sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Um gabrielense de coração

O ator Paulo Vicente Nobre de Lima nasceu em Porto Alegre no dia 15 de janeiro de 1952, filho de Fernando Ramos de Lima, médico gabrielense e de dona Zeneide Nazareth Nobre de Lima, já falecidos. Ela em 1986 e ele em 8 de agosto de 2015, aos 93 anos de idade. 

O médico Fernando Ramos de Lima nasceu em São Gabriel no ano de 1922. Foi um dos profissionais que se destacou pela benemerência, ao lado de outros médicos como os doutores Nero Meneghello, Eglon Meyer Corrêa, Dirceu Menna Barreto de Abreu e Miguel Vinhas Varella, entre outros. 

Cursou o Colégio Militar. Formou-se em 1947 na Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Após, formado, iniciou a atividade médica na cidade de Jacutinga (RS).

Atuou um ano em Recife, retornando a São Gabriel onde fixou residência. Foi chefe do Posto de Saúde por vários anos, além de trabalhar no antigo Serviço de Atendimento Médico Domiciliar de Urgência (Samdu). 

Foi ele que criou o Serviço de Prevenção ao Câncer Ginecológico, referência na região. Em 2017, foi o homenageado especial do “Mês do Médico”. 

Quando Paulo Vicente tinha apenas um ano de idade seus pais mudaram-se para São Gabriel, por isso diz para quem “quer saber”, que é gabrielense, “com muito orgulho”. Se não de berço, mas de coração. 

Foi alfabetizado por sua avó paterna, dona Alice Ramos de Lima. Entrou no segundo ano primário, no então "Grupo Escolar Menna Barreto”. 

Suas professoras foram Tereza Norberto, segundo ano, Nelizinha Camargo, terceiro ano, Maria da Graça Cortiana, quarto ano e dona Ilka Caldas no quinto ano. 

A partir do quarto ano primário, até o último ano ginasial, teve como professora particular, a saudosa dona Julieta Cortiana, sempre lembrada por ele com muito carinho. 

Depois foi para o Ginásio São Gabriel. O Segundo Grau fez em Porto Alegre, nos colégios Rosário e Ruy Barbosa. 

Sua família sempre morou no mesmo endereço em São Gabriel, na rua General João Manoel, 775, casa construída pelo seu avô paterno, Franklin Moreira de Lima. Quando seu pai nasceu a casa já existia. 

Ainda hoje é o refúgio de Paulo Vicente. De vez em quando passa uns dias lá. E garante que isso lhe faz bem, sente-se mais forte, renova energias, vê amigos. E do portão enxerga a “Bekeka”, sua primeira amiga, conforme está escrito no seu “álbum de bebê”.  

Não tem filhos e garante que assim mesmo é feliz. Ama os sobrinhos, sobrinhos netos, sua família, os amigos, seus alunos e o público que o prestigia. 

Teve muitos amigos na infância e adolescência. Lembra mais deles pelos apelidos e primeiro nome: Dado, Toninho, Luiz Cláudio, Gordo, Zé Sena, Francisco, Ligia, que foi namorada e grande amiga, Malila, Ana Lúcia, Lurdinha, filha do Adair Abreu, chamada de “Lulu” pelos amigos, Neca, Tota e Jorge “Trovão”. 

A maioria desses amigos conheceu em Porto Alegre, para onde foi sozinho. Seus pais permaneceram em São Gabriel. Alguns desses amigos foram seus colegas na “Pensão Fronteira”, na Capital, onde morou por dois anos. Depois se mudou para um apartamento. 

COMO TEVE INÍCIO A CARREIRA DE ATOR 

Teve a certeza que seria ator ainda na adolescência, quando teve a oportunidade de assistir Paulo Autran no teatro, fazendo "Morte e Vida Severina". 

Seus familiares relutaram no começo, alegando ser uma profissão efêmera. Então Paulo entrou no Curso de Comunicação da Unissinos, aos 17 anos, e só depois foi para Licenciatura e Teatro na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).  

Antes de entrar na Unissinos ele foi à São Paulo, fazer teste para o musical "Hair". Na fila estavam (todos jovens) Antônio Fagundes, Sonia Braga, Nuno Leal Maia e Jorge Fernando.

Foi aprovado, mas não teve apoio da família. Então resolveu cursar “Comunicação”, e depois de anos, largou tudo e foi fazer teatro, o que sempre quis. E dessa vez com apoio de toda a família.                

Paulo Vicente é licenciado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor de Educação Artística pela rede estadual de ensino. Iniciou a carreira de ator há mais de quatro décadas, tendo participado de cerca de 30 montagens de espetáculos de teatro. 

Entre elas “O sentido do corpo”, criação coletiva com o Grupo “Ói Nóis Aqui Traveiz”, “A Festa secreta” e “Identidade em delito”, todas com direção de Carlos Wladimissky; “Palco de vidro”, de Georg Bücher com direção de Paulo Mauro da Silva; “A mãe da miss e o pai do Punk” e “A fonte”, com texto e direção de Luiz Arthur Nunes; “Lisistrata”, de Aristófanes; “A mulher só” e “Rainhas da Pesada”, com direção de Roberto Camargo; “Rasga coração”, de Oduvaldo Vianna Filho, com direção de Nestor Monastério; “Queridíssimo canalha”, de Ivo Bender, com direção de Graça Nunes; “King Kong Pálace”, de Marco Antônio De La Parra, com direção de Antônio Carlos Brunet; “Teatro pra mim é grego”, texto coletivo de publicitários gaúchos, com direção de Antônio Carlos Falcão; “Abajur lilás”, de Plinio Marcos e “Boca de ouro”, de Nelson Rodrigues, com direção de Roberto Oliveira; “Nossa cidade”, de Thornton Wilder com direção de Cláudio Cruz; ”Boa noite, cinderela”, de Luís Francisco Wasilewski, com direção de Caco Maciel; “Artimanhas de Scapino”, de Molière dirigido por Margarida Leone Peixoto; “Como agarrar um marido antes dos 40”, com texto e direção de Cláudio Benevenga; “Transe”, com texto de Ronald Raad, com direção de Gilberto Perin; “Lembranças no lago dourado”, com texto de Paulo Vicente, Cláudio Benevenga, Eleanora Prado e Ana Cecilia Reckziegel, com direção de Eleanora Prado; “Reveillon”, com direção roteiro para a declamadora Conceição de Maria, dividiu a direção com Zé Adão Barbosa em “Besteirol a comédia”; também participou do longa-metragem “Beijo ardente”, de Flávia Moraes; “A Hora da Verdade”, de Henrique de Freitas Lima; “Heimweh – Nostalgia”, de Sérgio Silva. 

Recebeu o “Troféu Escalp de Teatro” como “Melhor Ator”, pelo espetáculo “Rainhas da Pesada” além de várias indicações ao prêmio “Açorianos”, de teatro. 

Paulo continua em plena atividade. E gosta de dizer que “ator, não tem idade”, e pode interpretar velhos, crianças, homens, mulheres, árvores, geladeiras, carros, enfim... Enquanto puder estará na ativa. Só depois disso, poderá passar para outro plano. 

Em sua longa trajetória pelos palcos, viajou por todo o Rio Grande do Sul, levando trabalhos também para o Centro do Brasil, indo até o Nordeste, sempre mostrando o teatro gaúcho. E foi até Montevidéu, acompanhado de sua arte.   

Confessa que tem um sonho, ver o “Theatro Harmonia”, de São Gabriel, funcionando outra vez. Garante que ficaria feliz demais se isso acontecesse. E lembra de Fernanda Montenegro, a primeira dama do teatro, que disse: “O umbigo de uma cidade é o teatro”. Quem sabe um dia... 

COZINHAR NÃO É SERVIÇO 

Encontrei uma postagem da amiga Maria Alice Mendes, que acho interessante publicar, pois o que aconteceu com ela, pelo visto foi por influência de Paulo Vicente. 

“Estou pensando no ato de cozinhar. E estou pensando porque encontrei essa postagem na página do meu amigo Paulo Vicente Nobre de Lima - ator e diretor de teatro, professor de História, filho da terra da minha mãe e cidadão do mundo. 

E fiquei encantada quando li o que eu li: "cozinhar não é serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros". Meu Deus do céu! Eu tenho absoluta certeza disso. 

Até 2009, eu não sabia o que fazer diante do meu fogão, além de pão caseiro, um bom café e belas conservas. Mas em 2009, no outono de 2009, a minha filha adoeceu. 

E adoeceu tão gravemente, que era preciso reeducá-la para a alimentação. Fazê-la comer, novamente. E então (e num passe de mágica ou num passe de amor) eu me transformei numa cozinheira que surpreendeu, principalmente, a mim. 

Eu me especializei em arroz, feijão, batatas, legumes ao vapor, cremes de ervilha e de cenoura e sopas coloridas. Uma comida extremamente simples, absolutamente caseira, mas uma comida sagrada, redentora, em cujo prato eu depositava o pão e derramava o vinho, resgatando a “Sagrada Ceia”. 

E contrariei todas as orientações médicas, dos melhores hospitais. E até fiquei mal vista (ou malquista) por muitos médicos (antes, meus amigos) e por algumas nutricionistas (que antes, também, até me queriam bem). 

Eu sei que invadi um território que não era meu. Eu sei que (de uma certa maneira) eu feri o orgulho profissional (um orgulho justo e natural). E nunca tive a oportunidade de lhes pedir que me perdoassem aquela invasão (ou aquela insubordinação). 

Eu não sei se não tive oportunidade. Ou se não tive tempo. Acho que não tive tempo, mesmo. Eu estava completamente envolvida com o meu fogão. Eu sabia que ali, no meu fogão, eu poderia recuperar a minha filha. 

E eu a queria completa: com a mesma saúde, com a mesma beleza, com o mesmo brilho, com a mesma alegria. E eu tinha urgência! Eu tinha medo que a tristeza me matasse e que ela ficasse sem mim. 

Sim! "Cozinhar é o mais privado e arriscado ato". Eu corri o risco. E o meu arroz fantástico e as minhas sopas coloridas se encarregaram de promover a “Ressurreição e a Vida”. (Pesquisa: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 9 de outubro de 2019)                              


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