Era filho de São Gabriel, onde nasceu no dia 27 de dezembro de
1888. Seus pais eram João Bento Pereira e Rita Cassia de Oliveira Pereira.
Os pais de Adel foram proprietários da velha Estância do Inhatium,
a partir de 1879, depois que esta havia passado pelas mãos de vários outros
donos.
A Estância se localiza nas proximidades do arroio Inhatium, que
antigamente era chamado de "Ynãchiu", nome indígena, que significa
“mosquito que pica”.
E que definição bem correta. Realmente, o mosquital que existe por
lá, especialmente no verão, é de fazer qualquer vivente correr. No inverno é
bem melhor, já que eles pouco dão as caras.
Uma vez, em pleno verão, eu fui jogar umas linhas por lá, junto
com o saudoso amigo Anastácio Paulo Gama, o popular "Tacho", que foi
massagista da S.E.R. São Gabriel. Era tanto mosquito que nem se podia abrir a boca,
senão engolia uma dúzia deles. Não deu para aguentar e tivemos que ir embora.
Lembro de algumas outras passagens que vivi no arroio Inhatium,
junto às chamadas “Pontes Brancas”. Eu e o tenente Dutra, meu amigo de pescarias
nos tempos de São Gabriel, costumávamos em frias madrugadas ir até lá para
pescar lambaris, que depois serviriam de iscas para as pescarias da tarde.
E para aquecer o corpo ia sempre uma garrafa de “3 Fazendas”, que
voltava vazia. Embora o frio a “sede” era danada. As pessoas que passavam pela
estrada olhavam atentamente para nós, dentro da água gelada, certamente
pensando que éramos loucos.
Nessas empreitadas tínhamos a oportunidade de assistir um
espetáculo raro da natureza: quando o dia amanhecia, milhares de pássaros deixavam
as árvores em que passaram a noite e saiam a voar em enormes nuvens, com um
barulho quase ensurdecedor de seus cantos. Que era bonito, não tenham dúvidas.
E não esqueço que o saudoso amigo Ênio Lucca, pai de José Lucca, Flávio
e “Pico”, o “rei da eletricidade automotiva”, também companheiro de pescarias, que
costumava dizer, cada vez que passávamos pelo arroio Inhatium, em direção a
algum pesqueiro:
“Isso aqui é um divisor de águas”. Confesso que não entendia muito
bem o que ele queria dizer com isso. Mas como se tratava de um homem estudioso,
lia muito, não duvidava de nada do que ele dizia.
E o banhado do Inhatium é histórico. Em 1881 deu-se no local um
violento combate entre infantarias inimigas, quando o major Anção da Silva saiu
gravemente ferido de bala e morreu em São Gabriel. E o tenente Joaquim José
Ferreira Vilássa foi ferido na espalda direita.
A estância também serviu de palco para algumas cenas do filme "Lua
de Outubro", produzido em 1998. O filme narra os sangrentos acontecimentos
históricos registrados durante a “Revolução Federalista” no Rio Grande do Sul.
O PRIMEIRO DONO DA INHATIUM
O primeiro proprietário da Inhatium foi o sesmeiro, tenente de
Milícia Balthazar Pinto de Aguiar, um juiz de paz no interior de Santa Maria.
Ele era adversário ferrenho de Bento Gonçalves e um dos líderes de Santa Maria,
na sua fase inicial de “Acampamento”. Santa Maria nasceu de um acampamento
militar.
Balthazar recebeu as terras de Portugal a título de sesmaria. Descontente
com a divisão territorial determinada pelo Tratado de Santo Ildefonso, os
portugueses passaram a fazer concessões de sesmarias, sistema que perdurou até 1822,
em terras dos campos neutrais.
Campos Neutrais foi a denominação dada, pelo Tratado de Santo
Ildefonso, a uma faixa de terra desabitada no Sul do Estado do Rio Grande do
Sul cuja posse não seria de nenhuma das partes em conflito.
Esta faixa se estendia dos banhados do Taim ao Arroio Chuí e até
hoje, embora fazendo parte dos municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí,
continua sendo conhecida desta forma.
Os agraciados foram aqueles que haviam se destacado nas disputas territoriais
em favor da coroa portuguesa. Sabe-se que Balthazar manteve em sua propriedade
10 escravos negros, todos mandados batizar.
Essa classe de militares donos de terras foi uma das origens da
aristocracia pastoril gaúcha, consolidando o regime das estâncias. Muitas delas,
até hoje existentes em São Gabriel são frutos de doações de sesmarias.
Também se sabe da existência de documentos que dão conhecimento de
que Antônio Alves Trilha encaminhou pedido de concessão de sesmarias, no ano de
1815, nos campos de Inhatium, hoje situados entre São Gabriel e Rosário do Sul.
Depois a Inhatium pertenceu a Maria Inácia da Pureza, casada com
José Alves Trilha, que a vendeu para Manuel José Pereira da Silva, por 40.400
mil contos de réis. Ele era casado com Emerenciana Antônia Gonçalves Borges.
Manuel José era filho de José Pereira da Silva e Maria Rosa Gomes,
ambos naturais de Laguna (SC) e descendentes dos açorianos povoadores, lá
chegados em 1748.
Foi tesoureiro geral da República do Piratini e suplente de
deputado à Assembleia Constituinte e Legislativa instalada em Alegrete, a 1 de
dezembro de 1842, quando da terceira capital Farroupilha.
Entre seus filhos se distinguiu o doutor João Pereira da Silva
Borges Fortes (1816-1893), formado em Medicina no Rio de Janeiro, com larga
atuação na política riograndense. Ele casou com Francisca de Paula Alves Valle,
filha de Tomás Ferreira Valle e de Leonilda Alves Valle.
DOM PEDRO II FOI HÓSPEDE NA INHATIUM
No dia 30 de agosto de 1865, o imperador dom Pedro II passou por
São Gabriel, pela segunda vez. Desta feita a caminho de Uruguaiana, para
assistir a rendição dos paraguaios e ficou hospedado na casa da família Borges
Fortes, na “Estância do Inhatium”.
Como agradecimento aos obséquios prestados à real comitiva,
recebeu a veneranda dona Emerenciana, avó do general João Borges Fortes, de
mãos de Tereza Cristina de Bourbon, esposa do imperador D. Pedro II e
imperatriz consorte do Império do Brasil, o título de ”Dama do Paço”.
Tereza Cristina ficou conhecida como “a mãe dos brasileiros”. Nascida
como uma princesa do Reino das Duas Sicílias, era filha do rei Francisco I,
pertencente ao ramo italiano da Casa de Bourbon, e de sua esposa, a infanta
Maria Isabel da Espanha.
O casamento de Teresa Cristina e Pedro nunca se tornou uma paixão
romântica. Inclusive, manteve-se em silêncio na questão das supostas relações
extraconjugais do marido – incluindo um caso com a aia de suas filhas.
Dos quatro filhos que Teresa Cristina e Pedro tiveram, dois
meninos morreram na infância e uma filha morreu de febre tifoide aos 24 anos.
Doente e em lamentação, ela morreu de uma parada
cardiorrespiratória pouco mais de um mês depois da deposição da monarquia.
Na visita do Imperador, também Borges Fortes recebeu o título de “Cavaleiro
da Ordem de Cristo” e da “Rosa”. Mais
tarde, recusou o título de “Barão do Inhatium”, que lhe fora oferecido, pois
era homem simples e despido de honrarias.
Ainda em São Gabriel o imperador disse adeus a João Propício Mena
Barreto, “Barão de Cambaí”, antigo comandante-em-chefe do Exército
Brasileiro durante a Guerra do Uruguai, que estava a morrer de tuberculose.
Depois da partida de Dom Pedro II, João Borges Fortes mandou
publicar no jornal local “Echo Gabrielense”, um agradecimento pelo fato do
Imperador ter se hospedado em sua casa. E como comemoração, deu carta de
liberdade a dois escravos.
A ligação da Família Borges Fortes com a “Estância do Inhatium” se
deve ao fato de Tomaz Ferreira do Valle e Leonídia Alves da Cunha, terem sido
sogros do doutor João Pereira da Silva Borges Fortes.
PRIMEIRA VISITA DE DOM PEDRO II
No dia 13 de janeiro de 1846, a então povoação de São Gabriel
recebeu a primeira visita do imperador Dom Pedro II, que veio ao Sul para
conhecer o bravo povo gaúcho que havia lutado na Revolução Farroupilha.
Ele teve deslumbrante, carinhosa e festiva recepção. Ao espocar de
foguetes e ao som de músicas e hinos guerreiros, a população ovacionou
constantemente o jovem e louro imperador do Brasil, que na oportunidade,
assistiu Missa na Igreja do Galo.
Consta que nessa sua primeira estada em São Gabriel, o monarca foi
recebido na “Estância do Sobrado”, propriedade de Antônio Martins da Cruz Jobim,
o “Barão de São Gabriel”, que hoje fica no município de Santa Margarida do Sul.
Diom Pedro II teria vindo a cavalo de Rio Pardo até São Gabriel,
guardado pelo Regimento do tenente-coronel Manoel Luiz Osório, mais tarde
Marques do Herval e pernoitou na estância.
E na segunda visita a cidade, em 1865, depois de sair da então
Nossa Senhora da Assunção de Caçapava, teria também se hospedado na “Estância
da Figueira”, considerada uma das primeiras estâncias gaúchas, hoje localizada na
Serrinha, no município de Santa Margarida do Sul, uma das primeiras estâncias
gaúchas.
Na época ela pertencia ao senhor Maneco Marinheiro, que era
soldado do Exército Brasileiro, sediado em Uruguaiana. Foram, portanto, os seus
caseiros os anfitriões de Sua Majestade.
Conta a história que foi nessa estância que se deu o encontro
diplomático entre Dom Pedro II e o coronel uruguaio Don Barnabé Magarinos, que
trazia noticias da Guerra do Paraguai e da Tríplice Aliança, a mando do
presidente do Uruguai general Venâncio Flores.
Dizem que quando da chegada do visitante, Dom Pedro II estava
caçando perdizes e foi chamado as pressas, apresentando-se vestido com um
poncho gaúcho, cansado e com as botas encharcadas. Don Barnabé teria ficado
espantado, pois nunca imaginara ver o monarca com uma indumentária guasca.
A antiga Estância da Figueira hoje é chamada de “Morada da
Figueira”. A saudosa amiga e escritora Myrta Luza Garcia Dias Rieth, em seu
extraordinário livro “Estâncias históricas e antigas de São Gabriel e Santa
Margarida do Sul”, conta com propriedade a história da Estância do Sobrado e
também da Estância da Figueira.
O que se sabe de certo é de que a Estância da Figueira se trata de
uma propriedade histórica, não se tendo idéia de quando teve início.
Acredita-se que foi sede de vastos campos, pertencentes a Antônio
Monteiro Mânsio, que foi sogro do marechal Bento Manoel Ribeiro, que na Guerra
dos Farrapos trocou de lado duas vezes, terminando ao lado dos imperiais.
A velha estância ganhou o epiteto de “Tapera Imperial” e chegou a
constar do roteiro turístico de São Gabriel, antes da emancipação de Santa
Margarida do Sul. Depois de passar por vários donos, hoje o que resta da
estância pertence a CMPC Celulose Riograndense.
Apenas como registro, publico aqui os versos compostos pelo
saudoso poeta gabrielense, Edilberto Teixeira, sobre a estância que chegou a
ser sua.
Tantas taperas perdidas/Por estas lombas pampeanas/Qual silhuetas
humanas/Lembrando a herança charrua/E quanta morada nua/Deste amor
tradicional/Lembrando Pedro II/ Destas taperas do mundo/Esta é a tapera
imperial.
O historiador Hemetério José Veloso da Silveira, que esteve na
cidade, assim descreveu a visita do imperador: “Antes de ter decorrido um ano
da pacificação da Província, mereceu São Gabriel uma primeira visita do então
jovem imperador Dom Pedro II.
O monarca teria passado alguns dias como hóspede no sobrado de
propriedade do estancieiro Tomaz Ferreira Valle. Divertiu-se ele, quando o
deixavam só tirando duas vistas do panorama sorridente, que com doces enlevos o
fizeram exclamar: “Como é bela esta paisagem”.
No entanto, pesquisas feitas pelo saudoso historiador Osório
Santana Figueiredo dizem que o sobrado da praça nunca foi de Tomas Ferreira
Vale.
Sabedor do movimento para construção da Igreja Matriz, Dom Pedro
II contribuiu com a soma de dois contos de réis, bastante grande para a época.
OUTROS DONOS DA INHATIUM
Com a morte de dona Emerenciana a estância foi de Maria Cândida
Batista Pereira, casada com o primo João Batista Rodrigues e de Rita de Cássia
Pereira, casada com João Cândido Silveira.
Depois da morte do marido, Rita casou pela segunda vez com João
Bento Pereira Soares, que passou a ser o dono da estância, conforme já dito ao
início da matéria.
Com o falecimento de João Bento, em 1900 e de Rita Cassia em 1903,
os campos foram divididos entre os filhos Adel e Alfredo Bento Pereira Filho,
este, prefeito de São Gabriel e avô do advogado, escritor e amigo João Alfredo
Reverbel Bento Pereira.
Alfredo era casado com dona Alice Menna Barreto Prates da Silva.
Ele participou ao lado dos republicanos de diversos conflitos armados, quando ganhou
o título de coronel.
Médico humanitário foi intendente no município em 1929 e prefeito
municipal de 1932 até 1935. Morreu em 1946. Dos sete filhos de Alice e Alfredo,
apenas um deles seguiu carreira militar. Valdo Prates Pereira.
Alfredo Bento Pereira Filho, um dos filhos de Alfredo era pai de
João Alfredo Reverbel Bento Pereira. Ele nasceu em 1920, formou-se em
engenharia civil e constituiu matrimônio com Lovely Garcia, filha de um
estancieiro e médico do município de Cachoeira do Sul, José Felix Garcia.
Alfredo se tornou prefeito municipal de São Gabriel entre 1969 e
1973 e morreu em 1979.
Com a introdução do gado Hereford no Brasil, em 1906, e a difusão
desta raça pelo Rio Grande do Sul, Adel Bento Pereira como novo proprietário da
Estância do Inhatium, iniciou a criação da raça em sua propriedade.
Em 1912, Adel contraiu núpcias com Zelma Machado, de cujo
consórcio nasceram sete filhos: Delma, Nice, Ivan, Carlos, Helena, Flávia e
Cenira.
UM PROPULSOR DO PROGRESSO
São Gabriel tinha na pessoa de Adel Bento Pereira, um propulsor do
seu engrandecimento econômico. Cidadão dotado de grande capacidade de trabalho,
muito contribuiu para o refinamento da pecuária gabrielense.
Na sua propriedade, a “Fazenda Inhatium”, onde residia com a
família, havia toda uma instalação pastoril, de acordo com os requisitos da
técnica recomendada. Ali se primava pela ordem, pelo asseio e pela genética por
meio de finos reprodutores das melhores raças estrangeiras.
Na criação do gado vacum, sobressaía-se a raça “Hereford”, que
sempre mereceu a atenção dos criadores gabrielenses. Para facilitar o manejo da
sua criação estabeleceu distante da sede, um Posto de nome “São João”, tendo
concluído as construções dessas instalações em fins de 1943.
Acredito que o nome hoje de “Estância Luz de São João”, de
propriedade do empresário Celso Jaloto, tenha origem nesse posto avançado.
O rebanho lanígero era também bastante apurado, merecendo especial
atenção os afamados “Rambouillet”. Adel não esqueceu de emprestar o seu cuidado
especial aos eqüinos, que no Rio Grande do Sul muito se desenvolveram.
Nesse ramo da pecuária, Adel decidiu-se pela raça de corrida “Puro
Sangue Inglês” (PSI), tendo para isso, importado matrizes da Inglaterra.
ESTÂNCIA LUZ DE SÃO JOÃO
A partir de 1965, com o falecimento de Adel Bento Pereira, a
estância passou a ser dirigida por sua filha Cenira Bento Pereira Rocha e seu
esposo Gilberto Maia de Carvalho Rocha, que estabeleceram a “Estância São
João”, desmembrada da antiga Estância do Inhatium e deram continuidade na
criação de gado Hereford.
A agora denominada “Estância Luz de São João”, teve a sua origem
nos campos desmembrados da antiga “Estância do Inhatium”, propriedade da
família Bento Pereira desde o ano de 1879.
Ela está Localizada no distrito do Batovi, cerca de 30 quilômetros
da cidade de São Gabriel. Desde 2003 pertence ao casal Celso Jaloto e Magda
Jaloto (Maguí).
Jaloto é graduado em Engenharia Militar e Civil, com especialização
em Análise de Sistemas e especialização em Aperfeiçoamento de Oficiais de
Engenharia pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército. Em 1993
publicou o livro “A Sesmaria do Inhatium”, que está esgotado.
Também publicou as obras “Santo Anastácio: história de uma cidade”
(1995) e “A maçonaria baiana e sua história” (2000).
A “Estância Alvorada do Inhatium”, agora com a denominação de “La
Buenacha”, é um desmembramento da histórica Inhatium, de Adel Bento Pereira, da
herdeira Flávia Bento Pereira.
Filha de Adel, casada com Layr Nuñez, a estância ficou para seu
único filho o médico Jorge Pereira Nuñez, casado com a advogada Ana Elizabeth
Marques Nuñez, e desta, os netos Taiana, Tauê e Rami e a bisneta Yasmin.
Layr Contino Nuñez nasceu em Porto Alegre, no dia 25 de fevereiro
de 1926 e faleceu em 19 de março de 2015, em São Gabriel, onde residia, aos 89
anos de idade.
Foi um militar, produtor rural, maçom de grau máximo (33) e cônsul
honorário do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Era filho do ex-presidente do
Grêmio, Severino Nuñez Filho e de Itália Contino Nuñez.
Começou a carreira militar como oficial da Cavalaria e se
aposentou como coronel da reserva. Serviu no 9º Regimento de Cavalaria (hoje 9º
RCB) e no extinto 3º Regimento de Cavalaria Mecanizada (onde agora está o 6º BE
Cmb).
Fundou o Lions Club de São Gabriel, bem como participou da
inclusão da primeira universidade na cidade e do primeiro sinal local de
televisão. Atuou em favor do “Projeto Pelotão Esperança”.
Seus méritos foram reconhecidos com o título de “Cidadão
Gabrielense”, recebido em 1994 e pela “Medalha Plácido de Castro”, em 2009.
Como homenagem também empresta seu nome ao campo de Polo da cidade, de
propriedade do Circulo Militar Gabrielense.
Chegou pela primeira vez em São Gabriel, no ano de 1947. Mas só
veio a fixar residência definitiva na cidade em 1961. Era tio avô do cantor “Gabriel,
o Pensador”.
Helena, filha de Adel Bento Pereira casou com Álvaro Amado Valli, e
também foi dona de uma parte da estância, que atualmente pertence a Eduardo
Valli, casado com Flávia Pereira de Souza, pais de Felícia Valli e Inacio
Valli.
PRESENÇA REVOLUCIONÁRIA
Adel Bento Pereira não limitou sua atividade à vida privada.
Aderiu, também, à vida política de São Gabriel e do Rio Grande do Sul. Já na
mocidade ingressou nas hostes republicanas.
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um movimento deflagrado
em São Paulo, mas teve adesões no Rio Grande do Sul. Liderados por Borges de
Medeiros, alguns gaúchos entraram em combate contra tropas fiéis ao presidente
Getúlio Vargas.
Destemidos políticos gaúchos estiveram envolvidos no conflito,
como Raul Pila, Batista Luzardo, Lindolfo Collor, João Neves da Fontoura e
outros, tendo a frente o doutor Borges de Medeiros.
Esses revolucionários foram dominados no “Combate da Estância da
Olaria”, no dia 20 de setembro de 1932, em Piratini. No confronto, Borges foi
preso e mais de 200 revolucionários morreram.
DOIS CORPOS PROVISÓRIOS
Conta o saudoso historiador Osório Santana Figueiredo em seu livro
“História de São Gabriel”, que quando da Revolução de 1932 foram criados dois
"Corpos Provisórios" em São Gabriel, o “13º” e o “40º Corpo Auxiliar
da Brigada Militar", comandados pelos irmãos tenentes-coronéis Adel e
Alfredo Bento Pereira. O “40º” foi dissolvido após 45 dias da sua criação.
O "13º Corpo Auxiliar" tinha um efetivo de 400 homens,
reforçado por um esquadrão do “12º Corpo Auxiliar”, de Dom Pedrito, sob o
comando do major Leopoldino Dutra, conhecido por “Pudico”, com 150 homens.
E também pelo 3º Esquadrão do “1º Regimento de Cavalaria da
Brigada Militar”, com 120 homens, sob o comando do 1º tenente Júlio Pinheiro,
auxiliado pelo 1º tenente Cely Guarani de Bem, do “13º”. Ao todo, 670 homens
providos de farta munição e com regular adestramento militar.
A força Borgista não ia além de 204 homens, recrutados às pressas,
numa campereada pagueira, os quais, em sua maioria, desconheciam o manejo das
suas próprias armas. Seguiam aliciados pelo entusiasmo dos seus chefes políticos.
A surpresa foi geral. Antes mesmo de ser iniciado o combate, a
tropa rebelde, teve um piquete aprisionado, quando em repouso, estendia os
pelegos para a sesta.
A força governista atacou pelos quatros cantos, num movimento
envolvente. Mesmo assim não pode evitar que grande parte dos revolucionários
conseguisse fugir para o Uruguai, liderados pelo estóico Batista Luzardo,
uruguaio de Salto.
DIGNIDADE DE CHEFE
O doutor Borges ficou. Sua dignidade de chefe o impediu de fugir.
E ficou até o último cartucho. A resistência organizada pelo capitão Martim
Cavalcanti foi tenaz e heroica. Só cessaram fogo quando esgotada a munição.
A prisão do antigo presidente do Estado foi levada a efeito num
ato de solene respeito. O velho político entregou-se calmamente. Era um forte.
Nem a dor da desgraça o fazia diferente ou perturbado.
O coronel Adel Bento Pereira empenhou toda sua tropa nesse “Combate
da Estância da Olaria”, compreendendo os 1º, 2º, 3º, e 4º Esquadrões do “13º
Corpo Auxiliar”, comandados pelos capitães Itolbidez Garcez, Frantz Bragança,
Scyla Gomes da Silveira e Caboclo Marques, respectivamente.
O Esquadrão de Dom Pedrito perdera o capitão Catulino Nogueira,
morto com um tiro na testa, e mais duas praças. O “13º” tivera vários mortos e
feridos.
A derrota dos rebeldes gaúchos foi decisiva para a Revolução
Paulista. São Paulo precisava do apoio dos rio-grandenses e como perdera, nada
mais restava do que capitular. E isso aconteceu a 1º de outubro.
ÚLTIMO GRANDE CONFLITO
A Revolução Constitucionalista de 1932 tinha por objetivo a
derrubada do Governo Provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova
constituição para o Brasil.
Foi uma resposta paulista à Revolução de 1930, a qual acabou com a
autonomia de que os estados gozavam durante a vigência da Constituição de 1891.
A Revolução de 1930 impediu a posse do governador de São Paulo (na
época se dizia "presidente") Júlio Prestes na presidência da
República e derrubou do poder o presidente da república Washington Luís, que
fora governador de São Paulo de 1920 a 1924, colocando fim à República Velha.
Foi a primeira grande revolta contra o governo de Getúlio Vargas e
o último grande conflito armado ocorrido no Brasil.
No total, foram 87 dias de combates, (de 9 de julho a 4 de outubro
de 1932 - sendo o último dois dias depois da rendição paulista), com um saldo
oficial de 934 mortos, embora estimativas, não oficiais, reportem até 2.200
mortos, sendo que numerosas cidades do interior do Estado de São Paulo sofreram
danos devido aos combates.
São Paulo, depois da revolução de 32, voltou a ser governado por
paulistas, e, dois anos depois, uma nova constituição foi promulgada, a de
1934.
Assim foi encerrada a era romântica dos lances épicos, das
guerrilhas improvisadas e do culto à guerra, vividos pelo nosso velho Rio
Grande do Sul.
A título de curiosidade conto que em 1940, São Gabriel, então com
35.849 habitantes, tinha oito associações culturais e artísticas, oito
entidades esportivas, dois teatros e dois clubes sociais. Somente naquele ano
foram realizados 53 torneios de tênis e polo no município e na região da
Campanha Gaúcha.
Com justiça Adel Bento Pereira hoje é nome de rua em São Gabriel.
É o reconhecimento da comunidade a um de seus filhos mais ilustres. (Pesquisa:
Nilo Dias)
Tenente de Milícia Balthazar Pinto de Aguiar, o primeiro dono da Estância Inhatium.
Antônio Martins da Cruz Jobim, o “Barão de São Gabriel” não teria sido o Barão do Cambai?
ResponderExcluirUma correção, a foto que ilustra esta postagem, onde diz Tenente de Milícia Balthazar Pinto de Aguiar, está com a legenda incorreta. A pessoa da foto é o Coronel Felipe Nery de Aguiar, primeiro intendente de Itaqui e neto do Tenente Balthazar Pinto de Aguiar. Grato.Prof.º Paulo Santos, pesquisador itaquiense
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