Este é o segundo ano em que o jornal “O Fato” houve
alguns gabrielenses, para saber o que esperam do Natal e Ano Novo. Convidamos
cinco homens e quatro mulheres para que expressassem a sua opinião. Creio que o
resultado foi bom. (Nilo Dias)
BERECI DA ROCHA MACEDO
Natal
Considero-me um homem com luz própria.
Somente a consideração muito especial ao Nilo Dias
Tavares me faz escrever algo sobre essa data, para mim, muito controvertida.
Salvo honrosas exceções o que a mantém é a sociedade de
consumo no afã de vender, vender e vender, haja vista que a grande mídia nos
dias atuais já começa a fazer chamadas para incentivar o consumismo.
Mas e o espírito do Natal? Onde foi parar?
Não gosto do Natal pela hipocrisia da maioria das pessoas
que vive distante, que não se importa com o sofrimento dos que têm menos, que
odeia e que é indiferente ao seu próximo nos demais dias do ano e tenta apagar
tamanha indiferença com votos de Feliz Natal e outras superficialidades mais.
Quem gostava de reunir a família nessa data era nossa mãe
e como fazíamos tudo para agradá-la, enquanto ela existiu a CEIA de Natal era
inevitável, mais para estreitar o relacionamento e o sentimento de família do
que para troca de presentes.
Naturalmente que na selvageria da sociedade de consumo em
que vivemos existem famílias de exceção que mantém a tradição do Natal como
símbolo de fraternidade, amor e cristandade. São poucas, mas existem.
O abraço de Natal, contato físico, perdeu espaço para
esse programinha de computador chamado de Livro das Caras, para os americanos
facebook, que afasta os verdadeiros amigos e transforma em supostos amigos
meros desconhecidos.
Mas quem escreve como nós, Nilo Dias Tavares, precisa ter
sensibilidade suficiente para entender os demais e respeitá-los nas suas
opções, por isso nestas poucas linhas espero que cada um tenha o Natal de sua
preferência, pois ninguém está obrigado a cultivar os sentimentos, bons ou
ruins, de seus semelhantes.
Nos últimos anos tenho assistido mais a pregação de ódio
do que de amor e quanto mais vejo os templos cheios de pessoas menos vejo
espiritualidade, por isso prevejo um Natal de pouco calor humano.
Que cada um tenha o NATAL que merece.
MALU BRAGANÇA
Apenas uma crônica de Natal
O espírito de lamento, por falar mais alto neste momento,
manda que escreva sobre uma pequena aldeia que, embora grande na sua história
de ser uma terra que abrigou e abriga cidadãos aguerridos e fervorosos na busca
dos seus ideais, ainda é pequena pelas atitudes de alguns, igualmente
fervorosos, mas que disseminam a truculência e a destruição das coisas boas.
A pequena aldeia, hoje tão refém, certa época vivenciou o
Natal de forma muito sublime. As pessoas se ajudaram, unidas por um objetivo
maior: retratar para as crianças uma realidade natalina jamais vista,
promovendo a localidade, atraindo pessoas e fazendo brotar – até nos corações
mais endurecidos – o sentimento diário da magia que só o Natal promove.
O que hoje é lixo, atirado em algum canto, um dia foi
luxo. O que muitos denominam “garrafas sujas” fez pessoas felizes, mobilizou a
comunidade, uniu uma equipe incansável na arte de transformar objetos
inservíveis em peças lindas e, acima de tudo, embelezou a aldeia que, com o
clima que vivia, parecia ainda mais grandiosa e brilhante.
Presenciavam-se idosos, pais, filhos, jovens, todos
encantados, imbuídos de aproveitar ao máximo aqueles dias de encantamento, onde
a energia poderosa do amor ao próximo, do desprendimento e da solidariedade –
proporcionados com especial sutileza pelo período que antecede o Natal –
parecia estar presente nos olhares, que tiveram a oportunidade de talvez, pela
primeira vez, enxergarem a aldeia com um colorido especial e revigorante.
Mas, de repente, tudo isso virou parte do passado. Hoje,
é página de uma linda e antiga história que ninguém quis terminar de escrever.
O livro começado foi rasgado, picotado em pequenos pedaços, jogado de lado, no
lixo, destruído sem piedade, respeito e compaixão.
Talvez um dia, memórias mais sensíveis e menos
truculentas contem aos filhos e netos que aquela pequena aldeia certo dia teve
uma linda Fábrica de Sonhos de Natal.
JEFER ESTIGARRAGA
Dia de Natal...
Natal é um dia sublime em que renovamos as matizes da
esperança, da fé em Deus, da paz e do amor. Dia de comemorar o nascimento de
Jesus de Nazaré e acolhermos em nossos corações as lições da sagrada família
que nos ensinou as surpresas da vida.
De ouvir mensagens dos anjos de Deus, apreciar os sonhos
de harmonia, de paz e tornar nosso pequeno espaço na terra mais acolhedor e um
pouco mais semelhante ao do céu.
De olhar o céu, contemplar as luzes das estrelas e se
deslumbrar com a estrela guia. Acender a chama da criança adormecida dentro de
nós e andar a procura do caminho que nos leva ao Menino Deus.
De orar por Maria mãe do Menino Jesus que de seu ventre
nasceu o Salvador, agradecer a Deus pelas suas manifestações que colocou nos
braços de Maria uma criança para iluminar nossa fé e de apreciar os milagres da
vida.
De se aproximar dos irmãos próximos e distantes para
renascer o amor. É dia de recompor a vida, perdoar e abraçar, com a
misericórdia de Deus e, recordarmos de nossa infância e dos anos vividos.
Natal de Jesus Cristo, devemos estar atentos com as
mensagens de paz, harmonia ditados pela obra do Espirito Santo.
SANDRA XARÃO
Data da desigualdade
Pensei que fosse fácil escrever sobre o Natal. Mas não é.
Para mim, esta data não representa realmente a verdade, e tornou-se a data da
desigualdade entre os que tudo podem e os que nada tem...
Gostaria que o Natal fosse o momento de reflexão, do
perdão, do abraço e fosse jogado no lixo todo o preconceito social que o ser
humano tem.
CONSULTOR GILBERTO TRINDADE
Reflexões, frustrações e esperanças
Natal chegando e com ele muitas bocas e mentes a bradar o
“Amai-vos uns aos outros”, porém ecoando em poucos corações.
Onde foi parar o “Amai-vos uns aos outros” quando o
espirito do ganha/perde, do ódio, da intolerância ao outro é pauta diária na
nossa sociedade?
Onde está o “Amai-vos uns aos outros” quando a ideia de
exclusão do Estado como fomentador da oferta, como regulador do mercado
econômico, como empreendedor e sócio daqueles que não tem capital para
empreender serve somente para aqueles mesmos que a 500 anos controlam os
recursos públicos e utilizam para seus grupos, deixando as migalhas para a
maioria?
Engraçado que vira o ano novo, chega 2018 e as pessoas,
como num passe de mágica, acreditam que “porque o ano mudou tudo agora é novo”,
uma nova vida, um novo mundo, um novo salvador da pátria, um novo milagre. E
assim, ao acordar de mais um desses golpes dos devaneios proporcionados pelos
meios de sedução dos dominantes, o povo se envergonha de sua decisão e se fecha
em seu orgulho ferido até o próximo “Novo Milagre” que virá do além e que ele
não precisa fazer nada.
Ora, um povo sem ação, sem atitude, sem opinião, sem
movimento é o ideal para aqueles que sempre se serviram desse mercado que não
precisa crescer pois sabem que anestesiando a inconformidade popular, via ópios
de diversas formas, estarão mantendo seus privilégios econômicos, pois sabem
que é a inconformidade que alavanca o desenvolvimento.
Em 2018 tenho a esperança de estar errado, do contrário,
teremos mais um ano de sofrimento econômico para os mais pobres, especialmente
os das cidades de economia altamente dependente dos investimentos públicos como
São Gabriel e muitas da metade Sul do RS.
Em 2018 nós, o povo, teremos a esperança de resgatar o
direito de determinar que projeto queremos em nosso país e paremos de ir atrás
de ideias milagrosas, de artistas da política e falsos não políticos, de
mágicos econômicos e passemos a olhar com senso crítico e prático tudo o que os
projetistas estão falando e fizeram e, principalmente, paremos de nos omitir em
nossos grupos de opinião, pois “a ideia que não é posta à crítica, é frágil”.
ADRIANA CALDAS
Feliz 2018
O sentido do Natal é mais amplo do que uma data ou festa
comemorativa, aguardado com ansiedade, principalmente pelas crianças, tem
identificação com compras, alegria, família, enfim, união. Porém, o significado
do Natal vai muito além, porque invoca reflexão e nos remete ao nascimento
daquele que veio ao mundo para trazer esperança e salvação, é a data que
comemora o nascimento de Jesus.
Coletivo, amplo, cálido, o Natal traz consigo o espírito de
coletividade, de caridade, de amor ao próximo. Época do ano que desperta o que
existe de melhor no coração das pessoas, nos torna mais receptivos e alegres,
pinta com suas cores o futuro de toda a gente.
Impossível ficar indiferente a esta festa que toca o coração
da maioria de nós, mesmo os mais endurecidos, que contestam certas
incoerências, caso de símbolos como Papai Noel, inverno, neve, roupas quentes,
e tudo o que vem junto com o Natal e que, foram incorporados e adaptados á
realidade do mundo todo.
Sempre existiu uma grande boa vontade envolvendo o Natal,
época de perdão, concessões, alegria e entendimento entre nós, que vivenciamos
o Natal buscando lembranças cálidas, amigos de perto e de longe, através de
telefonemas, cartões, visitas, mensagens nas redes sociais.
É uma época de maior interação e demonstrações de afeto,
abraços são mais fáceis, apertos de mãos tornam-se comuns, gentilezas e
sorrisos, são trocados mais amiúde.
Mas o Natal faz com que prestemos mais atenção aos nossos
irmãos menos favorecidos pela sorte. Dentro do espírito de Natal, nos
oportunizamos agir com mais caridade e são mais frequentes os gestos de amor ao
próximo sejam pequenos ou grandiosos, porque nesta época especial, a humanidade
fica mais feliz, mais aberta a dar a mão para quem precisa, seja no plano,
material, ou qualquer outro, oportunizando até mesmo, mudanças reais no rumo de
nossas vidas.
É durante a época do Natal que a maioria de nós faz um
balanço do ano, da vida e dos próprios atos, oportunizando o reconhecimento e a
gratidão pelo dom da vida.
Comemorado no dia 25 de dezembro, com alegria e muitas
festividades, precisamos ter em mente que, podemos e devemos fazer e agir
durante todo ano, como agimos no Natal, próximos dos que nos são caros, abertos
à caridade e amor ao próximo, pois o verdadeiro sentido do Natal é comemorar a
vida e o amor de Deus sem espaço para mágoas ou rancores, buscando proximidade
com Deus.
JOÃO ALFREDO REVERBEL BENTO PEREIRA
Natal
Quando era criança e se avizinhava o Natal, a expectativa
era grande. Morávamos na Coronel Sezefredo, na segunda quadra abaixo de onde,
hoje, é o calçadão.
Naquele tempo, na nossa esquina, havia uma revenda
Chevrolet, dos irmãos Brenner e o gerente era o Orestes. Na parte da frente,
existia uma bomba de gasolina, acionada manualmente pelo Germano, um moreno
simpático e bonachão, amigo de todos nós.
E, na noite de Natal, nessa esquina, dobrava um caminhão,
entrando na nossa rua. Na sua carroceria aberta, um papai-noel distribuía os
presentes, chamando nominalmente as crianças que se aglomeravam a sua volta.
Constrangidas, atendiam o chamado e, lá da carroceria,
desciam brinquedos, bolas e até triciclos. Era uma festa. Sei, velho vai
ficando saudosista e já lá se vão quase 70 anos. Mas tínhamos fé e esperança no
porvir. Hoje, quais são nossas perspectivas?
O que fizeram de nossos sonhos? Pois é, amigo Nilo, fiz
de tudo para não falar no que, hoje, esperamos para nossa cidade, nosso Estado
e nosso país.
A desesperança bate à porta e os oportunistas estão à
espreita, tocaiando. Mas é preciso ter esperança, pois é o que nos move, comove
e impulsiona. Fica a pergunta: Brasil, o que fizeram de ti?
TERESINHA MOTTA
Natal, mais que uma data, uma presença
O Natal, aquele personagem com aparência de parente
próximo, que sempre nos visita em dezembro e nos faz encher a geladeira, está
outra vez a caminho.
Não parece tão animado como antes. Talvez, pelas
condições íngremes do trajeto e porque nos últimos anos tenha perdido adeptos
no planeta. Mas, vem vindo, resoluto com a ideia de que seja ele, em pessoa, o
Menino Jesus. Ele acredita piamente nisso. Difícil será convencer os sábios e
os especialistas.
Vem cansado da crise civilizatória agravada pelos
desatinos humanos. Porém, movido pela mesma proposta de renascimento que o
tornou pop. Irá bater à porta de todos. É esperado que adentre os templos e os
cenários dos contentamentos vãos. Dizem
que fechou acordo novamente para participar a rodo de consórcios com Papai
Noel. Mas, hospedará a sua alma com mais verdade entre os pequeninos, os mais
humildes e os fatigados.
Ele vem preparado para todos os gêneros de público,
inclusive os da internet. Está estruturado para habitar em configurações na web
e no caso de maior engajamento e conversão estará disponível ainda nos
aplicativos iOS e Android, tudo pela condição de facilitar, até por mobile, a
conexão com a esperança.
Sabe-se lá, o que mais! No ano 17 do século 21 tudo é
possível. Existe uma escala infinita de possibilidades, até a de que nos
apareça holograficamente, naquela hora nada a ver em que, por desencanto,
estivermos um pouco avessos aos conteúdos subjetivos da rabanada e do panetone.
Enfim, o certo é que ele vem. Aliás, o Natal já está no
nosso radar como egrégora, força espiritual com entrada prevista em nosso
espaço-tempo entre os dias 24 e 25.
Eu, como de costume, devo ficar com os olhos rasos
d’água, não pela data em si que é uma invenção dos homens, mas pelo amor que
ela simboliza. Aquele amor que supre de matéria-prima as mães e os poetas.
Amor revolucionário, que se movimenta indiferente ao fato
de não valer meio centavo para o deus-mercado que nos rege. E poderoso o
suficiente para mudar divinamente a programação das nossas vidas.
BERALDO LOPES FIGUEIREDO
O dia que eu descobri...
Acreditei em Papai Noel até os sete anos, eu imaginava
ele entrando na minha casa, lendo meus pedidos de brinquedos e abrindo um saco
enorme e colocando embaixo da pequena árvore de Natal o que havia pedido.
Lembro que meu pai junto com minha mãe e minha irmã me
levava na Rainha dos Móveis uns dias antes da noite de Natal de dezembro para
ver os brinquedos.
Os mais caros eram os brinquedos da Estrela, eu apontava
para um autorama grande com carrinhos que andavam pela pista, mas minha mãe
dizia, esse não dá tempo de chegar neste ano tem que pedir três meses antes
para o Papai Noel trazer, eu tinha cinco anos.
Quando eu tinha seis anos pedi um Forte Apache, uns 6
meses antes, era feito de madeira com índios e soldados do exército americano,
cavalos todos de plástico.
Quando recebi aquela caixa grande, que o próprio Papai
Noel numa festa do quartel me deu, foi emocionante quando um mascarado vestido
de vermelho com uma barba de algodão com uma máscara no rosto me chamou e eu
ficava pensando: “mas ele não precisa usar essa máscara, ele é o Papai Noel”.
No outro ano, pedi uma bola de futebol número 5, naquele
tempo as bolas de couro tinham números, a cinco todos diziam que era oficial.
Foi quando vi minha mãe entrar em casa com um pacote de
forma redonda, perguntei. O que é isso aí na sua mão: “É uma bolsa” – disse
ela. Então espiei ela guardar, em cima do guarda roupa, atrás de uma mala, ela
não me viu.
Quando ela foi para a horta no fundo do quintal, eu subi
numa cadeira e toquei naquele embrulho redondo, senti os gomos e percebi, era a
minha bola de futebol numero cinco oficial.
Acabara de descobri, o que já desconfiava, PAPAI NOEL NÃO
EXISTE.
Junto com a descoberta foi toda a ilusão, senti uma
decepção de ter perdido todos os meus sonhos. Mas como agradeço meus pais, por
me darem a oportunidade de sonhar e criar um mundo de fantasia.
Despertou em mim a capacidade de criar e exercitar a
criatividade. O exercício de tecer sonhos ensina a alma a conhecer a alegria da
inocência, a sensibilidade é apurada, o amor é exercitado nos personagens que
moldamos na imaginação.
Se me perguntassem hoje o que ESPERA DO NATAL: Que os
pais se esforçassem mais para manter essa ilusão voltasse para as crianças, a
vida é tão seca e os pais de hoje, não fazem questão de alimentar pequenos
momentos de uma ilusão que é tão necessária.
O Papai Noel dos dias de hoje morre, tem uma vida tão
curta na vida das crianças. (Publicado no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 20 de dezembro de 2017 - Incluida a crônica de Malu Bragança, não publicada pelo jornal)
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