“O tratamento para com os escravos era absolutamente
desumano, nas fazendas e nas charqueadas. Era comum os negros não resistirem às
chibatadas e morrerem nos troncos, sendo enterrados sem cruz, nos recantos das
fazendas, e era comum o estupro praticado por patrões”, declara o pesquisador
Beraldo Figueiredo, filho do historiador Osório Santana Figueiredo. “Muitas
senzalas, muitos troncos em fazendas, meu pai contava que o que faziam é de
arrepiar”, diz.
O Museu da Igreja do Galo ainda conserva instrumentos de
tortura e de aprisionamento de escravos. Apesar desse cenário bárbaro, havia em
São Gabriel uma elite progressista que, reunida em torno da Maçonaria Rocha
Negra n.º 1, reuniu 900 cartas de alforria, tornando São Gabriel território
livre de escravos já em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea.
Mesmo depois do fim da escravidão, a segregação social
permaneceu. Em 20 de setembro de 1953, uma reportagem do Jornal “O Imparcial”
noticiava o surgimento da Sociedade Esportiva e Recreativa XV de Novembro, um
clube social formado por negros, já que sua entrada não era bem vista em clubes
como o Caixeiral e Comercial. A reportagem fala do clube como “a sociedade da
família morena gabrielense”.
Segundo o professor José Fernando dos Santos, curador do
Museu da Igreja do Galo, a história local teve negros ilustres, como o primeiro
vereador negro da cidade, Inocêncio Teixeira, na década de 60, eleito pela
ARENA; o histórico militante trabalhista Pedro Bahia; Orácio Gezat, fundador da
Sociedade XV de Novembro; Otalino Rodrigues, primeiro pastor evangélico negro
da cidade, fundador da Igreja do Evangelho Quadrangular no município; e a
comovente história do Irmão Marista Maria Valeriano, criado entre os irmãos
maristas do Ginásio São Gabriel, e que aos 17 anos já dava aulas de francês na
escola; ingressou no Juvenato marista naquela época, mas foi descartado por
causa de sua cor.
Não desistiu de sua fé, e fundou escolas em São Paulo,
Uruguaiana e Bagé. Somente conseguiria tornar-se irmão marista com 62 anos de
idade, pela intervenção direta do Monsenhor Henrique Rech. Faleceu em 1968,
como Porteiro do Retiro dos Maristas, o cargo mais honroso da congregação.
(Fonte: Prefeitura Municipal de São Gabriel)
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