A Estação Ferroviária de São Gabriel ficou marcada na memória de
todos nós, quando se localizava no velho prédio da Praça Carlos Pereira, que
hoje serve para abrigar o “Museu da Força Expedicionária Brasileira Marechal
Mascarenhas de Moraes”, e na gare funciona uma feira livre.
O Museu da FEB em São Gabriel possui um acervo riquíssimo sobre a
passagem pela Itália e sobre a participação da Força Expedicionária Brasileira
durante a Segunda Guerra Mundial.
O marechal Mascarenhas, comandante das tropas febianas na Itália,
nasceu em São Gabriel, por essa razão, o museu possui pertences pessoais do
mesmo.
O Museu da FEB de São Gabriel também se destaca por sua grande
quantidade de armas e relíquias da FEB em seu acervo. Além disso, possui vários
equipamentos e transportes empregados pelos brasileiros na Itália.
Embora a cidade já contasse com a ferrovia desde 1900, a estação
nos moldes atuais, só foi inaugurada em 24 de agosto de 1906. Antes, ela
existia desde 1896, apenas como terminal provisório da linha que vinha de
Cacequi.
Em 1898 o terminal foi encampado pela “Cie. Auxiliaire”. Em 1898,
esta mesma empresa conseguiu finalmente fazer a linha no trecho São Gabriel-São
Sebastião, que unia finalmente Cacequi ao porto do Rio Grande, no ano de 1900.
A linha foi construída em partes: pela “Southern Brazilian Rio
Grande do Sul Railway Company Limited”, sucessora de uma série de concessões
anteriores, a Bagé-Marítima, em 1884.
De Cacequi a São Gabriel, em meados de 1896 e de São Sebastião a
Bagé, no final do mesmo ano, ambos pela Estrada de Ferro Porto
Alegre-Uruguaiana. Em 1900, a união São Sebastião-São Gabriel completou o
trecho Bagé-Rio Grande.
Era uma linha de grande utilidade, pois transportava gado e
charque para o porto do Rio Grande, apesar de, no final do século 19, ter baixo
movimento por causa dos altos preços do frete, dos maus serviços e da
interrupção do serviço dos trens pela Revolução Federalista.
A CHARQUEADA DE SODRÉ
A charqueada de Azevedo Sodré já existia no ano de 1898,
construída por Ramão Lopes da Rosa. Quando foi fundada, somente existia no
local a Estação Ferroviária - na verdade, uma parada (cujo nome inicial não
parece ter sido Azevedo Sodré, mas não se tem registro desse nome primitivo)
aberta em 1896, que somente foi elevada a estação em 24 de agosto de 1924.
Depois de enfrentar muitas dificuldades econômicas, Ramão teve de
vendê-la a Antônio Cândido (Tunuca) da Silveira, que viveu excelente momento
econômico chegando ao auge da produção.
A crise de 1929 fez com que a charqueada entrasse em colapso, e em
1935 veio a tornar-se a Cooperativa Rural Gabrielense. Encerrou as atividades
em 1940. Da velha charqueada restaram apenas vestígios, hoje quase
desaparecidos.
Quanto à estação - o nome Azevedo Sodré, antigo funcionário e
diretor da Estrada de Ferro Bagé-Rio Grande nos anos 1880-90, em 1925, a Viação
Férrea do Rio Grande do Sul (VFGRS) estava iniciando os trabalhos de construção
da estação recentemente aberta em substituição à parada.
Já foi, infelizmente, demolida, somente existindo hoje restos da
plataforma, um pedaço de uma das paredes e a estrutura de suporte da antiga
caixa d'água.
A estação fica num lugar de difícil acesso, mas que foi facilitado
com a esticada da rodovia BR-158 de Santa Maria a Rosário do Sul. Azevedo Sodré
é hoje sede de distrito em São Gabriel.
OS TRENS DE PASSAGEIROS
Os trens de passageiros partiam de Livramento, em outra linha,
chegavam a Cacequi e dali até Bagé. Em Bagé, havia que se trocar de trem para
chegar a Rio Grande.
Uma série de variantes foi entregue entre 1968 e os anos 1980 -
Pedras Altas, Três Estradas, Pedro Osório, Pelotas - que encurtaram e
melhoraram seu traçado, eliminando diversas das estações originais.
Até 1982 as linhas ainda transportavam passageiros, quando o
serviço foi interrompido devido ao desabamento de uma ponte em Pedro Osorio.
Uma nova linha foi construída logo depois. O transporte de
passageiros retornou algum tempo depois, mas com trens mistos, que duraram até
meados dos anos 1990.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio
Grande do Sul (IPHAE), considera como data de inauguração da estação de São
Gabriel o ano de 1900 e cita ainda o ano de 1906 como outra data possível,
segundo o autor Borges Fortes.
A partir de então, o transporte ferroviário passou a gerar um
grande movimento de “carregadores”, como eram popularmente conhecidos.
Por essa razão é que em 1946 foi construído, no centro da praça existente
em frente a estação, um “Bebedouro” público para matar a sede dos cavalos.
A NOVA ESTAÇÃO
Nos anos 1970, a RFFSA construiu uma variante e em consequência a
nova estação de São Gabriel nessa linha, desativando a antiga, depois que
findaram os trens de passageiros. O IPHAE considera a data de desativação da
velha estação como tendo sido em 1978.
Embora a estação tivesse sido desativada, a verdade é que os trens
mistos continuaram a se movimentar por lá, ao que parece até 1995. E só a
partir daí pela estação nova.
Lembro bem disso, pois eu morava no velho Armazém Motta, de
propriedade do meu saudoso sogro, Gelcy Motta, que se localizava nas
proximidades.
A estação continuou por um bom tempo ligada a variante e a estação
nova por um ramal, provavelmente remanescente da linha original. Em 1996, ainda
existiam os trilhos e na safra do arroz o trem ainda ia até lá para carregar.
Em volta existiam engenhos de arroz, embora os prédios da estação
e do armazém não fossem mais utilizados com fins ferroviários.
O prédio da estação antiga fica praticamente no centro da cidade, enquanto
a nova fica fora da área urbana, a mais ou menos uns dois quilômetros de
distância. A variante que tirou os trilhos do centro da cidade continua
paralela a linha antiga.
Os trens chegavam na estação antiga por um pedaço da linha que
ficou como um ramal. Foi uma pena que eu não tenha acompanhado os trilhos
antigos para ver em que ponto encontram a linha nova.
DUAS ESTAÇÕES PERDIDAS
Do apogeu ferroviário no município restaram duas estações
perdidas, Tiaraju e Santa Brígida, que constam do “Guia de Ferrovias”, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1956, como ambas
pertencentes a extinta VFRGS, localizadas na zona rural de São Gabriel.
Antigamente a Estação de Tiarajú se chamava Bela Vista. Tiveram
que trocar o nome por causa de muitos locais que tinham essa denominação, e por
causa disso as mercadorias e correspondências iam para locais errados.
A ferrovia chegou ao Rio Grande do Sul em 15 de abril de 1874,
quando foi construída pela companhia inglesa denominada de “Companhia
Brasileira Ltda”, de Johan Mac Ginity, uma linha férrea de Porto Alegre até a
cidade de São Leopoldo, no Vale do Rio dos Sinos.
A primeira ferrovia do Estado tinha 33 quilômetros de extensão e
oito estações ferroviárias, sendo hoje o caminho atual do metrô de Porto Alegre
conhecido como Trensurb.
Em 1º de janeiro de 1876 foi inaugurado o prolongamento até Novo
Hamburgo. Em 1880 já eram transportados cerca de 40 mil passageiros por ano,
sendo que a linha posteriormente foi estendida até Carlos Barbosa e Caxias do
Sul.
Após a inauguração da primeira ferrovia do Estado, foi criada em
23 de dezembro de 1877 uma linha principal denominada de “linha tronco”, que
atravessava o Estado horizontalmente de Porto Alegre a Uruguaiana, que levou
cerca de 30 anos para ser construída, sendo finalizada no dia 21 de dezembro de
1907.
Com o passar do tempo, esta linha foi ficando insuficiente e então
foram criados os ramais, que eram as linhas ferroviárias que ligavam as cidades
até a linha tronco.
Em 2 de dezembro de 1884 foi a vez da cidade de Rio Grande ganhar
transporte ferroviário. Nesse mesmo ano Bagé ganhava um terminal ferroviário da
linha chamada Bagé-Marítima.
Essa linha foi construída em partes: pela “Southern Brazilian Rio
Grande do Sul Railway Company Limited”, sucessora de uma série de concessões
anteriores.
De Cacequi a São Gabriel, em meados de 1896 e de São Sebastião a
Bagé, no final do mesmo ano, ambos pela Estrada de Ferro Porto
Alegre-Uruguaiana. Em 1900, a união São Sebastião-São Gabriel completou o trecho
Bagé-Rio Grande.
Enquanto isso Rio Grande criaria importante linhas férreas de trem
como a “Companhia Estrada de Ferro de Rio Grande a Costa do Mar” em Julho de
1890, “Companhia Carris”, “Estrada de Ferro Estrada do Mar” em Setembro de 1892
e “Companhia e Viação Rio-Grandense” em fevereiro de 1895. Muitas linhas
férreas foram construídas pelo estado, tornando o trem um importante meio de
transporte no século 19.
No dia 29 de julho de 1920, o governo da união passou para o Estado
do Rio Grande do Sul a administração das ferrovias localizadas no seu
território, o mesmo acontecendo no restante do país.
Neste ano, foi criada a “Viação Férrea do Rio Grande do Sul”.
Nisso houve um aumento de linhas ferroviárias gaúchas que passaram de 2.300 km
para 3.650 km. Em média acontecia cerca de 70 transportes de passageiros no Rio
Grande do Sul.
Em 30 de setembro de 1957, surgiu a “Rede Ferroviária Federal”
(RFFSA) em consequência da decadência das estradas de ferro existentes no
Brasil. As 42 ferrovias que existiam foram incorporadas a nova rede ferroviária
num sistema de regionais, resumidas em 18.
OS TRENS DE LUXO
Nesse período novamente houve um grande avanço no setor
ferroviário, surgindo os trens de luxo com locomotivas a diesel. O primeiro
trem de luxo foi chamado de “Minuano”, sendo de origem alemã.
Logo após surgiu o trem de luxo “Húngaro”. Neste período, houve
também um aumento na capacidade e remodelação dos vagões, onde as linhas foram
melhorando os traçados dos trilhos, substituindo os dormentes de madeira por
concreto.
Mas os anos dourados do trem chegavam ao seu fim com o avanço das
rodovias no país e a desestatização da “Rede Ferroviária Federal”.
Em 5 de dezembro de 1999, a RFFSA foi extinta, sendo criada a “Agência
Nacional de Transporte Terrestre” (ANTT), que ainda hoje é o órgão que
fiscaliza e controla o pouco que sobrou do transporte ferroviário do país e do
Rio Grande do Sul. (Pesquisa: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 13 de março de 2019)
O prédio da antiga estação ferroviária de São Gabriel, hoje abriga o Museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Ótimo resgate! Nossas ferrovias poderiam existir até hoje, como acontece nos principais países do mundo.
ResponderExcluir