quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Historinhas da política gabrielense

No governo do prefeito doutor Eglon Meyer Corrêa, eram realizadas as tradicionais incursões ao interior do município, chamadas de “Descentralização”. Elas se constituíam em um dia de atendimento múltiplo em regiões previamente escolhidas.

Lembro de uma ocasião em que o deslocamento foi para a localidade de “Pavão”, na região de Catuçaba. Eu era assessor de imprensa do prefeito e acompanhei tudo de perto.

A população do lugar teve acesso a atendimento médico e odontológico, pode encaminhar documentação do seguro desemprego, solicitar Carteira de Trabalho e Previdência Social e uma série de outros benefícios por parte das secretarias municipais.

O saudoso amigo, doutor Hélio Machado, na condição de odontólogo se fez presente. O seu gabinete foi instalado em uma casa comercial, daquelas que vendiam de tudo, desde gêneros alimentícios até roupas e utensílios domésticos, passando por bebidas de toda a espécie.

A cadeira para uso dos clientes foi uma daquelas antigas de palha. O primeiro a ser atendido, sentou e não demorou um minuto para dar um tremendo grito, chamando a atenção de todos que se encontravam no local.

O doutor Hélio perguntou porque gritava, se ainda nem havia começado a examinar seus dentes. E o homem respondeu: “É que o senhor está pisando no meu pé”.

A título de informação deve se dizer que o doutor Hélio calçava no mínimo 45, o que explica a reação do pobre vivente.

Eu fui cliente do doutor Hélio por muito tempo. Tratava-se de um profissional experiente, atencioso e altamente competente. Como político foi sempre um homem de um lado só, idealista e convicto de suas ideias. Foi vereador e honrou seu mandato. Deixou muita saudade.

CLIMA QUENTE

Eleição para prefeito de São Gabriel. De um lado o coronel Mesquita, primo do prefeito da época, doutor Eglon Meyer Correia. Do outro Balbo Teixeira. Como sempre ocorre nas eleições de São Gabriel, o clima estava mais quente que o verão do Senegal.

Na semana da eleição eu e os saudosos amigos doutor Nolan Scipionni e Ciro Jardim de Oliveira, viajamos até Venâncio Aires para buscar a edição do jornal “Eco dos Pampas”, que estava a serviço da Prefeitura.

O pessoal da oposição acreditava que o jornal traria alguma denúncia grave contra Balbo e trataram de evitar que a publicação chegasse a cidade. E esperaram a caminhonete “Veraneio” em que viajávamos, nas proximidades de Santa Margarida.

A partir dai verificou-se um tiroteio pela BR-290, que felizmente não resultou em nada mais grave. Chegamos na Polícia Rodoviária e não havia ninguém por lá. O negócio foi dobrar em direção ao Jardim Europa e entrar a “mil” na casa do doutor Nolan.

Os perseguidores vieram logo atrás, e só não entraram na propriedade porque o doutor Nolan reagiu com uma arma de cano serrado. Eram 4 horas da madrugada e a vizinhança todinha acordou assustada.

Como não cortaram o fio do telefone, foi possível ligar para o doutor Eglon e para a Polícia. Em seguida a rua ficou tomada de gente. Creio que por mais de 200 pessoas. A Brigada Militar evitou que os opositores entrassem na propriedade.

Muitas pessoas vieram nos dar solidariedade, entre elas lembro do amigo Bereci da Rocha Macedo. Também do prefeito Eglon e do nosso candidato coronel Mesquita e seu vice. O doutor Eglon sentiu-se mal e teve de receber atendimento médico.

O jornal, que não trazia nada de especial sobre o candidato Balbo Teixeira, por via das dúvidas, foi tirado da “Veraneio” e colocado no carro do saudoso coronel Gabriel Abbott Rodrigues, que deixou o local em alta velocidade.

E o episódio terminou sem nenhuma vítima. Não cito nomes dos opositores que participaram do atentado, por razões óbvias. Foi mais uma prova de que a política em São Gabriel não é feita para amadores.

AVENTURA EM LIBRES

A história a seguir, o amigo Rômulo Farias contou em sua página no Facebook. Aliás, ele se revelou um ótimo contador de histórias, o que enriquece sua biografia, já bastante admirável pela passagem na Câmara Municipal, como vereador combativo que foi.

E ele jura que o episódio a seguir realmente aconteceu. Certo dia, seguramente mais de 30 anos atrás, ele por pouco não caminhou rumo a morte.

E salienta que tem três testemunhas do caso, o ex-vereador Adão Cavalheiro, o ainda vereador Carlos Alberto Lannes, o “Cacaio” e o também ex-vereador Bento Borges.

Haveria uma quarta testemunha, o saudoso Chico Mello. Naquela época todos eles tinham porte de arma de fogo. E se deslocaram até Uruguaiana para tomarem parte em uma reunião de cunho político.

E como ir a Uruguaiana e não dar uma esticada até Libres, Argentina, é como ir a Roma e não tentar ver o Papa. Em Libres, quase tudo é barato. Os cinco entraram em uma loja. Rômulo e Bento aproveitaram para comprar balas longas, calibre 38.

Até ai, tudo bem. Rômulo conta que tinha uma pistola 380. O Adão Cavalheiro, mais “pacifico” se limitou a comprar salames e doces para seus filhos.

Entre uma loja e outra o tempo foi passando. Enquanto isso o Exército Argentino entrou em prontidão. Já passava das oito da noite, e havia revista total em quem se encontrasse nas ruas. Eram os anos de chumbo no vizinho país.

O Bento Borges ficou apavorado e tratou logo de entrar na Van que os levou até Libres. Enquanto isso o Rômulo tirava as balas das caixas e as colocava dentro dos sapatos. O Bento viu tudo e tratou de pegar um sobretudo que havia comprado há pouco, e que deve ter hoje.

E o vestiu, com a etiqueta virada para as costas. Enquanto isso os militares armados se aproximaram do Rômulo, ordenando que andasse em direção a barreira sanitária.

Nesse instante Rômulo olhou para trás e viu o Bento Borges, com aqueles sapatões 44, “desbicados”, cheios de balas de revólver. Deu um pavor em Rômulo, ao lembrar que o amigo Bento tinha unhas encravadas, “pior que um chifre de carneiro”, segundo ele.

Estava atrás de Rômulo, sendo escoltado. Este falou para Bento: “Não vai esfregar com força esses teus pés, que pode me matar”. Sem dúvida poderia abrir um buraco em suas costas, caso uma unha encravada atingisse alguma espoleta.

Rômulo pensou estar indo em direção a um pelotão de fuzilamento. Um suor forte molhou seu corpo, enquanto soldados pegavam o salame que o Adão Cavalheiro havia comprado.

Ele fez a maior gritaria do mundo, e lascou: “Tem gente que compra bala de revólver, e vocês não fazem nada. E tomam um salame que comprei para meus filhos. E sei que vocês vão comer”.

Rômulo, naquele momento chegou a achar que o Adão Cavalheiro ia abrir o jogo e entrega-los de bandeja aos militares. Foi quando o chefe da guarda perguntou:

“Alguém tá levando alguma coisa ilegal?” E Rômulo, para tirar o seu da reta, respondeu: “Moço, sobretudo pode? Esse aí de trás está com a etiqueta virada”.

Enquanto isso Rômulo olhava os pés do Bento, e rezava para tudo que é santo, para que não resolvessem examinar os sapatos dele. O Bento se manteve calmo, e passou deslizando aquele sapatão, que mais parecia um “Colt 45”.

Imaginem a cena. O Bento Borges atrás de Rômulo, com aqueles sapatões tapados de balas 38. (Pesquisa: Nilo Dias - Publicado no jornal "O Fato", de Sao Gabriel-RS, edição de 14 de agosto de 2019)

Ex-vereadores Rômulo Farias.e Adão Cavalheiro.

Ex-vereador Bento Borges.

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