sexta-feira, 12 de julho de 2019

“Tarumã”, um culto de amor a tradição

A rivalidade no meu modo de ver é algo positivo. No futebol ou em qualquer outra atividade. Até no tradicionalismo. Temos o exemplo dos “bois” de Parintins, da tradição amazônica em que adeptos dos bois “Garantido” e “Caprichoso” duelam amistosamente no famoso Festival anual que é realizado na cidade.

No futebol temos a sadia rivalidade entre Grêmio e Internacional, de Porto Alegre, os dois maiores clubes do Sul do País. E assim por diante: Cruzeiro e Atlético, em Minas Gerais, Flamengo e Vasco, no Rio de Janeiro, Corinthians e Palmeiras, em São Paulo, Vitória e Bahia, na “Boa Terra” e em muitos outros lugares.

Mas o que nos interessa mesmo é São Gabriel. Temos dezenas de entidades tradicionalistas no município, mas o destaque mesmo fica para as duas maiores, “Caiboaté” e “Tarumã”. É uma rivalidade até certo ponto simpática, que só faz crescer o tradicionalismo na cidade.

Hoje vou falar do “Tarumã”. Em outra oportunidade destacarei o “Caiboaté”. Vou me valer de um estudo feito pela amiga Laura Jaskulski Capiotti, intitulado “Do Sonho à Realidade”, em que conta detalhadamente a história do “Centro de Tradições Gaúchas Tarumã”.

Tudo começou quando um grupo de jovens que apreciavam as danças do folclore rio-grandense, não tinham um local específico para seus ensaios. Mesmo assim levavam sua arte aos mais diversos locais do Estado, sempre com sucesso.

Os ensaios eram realizados do jeito que dava. Em salas emprestadas de clubes ou nas próprias casas dos componentes do grupo. O que movia esses rapazes e moças era a histórica tradição gaúcha, do tempo dos “Pica-Paus” e “Maragatos”, das peleias em torno dos lenços brancos e vermelhos usados ao pescoço.

O CAIBOATÉ JÁ EXISTIA

Já existia na cidade desde 1953 o “CTG Caiboaté”, que tinha na cor vermelha a sua identidade, o que pouco significava aos participantes, que queriam mesmo era desfrutar do “Departamento de Hipismo” da entidade, sem o menor interesse pelas questões políticas.

Mas nem tudo eram flores. Houve dissidência. Alguns associados resolveram unir o útil ao agradável, ou seja, o Hipismo com Tradicionalismo. Mas para isso precisavam criar um novo espaço. Foi assim que surgiu o “CTG Tarumã”, oficialmente fundado em 16 de outubro de 1963.

A sua primeira patronagem, constituída pelos sócios fundadores tinha João Coelho Caminha, como Patrão; Eleo Longo Marchant, 1º Sota-Capataz; Ramon Borges Monteavaro, 2º Sota-Capataz; Agripino Pires, 1º Agregado da Guaiaca; Geremita Marques, 2º Agregado da Guaiaca.

Conselho de Vaqueanos: Luís Marques Neves, Vilfredo Ivanbrié Trindade, Hugo Cunha, Arlindo Montanha, Manoelito Kluwe e João Pedro Porto.

O lema do “CTG Tarumã” é: “Da ilhapa até a presilha, gaúcho em qualquer coxilha”, e tem como entidade madrinha o “CTG Farroupilha”, da cidade de Alegrete.

O nome do CTG Tarumã foi motivado por uma árvore, que é um verdadeiro símbolo da tradição gaúcha, cujas flores e cerne amarelo, viram pedra dentro d’água. Esta árvore que tem o nome de Tarumã, também denominou diversas estâncias e fazendas em nossa região.

Isso explica a escolha do amarelo como cor principal da nova entidade. E os fundadores fazem questão de lembrar que o amarelo está presente nas bandeiras do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Os simpatizantes do “Tarumã” orgulham-se em dizer que a entidade nasceu do amor que seus fundadores curtiam pelo apego ao cavalo e o gosto pela dança folclórica.

O CTG em toda a sua trajetória, sempre contou com um grande número de associados, em todas as categorias: fundadores, patrimoniais, efetivos, transitórios, beneméritos, remidos e licenciados.

Isso faz com que o “Tarumã” seja hoje uma entidade reconhecida e admirada em todos os cantos do Rio Grande do Sul, Brasil e até mesmo fora do País.

UMA INSTITUIÇÃO FANTASMA

Nos primeiros tempos as dificuldades eram imensas. O “CTG Tarumã” não tinha nada, nem sede própria. Era uma instituição, pode se dizer, fantasma.

Isso durou até janeiro de 1968, quando foi inaugurado na Rua João Manoel, 516, um galpão de festas, construção precária, feita de pau a pique, mas que testemunhou as maiores proezas da associação.

O galpão foi inaugurado em 13 de janeiro de 1968, quando tinha como Patrão o senhor Otávio Caon, com uma apresentação da dupla “Os Bertussi”, que animou o fandango realizado na ocasião
Aquele ano de 1968 foi de glória para a entidade, que venceu a competição artística de danças típicas do “7º Rodeio Crioulo Internacional de Vacaria”, que até hoje é tido e havido como a maior festa tradicionalista da América Latina.

A autora do estudo, Laura Jaskulski Capiotti, recebeu em 2008 o troféu “RS Mulher Farroupilha”, instituído pelo governo do Estado com o objetivo de incentivar mulheres que desenvolviam trabalhos culturais na música, no folclore e nas artes.

Em razão disso o CTG Tarumã foi convidado a representar o Brasil na “Feira Internacional de Ribatejo”, em Santarém, Portugal. E a entidade não decepcionou, pelo contrario. Foi premiada com medalha e viagem à Espanha, país que no mês de maio realiza a “Festa de San Isidro”, padroeiro da capital, Madri.

A Invernada Artística da época foi chefiada por Paixão Cortes, Darci Fagundes e o pesquisador e escritor Duarte de Laytano.

Na volta da Europa o Tarumã teve uma recepção estupenda, só equiparada a primeira conquista da Copa do Mundo pelo Brasil, em 1958.

Na América do Sul, o CTG Tarumã esteve na Argentina e Uruguai. Realiza anualmente no mês de abril o tradicional “Rodeio Internacional do Mercosul”, considerado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), o segundo maior rodeio do Rio Grande do Sul.

Este ano o “Rodeio” aconteceu de 4 a 7 de abril e contou com a participação de CTGS dos seguintes municípios: Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Dilermando de Aguiar, FORMIGUEIRO, Lagoa Vermelha, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santa Maria, Santana do Livramento, Santiago, São Francisco de Assis, São Pedro do Sul, São Sepé, São Vicente do Sul, Vila Nova do Sul, Santa Cruz do Sul e, é claro, São Gabriel.

HOMENAGEM AO CINQUENTENÁRIO

O compositor tradicionalista Danner Marinho compôs música que conta um pouco da história do “CTG Tarumã”, quando este completou 50 anos:

O sonho e a realidade/a nossa inauguração/De um CTG que hoje é exemplo à cultura e tradição./Uma grande festa aconteceu para comemoração/Com lindo baile e a alegria se espalhava no salão.

Logo um convite, para dançar no exterior./E levar nossa cultura, para Portugal. Em Santarém dançamos com paixão/Mostramos o orgulho e o amor ao nosso chão.

Os nossos fandangos, bem animados./Tem rancheira, xote, valsa e o bugio.

“Eu vou dançar fandango de galpão/Os peões mostram o compasso,/Em uma rancheira nos quatro costados/ O Rodeio Crioulo uma linda festa/no tradicional Mercosul.

Peões firmando o braço, defendendo suas origens./Entre a terra a poeira e o laço/Vem o piazito, correndo boi na cancha do Mercosul.

Estapo, mandou, é boa a armada do garoto./É o rodeio crioulo do “CTG Tarumã”./Nosso rodeio artístico se mistura/Ai bota aqui, ai bota ali o teu pezinho/O teu pezinho bem juntinho com o meu.

A beleza, a magia e a cultura/Entre dança sarandeio e sapateio/No canto a poesia e o violão/Em nome de uma entidade./Gritam bem forte e bem alto/São 50 anos em nossos corações.

Sou “Tarumã”, um culto de amor a tradição./São 50 anos, 50 anos de paixão e cultura a tradição./É o meu CTG Tarumã/50 anos de história nesse chão/Neste chão... hohohoooooooooo./Gritam bem forte/São 50 anos Tarumã.

UM GRANDE EVENTO VEM AÍ

O próximo grande evento do “CTG Tarumã” está marcado para os dias 26 e 27 de outubro, no “Parque Tradicionalista Rincão das Carretas”, com a realização de uma etapa do Circuito da “18ª Região Tradicionalista”, que constará de apresentações de Danças Tradicionais, Danças Gaúchas de Salão, Chula, Declamação e ainda Solista Vocal.

O “CTG Tarumã” tornou-se um verdadeiro campeão do Tradicionalismo. Suas mais importantes conquistas foram:

Tricampeão do Rodeio de Vacaria; Rodeio Internacional de Bagé; Campeão do Rodeio Internacional de Lages, Santa Catarina; Diversas vezes Campeão do ENCONTRART (Evento organizado pela 18ª RT); Tricampeão da Reculuta de Vila Nova do Sul; Pentacampeão da Reculuta Farroupilha Municipal promovida pela CTM; Finalista por três anos consecutivos do maior rodeio artístico da Categoria Mirim, o FESTMIRIM, realizado na cidade de Santa Maria, com seu Grupo de Danças Mirim, sendo um dos 15 melhores grupos mirim do RS; Brilhante participação no JUVENART com seu Grupo de Danças Juvenil.

Internacionalmente o CTG Tarumã tem participações em: Santarém/Portugal; Feira de Ribatejo em Madri/Espanha; Festival de San Izidro na Argentina; Flórida/Uruguai.

O CTG Tarumã teve em toda a sua trajetória os seguintes Patrões: João Coelho Caminha, João Reduzino Alves de Oliveira, Otávio Caon, Nilton Charão de Freitas, Gidelci Macedo, Luzardo Mello, Homero Laureano, Paulo Soares, José Gonçalves, Djalma Marinho, Dilmar Machado, Antônio Carlos Simonetto, Ércio de Castro Garcia, Pedro Luís Laureano Brenner, Irineu Antônio Ribas, Fernandes Vasconcelos Motta, Hamilton Jardim, Carlos Germano Koch, Ítalo Capiotti Filho, Avelino Cesar Berny, Omar Hannaui, Sergio Caiuby de Andrade Silveira, Carlos Alberto Gerszon de Souza, Marco Túlio Lima Martins, José Henio Bastos, Pedro Alex Goulart e Déia dos Santos de Souza.

O CTG Tarumã tem como atual Patronagem: Patrão de Honra: Hero Flores de Lima e Leonia de Lima; Patrão: Marco Túlio Lima Martins;
1º Capataz: Francisco Luzardo Silva da Silva e 2º Capataz: Ariovaldo Moreira Langendorf. (Pesquisa: Nilo Dias)


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