São Gabriel é uma das cidades brasileiras de maior
tradição militar. Até na sua fundação, em 2 de novembro de 1800, pelo espanhol
Dom Felix de Azara os militares estiveram presentes. Azara era filho de
influente família aragonesa, estudou nas Universidades de Huesca e Barcelona,
onde habilitou-se para as carreiras das armas e de engenharia, tendo obtido o
posto de Cadete em 1764.
Depois disso, São Gabriel foi berço de militares ilustres
e acolheu outros tantos vindos de outros lugares. Três unidades militares estão
sediadas aqui, o 9º Regimento de Cavalaria Blindada, o 6º Batalhão de Engenharia
de Combate e a 13º Companhia de Comunicações.
E no passado outros aquartelamentos e Grupos Provisórios
estiveram instalados na cidade. Entre eles, o 1º Regimento de Artilharia a
Cavalo, o famoso “Boi de Botas” e o “Tiro de Guerra 247”.
São Gabriel ainda é sede do Museu Gaúcho da FEB. E os
militares daqui já foram campeões de Pólo do Rio Grande do Sul, em 1936 e
vice-campeões do Brasil, no Rio de Janeiro, na mesma época.
A cidade é chamada de “Terra dos Marechais”, por nela ter
nascido o marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, que foi Presidente da República
de 1910 a 1914. Hermes era sobrinho de Deodoro da Fonseca, proclamador da
República e primeiro presidente do Brasil.
Manoel Deodoro da Fonseca foi comandante do 1º Regimento
de Artilharia a Cavalo, sediado em São Gabriel. Foi também um maçom ativo,
desde que iniciado, a 20 de setembro de 1873, na Loja "Rocha Negra",
de São Gabriel, para promover a abolição e a instrução pública. Neste mesmo
ano, ele e seus irmãos deram liberdade a todos os escravos da família.
No Museu Nossa Senhora do Rosário Bonfim encontram-se a
cadeira e o avental usados pelo marechal Deodoro, relíquia da época em que ele
ingressou na Maçonaria durante o período em que serviu ao Exército em São
Gabriel.
O marechal João Propício Menna Barreto, o “Barão de São
Gabriel”, era natural de Rio Pardo. Participou das Campanhas de 1825-1828,
tomando parte nas Batalhas do Passo do Rosário e de Canhitas. Na Revolução
Farroupilha lutou do lado legalista.
Na Campanha do Uruguai de 1851-1852, comandou a 5ª
Brigada de Cavalaria. Na Campanha de 1864-1865 no Estado Oriental, exerceu o
comando do exército que conquistou Montevidéu. Coube a ele o comando das forças
terrestres do Exército do Sul.
De volta a sua terra, recebeu o título de “Barão de São
Gabriel” e solicitou dispensa do serviço militar por doença. Faleceu em São
Gabriel em 9 de fevereiro de 1867. Em sua homenagem, o 9º RCB foi batizado com
a designação histórica de “Regimento João Propício”.
O marechal Emílio Luiz Mallet, o “Barão de Itapevi”,
nasceu em Dunquerque, na França, em 10 de junho de 1801 e morreu no Rio de
Janeiro, em 2 de janeiro de 1886. Era um
homem de grande porte físico, com 2,01 metros de altura e 120 quilos de peso. É
Patrono da Artilharia do Brasil e na data de seu nascimento é comemorado o “Dia
da Artilharia”.
Terminada a sangrenta Guerra do Paraguai, o veterano e
valoroso 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o “Regimento Boi de Botas”, como
foi batizado, retornou diretamente a São Gabriel, então sua sede, sob o comando
do marechal Emílio Luiz Mallet.
A espada do marechal encontra-se no Museu João Pedro
Nunes, em São Gabriel, cidade onde morou por longo período. No Quartel do 6º BE
Cmb, o mais velho aquartelamento do Brasil, onde outrora esteve instalado o
famoso “Boi de Botas”, ainda é mantido o lendário “Portão Mallet”, que no
passado foi à saída principal do quartel.
O quartel também mantém o “Memorial Comandante Mallet”,
inaugurado em 21 de agosto de 1995, quando foram transladados para Santa Maria
os restos mortais do marechal Emilio Luiz Mallet e de sua esposa dona Joaquina
de Medeiros Mallet.
O marechal João Thomaz de Cantuária nasceu em Porto
Alegre no dia 24 de setembro de 1835 e faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de
março de 1908. Era viúvo e pai de um casal de filhos. Foi uma figura de grande
destaque no Exército Brasileiro. Tinha longas barbas alvinitentes e um belo
porte militar.
Iniciou a carreira militar em 30 de março de 1854,
assentando praça, voluntariamente, no 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o
“Boi de Botas”, em São Gabriel, onde ficou até 14 de abril de 1855. Ali foi
nomeado alferes aluno para a Arma de Artilharia.
Combateu na Guerra do Uruguai e na Guerra do Paraguai.
Por sua atuação durante toda a guerra, foi agraciado com o título de
"Cavaleiro da Ordem de São Bento de Aviz", em 24 de janeiro de 1871.
Recebeu, ainda, em 11 de abril de 1872, a medalha
concedida às Forças Expedicionárias da província de Mato Grosso, e a medalha da
Guerra do Paraguai. Foi, ainda, condecorado com as medalhas concedidas pela
República da Argentina e pela República do Estado Oriental do Uruguai,
referentes ao mesmo conflito.
Com a Proclamação da República, foi nomeado marechal em
1900. Foi comandante da Escola Militar do Rio de Janeiro e diretor do Arsenal
de Guerra. Comandou a 3 ª Região Militar em 1896. Depois foi Ministro da
Guerra, durante o governo de Prudente de Morais.
Em 1898 foi o primeiro Chefe do Estado-Maior do Exército.
Exerceu importante cargo de Ajudante Geral do Exército. O marechal Cantuaria é
denominação histórica da 6ª Região Militar.
O marechal Fábio Patrício Azambuja participou da Guerra
Civil (1893-1895) ao lado de Gumercindo Saraiva. Atingiu o generalato em 1822,
excedendo interinamente o comando da 3ª Região Militar, durante a Revolução de
1923.
Foi prestimoso auxiliar do ministro da Guerra, general
Setembrino de Carvalho para pacificar a Revolução de 23 em Pedras Altas, dada a
sua capacidade de dialogar com os revolucionários cuja causa simpatizou e até
influenciou.
O Marechal Fábio deixou o Exército em 1924 e dedicou-se
as atividades de estancieiro. Foi provedor assinalado da Santa Casa de São
Gabriel, tendo falecido em janeiro de 1955 aos 93 anos, dos quais 35 de
excelentes serviços a sua terra natal.
Em novembro de 2007, quase foram parar no lixo
documentos, de valor histórico notáveis. Graças a dona de casa Carina Nunes,
que ajudava os familiares da falecida professora Ilca Caldas a separar seus
pertences, acabou encontrando em um móvel, grande quantidade de documentos
antigos.
Tempos depois, em consulta ao Museu da FEB, Carina soube
que se tratava de um material precioso sobre um dos vultos históricos do
município, o marechal Fábio Azambuja, do qual pouco registro material se tinha
até então. Todo o material foi doado ao Museu.
Outro militar que alcançou um cargo de relevância
histórica foi o marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, que comandou a
Força Expedicionária Brasileira, na Segunda Guerra Mundial durante a Campanha
da Itália, entre 1944 e 1945. Era filho de São Gabriel, onde nasceu a 13 de
novembro de 1883. Faleceu em 17 de setembro de 1968, no Rio de Janeiro onde
residia.
Em 1943 foi nomeado o comandante da 1ª Divisão de
Infantaria Expedicionária (DIE), a única da Força Expedicionária Brasileira
(FEB). O então general chegou à Itália com as primeiras tropas brasileiras em
julho de 1944 e comandou as forças verde e amarela a partir do mês de novembro
até a rendição do “Eixo”, na Itália, em 2 de maio de 1945.
Após o fim da guerra, Mascarenhas de Moraes retornou ao
Brasil e comandou a Zona Militar Sul entre 4 de abril e 29 de agosto de 1946.
Ainda nesse ano, foi promovido a Marechal, por ato do Congresso Nacional.
Foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas entre 21 de
janeiro de 1953 e 8 de setembro de 1954. Nesse período, acompanhou a crise
política que levaria ao suicídio de Getúlio Vargas. Depois da morte do
presidente, em agosto de 1954, retornou para a reserva e publicou as suas
memórias, como comandante da Força Expedicionária Brasileira.
Em 1955, apoiou o Movimento de 11 de Novembro liderado
pelo general Teixeira Lott, que garantiu a posse de Juscelino Kubitschek na
presidência da República.
O marechal Artur da Costa e Silva não serviu em São
Gabriel, mas veio a cidade em 3 de julho de 1969, quando era Presidente da
República, para inaugurar a “Ponte General Abreu”, em Rosário do Sul. Ele foi
obsequiado com um churrasco realizado no CTG Tarumã.
Outro Presidente da República, o general João Baptista
Figueiredo, serviu como major no 9º Regimento de Cavalaria Blindada. Em 15 de
maio de 1978 ele veio a São Gabriel para uma visita mais de caráter
sentimental, para rever amigos e matar a saudade. Ao passar na antiga “Ponte
Seca” abraçou efusivamente o saudoso tenente Orozimbo Pereira dos Santos, seu
velho auxiliar e amigo dos tempos de caserna.
O doutor José Narciso da Silveira Antunes natural de São
Gabriel foi major médico na Coluna Honório Lemes e após a revolução medico
chefe na Companhia Swift do Brasil em Rosário do Sul.
Argemiro de Assis Brasil nasceu em São Gabriel no dia 11
de maio de 1907 e faleceu em Canoas (RS), em 1982. Ingressou no Colégio Militar
de Porto Alegre em 1921 e depois cursou a Escola Militar do Realengo, onde
graduou-se oficial da Arma de Infantaria do Exército, em 1927.
Em 1930, como 2º tenente, negou-se a combater o governo
de Washington Luiz, razão pela qual foi preso e anistiado três meses depois
pelas forças vitoriosas de Getúlio Vargas.
Em 1932, quando era 1º Tenente, tomou parte no movimento
revolucionário paulista de caráter constitucionalista, o que lhe valeu dois
anos de exílio na Europa e clandestinidade na Argentina. Foi anistiado por
Getúlio Vargas em 1934.
Em 1950 foi nomeado membro da Missão Militar Brasileira
de Instrução no Paraguai, onde permaneceu até 1953. Regressando ao Brasil foi
comandante da 3ª Região Militar, em Porto Alegre.
Como Coronel comandou o 2º Regimento de Infantaria em
Santa Maria e o 19º Regimento de Infantaria em São Leopoldo. Foi Chefe de
Estado-Maior da 3ª Região Militar. Em 1962 foi nomeado Adido Militar à
Embaixada do Brasil em Buenos Aires.
Promovido a General-de-Brigada, em agosto de 1963, foi
ministro-chefe da Casa Militar do presidente João Goulart, onde permaneceu até
1964, ocasião em que o movimento militar de 31 de março depôs o presidente.
Acompanhou o presidente até o exílio em Montevidéu e
retornou em seguida ao Brasil, tendo sido preso no Forte de Jurujuba, demitido
do Exército e cassados seus direitos políticos, seu soldo e suas condecorações
militares.
Foi impronunciado pela Justiça Militar. Teve empregos e
créditos bloqueados. Sobreviveu por 15 anos, dando aulas particulares de
Matemática e de uma pensão que recebia do INPS como idoso.
Em 1981 foi reabilitado pelo presidente João Baptista de
Figueiredo, que lhe devolveu a patente militar e o passou à condição de
inativo. Argemiro casou em Santa Maria, no dia 14 de janeiro de 1939, com Alba
Arruda Gomes.
O major Hermenegildo Lauriano da Silva nasceu em São
Gabriel no dia 16 de novembro de 1832 e faleceu em 28 de maio de 1908 na mesma
localidade. Ele participou da Guerra do Paraguai e depois foi fazendeiro e
criador em São Gabriel. Casou em 7 de agosto de 1858 com Avelina Pereira da
Silva, que era filha do tenente Avelino Inácio da Silva e Camila Pereira
Fagundes.
Ptolomeu de Assis Brasil, general do exército, fez a
Revolução de 1893/1895, tendo sido um dos chefes da Revolução de 1930. Foi
Governador de Santa Catarina durante os anos de 1930/1932, além de engenheiro e
geógrafo.
O tenente-coronel do Exército, Ruy Zobaran, nasceu em São
Gabriel no dia 16 de fevereiro de 1889 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1 de
outubro de 1954. Era também engenheiro e bacharel em Matemática e Ciências
Físicas. Tomou parte nas revoluções de 1924, 1930 e na de 1932, quando
participou de combates.
Foi interventor federal em Santa Catarina, no período de
26 de outubro de 1932 a 20 de março de 1933. Casou-se com Arminda Coryntha
Marçal da Silva que ficou conhecida como "Cora Zobaran", “Vovó Cora”
e “Tia Cora”, que era filha de Antônio Marçal da Silva e de Maria José.
O coronel Francisco Hermenegildo Laureano da Silva nasceu
em 1876, em São Gabriel, onde faleceu em 7 de abril de 1940. Atendia pelo
apelido de “Chico Mamãe”, não se sabe por quais razões. Foi coronel do Exército
e prefeito de São Gabriel por três vezes (1917/1920, 1922/1924 e 1929/1930).
Era casado com dona Palmira Vieira, conhecida pela benemerência na cidade. Não
teve filhos.
O coronel José Plácido de Castro nasceu em 1873, em São
Gabriel, e morreu em 1908, no Acre. Aos
21 anos, durante a Revolução Federalista, lutou ao lado dos maragatos,
alcançando o posto de major. Ao fim da revolução foi beneficiado pela anistia,
mas assim mesmo largou o Exército.
Gaúcho de São Gabriel, José Plácido de Castro foi para a
Escola Militar do Rio Grande do Sul ainda garoto. Atraído pela chance de fazer
fortuna com a extração da borracha, em 1899 ele foi para o Acre, onde, com 27
anos de idade, liderou uma revolução com mais de 30 mil homens, vencendo as
tropas bolivianas, com quase 100 mil soldados, e proclamou o Estado
Independente do Acre. Tornou-se presidente do novo Estado e ficou no cargo até
1904.
Em 9 de agosto de 1908, Plácido de Castro se dirigia à
sua propriedade, ao lado do irmão Genesco de Castro, quando foi ferido numa
emboscada que lhe prepararam mais de uma dezena de jagunços, sob a liderança de
Alexandrino José da Silva, o subdelegado das tropas acreanas na Revolução do
Acre.
No dia 11, ardendo em febre, implorou ao irmão, Genesco,
de olhos fechados, na presença de vários companheiros: "Logo que puderes,
retira daqui os meus ossos”. Isso foi feito. Hoje, seus ossos estão sepultados
no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Na fronte do
pedestal, a família mandou gravar os nomes e sobrenomes de seus 14 carrascos.
Faleceu em 16 de julho de 1994, em Porto Alegre, o
coronel do Exército, Hélio de Castro, filho de São Gabriel, onde nasceu em 10
de abril de 1899. Também se destacou por marcante atuação no movimento espírita
do Rio Grande do Sul.
Hermenegildo de Assis Brasil nasceu em São Gabriel em 27
de setembro de 1910 numa pequena fazenda de criação de gado. O afastado rincão
onde Hermenegildo viveu até os 13 anos fazia parte do município gaúcho de São
Gabriel, hoje pertencente ao de Cacequi.
Quando servia como soldado na fábrica de cartuchos do
Exército, ingressou no Partido Comunista do Brasil. Depois, comprou uma
tipografia em Cascadura, onde eram impressos material de propaganda e agitação.
Com a ajuda de um traidor, Hermenegildo foi preso, mas
não entregou ninguém. Ao contrário, desafiou os seus algozes: “Vocês, que se
dizem homens, seriam mais dignos se me mandassem fuzilar ao invés de me
espancarem. De qualquer modo vocês perdem tempo. Eu nada lhes direi”.
Em 1933 conseguiu novamente ingressar no Exército, dessa
feita na Escola de aviação militar, no “Campo dos Afonsos”, onde estavam
aquarteladas a Escola de Aviação Militar, o Regimento Escola e a Unidade de
Infantaria de Guarda.
Ajudou a organizar e executar um levante com luta na
madrugada de 2 de novembro, naquela unidade e acabou preso. Processado, e mesmo
sem estar condenado, passou alguns meses na cadeia no Rio de Janeiro.
Quando da guerra na Espanha contra o fascismo, ele lá
estava presente. Lutou na Brigada Internacional que participou da Guerra Civil
Espanhola (1936-1939), falecendo na França em 4 de junho de 1941.
Sua biografia consta do livro “Comunistas Gaúchos - A
Vida de 31 Militantes da Classe Operária", de autoria de João Batista
Marçal. (Pesquisa Nilo Dias – Publicada no jornal "O Fato", de São
Gabriel-RS. Continua na próxima edição)
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