Teresinha Motta
A quem possa interessar, Oito de Março é um convite do
espelho para uma visita. Eu sou uma que preciso desse olhar mais fundo e
demorado. Com regularidade não há clima, pois em casa, entre uma infinidade de
coisas, lavo louças ad eternum. Mas, nessa data, dou-me o luxo de parar para
pensar e reconheço que estou em dívida comigo por todas as provas de autoestima
que não me dei – promessas de campanha de quando quis me eleger feliz.
O Dia Internacional da Mulher tem essa função de catarse.
No meu microcosmo, que é esse por escrito, sou induzida a surtos poéticos
periféricos. São drenos fazendo transmissão de dados pelos poros da pele... E
eles me deixam assim, esbaforida de palavras, quase protocolar em defesa dos
contextos femininos, vide todo o seu portfólio de dores.
Na verdade, faço desenrolar ataduras disfarçadas sob
echarpes coloridas. Lido com todo o espectro do escândalo social que vitimiza
as mulheres. Na Web, ao alcance de um clique estão os casos mais cruentos e
fatais, como a incidência de feminicídios no país – a prática que significa a
morte intencional de uma mulher. São mais de cinco mil assassinatos desse tipo
por ano no Brasil. E no disse-me-disse ainda não rastreado pelas estatísticas
acumulam-se casos de violências não declaradas, sempre praticadas por “inimigos
íntimos”. São abusos emocionais do repertório das questões domésticas e banais,
incensados pela cultura machista que ainda reina no planeta.
Portanto, além das flores e gentilezas que nos são
essenciais, há um arsenal de demandas por melhores dias. Eu, mulher, quero me
levar mais a sério. Nós, mulheres, temos urgência de carinho e respeito.
Nenhuma forma de protagonismo feminino dito moderno e audacioso quando fora da
zona de conforto dos lares justifica qualquer agressão de gênero.
Acho que março abre um precedente produtivo, que vai de
recitar um poema doce e delicado ao ato político e engajado de exigir direitos.
Março me encoraja desde comprar um batom novo a fazer uma limpeza profunda nos
chakras. Mas significa também cerrar os punhos no front de lutas ou dar o dedo
da forma mais descarada que puder, a depender da circunstância.
Nada deslustra a ternura. Nem os paradoxos. Não podemos
ser punidas se em nós existe a mãe, a filha e a mulher... não necessariamente
na mesma ordem ou condição de grandeza. Não temos culpa se em nossa “anatomia
humana” a simplicidade e a complexidade se misturam, na mais absoluta paz.
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