Uma pessoa que eu admirava muito era o professor e advogado
aposentado Aloísio Macedo, figura querida da nossa cidade. Eu tive uma amizade
sólida com ele, conquistada durante os oito anos que presidi a saudosa e
querida S.E.R. São Gabriel, clube a quem nunca negou apoio, tanto financeiro
quanto moral.
Dono de grande popularidade, em razão dos muitos anos dedicados ao
magistério, o professor Aloísio granjeou a simpatia e admiração de todos os
gabrielenses. Certamente são raras as famílias que não tiveram algum de seus
membros como aluno do querido professor.
A minha esposa Teresinha Motta foi aluna dele no Colégio XV de
Novembro e conta que além de sua extraordinária capacidade para ensinar, era
também amigo de todos, servindo muitas vezes de confidente e conselheiro.
O professor Aloisio foi o autor do hino da S.E.R. São Gabriel,
depois adotado e oficializado pelo São Gabriel F.C.. Agora, não sei por quais
razões foi substituído por outro.
Eu, na condição de presidente da S.E.R. São Gabriel, como o clube
era anteriormente chamado, promovi com o apoio do radialista e amigo J. Bina,
um concurso para escolha do hino.
Apenas dois trabalhos foram inscritos, o do professor Aloísio e
outro do também saudoso “Joãozinho da Ponte”, razão pela qual resolvi não
declarar nenhum deles vencedor, pois se equivaliam em qualidade.
O clube só foi usar o hino tempos depois, quando assumiu a
presidência o desportista Roque Oscar Hermes. E o mesmo presidente foi o
responsável pela exclusão do hino, no time que já mudou de nome três vezes.
As demonstrações de amizade ainda se estenderam ao jornal “Tribuna
do Povo”, que editei por sete anos em São Gabriel. O professor Aloísio foi um
leitor assíduo, assinante desde o primeiro número e incentivador nos momentos
de dificuldades que o semanário enfrentou. Sempre encontrou uma palavra de
estímulo.
Não sei se o professor tinha alguma preferência partidária
política. Se tinha, nunca deixou transparecer. O que sei é que ele era um
democrata, respeitando o pensamento de cada um. E até evitava falar em
política, especialmente a nível local, onde as coisas até hoje são bem
acirradas entre grupos rivais.
Alguém, não lembro quem, já dizia: “Política em São Gabriel é
coisa para “cachorro grande”. Tem que ser profissional. Por aqui amador não tem
vez”.
Não moro mais em São Gabriel, mas lembro das tantas vezes que
encontrei o professor Aloísio e seu inseparável amigo e colega, Fuad Radé em
longas corridas pelas ruas de São Gabriel.
Um desses encontros se deu em situação no mínimo cômica. Eu era
assessor de imprensa do saudoso amigo e prefeito doutor Eglon Meyer Corrêa e
editamos um jornal turístico em espanhol, para ser distribuído no verão,
período em que turistas uruguaios e argentinos passavam pela cidade.
Lembro que o saudoso amigo, ex-jogador e técnico de futebol, Don
Luiz Alberto Vives, por ser uruguaio colaborou na confecção do jornal.
Naturalmente o jornal foi pago por anunciantes, entre eles o
“Status Motel”, localizado na BR 290. Perto do meio-dia eu e o saudoso
radialista Glauco Fernando, que foi o corretor dos anúncios, nos dirigíamos até
o famoso motel para fazer a devida cobrança.
Exatamente no momento em que adentrávamos o portão, foi quando
passavam correndo a pé pela estrada os amigos Aloisio e Fuad, que observaram
tudo. Não sei o que pensaram, mas boa coisa certamente não foi.
Dias depois encontrei os dois e expliquei o ocorrido. Se
acreditaram só Deus sabe. Fiquei em dúvida, pois ambos deixaram escapar um leve
sorriso. Logo depois desse episódio, o professor Aloisio, que já vinha
enfrentando problemas renais e de coração, acabou nos deixando.
Era casado com dona Julieta Brito Macedo (já falecida) e deixou os
filhos Marco Túlio, engenheiro residente em Farroupilha, Hilda Cristina,
assistente judicial em Porto Alegre e Emerson, técnico em informática que mora
em São Gabriel.
O amigo comum, Rômulo Farias, escreveu sobre ele:
Tive o privilégio de ter sido seu colega, diretor, amigo e
compadre. E a honra de homenageá-lo como “Cidadão Gabrielense”, quando era
vereador na Câmara Municipal de São Gabriel.
Depois de sua morte denominamos a avenida de acesso a Unipampa de
“Avenida Catedrático Professor Aluísio Macedo”. Foi uma homenagem justa há um
dos maiores professores com que tivemos a honra e o privilégio de conviver.
Hilda Cristina Britto Macedo, filha do saudoso professor, escreveu
em sua página no Facebook, o que tomo a liberdade de transcrever:
Não tenho como deixar de homenagear os meus queridos pais, já que
foram eles que nutriram a criança linda e feliz que habita em mim. O pai
valorizava demais os amigos.
Todos eram muito importantes na vida dele. Aprendi com o pai a
também valorizar os amigos, respeitar os outros simplesmente pelo fato de serem
pessoas. Fofoca era algo inadmissível para ele lá em casa. E dizia que segredo
de amigo não se conta nem para a família.
Acho que herdei isso dele. É sempre uma dor enorme quando tenho
que me afastar de um amigo. É óbvio que não poderia faltar em mim aquela
capacidade que ele tinha de inventar bobagens a respeito das pessoas que
gostava.
E o pior de tudo é que os outros acreditavam. Os que não
acreditavam era porque conheciam o pai melhor, e sabiam que se fosse verdade
ele jamais falaria.
A única diferença minha e dele, é que quando percebo que as
pessoas começam a acreditar no absurdo que estou falando, desminto na hora. O
pai não desmentia.
Minha infância também foi mais rica por ter tido o privilégio de
conviver com os amigos professores do XV de Novembro. Obrigada a todos pelo
carinho que sempre dedicaram ao meu pai! Obrigada por fazerem parte deste meu
ciclo de amizades! (Texto: Nilo Dias)
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