Eu já escrevi para o jornal “O Fato” alguns trabalhos a respeito
de vultos ilustres da história rio-grandense e também de episódios históricos
ocorridos em solo gabrielense e de outras paragens.
Na certeza de que isso é de grande valia para nossas escolas e
seus alunos, pois alguns professores (as) já manifestaram isso a Ana Rita, é
que continuo a me aprofundar na busca por subsídios, que possam mostrar com
mais clareza como ocorreram.
A “Batalha do Passo do Rosário” aconteceu em 20 de fevereiro de
1827, bem próximo da atual cidade de Rosário do Sul, e também de São Gabriel e
a pouco mais de 100 km da fronteira com o Uruguai.
Constituiu-se na maior batalha campal travada no Brasil. Os
brasileiros chamaram de “a Batalha do Passo do Rosário”, os argentinos e
uruguaios de “La batalla de Ituzaingó”.
Até hoje militares e historiadores dos dois lados da fronteira
discutem se ouve um empate técnico ou uma vitória castelhana inconclusa.
A Banda Oriental, outrora parte do vice-reinado espanhol do Rio da
Prata, conquistada pelas armas de Don João VI, anexou-se, depois da
independência do Brasil, ao Império, em virtude do voto das autoridades e
populações orientais.
Mas, levada pelo espirito de liberdade, que fizera de todas as
colônias americanas Estados livres, revolucionando-se, rompeu os laços de união
e declarou-se “Província Unida aos Estados do Rio da Prata”.
O Brasil, que mantinha a posse desse território, já por direito de
conquista, já por atos da federação, tratou de reivindicar a sua soberania.
Eis aí a causa da guerra, que terminou na “Batalha do Passo do
Rosário” ou de “Itainzagó”.
DECLARAÇÃO DE GUERRA
O Exército Republicano, composto por tropas argentinas e uruguaias
tinha mais de oito mil combatentes divididos entre homens de infantaria,
cavalaria e artilharia, comandados pelo brigadeiro Carlos Maria de Alvear.
O Exército Imperial, ou Exército do Sul, composto por brasileiros,
alemães e indígenas missioneiros, por sua vez, possuía pouco mais de seis mil
soldados, comandados pelo Marquês de Barbacena.
Devido a revolta de Juan Lavalleja, com o apoio das Províncias
Unidas do Rio da Prata, contra o domínio do Império do Brasil sobre a Província
Cisplatina, fez com que Dom Pedro I, declarasse guerra aquele país, em Janeiro
de 1826.
O imperador, de inicio, não deu muita atenção a revolta, pois
tinha questões consideradas mais importantes a tratar, como as do Maranhão,
Pará, Pernambuco, Bahia e da própria capital, Rio de Janeiro. Contava, assim,
com poucos recursos para debelar o levante na mais meridional das provinciais
do Império.
Porém, quando a revolta ganhou apoio da população uruguaia, Dom
Pedro teve que recrutar o mais rápido possível uma força de combate e enviá-la
para o Sul.
Ele próprio pensou em comandar as forças que iriam à Província
Cisplatina, nome do então Uruguai. Mas teve que mudar de ideia devido o
falecimento de sua esposa, Dona Leopoldina. Então nomeou para o comando do
Exército Imperial, Felisberto Caldeira Brant, o “Marquês de Barbacena”.
Pelo lado inimigo, nem tudo era um mar de rosas. As Províncias
Unidas do Rio da Prata quase sempre estavam em desacordo sobre políticas
internas, e não raras vezes guerreavam entre si. A única coisa que as unia era
o ódio comum ao Império do Brasil.
Com a possibilidade de darem um golpe no Império, apoiaram o
levante uruguaio contra a dominação brasileira. Primeiro foi político e
logístico e, depois, militar.
A intenção era convocar tropas para lutar ao lado de Juan Lavalleja.
Mas aconteceu uma luta pelo comando das forças, que se opuseram a Lavalleja.
Por fim, o comando foi dado a Carlos Maria de Alvear.
AS CAUSAS DA BATALHA
A “Batalha do Passo do Rosário” só ocorreu em razão do avanço do
exército de Carlos Maria de Alvear, no final de janeiro de 1827 sobre as
pequenas vilas e cidades da fronteira situadas no lado brasileiro. O visconde
de Barbacena começou, então, a perseguição ao inimigo, vindo a achá-lo disposto
à batalha no dia 19 de fevereiro.
Segundo alguns historiadores, Alvear fez Barbacena acreditar que
perseguia a retaguarda de um Exército em retirada, quando na verdade todo o
efetivo estava por perto.
Essa teoria tem por base o fato de que o Exército Imperial já
estava no local da batalha, desde a noite do dia anterior ao seu desfecho. Por
outro lado, o terreno escolhido por Alvear para o combate era propício para a
movimentação de unidades de Cavalaria, as quais o Exército Republicano possuía
em vantagem numérica de três para um.
Na manhã do dia 20, o Exército Imperial avançou sua Infantaria com
apoio de Cavalaria sobre o I Corpo de Tropas republicanas sob o comando de Juan
Lavalleja, dando inicio ao combate.
Os uruguaios em principio resistiram bravamente, mas não demorou
para que começassem a ceder terreno em alguns pontos, proporcionando que as
tropas brasileiras se dirigissem sobre as três ou quatro peças de Artilharia
que se encontravam no centro do esquema inimigo.
Foi o momento em que surgiu no campo de batalha a Cavalaria
republicana. E a esquerda brasileira, formada por Infantaria de voluntários com
pouco adestramento militar, recuou e correu para salvar-se. Em vão o marechal
José de Abreu tentou conter seus homens e acabou morrendo no combate.
A ala direita do Exército Brasileiro também recuou, repassando as
margens do córrego (braço do rio Santa Maria) para o lado brasileiro.
Somente o centro das forças brasileiras, composto por mercenários
alemães manteve posição. Resistiu a diversas investidas da Cavalaria inimiga.
Os soldados alemães faziam parte do projeto de imigração de Dom
Pedro I. Em 1823 haviam sido criados quatro batalhões de estrangeiros com
alemães, dois de Granadeiros (para a guarda da Corte) e dois de Caçadores (que
lutaram na Guerra da Cisplatina e na Confederação do Equador). Os batalhões
foram dissolvidos em 1830 e os soldados foram enviados para colônias agrícolas.
Por fim, as forças republicanas não conseguiram quebrar a formação
do centro do Exército inimigo, mas lhe atingiram a retaguarda desguarnecida
pelo recuo das alas.
Barbacena ordenou o recuo das tropas. Elas saíram do campo de
batalha em formação, mas o mesmo não ocorreu à esquerda e à direita do
Exército.
Alvear conquistou o campo de batalha, mas não possuía tropas
descansadas para perseguir o adversário. Mandou tocar fogo na mata que cercava
o local da luta.
Assim, o Exército Imperial pôde se reagrupar dias depois na
retaguarda. Os cativos feitos por argentinos e uruguaios vieram sobretudo, das
unidades que formavam as alas das forças sob Barbacena.
A MARCHA DA VITÓRIA
Entre as munições abandonadas pelo Exército Imperial encontrava-se
um cofre com uma partitura, entregue pelo Imperador ao Marquês de Barbacena,
para que fosse interpretada após a primeira vitória imperial.
Dom Pedro I teria mandado compor a “Marcha da Vitória”. Mas o
plano de “Sua Majestade Real” falhou: em um confronto cujo resultado é motivo
de discórdia até agora, os castelhanos levaram a música como troféu.
Além de cantar vitória os argentinos rebatizaram a melodia de
“Marcha de Ituzaingó”, a versão castelhana para o nome “Passo do Rosário”.
Anunciaram que o próprio Dom Pedro I criara a obra. E foram mais
adiante ainda: desde então, tocam a música de 3min57segundos nos quartéis e nos
rapapés ao Presidente do país.
O Exército aliado republicano apoderou-se dela e batizou-a como
”Marcha de Ituzaingó.” Todos os anos, quando em atos oficiais traslada-se a
bandeira da Argentina. É um dos três atributos que ostenta o Presidente da
República: bastão de mando, banda presidencial e Marcha de Ituzaingó.
DOMÍNIO NAVAL
De todo modo, o Brasil seguiu com o domínio naval, já que logo em
seguida, com a “Batalha de Monte Santiago”, as ações navais argentinas ficaram
limitadas à guerra de corso.
“A Batalha de Monte Santiago” foi um confronto naval da “Guerra da
Cisplatina”. Ocorreu entre 7 e 8 de abril de 1827. A divisão brasileira,
comandada por James Norton, surpreendeu uma esquadrilha argentina e a
perseguiu, perdendo os inimigos dois de seus melhores navios.
O almirante Brown, que comandava os argentinos, ficou ferido. Como
consequência dessa batalha, o Império do Brasil obteve supremacia naval, o que
foi decisivo no curso dos acontecimentos.
O bloqueio econômico imposto pela Marinha de Guerra do Brasil
causava prejuízos econômicos significativos a Buenos Aires. A luta em alto mar,
pelo lado republicano, restaria reduzida, em grande parte, a esforços de
corsários.
Na batalha morreu o comandante Rafael de Carvalho, que dirigia o
brigue “29 de Agosto”. E, também, o comandante Francis Drummond, do lado
republicano.
Montevidéu e Colônia do Sacramento seguiram sob o controle do
Brasil. A supremacia naval foi decisiva, pois sem controle naval as Províncias
Unidas não tinham meios para vencer o conflito.
Essa guerra foi, em sua essência, uma guerra naval e o domínio da
Banda Oriental e de Montevidéu ainda assim não significaram nenhuma vantagem
para Buenos Aires, enquanto o bloqueio naval pode ser mantido pelo inimigo.
O próprio José de San Martín dizia, em julho de 1827, que ambas as
vitórias podiam contribuir para acelerar a conclusão da desejada paz. E que não
viu em nenhuma dessas batalhas caráter de decisivas.
GUARDA FÚNEBRE
Anualmente, o 4º Regimento de Carros de Combate - Regimento Passo
do Rosário - (4º RCC), localizado em Rosário do Sul, é o guardião ou mantenedor
das tradições da “Batalha do Passo do Rosário”.
Todos os anos o 1° RCG (Regimento de Cavalaria de Guardas), os
“Dragões da Independência”, localizado em Brasília, realiza uma formatura em
memória à “Batalha do Passo do Rosário”.
Dela participam todos os militares do Regimento, e ao término da
formatura é realizada uma guarda fúnebre em homenagem aos que combateram em
favor do país.
No episódio "O anjo da vitória", dos "Contos
Gauchescos" de Simões Lopes Neto, o narrador Blau Nunes fala dessa
batalha, dita de Ituzaingó, da qual teria participado quando criança.
Embora passados 190 anos do episódio, até hoje arqueólogos com
detectores de metais esquadrinham o ventre do pampa, em Rosário do Sul, na
busca de vestígios da maior batalha já travada em solo brasileiro.
Cada peça que encontram - bala de canhão, cabo de espada,
projéteis, estribos, pistolas, uma fivela que seja -, surpreende e pode
reacender antigas pendências.
Sabe-se de alguns livros sobre a Batalha. Por exemplo: “175 Anos
da Batalha do Passo do Rosário”, de Cláudio Moreira Bento; “A Batalha do Passo
do Rosário”, de Tasso Fragoso; “Guerra com as Províncias Unidas do Rio da
Prata”, de Luiz Manoel de Lima e Silva; “Campanha de Ituzaingó”, de Henrique
Oscar Wiederspahn.
O general Tasso Fragoso também publicou, em 1934, um excelente
trabalho intitulado “História da Guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai”,
em cinco volumes, que se transformou em obra historiográfica referencial no
Brasil sobre aquele confronto. (Pesquisa: Nilo Dias)
Monumento ao general José de Abreu, Barão do Serro Largo,
levantado no local onde se feriu a "Batalha do Passo do Rosário".
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