigada, em agosto de 1963, foi ministro-chefe da Casa Militar do presidente João Goulart, onde permaneceu até 1964, ocasião em que o movimento militar de 31 de março depôs o presidente.

Acompanhou o presidente até o exílio em Montevidéu e retornou em seguida ao Brasil, tendo sido preso no Forte de Jurujuba, demitido do Exército e cassados seus direitos políticos, seu soldo e suas condecorações militares.

Foi impronunciado pela Justiça Militar. Teve empregos e créditos bloqueados. Sobreviveu por 15 anos, dando aulas particulares de Matemática e de uma pensão que recebia do INPS como idoso.

Em 1981 foi reabilitado pelo presidente João Baptista de Figueiredo, que lhe devolveu a patente militar e o passou à condição de inativo. Argemiro casou em Santa Maria, no dia 14 de janeiro de 1939, com Alba Arruda Gomes.

O major Hermenegildo Lauriano da Silva nasceu em São Gabriel no dia 16 de novembro de 1832 e faleceu em 28 de maio de 1908 na mesma localidade. Ele participou da Guerra do Paraguai e depois foi fazendeiro e criador em São Gabriel. Casou em 7 de agosto de 1858 com Avelina Pereira da Silva, que era filha do tenente Avelino Inácio da Silva e Camila Pereira Fagundes.

Ptolomeu de Assis Brasil, general do exército, fez a Revolução de 1893/1895, tendo sido um dos chefes da Revolução de 1930. Foi Governador de Santa Catarina durante os anos de 1930/1932, além de engenheiro e geógrafo.

O tenente-coronel do Exército, Ruy Zobaran, nasceu em São Gabriel no dia 16 de fevereiro de 1889 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1 de outubro de 1954. Era também engenheiro e bacharel em Matemática e Ciências Físicas. Tomou parte nas revoluções de 1924, 1930 e na de 1932, quando participou de combates.

Foi interventor federal em Santa Catarina, no período de 26 de outubro de 1932 a 20 de março de 1933. Casou-se com Arminda Coryntha Marçal da Silva que ficou conhecida como "Cora Zobaran", “Vovó Cora” e “Tia Cora”, que era filha de Antônio Marçal da Silva e de Maria José.

O coronel Francisco Hermenegildo Laureano da Silva nasceu em 1876, em São Gabriel, onde faleceu em 7 de abril de 1940. Atendia pelo apelido de “Chico Mamãe”, não se sabe por quais razões. Foi coronel do Exército e prefeito de São Gabriel por três vezes (1917/1920, 1922/1924 e 1929/1930). Era casado com dona Palmira Vieira, conhecida pela benemerência na cidade. Não teve filhos.

O coronel José Plácido de Castro nasceu em 1873, em São Gabriel, e morreu em 1908, no Acre.  Aos 21 anos, durante a Revolução Federalista, lutou ao lado dos maragatos, alcançando o posto de major. Ao fim da revolução foi beneficiado pela anistia, mas assim mesmo largou o Exército.

Gaúcho de São Gabriel, José Plácido de Castro foi para a Escola Militar do Rio Grande do Sul ainda garoto. Atraído pela chance de fazer fortuna com a extração da borracha, em 1899 ele foi para o Acre, onde, com 27 anos de idade, liderou uma revolução com mais de 30 mil homens, vencendo as tropas bolivianas, com quase 100 mil soldados, e proclamou o Estado Independente do Acre. Tornou-se presidente do novo Estado e ficou no cargo até 1904.

Em 9 de agosto de 1908, Plácido de Castro se dirigia à sua propriedade, ao lado do irmão Genesco de Castro, quando foi ferido numa emboscada que lhe prepararam mais de uma dezena de jagunços, sob a liderança de Alexandrino José da Silva, o subdelegado das tropas acreanas na Revolução do Acre.

No dia 11, ardendo em febre, implorou ao irmão, Genesco, de olhos fechados, na presença de vários companheiros: "Logo que puderes, retira daqui os meus ossos”. Isso foi feito. Hoje, seus ossos estão sepultados no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Na fronte do pedestal, a família mandou gravar os nomes e sobrenomes de seus 14 carrascos.

Faleceu em 16 de julho de 1994, em Porto Alegre, o coronel do Exército, Hélio de Castro, filho de São Gabriel, onde nasceu em 10 de abril de 1899. Também se destacou por marcante atuação no movimento espírita do Rio Grande do Sul.

Hermenegildo de Assis Brasil nasceu em São Gabriel em 27 de setembro de 1910 numa pequena fazenda de criação de gado. O afastado rincão onde Hermenegildo viveu até os 13 anos fazia parte do município gaúcho de São Gabriel, hoje pertencente ao de Cacequi.

Quando servia como soldado na fábrica de cartuchos do Exército, ingressou no Partido Comunista do Brasil. Depois, comprou uma tipografia em Cascadura, onde eram impressos material de propaganda e agitação.

Com a ajuda de um traidor, Hermenegildo foi preso, mas não entregou ninguém. Ao contrário, desafiou os seus algozes: “Vocês, que se dizem homens, seriam mais dignos se me mandassem fuzilar ao invés de me espancarem. De qualquer modo vocês perdem tempo. Eu nada lhes direi”.

Em 1933 conseguiu novamente ingressar no Exército, dessa feita na Escola de aviação militar, no “Campo dos Afonsos”, onde estavam aquarteladas a Escola de Aviação Militar, o Regimento Escola e a Unidade de Infantaria de Guarda.

Ajudou a organizar e executar um levante com luta na madrugada de 2 de novembro, naquela unidade e acabou preso. Processado, e mesmo sem estar condenado, passou alguns meses na cadeia no Rio de Janeiro.

Quando da guerra na Espanha contra o fascismo, ele lá estava presente. Lutou na Brigada Internacional que participou da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), falecendo na França em 4 de junho de 1941.


Sua biografia consta do livro “Comunistas Gaúchos - A Vida de 31 Militantes da Classe Operária", de autoria de João Batista Marçal. (Pesquisa Nilo Dias – Publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS. Continua na próxima edição)


Argemiro de Assis Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário