quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Um professor que deixou saudade

Uma pessoa que eu admirava muito era o professor e advogado aposentado Aloísio Macedo, figura querida da nossa cidade. Eu tive uma amizade sólida com ele, conquistada durante os oito anos que presidi a saudosa e querida S.E.R. São Gabriel, clube a quem nunca negou apoio, tanto financeiro quanto moral.

Dono de grande popularidade, em razão dos muitos anos dedicados ao magistério, o professor Aloísio granjeou a simpatia e admiração de todos os gabrielenses. Certamente são raras as famílias que não tiveram algum de seus membros como aluno do querido professor.

A minha esposa Teresinha Motta foi aluna dele no Colégio XV de Novembro e conta que além de sua extraordinária capacidade para ensinar, era também amigo de todos, servindo muitas vezes de confidente e conselheiro.

O professor Aloisio foi o autor do hino da S.E.R. São Gabriel, depois adotado e oficializado pelo São Gabriel F.C.. Agora, não sei por quais razões foi substituído por outro.

Eu, na condição de presidente da S.E.R. São Gabriel, como o clube era anteriormente chamado, promovi com o apoio do radialista e amigo J. Bina, um concurso para escolha do hino.

Apenas dois trabalhos foram inscritos, o do professor Aloísio e outro do também saudoso “Joãozinho da Ponte”, razão pela qual resolvi não declarar nenhum deles vencedor, pois se equivaliam em qualidade.

O clube só foi usar o hino tempos depois, quando assumiu a presidência o desportista Roque Oscar Hermes. E o mesmo presidente foi o responsável pela exclusão do hino, no time que já mudou de nome três vezes.

As demonstrações de amizade ainda se estenderam ao jornal “Tribuna do Povo”, que editei por sete anos em São Gabriel. O professor Aloísio foi um leitor assíduo, assinante desde o primeiro número e incentivador nos momentos de dificuldades que o semanário enfrentou. Sempre encontrou uma palavra de estímulo.

Não sei se o professor tinha alguma preferência partidária política. Se tinha, nunca deixou transparecer. O que sei é que ele era um democrata, respeitando o pensamento de cada um. E até evitava falar em política, especialmente a nível local, onde as coisas até hoje são bem acirradas entre grupos rivais.

Alguém, não lembro quem, já dizia: “Política em São Gabriel é coisa para “cachorro grande”. Tem que ser profissional. Por aqui amador não tem vez”.

Não moro mais em São Gabriel, mas lembro das tantas vezes que encontrei o professor Aloísio e seu inseparável amigo e colega, Fuad Radé em longas corridas pelas ruas de São Gabriel.

Um desses encontros se deu em situação no mínimo cômica. Eu era assessor de imprensa do saudoso amigo e prefeito doutor Eglon Meyer Corrêa e editamos um jornal turístico em espanhol, para ser distribuído no verão, período em que turistas uruguaios e argentinos passavam pela cidade.

Lembro que o saudoso amigo, ex-jogador e técnico de futebol, Don Luiz Alberto Vives, por ser uruguaio colaborou na confecção do jornal.

Naturalmente o jornal foi pago por anunciantes, entre eles o “Status Motel”, localizado na BR 290. Perto do meio-dia eu e o saudoso radialista Glauco Fernando, que foi o corretor dos anúncios, nos dirigíamos até o famoso motel para fazer a devida cobrança.

Exatamente no momento em que adentrávamos o portão, foi quando passavam correndo a pé pela estrada os amigos Aloisio e Fuad, que observaram tudo. Não sei o que pensaram, mas boa coisa certamente não foi.

Dias depois encontrei os dois e expliquei o ocorrido. Se acreditaram só Deus sabe. Fiquei em dúvida, pois ambos deixaram escapar um leve sorriso. Logo depois desse episódio, o professor Aloisio, que já vinha enfrentando problemas renais e de coração, acabou nos deixando.

Era casado com dona Julieta Brito Macedo (já falecida) e deixou os filhos Marco Túlio, engenheiro residente em Farroupilha, Hilda Cristina, assistente judicial em Porto Alegre e Emerson, técnico em informática que mora em São Gabriel.

O amigo comum, Rômulo Farias, escreveu sobre ele:

Tive o privilégio de ter sido seu colega, diretor, amigo e compadre. E a honra de homenageá-lo como “Cidadão Gabrielense”, quando era vereador na Câmara Municipal de São Gabriel.

Depois de sua morte denominamos a avenida de acesso a Unipampa de “Avenida Catedrático Professor Aluísio Macedo”. Foi uma homenagem justa há um dos maiores professores com que tivemos a honra e o privilégio de conviver.

Hilda Cristina Britto Macedo, filha do saudoso professor, escreveu em sua página no Facebook, o que tomo a liberdade de transcrever:

Não tenho como deixar de homenagear os meus queridos pais, já que foram eles que nutriram a criança linda e feliz que habita em mim. O pai valorizava demais os amigos.

Todos eram muito importantes na vida dele. Aprendi com o pai a também valorizar os amigos, respeitar os outros simplesmente pelo fato de serem pessoas. Fofoca era algo inadmissível para ele lá em casa. E dizia que segredo de amigo não se conta nem para a família.

Acho que herdei isso dele. É sempre uma dor enorme quando tenho que me afastar de um amigo. É óbvio que não poderia faltar em mim aquela capacidade que ele tinha de inventar bobagens a respeito das pessoas que gostava.

E o pior de tudo é que os outros acreditavam. Os que não acreditavam era porque conheciam o pai melhor, e sabiam que se fosse verdade ele jamais falaria.

A única diferença minha e dele, é que quando percebo que as pessoas começam a acreditar no absurdo que estou falando, desminto na hora. O pai não desmentia. 

Minha infância também foi mais rica por ter tido o privilégio de conviver com os amigos professores do XV de Novembro. Obrigada a todos pelo carinho que sempre dedicaram ao meu pai! Obrigada por fazerem parte deste meu ciclo de amizades! (Texto: Nilo Dias)


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