sábado, 21 de novembro de 2015

O piloto Ramon Sierra

Impressionante desastre automobilístico ocorrido em 1935, quase roubou a vida de um conhecido desportista e fazendeiro em São Gabriel, de origem uruguaia, proprietário da histórica “Estância da Caieira”, onde ocorreu um dos lances épicos do ciclo Farroupilha. Era ele o senhor Ramón Alfredo Sierra, membro atuante da comunidade gabrielense, considerado como filho adotivo da terra.

Desportista de escol, dedicava-se com verdadeiro ardor e entusiasmo ao automobilismo, sendo reconhecido como exímio piloto de corridas, quer na sua pátria de origem, o Uruguai, quer na pátria adotiva, o Brasil.

Sua atração pelas altas velocidades e emoções de uma disputa, o calor do aplauso público e o simples prazer de disputar, levaram-no a inscrever-se, no ano de 1935, no “Circuito da Pedra Redonda”, realizado em Porto Alegre, dia 15 de novembro daquele ano, em homenagem ao centenário Farroupilha, que naquele ano se comemorava.

Iniciada a corrida, aos olhos de grande massa popular, o valente Sierra, mesmo desconhecendo a pista, na qual corria pela primeira vez, passou a disputar a liderança com Oscar Bins, um dos favoritos da prova. 

Descia aquele morro lá da “Pedra Redonda” em direção à Ipanema, quando sua barata derrapou, à alta velocidade, na curva que ali existe, no fim da descida.

O carro capotou, girando três vezes sobre si mesmo. Na segunda cambalhota o ajudante de Sierra, Júlio Zapala, foi cuspido fora do veiculo, o mesmo ocorrendo com o piloto, na terceira volta.

Ramón Sierra, como se impulsionado por gigantesca mola, foi lançando em forma de projetil a 18 metros de distância e cinco de altura, no espaço. Seu corpo, como um bólido, após passar por entre os fios da iluminação, foi bater contra um eucalipto, ficando preso a um dos galhos. Este, não resistindo ao peso, quebrou, despencando ao solo o malfadado piloto.

Imediatamente socorrido por populares e pelo doutor José Ricaldone, foi conduzido em maca, improvisada no momento, à enfermaria do Quartel da Brigada Militar, no Cristal, onde já o aguardava o doutor Fernandes Peña.

Apresentava Sierra, além de inúmeras escoriações pelo corpo e rosto, estado de choque. Foram constatados ferimentos contusos na região frontal, outro na região mastóidea direita, na região mentoniana, no joelho direito, na articulação coxo-femural e, ainda, comoção cerebral.

Foi transferido, após, para o Hospital São Francisco, em estado grave. Seu ajudante teve um pouco mais de sorte, pois seu estado de saúde não foi considerado tão grave como o do seu colega.

Em São Gabriel o impacto foi total, pois que a corrida vinha sendo acompanhada pelo rádio e o povo vibrava com a ótima performance que até então vinha desenvolvendo seu representante.

No entanto, ainda que pareça a muitos incrível, o destemido piloto não pereceu, apesar da gravidade do seu estado geral. Alguns meses depois, dando alta do hospital, resolveu continuar Sierra o tratamento em Montevidéu, arrendando por cinco a nos a “Estância da Caieira” e vendendo o gado que a povoava.

Porém o destino é irreversível e o inesperado aconteceu. Em abril de 1963, falecia Ramón Sierra na capital uruguaia onde fora procurar melhoras para seu estado de saúde, consternando seus amigos gabrielenses e a população em geral, que apreciavam suas belas qualidades de cidadão e esportista. (Fonte: Livro "Crônicas duma cidade do Sul", de autoria de Aristóteles Vaz de Carvalho e Silva)

Largada do "Circuíto da Pedra Redonda", em 1935. O carro de Sierra era o de número 2, que aparece à esquerda da fila. (Foto: Reprodução)

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