sábado, 8 de março de 2014

Crônica do Dia Internacional da Mulher


Teresinha Motta 

A quem possa interessar, Oito de Março é um convite do espelho para uma visita. Eu sou uma que preciso desse olhar mais fundo e demorado. Com regularidade não há clima, pois em casa, entre uma infinidade de coisas, lavo louças ad eternum. Mas, nessa data, dou-me o luxo de parar para pensar e reconheço que estou em dívida comigo por todas as provas de autoestima que não me dei – promessas de campanha de quando quis me eleger feliz.

O Dia Internacional da Mulher tem essa função de catarse. No meu microcosmo, que é esse por escrito, sou induzida a surtos poéticos periféricos. São drenos fazendo transmissão de dados pelos poros da pele... E eles me deixam assim, esbaforida de palavras, quase protocolar em defesa dos contextos femininos, vide todo o seu portfólio de dores.

Na verdade, faço desenrolar ataduras disfarçadas sob echarpes coloridas. Lido com todo o espectro do escândalo social que vitimiza as mulheres. Na Web, ao alcance de um clique estão os casos mais cruentos e fatais, como a incidência de feminicídios no país – a prática que significa a morte intencional de uma mulher. São mais de cinco mil assassinatos desse tipo por ano no Brasil. E no disse-me-disse ainda não rastreado pelas estatísticas acumulam-se casos de violências não declaradas, sempre praticadas por “inimigos íntimos”. São abusos emocionais do repertório das questões domésticas e banais, incensados pela cultura machista que ainda reina no planeta.

Portanto, além das flores e gentilezas que nos são essenciais, há um arsenal de demandas por melhores dias. Eu, mulher, quero me levar mais a sério. Nós, mulheres, temos urgência de carinho e respeito. Nenhuma forma de protagonismo feminino dito moderno e audacioso quando fora da zona de conforto dos lares justifica qualquer agressão de gênero.

Acho que março abre um precedente produtivo, que vai de recitar um poema doce e delicado ao ato político e engajado de exigir direitos. Março me encoraja desde comprar um batom novo a fazer uma limpeza profunda nos chakras. Mas significa também cerrar os punhos no front de lutas ou dar o dedo da forma mais descarada que puder, a depender da circunstância.

Nada deslustra a ternura. Nem os paradoxos. Não podemos ser punidas se em nós existe a mãe, a filha e a mulher... não necessariamente na mesma ordem ou condição de grandeza. Não temos culpa se em nossa “anatomia humana” a simplicidade e a complexidade se misturam, na mais absoluta paz.

Teresinha Motta é jornalista, gabrielense de nascimento, residente em Brasília, esposa do também jornalista Nilo Dias..

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