A Família Machado, muito conhecida em São Gabriel, teve entre seus
membros gente importante nos meios de comunicação e políticos de renome. É o
caso de Dilamar Valls Machado, que não era gabrielense de nascimento, mas de
coração. Era filho de São Luiz Gonzaga, nas Missões, onde nasceu em 27 de
outubro de 1935.
Era casado com Lea Machado, com a qual teve quatro filhos, Alceu,
Álvaro, André e Anderson. Jornalista, radialista e advogado, Dilamar Machado iniciou
a carreira radiofônica em São Gabriel, na década de 1950, na Rádio São Gabriel.
Mudou-se para Porto Alegre, onde começou a trabalhar na Rádio Itaí.
Depois passou por diversas emissoras e elegeu-se vereador, na década de 60,
obtendo a maior votação da época. Foi um dos pioneiros do chamado radialismo
popular.
Em 1969 foi cassado pelo AI-5. Retornou à vida política
elegendo-se deputado estadual pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), em
1982. Seis anos mais tarde, voltou a se eleger vereador por dois mandatos,
tendo exercido a presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre.
Dilamar foi ainda diretor do Departamento Municipal de Habitação (Demhab),
durante a administração de Alceu Collares como prefeito de Porto Alegre. Em
1994, exerceu o cargo de secretário de Comunicação Social do governo Alceu
Collares. Ele também foi professor universitário.
HOMENAGEM MUSICAL
Os cantores e compositores Formiguinha e Gildo de Freitas fizeram
uma música para o jornalista e político, intitulada “Homenagem a Dilamar
Machado”.
(Cantado) “Rio Grande tu és poderoso/És o meu torrão amado/A
capital Porto Alegre/ Rainha do nosso Estado/Tem a TV Difusora com seu elenco
afamado/Eu quero destacar um/Que ajuda os necessitados/Saúde, vida e progresso
para o Dilamar Machado/Pois este sagrado nome merece o meu elogio/E Deus do céu
permitiu/Salvar o necessitado/de fome miséria e frio/Um que queimou a
casa/outro porque decaiu”.
(Falado) “Tens razão em dizer isso/Reconheço que é verdade/ Ele
mesmo na Gaúcha/Mantinha a “Voz da Cidade”/Com o microfone na mão/Provando a
sua bondade/E o povo lhe confessando a sua necessidade/Pelo bem que praticaste”.
(Cantado) “Cantando agradeço a ti/Eu mesmo sou testemunha/Do que
tu fez eu já vi/Quantas crianças com fome/ E sem roupa pra vestir/Sem ter onde
morar/Sem ter onde dormir/Só o senhor meu amigo/Tudo pode conseguir/
Alô povo rio-grandense/A minha voz é que chama/Não esqueçam de
ligar/O radio pra esse programa e escutar o Dilamar/Que é muito senhor da
fama/Com ele já conseguiram/morada, colchão e cama/E o pagamento é saúde, para aqueles
que mais ama”.
Para muitos Dilamar Machado foi um político hábil, bom negociador,
um tribuno mordaz, de pensamento rápido e fina ironia, que com uma frase
desconcertava o oponente.
O vereador mais votado de Porto Alegre no final dos anos 60,
cassado pelo regime militar, eleito deputado na redemocratização do País,
depois mais duas vezes vereador da capital.
No meio disso, foi diretor-geral do Departamento de Habitação. Ele
costumava dizer que uma das coisas que mais lhe dava alegria era entregar as
chaves de uma casa para uma pessoa humilde. “A chave da casa própria é um
símbolo de dignidade pra uma pessoa, ali ela começa a se sentir participante da
sociedade, um cidadão.”
Em ato simbólico realizado na sessão ordinária de 27de março de
2014, a Câmara Municipal de Porto Alegre restituiu os mandatos de seis
vereadores, de um prefeito e de um vice-prefeito da Capital cassados pelo
regime militar, instalado no Brasil de 1º de abril de 1964 a 15 de março de
1985.
Entre esses estava o nome de Dilamar Machado, cujo diploma de
restituição de seu mandato de vereador foi recebido pelos filhos Alceu,
Anderson e André Machado e a esposa Lea Machado.
UM COMUNICADOR POPULAR
Para uma legião de fãs e colegas, Dilamar foi o comunicador
popular, que inaugurou um estilo que anos mais tarde consagraria Sergio
Zambiasi. Ele ouvia e dava voz às pessoas simples, trabalhadores, donas de
casa, gente que faz o cotidiano de uma cidade como Porto Alegre.
O programa “Vozes da Cidade” era um dos líderes de audiência da
rádio Gaúcha ali por 1967/68. Era um programa do e para o povão. Há muitos
gaúchos, na faixa dos 40 anos que se chamam Dilamar, uma homenagem ao
comunicador que se espalhou não apenas por Porto Alegre, mas por muitos lugares
do interior do Estado.
Apesar de ser "um grito de revolta contra a miséria" o
programa conseguia driblar a censura do período militar. Em 1969, Dilamar foi
para a Rádio Difusora, mas foi proibido pela antiga emissora de utilizar o nome
“Vozes da Cidade” no seu novo programa. Este acabou por receber o título de
“Programa Dilamar Machado”, mas manteve-se semelhante ao que apresentava na
Rádio Gaúcha.
Dilamar foi o poeta, cujos versos eram lidos na rádio Itaí ou
viriam a compor alguns dos seus livros. Um romântico, que por isso adorava
tango e suas histórias de amor. Mas que gostava, também, de samba (Jamelão
vinha a Porto Alegre e se hospedava em sua casa), de música gauchesca (ria
muito com o estilo do Mano Lima) e até se metia a cantar, claro, pelo menos
tentava.
Para os amigos mais chegados, ele era o parceiro de noitadas de
canastra ou de churrascos nos finais de semana.
Para os filhos e parentes era motivo de orgulho e uma referência.
O ex-deputado Ibsen Pinheiro é outro que fala com saudade do primo com quem
tinha grandes afinidades, além do “coloradismo” e da paixão pela política.
Para a dona Lea era mais que o marido e o namorado desde a
juventude, era o amigo, companheiro e confidente. Uma perda que os anos ainda
não conseguiram sossegar completamente.
A PAIXÃO PELO RÁDIO
O jornalista sempre gostou e escutou rádio durante a infância.
Veio para Porto Alegre para trabalhar junto com o seu amigo, o radialista Silva
Filho, apresentador da popular Rádio Itaí, em programas intitulados “Café da
Tarde” e “A Musa dos Meus Cantares”.
Dilamar escrevia poemas, os quais eram lidos pelo seu colega
enquanto tocava uma música no fundo. Em agosto de 1960 foi trabalhar como
repórter na Rádio Gaúcha onde foi colega de Carlos Nobre e Cândido Norberto.
Um dos poemas de Dilamar, escrito em 1960:
A esplêndida expressão da natureza/ Soluça no esplendor da
madrugada,/E um cálido murmúrio de tristeza/Apaga a última luz na alma cansada.
Vaguei por tantos mundos na incerteza,/E a derradeira noite está
guardada/Na sensação de que não há mais nada/Nesta paisagem plena de beleza.
Dentro do olhar que recolhi sorrindo/Há um sol caindo, e, neste
sol caindo/Desmoronou-se o derradeiro mal,/
Tudo é sereno como um céu de inverno,/Creio estar morto, mas não
vejo o inferno!/− A vida é mesmo um triste carnaval!...
Em poucos meses tornou-se líder de audiência. Depois de três anos
na Difusora foi para uma decadente Rádio Farroupilha, onde trabalhou até 1977 e
foi um dos responsáveis pela sua total recuperação. Lá, no mesmo esquema dos
outros programas anteriores, apresentou e modificou bruscamente o tradicional
“Rádio Seqüência”.
Transferiu-se para a emissora de rede nacional Rádio Capital na
qual foi colega de Cidinha Campos, Hebe Camargo (que trabalhavam em São Paulo)
e Nei Gonçalves Dias (em Brasília). Ficou lá até 1982 para depois ingressar na
política, largando o rádio.
Nesse ano Dilamar tornou-se o deputado estadual mais votado do Rio
Grande do Sul com mais de 100 mil votos pelo partido de oposição do Movimento
Democrático Brasileiro (MDB) e por isso foi logo cassado.
Nesse período também se formou em Direito. Foi secretário de
Habitação de Porto Alegre durante o governo municipal de Alceu Collares.
Teve dois mandatos de vereador, foi presidente da Câmara Municipal
da Capital gaúcha e trabalhou como secretário estadual de Comunicação Social no
período em que Collares foi governador do Estado. Foi também professor de
direito criminal na Ulbra.
Dilamar foi um homem dedicado ao debate e à articulação política,
tendo sido cassado pelo AI-5 em 1969. Quando houve a abertura, aderiu ao
partido criado pelo ex-governador Brizola, o PDT.
Como pedetista concorreu e foi eleito deputado estadual, em 1982,
e a vereador em 1988 e 1992. O filho André Machado, seguiu a carreira do pai na
comunicação. Em 2014 foi candidato a deputado federal pelo PCB do B.
O grande político gaúcho hoje empresta seu nome ao Salão Nobre da
Câmara Municipal de Porto Alegre, que se chama Dilamar Machado.
Quando a Rádio Gaúcha completou 70 anos, em 1997, um bloco de
carnaval da emissora saiu para a rua para comemorar o aniversário. A escola de
samba da Gaúcha desfilou na terça-feira de carnaval antecipando as grandes
escolas de samba do Grupo Especial.
Desfilaram na ocasião, grandes comunicadores da emissora, como
Cláudio Brito, Cândido Norberto, Dilamar Machado, Armindo Antônio Ranzolin, Ana
Amélia Lemos, Glênio Reis e Paulo Sant’ana, recentemente falecido.
Dilamar também teve sua biografia publicada pela revista “Press”,
que publicou a série “Nomes que Fizeram a Imprensa Gaúcha”. A publicação é o
reconhecimento e uma homenagem a profissionais que ajudaram a construir uma das
imprensas mais admiradas e respeitadas do País.
IRMÃO DE UM GRANDE AMIGO
Ele tem familiares em São Gabriel. Dilamar era irmão de um grande
amigo meu, Dilmar Valls Machado, que Deus também já levou. Dilmar era torcedor
do Internacional, tendo sido o primeiro cônsul do clube em São Gabriel.
Dilmar associou-se ao Inter em 1946 e foi cônsul na época em que o
clube conquistou os seus primeiros grandes títulos, que foram os campeonatos
brasileiros de 1975, 1976 e 1979. Nesse período, o Inter ainda conquistou o
inédito título de octacampeão gaúcho, em 1976.
Dilmar Valls Machado permaneceu à frente do consulado de São
Gabriel até meados de 1996, sendo nomeado Cônsul Honorário na cidade. No auge
do futebol na cidade teve importante papel em diretorias do extinto Grêmio
Esportivo Gabrielense.
Pena que a dor tenha se abatido sobre a sua família. Primeiro, foi
ele que nos deixou, em janeiro de 2016. E mais recentemente a filha Vanesa. Que
Deus dê muita saúde as que ainda estão conosco, Sonise, Valéria e Sonira, o
amigo Dilmarzinho e a mãe dona Sônia..
Dilmar Machado foi, ainda, vice provedor da Santa Casa de Caridade,
tradicionalista de escol e dono por muitos anos da tradicional Farmácia São
Gabriel. Era membro de algumas entidades assistenciais e sociais, como a
Maçonaria e a Ordem Rosacruz.
A última vez que vi o seu Dilmar, creio que foi em 2014, quando de
uma de minhas idas a São Gabriel. Ele estava fazendo uma caminhada e me
convidou para ir até sua casa, onde me presenteou com o livro “Praxedes, o
Iluminado”, de autoria do também amigo Marco Antônio Nucci Medina.
Outro irmão de Dilamar é o jornalista João Carlos Machado Filho,
nascido em São Gabriel, casado, pai de três filhos e dois netos. É jornalista
há mais de 50 anos e já trabalhou nos principais veículos de comunicação do Rio
Grande do Sul.
É colorado, considera Gabriel Garcia Marques seu escritor
favorito, e possui uma biblioteca variada. Gosta de MPB, jazz e alguns
clássicos. Apreciador de um bom vinho tinto fica feliz com um cabernet
sauvignon. Vive a vida intensamente e adora ver gente feliz.
João Carlos Machado Filho nasceu no dia 17 de junho de 1941. Teve
o primeiro contato com os ouvintes, aos 18 anos, na então, ZYO2 Rádio São
Gabriel, durante o programa “Um tango, um bolero e uma poesia”.
Ele foi convidado pelo locutor Oswaldo Nobre para ler um soneto de
Dilamar Machado, o seu irmão mais velho e o radialista da família. Gostaram de
sua voz e veio o convite para ser locutor comercial da rádio, o velho locutor
de caixinha.
A carteira profissional foi registrada na curiosa data de 1º de
maio de 1961. Machadinho conta que, no interior, as notícias chegavam pela “gilette-press”.
Um outro serviço importante prestado pelo rádio eram os avisos. Em 1963
mudou-se para Porto Alegre, onde reside
até hoje.
Em sua página no Facebook, Machadinho conta que a sua família tem e
teve um número grande de advogados:
Dilmair Valls Machado, Rosângela Machado Fabretti, Dilamar Valls
Machado, Alceu Machado, Anderson Machado, Denise Rodrigues, Guilherme Ruperti, Dilmar
Valls Machado Filho e Maria Valéria Nucci Machado.
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