O doutor Milton Teixeira era considerado o decano dos advogados de
São Gabriel. Além da sua atuação na área jurídica destacou-se também no
desenvolvimento da cultura em nosso município. Ele e mais algumas ilustres pessoas
da comunidade fundaram a Associação Cultural Alcides Maia (ACAM), que resiste
até hoje.
Como costumo fazer, me valho do historiador Osório Santana
Figueiredo. Fiquei sabendo, em sua obra “História de São Gabriel”, que a ACAM
partiu de uma idéia do doutor Milton. Ele, inclusive, cedeu o prédio localizado
na rua General Mallet, de sua propriedade, para as primeiras reuniões da
entidade e acabou virando sua sede.
Hoje, a entidade funciona em uma sala do “Sobrado da Praça”,
cedida pela Prefeitura Municipal de São Gabriel.
O prefeito Balbo Teixeira criou uma Comissão para tratar do tema,
que teve como membros o doutor Nelson Lydio Andrade de Azevedo, historiador
Osório Santana Figueiredo, doutor Milton Teixeira, doutor Charlemagne Neme,
Galeno Evangelho Costa, Ricardo Pereira Teixeira e doutor Aluizio Macedo.
Em 10 de setembro de 1986, em reunião festiva realizada no
auditório da Câmara Municipal foi criada oficialmente a Associação Cultural
Alcides Maya, cuja primeira Diretoria ficou assim constituída:
Presidente, Galeno Evangelho Costa; Secretária, doutora Maria
Anita Prestes e Tesoureiro, doutor Gabriel Padilha Dornelles.
Lembro que depois do ato na Câmara Municipal, foi realizado um
jantar na sede da entidade, na rua General Mallet, quando estive presente com a
minha esposa, a jornalista Teresinha Motta.
Depois foi presidente o historiador Osório Santana Figueiredo, o
doutor Milton Teixeira, a poetisa e escritora Maria da Graça Ferreira Cunha, o
pastor Cláudio Moacir Moreira, Humberto Petrarca, Mara Rangel e Italo Zailu
Gatto, se bem me lembro.
Hoje a entidade está nas mãos de Carlos Alberto Torres de Menezes,
que ceertamente dará um grande impulso à entidade. Se faltou alguém peço
desculpas, não foi intencional, sim
falta de memória, mesmo.
Durante todos esses anos a entidade realizou várias atividades de
cunho cultural, como concursos literários, de declamações, músicas e danças,
exposições de fotografias e artes plásticas, torneios, feiras, lançamentos de
livros, com destaque para duas antologias de escritores gabrielenses, entre
outras.
Patrocinou, ainda, o 7º Encontro Estadual de Micro História, em
1990, quando estiveram em São Gabriel historiadores de todo o Estado. E ainda o
7º e 8º Encontros do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul, em
1990 e 1991.
Em 28 de julho de 1992 a entidade promoveu a I Festa Mundial do
Folclore, com participação de grupos da Bélgica, Alemanha e Argentina. Em 1998
organizou o livreto “Talentos Gabrielenses”, junto a Editora Alcance, de
propriedade do escritor gabrielense Rossir Berny.
O PATRONO DA ACAM
Alcides Maia (Alcides Castilho Maia), que dá nome a entidade, foi
jornalista, político, contista, romancista e ensaísta, nascido em São Gabriel,
no dia 15 de setembro de 1878, e falecido no Rio de Janeiro, em 2 de outubro de
1944.
O pai de Alcides Maya, Henrique Maia de Castilho, era funcionário
federal e de origem citadina. O vínculo com o pago e o sentimento gaúcho, que
marcaram a ficção do escritor, vieram através da linha materna.
Carlinda de Castilho Leal, sua mãe, era filha de Manuel Coelho
Leal, dono da “Estância do Jaguari”, no município de Lavras do Sul, e ainda de
duas frações de campo em São Gabriel, chamadas “Tarumã” e “Guabiju”.
Alcides Maia passou a infância na “Estância de Jaguari”, cenário
de muitas de suas páginas regionalistas, sobretudo no romance “Ruínas Vivas”,
que é, de certo modo, a visão nostálgica da estância avoenga.
Antes de ter concluído o primário, Alcides foi levado para Porto
Alegre, onde fez os estudos de humanidades. Em 1895, quando contava 18 anos,
ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo.
A sua verdadeira vocação, porém, eram as letras e o jornalismo,
por isso abandonou o curso de Direito. Retornando a Porto Alegre em 1896,
entregou-se à prática do jornalismo militante, atividade que exerceu ao longo
de toda a vida.
Quando em atividade profissional no seu “Escritório Camboatá”, o
doutor Milton distribuía aos seus clientes, ao preço de Cr$ 5,00, exemplares de
uma revista chamada “Quadrins”, criada por desenhistas e roteiristas gaúchos.
Isso por volta de 1979 e 1980.
O nome “Camboatá” que o doutor Milton tanto gostava, e que definia
seu escritório de advocacia e sua propriedade rural, curiosamente lembra uma
espécie de peixe de água doce e uma árvore sapindácea (plantas com flor).
O doutor Milton também enveredou pelos lados da política, tendo
sido eleito vereador em São Gabriel no distante ano de 1959, pelo antigo
Partido Social Democrático (PSD), alcançando a soma de 300 votos, bastante
expressiva para a época quando o número de eleitores era bem menor que hoje.
Prova disso é que o prefeito eleito, José Sampaio Marques Luz, do
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) teve 4.472 votos. O candidato derrotado,
Bernardo Fernandes Barbosa, da União Democrática Nacional (UDN), alcançou 4.161
votos.
UMA JUSTA HOMENAGEM
A IX Feira Municipal do Livro, a partir da edição de 2016, passou
a chamar-se oficialmente de “Dr. Milton Teixeira”, uma justa homenagem a quem
em vida fez tanto pela cultura de nosso município.
O prefeito Roque Montagner disse na ocasião que se tratava de um reconhecimento
do Poder Executivo, uma forma de gratidão e agradecimento do município a quem
dedicou uma grande parte da sua vida em prol da cultura de São Gabriel, e que
jamais será esquecido por toda a comunidade. “Temos a certeza que a energia do
doutor Milton está aqui, através de sua esposa dona Leni e demais familiares”,
frisou.
A patronesse da Feira de 2016 foi a escritora Fernanda Alves
Pinto, colunista de “O Fato”, que sofre de uma doença chamada “Distonia
Muscular Generalizada”. Ela conhece as limitações que tem, mas sabe que nenhuma
a impede de buscar e querer a felicidade. O Capataz da IX Feira do Livro foi
José Fernando dos Santos.
O doutor Milton Teixeira era natural da cidade de Lavras do Sul,
tendo nascido na estância de seu avô em Pontas do Salso, município de São
Gabriel.
Ao ler isso uma dúvida me bateu na cabeça e fez com que
consultasse o amigo Osório Santana Figueiredo, que atenciosamente respondeu:
“Caro Nilo. Ele mesmo contava e dava risada. Não sabia de que
lado. Se nasceu em terras de São Gabriel, gabrielense é de fato. Foi sepultado
no cemitério de Lavras do Sul, em jazigo próprio da família. O Edilberto
também. Abraço. Osorio”.
Era filho de Valério Teixeira Neto e Maria Julia Teixeira e irmão
do saudoso doutor Edilberto Teixeira, advogado, agropecuarista, proprietário da
“Estância do Capão”, em Santa Margarida, além de autor de obras de cunho
regionalista. Hoje, Edilberto Teixeira é nome de praça no município de Santa
Margarida do Sul.
Ele teve grande importância para a cultura regionalista, através
de poemas, composições e livros que retrataram o cotidiano da vida do homem do
campo e das cidades do interior.
Mesmo passados muitos anos de sua morte, composições por ele
escritas – de forma inédita – são entregues pelo seu filho Mariano Teixeira
para serem musicadas e defendidas por músicos e intérpretes nos festivais de
São Gabriel e também em vários outros municípios do Rio Grande do Sul.
Eu conheci tanto o doutor Milton, quanto seu irmão Edilberto.
Deste, ganhei, quando de uma visita que fiz a ele em sua casa, com direito a
autógrafo, um livro de poesias especificando as várias pelagens de cavalos, que
guardo até hoje com carinho.
O falecimento de Milton Teixeira ocorreu no dia 29 de maio de
2015, após longa enfermidade. O sepultamento aconteceu no cemitério de Lavras
do Sul.
O doutor Milton Teixeira era proprietário de terras no hoje
município de Santa Margarida do Sul, que agora pertencem a viúva Leni e ao
filho único do casal, Rogério Brenner Teixeira, conceituado empresário rural em
São Gabriel.
UM LUGAR HISTÓRICO
E não se trata de uma propriedade qualquer, igual a tantas outras
existentes na região. É um lugar histórico, onde nasceu Plácido de Castro, que
hoje é nome de município no Acre, de um time de futebol, de um CTG e também
está inserido no "Livro de Aço", chamado "Livro dos Heróis da
Pátria", o qual lhe confere o status de "herói nacional".
A inclusão do nome do gabrielense aconteceu em 17 de novembro de
2004, por ocasião do centenário da celebração do Tratado de Petrópolis.
O historiador Osório Santana Figueiredo, anos atrás, fez uma
pesquisa de campo para saber o local exato onde Plácido de Castro nasceu.
Esteve acompanhado do saudoso Alberto Saboia de Castro Franzen, o “Seu Saboia”,
que era sobrinho do herói pátrio.
Ao final da empreitada, que contou com a ajuda do doutor Milton
Teixeira, chegou-se a conclusão que Plácido de Castro nascera em terras que
pertenceram a sua bisavó materna, Genoveva Maria de Assumpção de Oliveira,
situada entre os arroios Cambai Grande e Cambaisinho, que antigamente era
conhecido por “Rincão da Genoveva”.
Atualmente, essa área fica localizada nos campos da família do
doutor Milton Teixeira, em Laranjeiras, Santa Margarida do Sul, e chama-se
“Estância do Camboatá”, conforme explica o historiador Osório Santana
Figueiredo em seu livro “Plácido de Castro, o colosso do Acre”.
UM MONUMENTO PARA PLÁCIDO DE CASTRO
No local onde estão as ruinas da “Tapera da Genoveva” e em que
Plácido nasceu, foi erguido um monumento em homenagem à ele, por ocasião do seu
centenário de nascimento.
A inauguração do monumento foi um momento histórico, com a
presença do vice-governador do Estado do Acre. A “Tapera da Genoveva”, desde
então, é um símbolo de admiração e respeito para os povos margaridense e
acreano.
Sabe-se, através da história contada pelos acreanos quando aqui
estiveram, na ocasião da inauguração do monumento, que demonstram sentimentos
de fanatismo pelo herói, por meio de gestos simples, mas de significação, como
o de levar consigo um punhado de terra do lugar onde se localiza a “Tapera”,
símbolo de recordação.
Em 2001, a prefeitura de Santa Margarida do Sul, através de ato
assinado pelo então prefeito Orestes Goulart, instituiu no município a “Semana
Farroupilha”, que desde então é realizada anualmente de 13 a 20 de setembro.
O acendimento da “Primeira Chama Farroupilha” no novo município
aconteceu às 18 horas do dia 13 de setembro de 2001, na “Tapera da Genoveva”,
localizada na propriedade do doutor Milton Teixeira, em Laranjeiras.
A primeira “Chama Crioula” de Santa Margarida do Sul foi
denominada “Chama Crioula Plácido de Castro”. Os desfiles da “Semana
Farroupilha” são realizados hoje na “Praça Edilberto Teixeira”, irmão de Milton
Teixeira, localizada no Bairro Camboatá.
O município de Santa Margarida do Sul emancipou-se em 17 de abril
de 1996, pela Lei nº 10.751, desmembrando-se de São Gabriel. Acredita-se que a
origem do nome do município está ligada à existência de uma antiga estância de
criação de gado.
Os primeiros habitantes que se estabeleceram em Santa Margarida do
Sul eram de origem portuguesa e seus descendentes dedicaram-se, até meados do
século XX, somente à pecuária tradicional.
Procurei a amiga Elody Helena Veiga de Menezes, gabrielense de
destacada atuação nos meios culturais, que desde a infância dedica-se à poesia
e à literatura. Cursou letras, foi professora e aposentou-se como serventuária
da Justiça.
Publicou quatro livros: “Réstias de Luz” (poesias), “A História e
as Lendas de uma Família”, que conta a trajetória da família Menezes no Brasil,
e que recebi de presente da amiga, “Baú de Sonhos” (poesias) e “Reflexões e
Devaneios” (crônicas e poesias).
Dona Elody também publicou duas antologias de escritores
gabrielenses, quando participou da ACAM. Conquistou vários prêmios com as suas
poesias, entre eles o primeiro lugar num concurso da Casa do Poeta de Porto
Alegre e segundo lugar no concurso da revista Brasília, de Brasília, DF.
Atualmente, dedica-se mais às crônicas, embora continue a fazer
poesias. É dinâmica, gosta de estar sempre atualizada e participar de tudo o
que se refere à literatura.
Nos últimos anos aderiu ao uso do computador e, através da
Internet, mantem-se informada de tudo o que se passa no mundo e está sempre em
contato com familiares e amigos em qualquer lugar.
Pois também recorri a ela, para que escrevesse algo sobre a
trajetória do doutor Milton nos meios culturais de São Gabriel. E aproveitei
sua inspiração para dar título a esta matéria histórica.
UM ÍCONE DA CULTURA GABRIELENSE
Eu já conhecia o doutor Milton Teixeira, há muitos anos, mas
somente através da Associação Cultural Alcides Maya (ACAM), quando convivi
quase diariamente com ele, foi que pude compreender a importância de sua
atuação na vida cultural de São Gabriel.
Durante o tempo em que participei da diretoria da ACAM, cuja sede,
naquela época, funcionava em um prédio que lhe pertencia, pude constatar que a
admiração pela sua grande inteligência, caráter íntegro e a maneira respeitosa
e educada com que tratava as pessoas, era unanimidade, entre todos os
associados.
Sempre que surgia alguma dúvida para organizar um evento, redigir
um documento, ou qualquer outro problema inerente ao funcionamento da ACAM (e
isso ocorria com muita frequência) nós apelávamos para a experiência e a grande
cultura do doutor Milton para resolver a situação, sempre recebendo dele uma
orientação paciente, lúcida e segura.
Porém, o que mais destacava a importância do doutor Milton
Teixeira na sociedade gabrielense era a sua participação no desenvolvimento
cultural e artístico de São Gabriel naquela época. Ele era, sem dúvida nenhuma,
um verdadeiro agregador de talentos.
São incontáveis as exposições de artes, lançamentos de livros,
saraus literários e encontros artísticos e culturais que se realizaram nas
dependências do seu prédio, sempre sob a sua orientação e beneplácito. Isso sem
falar em feiras do livro, concursos literários e festivais nativistas que
ocorreram naquele período e que tiveram o apoio e o incentivo do doutor Milton
Teixeira.
Apesar de contar com a participação de vários outros escritores e
literatos gabrielenses, pode-se dizer que ele foi o verdadeiro idealizador e
fundador da Associação Cultural Alcides Maya a qual, durante muitos anos,
cresceu e se desenvolveu graças ao esforço e a generosidade daquele homem
invulgar.
Foi ele também que, ao escolher o nome de Alcides Maya, o primeiro
gaúcho a participar da Academia Brasileira de Letras, para patrono da ACAM, deu
o destaque merecido a esse grande escritor conterrâneo, cuja importância na
literatura gaúcha, infelizmente, a maioria dos gabrielenses ignorava.
O doutor Milton Teixeira, certamente, merece ser considerado um
dos ícones da cultura gabrielense. (Elody Helena Veiga de Menezes) (Pesquisa:
Nilo Dias - Publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição
de 31 de março de 2017)
O Dr. Milton, além de tudo o que dele se escreve, foi um exemplo de humanitarismo. Sou-lhe mui grato pela dedicação às causas da minha família, particularidades e, principalmente, os laços de afeto que sempre estiveram vivos.
ResponderExcluirGostaria de saber o nome da pessoa que enviou o comentário, para poder publicá-lo.
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