São Gabriel sempre teve fama de ser uma cidade que gosta de
cultuar o tradicionalismo. São inúmeros os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs)
e Piquetes de Tradições Gaúchas (PTGs). Os desfiles da Semana Farroupilha
costumam reunir milhares de cavalarianos e prendas, exibindo cavalos que são
cuidados o ano inteiro somente para esse dia.
Por aqui são realizados rodeios que ultrapassam as fronteiras do
município, como o “Rodeio Internacional do Mercosul”, promovido pelo CTG
Tarumã. Também o CTG Caiboaté realiza anualmente o seu rodeio, que costuma
receber tradicionalistas de todo o Estado e até de fora dele.
Temos também as concorridas “Penhas”, que se constituem em
“fandangos” acompanhados de pratos da culinária gaúcha e apresentações de
danças do nosso folclore. Quando morava em São Gabriel fui em muitas dessas
festas, que na sua maioria, são excelentes.
São Gabriel poderia ter se destacado mais ainda no culto as
tradições, se tivesse dado continuidade ao “Concurso de Causos”, que se
realizou com grande sucesso em 1981 e 1982, durante o “Encontro Gaúcho de
Literatura Oral”, nas comemorações da “Semana do Carreteiro”.
Foi uma realização dos ex-prefeitos Ramiro da Silva Meneghello e
Balbo Teixeira, que aconteceu, em apenas duas vezes. As razões que levaram a
não continuidade do festival, não sei, apenas lamento. Hoje, outros eventos,
como o “Festival Nacional de Arte e Tradição Gaúcha (Fenart”) realizam
“Concursos de Causos” em outras localidades.
E até os causos apresentados no Concurso de São Gabriel, que
estavam gravados em fita cassete e se encontravam na Secretaria de Turismo,
desapareceram. Eu sei quem as levou, e “esqueceu” de entregá-las de volta. Mas
como não sou “dedo duro”, deixa isso para lá.
De qualquer maneira consegui resgatar alguns desses casos, poucos,
é verdade, mas de qualquer maneira servem para lembrar o que foi aquele
magnífico evento. E se alguém, por acaso, tem mais algum guardado em suas
casas, poderia também torna-los público. A cultura da cidade agradeceria.
O filme "Contos gauchescos - Simões Lopes Neto nas
telas", que
relata a vida do grande escritor pelotense, teve parte das
filmagens gravada em São Gabriel, no ano de 2008.
Os dois curtas metragens, "Os cabelos da china" e
"Jogo do osso", tiveram como cenários a Chácara dos Caum, Estância
Inhatium, Estância Santa Marta e outros locais na zona rural de São Gabriel.
Os outros quatro curtas metragens, todos de 25 minutos cada, que
completam o filme, são adaptações dos contos "As trezentas Onças",
"Contrabandista", "No Manantial" e "Negro
Bonifácio".
Relembrando o festival
Mas chega de papo, vamos ao que interessa. O causo denominado “Homero” foi apresentado
pelo tradicionalista Nei Machado, que representou o Pólo Cultural de Vacaria no
“Concurso de Causos” de São Gabriel:
O Homero era o mais novo de seis irmãos que moravam num fundo de
rincão. Guri duns 20 anos, desde cedo se acostumou a ouvir as façanhas dos
irmãos mais velhos: era lorota, briga, baile, gauchada. E o Homerinho ficava
encimesmado: "Um dia, ainda vou fazer alguma cousa como esses meus
irmãos!".
O Homero tinha duas particularidades: a primeira era uma vontade
louca de conhecer a cidade, um baile do povo, uma tasca; a segunda era que
tinha um medo que se pelava todo de polícia, porque um irmão tinha sido
lastimado, um outro morto e ainda um terceiro tinha levado uns “planchaços” de
Brigadiano. E ele tinha, então, um medo que se pelava todo de polícia.
Minto! O Homero tinha três particularidades: medo de polícia, uma
vontade grande de conhecer uma tasca e uma ânsia louca de comprar um revólver.
"Um dia ainda vou ter um revólver!", dizia.
Acontece que ele era “changador”. Quando aparecia serviço, ele
pegava. Às vezes, ficava em casa de companheiro da mãe, mulher já bem velha,
quando os irmãos mais velhos saíam. Um dia apareceu um comparsa de esquila. Era
mês de setembro, quando logo se iniciam as tosas de ovelha.
No segundo dia, um tosador cansou, e o Homero estava lá. O chefe
da comparsa perguntou ao patrão: “Não terá alguém que pegue na tesoura?”.
“Olha, tem o Homero. Quem sabe não dá?” Tocaram o Homero na tesoura. O homem se
revelou um aço! E ficou de efetivo na comparsa.
Começou a ganhar dinheiro, o Homero. E sempre com aquele troço na
cabeça: "Vou conhecer a tasca e vou comprar um revólver!". Começou a
ganhar dinheiro, ganhar dinheiro. E terminou a esquila. Ele pegou o dinheiro,
encilhou o cavalo e tocou pra cidade. "É hoje!”
E começou a pensar: “Mas conheço a tasca ou compro o revólver
antes? Se eu comprar o revólver e for pra tasca, vai dar um baita bochincho!
Vou fazer o seguinte: vou na tasca primeiro e amanhã compro o revólver!"
Assim foi. Tomou um trago no bolicho e comeu salame com bolacha. O
bolicheiro tinha um revólver. Homero já deixou entabolado o negócio e disse pro
bolicheiro: “Cuida do meu cavalo com os arreios e da minha faca. Amanhã, bem
cedo, pego o revólver”. E saiu, o Homero.
Por informação do irmão, ele sabia o rumo da tasca. Dali uns 500
metros achou armado o “moçorongo”. Foi-se chegando, por longe, assim como quem
tropeia zorrilho: devagarinho e bem por longe. Fez a volta no salão,
devagarinho.
Daí há pouco veio uma moça: “Vamos dançar, Baixinho?” “É! Se for
preciso, bamo.” E saiu dançando, como quem dança de meio-luto: bem abaixadinho,
pelo cantos. Dança daqui, dança dali, sentou. Uma Brahma. Ali pela sexta Brahma
o Homero era dono do salão. “É comigo mesmo, hoje!”
Quando o sol levantou pegou o Homero saindo da tasca, numa baita
ressaca e sem um tostão no bolso. "E agora? O que é que eu vou
fazê!". Chegou no bolicho. O bolicheiro deu um mate gordo pra ele. O
Homero foi perguntando: “Quanto tu me dá pela faca?” “Dou 50 pila”, disse o
bolicheiro.
Era o que custava uma passagem da cidade à estação do Homero. E
ainda tinha de caminhar duas léguas a pé. “Então tá. Tu me dá 50 pela faca e eu
te dou meu cavalo encilhado pelo revólver.“
O xiru olhou o cavalo. Sabia que era bom. Viu os arreios: mais ou
menos. “Tá feito o negócio!” Homero pegou o revólver. Era o que mais queria! E
o baixinho saiu meio ladeado, com aquele baita 38 na cintura.
Comprou uma passagem de segunda e entrou no vagão. Logo que
entrou, sentou pra direita. E assim ficou, no meio daquele mundo de gente,
sozinho no banco. Dali a pouco saiu o trem. E ele com aquele revólver...
"Tomara que esse trem chegue duma vez na minha estação", pensou o
Homero.
Lá na ponta do vagão abriram a porta. E ele viu, assim por cima do
banco, que levantou um quepe. O índio velho que vinha disse: “Revistas!” Aí o
Homero se apertou! O xiru velho chegava num banco, noutro e vinha vindo... -
"Ai, ai, ai... tô liquidado!", pensava o Homero.
Esse xiru, na verdade, vendia bilhetes de loteria e revistas, umas
até do “Exército da Salvação”. E vinha: “Trinta-e-dois e trinta-e-oito! Pra
hoje!” E o do Homero era 38! A la pucha, chê! E ele pensava: "Tô
arrebentado!".
E o vivente vinha num banco, chegava noutro: “O Policial! O
Detetive! Salva Tua Alma!” “Tô roubado!", pensava o Homero. Um gaúcho
comprou todo o 1932 que o vendedor tinha. E o bilheteiro: - “O Trinta-e-dois já
foi! Agora, o 38!”
"Aaaaai... agora não escapo!", pensou o coitado do
Homero. “O Policial!” E o vendedor de bilhetes chegou bem perto do Homero e
sampou, forte: “Trinta-e-oito!” E o baixinho Homero, já não aguentando mais
aquela aflição braba, soltou, já aliviado: “Tá, seu guarda! Pega essa porquera
logo, que desde que eu comprei essa desgraça foi só pra me incomodá!!!”
A presença de Nico Fagundes
O grande tradicionalista Antônio Augusto Fagundes, também
participou do “Concurso de Causos” de São Gabriel, representando o Pólo
Cultural do Alegrete. Ele apresentou o causo “Candinho Bicharedo”:
Se eu falo no “Candinho Bicharedo”, primeiro, porque era contador
de causo; segundo, porque ele peleou em 23, do lado dos Maragatos. Mas era
Maragato dos quatro costados! Quando cercaram Uruguaiana, no primeiro dia de
abril de 23, ele se juntou com as forças de Honório Lemes.
E no combate do Ibicuí da Armada, onde Flores da Cunha atacou com
ímpeto enorme, matou tanta gente que os urubus fizeram cerimônia: só comiam de
capitão pra cima...
Um piquete de Flores da Cunha aprisionou “Candinho Bicharedo!”
Degola, não degola... disseram pro Flores degolar. “Não, o Candinho Bicharedo!!
Que é isso! Vão tomar banho! O Candinho é uma glória aqui em Uruguaiana, aqui
nesta região da Fronteira... Como é que vamos degolar?”
“Mas, ele é um contador de causo! Muito mentiroso!” “Não, não, o
Candinho é sagrado”, disse o Flores. “Dêem ele prum soldado cuidar.” O soldado
ficou cuidando do “Candinho”. Todos os dias o “Candinho” ia ao ouvido do
soldado:
"É, vocês passaram no Ibicuí da Armada (onde Honório Lemes
ofereceu uma resistência muito grande), mas passaram porque tinham mais gente,
mais arma. Nós semos muito mais homem que vocês!".
Com o passar do tempo, o soldado foi enchendo a paciência e não
agüentou mais. Passou o “Candinho” pro cabo! O cabo ouvia, todos os dias:
"É. Vocês passaram no Ibicuí da Armada. Mas, passaram porque tinham mais
gente, mais arma. Nós semos muito mais homem que vocês!".
O cabo não agüentou e passou o “Candinho” pro sargento. O sargento
passou pro capitão. O capitão passou prum major; dizem até que era o major
Laurindo Ramos, lá do Itaqui, que não era de laçar com sovéu curto... E ninguém
mais agüentava o “Candinho”.
Até que passaram pro próprio Flores da Cunha. “Olha, Coronel Flor,
não agüentamos mais o “Candinho”! Só o senhor, pra dar um jeito na vida dele!”
“Mas, o que é que ele faz?” “Ele fica incomodando a gente, à roda do dia. Já
estava com vontade de mandá degolá!”
“Não, não e não! Me passem o “Candinho”. (O Dr. Flores da Cunha
tinha sido intendente em Uruguaiana; comandava a Brigada do Oeste, na Fronteira
da República, com o Coronel Neco Costa, aquela gente toda!).
Bueno, e pro Flores o Candinho cevou o mate, mas um mate véio
espumando como apojo de brasina! Alcançou o mate pro Dr. Flores, que era
Coronel Provisório, mas todo mundo chamava de General. Diz o “Candinho”:
"Óia, General Flor, vocês passaram no Ibicuí da Armada, mas
só passaram porque tinham mais gente, mais arma que nós. Nós semos muito mais
homens que vocês!".
E o Flores, que já sabia da história e que também não era de pelar
com a unha, respondeu: “Olhe, “Candinho”, tu é Maragato, não é? - "Sim,
claro. Sou Maragato". “Agora, tu vai vestir a farda azul dos meus
Provisórios e botar um lenço branco no pescoço, jurar a Bandeira do lado do
Governo, senão vou te mandar degolar.
Tu sabe que essa indiada tá louca pra te degolar; eu é que não
deixei!” Na voz da degola, o “Candinho Bicharedo” achou que já tava com idade
de sentar praça! E sentou.
Arrumaram uma farda azul pra ele. Aquele bonezinho, uma borda
vermelha aqui em cima, e ataram um lenço branco bem nas pontas; mandaram o
“Candinho” se apresentar pro Flores e bater continência.
O Candinho, travestido de “Chimango”, se apresentou ao Flores.
Enquadrou o corpo, bateu continência. O Flores chasqueou: “E agora, “Candinho”?
O que tu acha do combate do Ibicuí da Armada?” O “Candinho” não se apertou:
“É, General. "Nós" passemos, mas só "passemos"
porque "nós" tinha mais gente, mais arma. "Eles" são muito
mais homens do que "nós" !!!
O grande vencedor
O causo “Porto dos Assombros”, narrado por José Fontoura, de Dom
Pedrito, inscrito pelo Pólo Cultural de Bagé, conquistou o 1. lugar no
"Concurso de Causos do I Encontro Gaúcho de Literatura Oral", realizado
de 8 a 10 de fevereiro de 1982, em São Gabriel.
O causo foi recolhido pelo tradicionalista José Itajaú Oleques
Teixeira, administrador do "Sítio Bombacha Larga”, em Guará (DF), que
também resgatou os demais causos do evento, aqui contados.
Sou pedritense. Moro onde nasce o rio Santa Maria. Nesse rio tem
uma zona determinada; lugar que, na revolução de 93, mataram uma camarilha de
velho. Naquela revolução, era balaço pra cá, faconaço pra lá, ficando essa
velhama estendida. Em homenagem aqueles velhos que pelearam por lá fizeram uma
catacumba, na beira do mato.
Lá, tinha um porto que dava muito peixe. Também, muita gente se
aproveitava dos pescadores. Alguém ia pra se fazer de fantasma e saquear algum
pescador. Diziam que aparecia muito fantasma, muito lobisomem.
Um dia, convidei uma camarilha de amigos pra dar uma chegada no
"Porto dos Assombros". Uns, queriam, outros, não. Eu, também, fazia
que queria e não queria, porque a cousa era feia... Aí, os índios disseram:
"Tchê, nós saímos logo, meio borrachos, mais engraxados que telefone de
açougueiro, do baile do Capixi (porque o Capixi tava dando um baile...)".
O velho Capixi era um desses velhos antigos, que domou muito naquela época e
ficou meio alcatruzado.
Pobre do Capixi... Dava horror de ver! Era boa criatura. Nunca
conseguiu um pila pra botar uma chapa: na frente da boca um dente só; um negro
velho, feio! Cabeça mais pelada que sovaco de sapo.
Ele tinha umas mulatas, umas filhas; bonitas como ovo de pelincho!
Os vestidos eram mais floreados que roupa de cigana. Bueno! Aí,
combinamos: "No baile do Capixi, tem um concurso de valsa. Depois, nós
meio se emborrachamos e vamos "pra picada dos Assombros".
Fomos pro baile, só assistir o concurso. Botamos a mala na garupa,
tudo ajeitado: lampião, aquela lambança toda. Chegamos no baile. De repente,
ali pelas 10 horas, entaipou a lambança: o gaiteiro, tchê, só tocava pra cima,
de tanta gente! Pelos lados, não dava; já se pechava todo mundo... Quando o
negro queria rir, tinha que ser de bico, porque pros lados se pechava. Assim, ó
de gente! E fomos. Só olhar o concurso de valsa, pra seguir viagem depois.
No concurso tinha um negro, Calandro, de Dom Pedrito; famoso. O
prêmio era bom. Parece que o Capixi dava uma novilha ao primeiro colocado. De
repente, aquela negrada grudou na valsa. Mas, vou te dizer uma cousa: a indiada
tirava os quartos como boneca de mexeriqueira.
A noite inteira, tchê! E grudados na valsa! O Calandro não era
trouxa. Escolheu uma mulata velha, dessas delgadas como pulga de tapera, e se
atracou com ela. Oiga-le-tê, maula! Mas a cousa saltava fogo! Atracou-se com a
mulata... a dançar.
Aquela valsa durou uma hora e pico, mais ou menos. E nós, sempre
olhando; com os cavalos prontinhos pra pescaria. De repente o Calandro
largou... terminou a valsa, largou a mulata: morta. Caiu morta... Ah! Houve um
princípio de bochincho nessa altura. Morreu, a mulata. Naquela corrida toda,
gritei. "Vamos pra pescaria, que isso vai dar nó!". Aí vem o doutor!
Já saiu um lá, de auto, buscar o doutor. Este constatou que a
mulata dançou 15 minutos, viva, e uma hora e 45 morta. O Calandro a puxou
morta! Essa negra dançava mesmo, né? Esse resto, ela dançou morta. Não perdeu o
embalo nunca, seu! Ganhou o concurso e o bochincho estourou. E nós, ó... Bueno.
Nos mandamos pra pescaria. Esse negócio de bochincho não é comigo: "Vamos
pra pescaria que é a nossa finalidade".
Compramos uns pastéis do Capixi (que vendia pastel) e fomos
embora. Já na pescaria, o primeiro pastel, que fui comer meio com fome, na
bocada, o barbicacho me voou da cabeça. Dava horror, esses pastéis! Quando
chegamos na costa do mato, nós já tava com as gadelhas lá em cima.
Desencilhamos os cavalos e atamos à soga a cavalhada. O dono do
petiço era bochinchão que dava horror! Companheiro de lá, também.
Nos primeiros passos, nos atropela um lobisomem... E era negro que
se atirava na reboleira, se atirava pra sanga... Aquele reboliço. O mato
parecia que vinha abaixo. E ali ficamos. O tal de lobisomem sossegou. Bueno, a
gente se refrescou. Começamos a cochichar uns com os outros e tal: "Tchê,
vamos ver esse lobisomem. Não tá bem isso aí".
Um companheiro, muito mais corajoso do que eu, saiu a procura. Viu
que era uma vaca, pesteada de tristeza, que tava dentro do mato. E, uma vaca
pesteada de tristeza não tem a quem não atropele! Primeiro susto! Mas, se
constatou que era vaca; não tem problema.
Agarramos as malas, de novo, e tocamos pras barrancas do arroio.
Chegando no arroio, pegamos a comida que nós levava: só pastel. Daqui há pouco,
um dava uma bocada e era chapéu que voava... Pastel do Capixi era só “rrrram”!
Sentamos na barranca. Atiramos as linhas n’água. Atiramos longe, não! Olhamos
longe, como avestruz em campo pequeno.
De repente, um grito, meio à esquerda? “Mas, o que foi que te
aconteceu?”. Bah! A gadelha se foi lá em cima! De novo! Em riba do laço, aquele
grito! Na hora que eu tava comendo o pastel... E, voou o chapéu! Paramos o
ouvido. Desastre! Começamos a nos olhar. Nós não tinha revólver, não tinha
nada, só uns facões.
Resultado do assunto: lá pelas tantas, fomos ver o que era.
Chegamos numas reboleiras de unha-de-gato. Era um pedaço de disco da
"Jardineira" que tinha quebrado. Alguém botou fora e, com as
enchentes, se enredou nas unhas-de-gato. Tava ventoso e quando a unha-de-gato
passava ali o pedaço de disco tocava: “Mas o que foi que te aconteceu?”.
Outro assombro! Aí, nos tranqüilizamos de novo. Voltamos pras
barrancas do arroio. No que sentamos, o do petiço começou um bochincho com um
companheiro. Mas, te falo de bochincho! Saltava tampinha de joelho, ponta de
orelha, pé com bota...
E eu, meio borracho, não tava dando importância pra aquela briga.
O do petiço se incomoda e queria ir embora. "Vou encilhá meu petiço e vou
me embora"! Nem tirei a saber porque eles brigaram. E ele encilhou o
petiço. Não demorou 15 minutos o mato parecia que vinha abaixo! E vinha pro
nosso lado.
Era o petiço do desgraçado, correndo direto a nós. Agarrou picada
adentro e veio que nem uma lista! Só vi quando ele voou pra cima de nós e caiu
pro meio do arroio. O desgraçado, borracho, encilhou um capincho que tava
dormindo, deixando o petiço. Outro susto!
O capincho se prendeu a velhaquear e saiu correndo direto à água.
Terceiro susto! Decidi: “Até vou mudar de porto. Não fico por aqui. Não aguento
mais!”. Saí e fui passeando bem aonde tinham pealado a velhama de 93, nas
catacumbas. Mas, aí, fui me arrepiando... Nem me dei conta daquilo.
Quando dobrei uma catacumba, um me calçou com um revólver. Mas, um
monstro! Não sei bem o que era. "A vida ou a carteira"! gritou.
"Mas que vida nova?! Eu já tô morto há 30 anos, chê!!", respondi, na
tampa, pra aquela coisa feia! (Pesquisa: Nilo Dias – Continua na próxima
edição)
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