*No dia 27 de agosto de 1893, travou-se o combate de Cerro
do Ouro, em São Gabriel. As tropas governistas comandadas pelo general
Francisco Portugal, dirigidas por Gumercindo Saraiva. Os castilistas foram
destroçados deste local do combate até a margem do Rio Vacacaí, a beira da
cidade de são Gabriel, num percurso de mais de 40 quilômetros.
Todavia, de tudo que se tem escrito desse combate, raros
são os que citam a Divisão do Exército, aliada dos legalistas, comandada pelo
general Antônio Joaquim Bacellar, que amanhecera acampada a uma légua do local,
na estância de Cerro do Ouro, à retaguarda do ataque das forças federalistas.
O general Bacellar resolveu ficar no acampamento,
alegando fraqueza de sua cavalhada, estropiada e cansada, e a exaustão da tropa
pelas marchas batidas. Mas o que ficou se sabendo, na época, é que o general
não estava seguro da confiança de sua gente.
Durante o Pipocar da fuzilaria e o rumor das cargas de
cavalaria, que se precipitavam sobre o inimigo em disparada, havia um movimento
em nervosa inquietação no acampamento. Alguns oficiais e a maioria dos
sargentos ostentavam lenços vermelhos no pescoço, demonstrando uma
indisfarçável simpatia pela causa revolucionária.
Somente no outro dia o general Bacellar prosseguiu a
marcha. A tarde do dia 28 entrava em São Gabriel, sob os acordes do mais
recente dobrado militar, “Saudade de minha terra”, composto pelo maestro
primeiro-sargento Luiz Evaristo Bastos, do 4º Batalhão de Infantaria, instalado
no quartel do antigo Forte de Caxias, no município. Luiz Evaristo Bastos era
gabrielense, filho de Leopoldo Bastos, casado com Maria Angélica Valle Bastos,
de tradicional família local.
Longe dos pagos, esse notável músico e compositor,
judiado pelas saudades dos seu rincão, havia composto o lindo dobrado que tanta
popularidade ganharia nas décadas seguintes .O coronel Gabriel Menna Barreto,
que descobriu a origem do Evaristo, escreveu: “A querência homenageada era,
pois, a nossa querida São Gabriel. E o autor do dobrado, um gabrielense nato”.
O saudoso João
Pedro Nunes, fundador do Museu que leva seu nome, testemunha dos acontecimentos
daquele dia, escreveu em páginas esparsas: “O general Bacellar, comandante de uma Divisão
do Exército, chega a São Gabriel com sua tropa no dia 28 de agosto de 1893.
Fazia parte dessa divisão o 4º Batalhão de Infantaria, estacionado em São
Gabriel.
A banda de música dessa corporação tinha fama, não só no
Estado, mas em todo o país. Era excelente, e seu maestro, o primeiro-sargento
Luiz Bastos, autor do famoso dobrado “Saudade de Minha Terra”, uma peça musical
para jamais ser esquecida pelo povo brasileiro.
Apesar do triste acontecimento da véspera (Combate do
Cerro de Ouro), as três bandas de música, do 4º Batalhão de Infantaria, do 32º
Batalhão de Infantaria e do 1º Regimento de Artilharia de campanha, realizaram
esplêndida retreta em frente à Igreja Matriz (Igreja do Galo). Recordo-me
perfeitamente do instrumental da banda do 4º de Infantaria que, devido as
peripécias de campanha, estava na maioria amassado e remendado com pedaços de
pano. Mesmo assim, a excelente banda do 4º Batalhão venceu o glorioso torneio
musical”.
Escreveu ainda
João Pedro Nunes que o sargento Bastos foi um dos contemplados pela chamada “Panelada
de Alferes do Presidente Floriano Peixoto”, que de uma só vez promoveu mais de
mil sargentos ao posto de tenente, a fim de conquistar a simpatia, tendo em
vista que sua maioria demonstrava uma clara tendência em favor do lado
revolucionário.
O coronel Gabriel
Menna Barreto, escrevendo sobre essa música, diz em certo trecho: “Todo militar
antigo conhece a marcha “Saudade de Minha Terra”, que apareceu na alvorada da
República. Na década de 20, os cadetes de Cavalaria da velha Escola Militar do
Realengo cantavam-na: “Soldados, a Cavalaria/É a sentinela avançada/Da Pátria
Mãe que em nós confia/ Para viver eternamente respeitada!”
Letra aposta ao dobrado “Saudades de minha terra”. É
cantada pelas tropas de Cavalaria, quando se deslocam a pé. (Fonte: Leandro
Sicorra Wilemberg , publicado no jornal "Zero Hora", de Porto Alegre, em 16 de Junho de 2012.)
Saudades da minha terra
Letra
Soldados, a Cavalaria/ É a sentinela avançada/ Da Pátria
Mãe que em nós confia/ Para viver eternamente respeitada/ Numa avançada/ A
cavalhada/ Ousada e forte/ Não teme a morte/ Nossos corcéis/ Sabem que a glória/
Só se conquista com a vitória, E não revés.
Por isso, quando
na peleja/ A voz de carga se escutar/ Em nossas mãos bem firme esteja/ A
heróica lança,/ Que a vitória há de nos dar.
Nossa hostes
sobranceiras/ Das ofensas estrangeiras/ Defendem sorrindo com júbilo infindo/ A
excelsa Bandeira Brasileira.
Nossos Esquadrões/
São como leões,/ Não conhecem perigo inimigo que os faça temer/Nossos soldados/
São denodados/ Pela pátria sucumbem com praze/ Hurra!
Se no auge da
batalha/ Rebentar uma metralha/ E ferido o cavalo querido tombar/ Mesmo assim
nos redobremos/ E com denodo pelejemos/ Porque com a glória então/ Teremos de o
vingar/ Avante ! Avante!
Bravos ufanos/
Destemidos cavalarianos do exército audaz/ Que nas refregas/ Nas lutas cegas/
Só de feitos heróicos é capaz. Hurra!
O dobrado "Saudades da minha terra", foi uma homenagem a Arma de Cavalaria
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