O Natal nunca mais será o mesmo!
O jornal “O Fato” ultimamente vem se caracterizando por
uma política inovadora na imprensa da cidade, ao dar ênfase a matérias de cunho
cultural, ao lado de informações gerais. E eu me sinto feliz e realizado por
fazer parte da equipe de colaboradores do jornal.
A Ana Rita conta que conversou com a dona Nilza, esposa
do advogado e amigo Nelson Lopes, e esta deu uma definição para o nosso
trabalho, que considero exata e providencial: “O jornal mudou o conceito na
cidade do que é informação e história. Parabenizo o Nilo Dias e o doutor Gerson”.
De minha parte agradeço.
E a Ana complementou: “Pessoas mais antigas, como nós,
gostam de ler o que interessa culturalmente”.
Faço propositalmente essas considerações e acrescento: O
jornal tem publicado muitas matérias a respeito de acontecimentos históricos
registrados no solo sagrado de São Gabriel. E também tem se preocupado em
resgatar as memórias de vultos que se consagraram no tempo, em importantes
serviços prestados a cidade.
E assim tem sido. Tenho procurado atender, como posso,
solicitações de leitores que sugerem matérias sobre determinados temas e
pessoas. Agora mesmo, fui solicitado pelo amigo Márcio Ferreira, o “Fefê”, da
Ana Rita, a escrever sobre alguém que nos deixou recentemente e que vai fazer
muita falta.
E não se trata de nenhum vulto histórico, participante de
revoluções ou coisas afins. Sim, um cidadão comum, um homem do povo, alguém que
procurou sempre servir a sua coletividade. Por isso Mário Fialho é merecedor de
todo o nosso respeito e consideração. E também colocou seu nome na história da
cidade.
O ADEUS A UM GRANDE HOMEM
Mesmo com todos os avanços tecnológicos, nem sempre fico
sabendo rapidamente de coisas que acontecem em São Gabriel. Foi o que aconteceu
agora, com o falecimento desse amigo de muitos anos, Mário Nadir Bicca Fialho,
aos 69 anos de idade.
O óbito se deu num dia em que a alegria deveria ser a
tônica, 20 de setembro, data em que os gaúchos, especialmente os gabrielenses,
comemoram a data máxima do Estado. Mário lutava contra um câncer há vários
meses.
Ele era gabrielense de berço, tendo nascido em 14 de
março de 1948. Estava doente e debilitado há cerca de quatro anos. Mas só á um
ano atrás descobriu o terrível mal.
Eu o conheci muito bem, como também a sua família. Era
filho de dona Vilsa Bicca Fialho, mais conhecida por Dona Maria. Ela era uma
torcedora ardorosa da antiga S.E.R. São Gabriel. Não perdia um só jogo e
acompanhava o time em suas andanças por cidades do Rio Grande do Sul.
Em dias de jogo no Estádio Municipal Sílvio de Faria
Corrêa, era ela que preparava o almoço para os jogadores, em sua própria casa,
sempre auxiliada pela filha Maria, também torcedora do clube, garantindo uma
boa economia aos cofres da agremiação.
Além da Maria o Mário tinha outra irmã, a Vilma, que lhe
deu uma sobrinha, a Alice. A família dele se tornou grande. Pai de Andréia,
Eliane e Paulo Alfredo, este grande revelação do futebol gabrielense nos anos
90, jogou ainda no Internacional, de Santa Maria. Deixou a bola muito cedo e
foi embora para Rondônia, onde casou e se radicou.
O nosso querido Mário era um avô faceiro, com as netas
Eduarda, filha de Andréia, Daiane, Elsa e Marlon, filhos de Eliane. E a alegria
só fez aumentar ao nascer os bisnetos Elizabeth e Isaac, presentes da neta
Daiane.
Mário participou de diversas Diretorias da S.E.R. São
Gabriel, especialmente quando este colunista presidiu o clube das três cores.
Foi dirigente destacado do Esporte Clube Independente, o rubro-negro amador da
cidade.
E ainda fundou e dirigiu o Bloco Carnavalesco Mocidade
Independente, que brilhou em muitos Carnavais da cidade. Mário participou dos
festejos de “Momo” até a sua esposa Elizabeth falecer, cerca de 15 anos atrás.
Esse fato causou enorme tristeza ao nosso amigo, que
tinha nela o grande amor de sua vida, fonte inspiradora para tudo o que fazia
em prol da comunidade que tanto gostava.
Participou ativamente da Banda Musical São Gabriel. E
administrou o Estádio Municipal, no tempo em que o prefeito era o doutor Eglon
Meyer Corrêa. Estava aposentado. Seu último trabalho foi na Loja Cauzzo.
E em todos os natais alegrava a criançada, como Papai
Noel. Em 2016, mesmo doente, fez sua última aparição nas ruas da cidade, como o
bom velhinho, entregando presentes a criançada.
GABRIELENSE HEMÉRITO
A Câmara Municipal, em 2015, com muita justiça, deu-lhe o
título de “Gabrielense Emérito“, por indicação do vereador Sildo Cabreira
(PDT).
O vereador Márllon Maciel (PP), também se manifestou a
respeito do falecimento de Mário Fialho: “Foi com tristeza que recebi a notícia
da morte do Mário, o tradicional e amado Papai Noel de nossa cidade.
O Mário era meu amigo de muito tempo. Deixava a barba
crescer a partir de março para poder encarnar o seu célebre personagem em
dezembro e alegrar milhares de gabrielenses. Lamento muito, disse!”
Destaco um depoimento feito pelo amigo Giancarlo Bina, em
sua página no Facebook:
Querido amigo! Gosto de escrever, mas te confesso que,
sinceramente, tive dificuldade desta vez. Tua partida, embora esperada, será
sempre motivo de reflexão. Há anos vinhas sofrendo e desejando estar ao lado
novamente do “teu bem”, que partiu bem antes e a quem endereçava cada lágrima
ao entoar a frase “a gente se emociona”.
Imagino, hoje, tua felicidade ao reencontra-la, pois
tamanho amor tem esse merecimento. Aqui em nosso plano fica o carinho, a
saudade e, sobretudo, o respeito ao exemplo que deste de solidariedade.
Nosso ”Natal Solidário” da Banda Improviso, não será o
mesmo sem ti. Mas seguiremos acreditando no bem, pois o sorriso que fizeste
brotar no rosto de cada criança, em cada Natal, é o mesmo que observo no céu
com tua chegada. Descanse em paz!
Também a amiga Regiane Marques, escreveu um bonito
depoimento, que tomo a liberdade de transcrever:
“Mário José, era assim que eu o chamava e ele adorava.
Então "bicho", hoje tu deve estar impressionando os anjos e "o
meu paixão", assim que ele se referia a sua amada a cada suspiro de
saudade.
Suas lágrimas corriam ao falar do amor da sua vida. E ele
transformou este amor pra as crianças, o que o ajudou a se manter neste plano,
mas sempre a espera do esperado reencontro.
Nós, que convivemos com ele diariamente sabíamos a pessoa
do coração imenso que era. Compartilhamos muitos cafés, almoços, risadas,
choros, e suas histórias, suas brincadeiras. Noves fora, sua matemática exata.
Natal solidário, inclusive no último ele não pode ir
conosco, mas me fez uma visita na clínica enquanto organizávamos a separação
dos brinquedos. E após a entrega eu fui até sua casa contar para ele, como
havia sido e brindamos com um geladinho.
Mário José, tu ganhaste a minha admiração pelo trabalho
que fizeste, sempre voluntário, sem jamais ganhar um tostão. Considerava uma
ofensa quando lhe ofereciam pagamento.
Fazia tudo isso simplesmente para ver o sorriso de uma
criança, ao ganhar seu presente de Natal entregue pelo bom velhinho. Mário
tinha barba natural e alisada por uma chapinha. “Bicho” descansa em paz, tu
merece os anjos...”
O NATAL COM MÁRIO NO CÉU
Emotiva, a Ana Rita, diretora do jornal definiu com
sabedoria e simplicidade, a falta que Mário vai fazer: “Nunca mais o Papai Noel
do caminhão da Jupob será o mesmo. Este vai ser o primeiro Natal com o Mário no
céu. Parece mentira. Mas ele deixou tantas marcas na cidade, na coletividade e
em nossos corações. E, a gente aqui sabia da doença. Mas parecia que o Papai
Noel era imortal.”
Quem ficou muito sentida com a morte de Mário foi a dona
Ana Maria, mãe de Ana Rita e esposa do grande radialista e advogado, doutor
Dagoberto Focaccia.
Ela, como presidente da Liga Feminina de Combate ao
Câncer, junto de suas companheiras de Diretoria, ajudou muito o nosso eterno
“Papai Noel”, na sua luta contra a terrível doença.
Quem não lembra do caminhão da Jupob com o alto falante
bem alto com músicas natalinas e o Mário, batendo um sininho nas mãos e jogando
balas para a criançada? Puro espírito de Natal. Destaque para a canção “Então é
Natal”, interpretada por Simone:
Então é Natal, e o que você fez?/O ano termina, e nasce
outra vez/Então é Natal, a festa Cristã/Do velho e do novo, do amor como um
todo/Então bom Natal, e um ano novo também/
Que seja feliz quem souber o que é o bem.
Então é Natal, pro enfermo e pro são/Pro rico e pro
pobre, num só coração/Então bom Natal,/pro branco e pro negro/Amarelo e
vermelho, pra paz afinal/Então bom Natal, e um ano novo também/Que seja feliz
quem, souber o que é o bem.
Então é Natal, o que a gente fez?/O ano termina, e começa
outra vez/Então é Natal, a festa Cristã/Do velho e do novo, o amor como um
todo/Então bom Natal, e um ano novo também/Que seja feliz quem, souber o que é
o bem.
Harehama, há quem ama Harehama, há/Então é Natal, e o que
você fez?/O ano termina, e nasce outra vez/Hiroshima, Nagasaki, Mururoa,
ha.../É Natal, é Natal, é Natal/Bahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
E também ecoava pela cidade
(Boas Festas, de Assis Valente). Anoiteceu, o sino
gemeu/E a gente ficou feliz a rezar/Papai Noel, vê se você tem/A felicidade pra
você me dar/Eu pensei que todo mundo/Fosse filho de Papai Noel/E assim
felicidade/Eu pensei que fosse uma/Brincadeira de papel/Já faz tempo que eu
pedi/Mas o meu Papai Noel não vem/Com certeza já morreu/Ou então felicidade/É
brinquedo que não tem.
UM DEPOIMENTO EMOCIONANTE
Deixo para o final o depoimento de sua neta Eduarda, que
mostra o quanto doeu para a família, a partida do bom velhinho Mário.
“Posso dizer aqui diante todos vocês e com toda
franqueza, que um pedaço de mim morreu. Morreu com a partida do meu avô. O
homem que eu amava e que com toda certeza me amava também, incondicionalmente.
Por mais que a gente esperava que isso acabaria
acontecendo, por todo o sofrimento que ele vinha passando, ainda é difícil de
acreditar. Nada na vida acontece por acaso, podem ter certeza.
Pois é vô eu te amo muito. Homem forte, valente, como poucos,
que não existem mais. Generoso com todos. Foi com ele que aprendi a confiar
mais nas pessoas e continuar confiando mesmo quando me decepcionasse, a
batalhar pelos meus objetivos e mesmo estando diante dos obstáculos da vida,
lutar e não desistir nunca.
Creio que este era seu lema, pois lutou até o fim e no
momento em que Deus lhe chamou, apenas abriu os olhos, olhou ao seu redor e
partiu!
Jamais esquecerei dos nossos momentos juntos na minha
infância (quando eu ia te visitar ou vice verso). Jamais vou esquecer do último
dia que te vi vivo, já doente, mas mesmo assim se fazendo de forte, sem
reclamar, lutando e dizendo que tudo ia ficar bem.
Jamais vou esquecer do seu último abraço, do último
"Eu te Amo".
Mário Fialho deiava a barba crescer, meses antes do Natal. *(Foto: Eduarda Borges)
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