A nossa Igreja Matriz é muito bonita. Realmente trata-se de um
cartão postal da cidade. Talvez muitas pessoas não saibam de sua história.
Pois bem, vamos aproveitar a oportunidade que o jornal “O Fato”
nos proporciona, para contar algumas coisas sobre ela, tomando por base o que
está inserido no livro “São Gabriel na História”, de Aristóteles Vaz de
Carvalho e Silva, que guardo em minha biblioteca.
A história da Matriz teve início com a escolha do local onde seria
erguido o templo. Em 18 de novembro de 1848 a Câmara Municipal de São Gabriel
já tinha se decidido pelo lugar mais alto da Vila.
A Comissão organizada para dirigir as obras da Igreja Matriz foi
nomeada em 13 de março de 1861, através de oficio do Governo Provincial,
assinado por Joaquim Antão Fernandes Leão, enviado ao secretário da então
Comissão Construtora, Francisco Xavier Metello.
Foi indicado para presidente o senhor Antônio Martins da Cruz
Jobim, o “Barão do Cambai” e os seguintes membros: coronel Tristão José Pinto,
capitão Manoel Ribeiro Baltar e Luiz Gonçalves das Chagas, o “Barão de
Candiota”.
Na ausência de seu registro de batismo, há dúvidas quanto ao local
exato do nascimento de Chagas. Embora se diga que Herval e Piratini são as
hipóteses mais prováveis, o historiador Osório Santana Figueiredo, em seu livro
"Barão de Candiota – Vila de Tiaraju” conta que ele nasceu na Estância do
Espinilho, zona rural de São Gabriel, em 1815.
Seu falecimento ocorreu em 13 de junho de 1894. Em 1900 o corpo
foi transladado para o jazigo da família no cemitério de São Gabriel
Com base em heranças e em aquisições a partir da década de 1840,
tornou-se proprietário de grande extensão de terras nos atuais municípios de
São Gabriel, Santa Maria, São Vicente do Sul, Lavras do Sul, Bagé, Pinheiro
Machado e Candiota.
Era um homem tão rico, que se poderia ir das coxilhas de Santa
Maria à cidade de Bagé sem cruzar por outros campos que não fossem os de sua
exclusiva propriedade. Falam que seria dono de 500 mil hectares, o equivalente
a cerca de 2% do território gaúcho.
Somente em 14 de março de 1863 foi lançada a pedra fundamental da
Igreja Matriz, sendo a primeira argamassa posta pelos barões de São Gabriel,
João Propicio Menna Barreto e do Cambai, Antônio Martins da Cruz Jobim.
Na época que teve inicio a construção, se previa um prédio com
capacidade para mil pessoas. Naquele tempo, a população de São Gabriel era de
apenas cinco mil habitantes, o que não dava condições financeiras para
consolidar a obra em pouco tempo.
Quando Dom Pedro II visitou São Gabriel, em janeiro de 1846,
prometeu à Comissão dois contos de réis para auxiliar nas obras. Examinando em
Porto Alegre a Caixa da Tesouraria, não havia ali tanto dinheiro. Havia sim
fidelidade na administração, e a importância veio posteriormente.
O SURGIMENTO DA IGREJA DO GALO
A Comissão, em vista das circunstâncias, resolveu levantar uma
capela maior, provisória, que passou a funcionar como Matriz. Assim surgiu a
“Igreja do Rosário e Bom Fim”, conhecida popularmente como “Igreja do Galo”,
que hoje, depois de restaurada abriga um museu.
Dom Sebastião Dias Laranjeira, 2º bispo da Província de Rio
Grande, visitou essa Igreja e a Paróquia, de 7 a 11 de fevereiro de 1864,
recomendando ao vigário padre João P. Veras e fiéis de continuarem a construção
do templo.
Em dezembro de 1875 ele fez uma segunda visita a São Gabriel,
tendo governado a Diocese por longos 27 anos. Faleceu em 13 de julho de 1888.
Não consta no Arquivo Paroquial a data em que começou a funcionar
a nova Matriz. O certo é que Dom José Gonçalves Ponce de Leão, 3º bispo de Rio
Grande, de 22 a 26 de abril de 1892 visitou São Gabriel e administrou os
sacramentos na Matriz improvisada.
Ponce de Leão faleceu com 83 anos de idade, no dia 26 de maio de
1924, na cidade do Rio de Janeiro. Os seus restos mortais foram transferidos
para a capital gaúcha a 28 de maio de 1934 e se encontram no recinto da
Catedral Metropolitana de Porto Alegre.
Na Revolução de 1893 a 1895, as forças federalistas ocuparam São
Gabriel, escolhendo a Matriz para hospital de sangue, o que, felizmente não se
consolidou, porque o general Francisco Portugal obrigou a retirada dos
adversários sob o comando do coronel Ismael Soares.
Em 4 de setembro de 1908 foi resolvido pela conclusão das obras da
Matriz. Auxiliados por uma distinta Comissão de senhores e senhoras e a
generosidade do povo, a segunda torre foi terminada em 27 de julho de 1910.
Seguiu-se o reboco externo da Igreja, a colocação de janelas
laterais, novas portas, três altares feitos em Caxias do Sul, confessionários,
mesa de comunhão, púlpito, novos paramentos, estátuas artísticas da Fábrica
Stinflesser, da Áustria e três sinos de Hamburgo, Alemanha.
Para a remodelação interna do templo, Dom Hermeto, bispo
diocesano, aprovou as seguintes comissões: senhores Propício Menna Barreto,
José Lourenço Lisboa, José F. Lima, Z. Castro e Serafim Silvestre Oliveira.
Senhoras: Chiquinha Fontoura da Silveira, Palmyra Vieira da Silva, Alice
Norberto Bica, Ritinha M. Casado e Celeste d’Oliveira.
Este trabalho durou quatro anos. A pintura e decoração foram
executadas pelos artistas Guilherme Schumacher e Ricardo E. Wagner. As colunas,
o forro, o coro, tudo de cimento armado, estiveram aos cuidados dos técnicos
Júlio Dietzmann e Homero Macedo, sendo acabados com perfeição. O soalho de
madeira foi substituído por mosaicos.
Enfim, aos 7 de dezembro de 1924, em solene procissão, assistida
pelo povo, transferiu-se os Santíssimos Sacramentos da Igreja do Rosário para a
nova Matriz, onde foi celebrada uma Missa de Ação de Graças, pelo monsenhor
Henrique Rech.
OS MAÇONS E A IGREJA MATRIZ
Com toda a certeza são poucas as pessoas que tem conhecimento de
que foram os maçons, em 1878, que decidiram concluir as obras de construção da
Igreja Matriz, que só findaram em 1924. A história oficial conta isso, mas a
Rocha Negra mantém até hoje a política de fazer sem divulgação ou publicidade.
Em 1 de outubro de 1878 a Administração da Loja resolveu concluir
as obras. A Rocha Negra sempre teve um bom relacionamento com a Igreja
Católica. O fato se passou da seguinte maneira:
As obras de construção da Igreja estavam muito demoradas, tendo
sido paradas por diversas vezes. Apesar de ter sido lançada a pedra fundamental
em 14 de março de 1863 e a primeira argamassa colocada pelo marechal João
Propicio Menna Barreto, o “Barão de São Gabriel” e por Antônio da Cruz Jobim, o
“Barão de Cambai” em 1878 achava-se o serviço suspenso por falta de dinheiro.
Na Sessão Solene realizada em 1 de outubro daquele ano, resolveu a
Loja que o produto da coleta costumeira das sessões, angariado no decurso de
dois meses, fosse destinado a auxiliar o prosseguimento da construção do templo
católico e que cada maçom ficasse munido de uma lista para conseguir donativos
para o mesmo fim.
Consultando-se as atas subsequentes, vê-se que as listas já
acusavam em 19 de novembro um total de Rs.1.300$000, quantia avultada para a
época, fora o material de construção oferecido.
Registrou-se ainda em 21 de janeiro de 1879, a oferta de Rs.
200$000, feita pelo associado da Loja, doutor Augusto Álvares da Cunha,
permitindo esses recursos o reinicio, em 27 do mesmo mês, das obras da Igreja,
que foram, como se vê, custeadas, nessa fase de construção, por importâncias
angariadas pela Maçonaria.
A EVOLUÇÃO DE SÃO GABRIEL
Perde-se no tempo a época exata em que foram erguidas as primeiras
capelas em território gabrielense. Até porque antigamente Igreja e Estado
andavam lado a lado, o que não acontece mais hoje, desde que foi estabelecida a
igualdade jurídica para todas as religiões.
Por essa aproximação entre Igreja e Estado é que encontramos na história
antiga, com respeito a evolução das populações, as denominações de “capela
curada”, freguesia”, “curatos”, etc., antes dos termos usuais de “povoados”,
“vilas” e “cidades”, adotados pelo governo civil.
Assim que as “capelas curadas”, ou simplesmente os “curatos”
tinham como chefes espirituais e mesmo materiais os curas ou párocos. Estes
eram nomeados pelos bispos que, antes deviam obter o consentimento do
governador, seguindo no currículo todas as normas consubstanciadas no direito
canônico.
Por outro lado a “freguesia” era um posto mais elevado e
importante na hierarquia da Igreja e só era atingida quando a população
embrionária ganhava certa importância na colônia, tanto na evolução social como
em número de habitantes.
Dentro dessa orientação esquemática, ascensional, São Gabriel
obteve o título de “Capela Curada” em 28 de novembro de 1815, tornando-se
subsidiária da Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira, da povoação
do mesmo nome. Passou a “Freguesia” em 23 de dezembro de 1837, em consequência da
lei Provincial da mesma data.
AS PRIMEIRAS CAPELAS
Estabelecido esse roteiro, cumpre localizar agora as primeiras
capelas que existiram em São Gabriel, segundo descrição de Octávio Augusto de
Faria, um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Sul, em seu esboço de monografia de São Gabriel.
Os primitivos habitantes da nova povoação levantaram um rancho
coberto de palha, mais tarde substituída por telha, no lugar em que esteve
durante muito tempo erguida a Capela do Anjo Gabriel, cuja imagem foi para ele
conduzida.
Durante algum tempo nesse rancho celebraram-se os atos divinos.
Logo depois de transladada a imagem para aquele local, tirou-se um terreno
acima do Passo da Lagoa, e nele, por toda a margem do rio, construiu-se uma
olaria para o dito Anjo.
Tempos depois esses terrenos foram povoados, tomando o nome de
“Aldeia dos índios”. Até ali os ofícios religiosos eram exercidos por dois
sacerdotes espanhóis, aos quais substituiu o padre Felisberto, que mais tarde
foi nomeado cura.
Este sacerdote tentou levantar uma igreja própria para o Arcanjo
Gabriel e para tal consultou os senhores Fidélis Nepomuceno Prates, Thomaz
Ferreira Valle, Francisco José Carvalho, Bernardo José do Canto e outros, que
concordaram com a ideia.
Então o cura mandou abrir os alicerces na parte leste da praça
destinada a povoação, para erguer a Igreja. Mas depois dos alicerces prontos,
verificou-se que a construção do edifício acarretaria custos que as condições e
o número de devotos não comportariam. Em vista disso foi levantada uma pequena
capela para o Anjo.
No lugar onde deveria ser erguida a Igreja grande, construiu-se
uma meia água, para nela ser guardado o material e as ferramentas dos
carpinteiros que trabalharam na edificação da pequena capela.
Já o monsenhor Henrique Rech, que exerceu sua piedosa tarefa em
solo gabrielense por 50 anos, revelou que a primeira capela foi erguida no
Cerro do Batovi, antes de 1801.
Quando o religioso lá chegou, em 1900, o templo estava em ruínas.
Ela foi reconstruída no mesmo local por iniciativa da firma Antônio Maria
Martins, e solenemente benta e inaugurada em 20 de outubro de 1920.
Já documentos juntados por Fortunato Pimentel e Nepomuceno Prates,
mostram que a primeira capela da cidade de São Gabriel foi edificada em
terrenos junto do rio Vacacai.
Em 7 de dezembro de 1814, no Auto de Medições, a Comissão
Suplicante, de que fazia parte o brigadeiro João de Deus Menna Barreto e Tomé
Francisco da Silva, requereu ao Juiz das Sesmarias, capitão Paulo Nunes Jardim,
que mandasse medir o terreno, para erguer a Capela de São Gabriel, em terreno
encostado no rio Vacacai.
No Arquivo Paroquial consta um oficio do senhor Manoel dos Santos
Corrêa ao senhor capitão Fidélis Nepomuceno, dizendo que já em 1831 existia na
pequena povoação da futura cidade a Irmandade do Anjo Gabriel, que mesmo com
pouca gente construiu a primeira Capela ao seu glorioso patrono.
A imagem do Anjo Gabriel foi em 1831 conduzida da Estância São
Rafael, de Adolfo Charão, no Batovi, para ser venerada nessa capela primitiva.
E em 31 de março de 1835 ela já possuía todas as alfaias necessárias ao culto.
Hoje em dia, lamentavelmente, não existem mais vestígios dessa capela.
A IGREJA DO BECO DO IMPÉRIO
Embora não existam documentos dando a data da instalação, por ter
ocorrido o desaparecimento ou destruição do livro “Tombo Eclesiástico” da
época, existiu a “Capela do Espírito Santo”, conhecida popularmente por “Igreja
do Beco do Império”, situada na face fronteira à Praça Doutor Fernando Abbott,
onde hoje está (ou estava) localizado o antigo palacete da Família Macedo Casado.
Alguns antigos moradores especificaram que a Igreja era servida
por amplas escadas laterais e, possuía inclusive uma escola primária, dirigida
pelo próprio pároco que fazia as vezes de professor.
Mais outro templo constava existir entre as ruas Barão do Cambai,
General Câmara e Barão de São Gabriel. O templo não pode ser terminado, ficando
apenas nas paredes laterais e devia sua construção a uma irmandade religiosa de
negros.
No livro “Rio Grande do Sul”, de autoria de Wolfgang Hoffmann
Harnisch, consta uma apresentação das igrejas de São Gabriel:
A construção mais antiga talvez seja a Igreja Nossa Senhora do
Bonfim, que serviu de Sé até a construção da Igreja Matriz. Esta, no inicio,
estava provida apenas de uma torre, a do lado esquerdo, não havendo ainda a do
lado direito, como provam as gravuras existentes.
Na Sacristia da Igreja Matriz existem duas imagens que merecem
atenção: uma de São Miguel, cuja balança que tinha nas mãos perdeu-se. E um
crucifixo, cuja estilização severa e surrealismo dão logo na vista.
Uma escultura extremamente interessante encontra-se na pequena
Igreja São José. Trata-se dum Santo Isidoro que, pela exuberância das obras da
indumentária e do manto, pelas gorgueiras e punhos, deve ser do Baixo-Reino ou
da Holanda. (Pesquisa: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel, edição de 9 de Maio de 2018)
Igreja Matriz em 1920. (Foto: Isaias Evangelho)
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