Desportista de escol, dedicava-se com verdadeiro ardor e
entusiasmo ao automobilismo, sendo reconhecido como exímio piloto de corridas,
quer na sua pátria de origem, o Uruguai, quer na pátria adotiva, o Brasil.
Sua atração pelas altas velocidades e emoções de uma
disputa, o calor do aplauso público e o simples prazer de disputar, levaram-no
a inscrever-se, no ano de 1935, no “Circuito da Pedra Redonda”, realizado em
Porto Alegre, dia 15 de novembro daquele ano, em homenagem ao centenário Farroupilha, que naquele ano se
comemorava.
Iniciada a corrida, aos olhos de grande massa popular, o
valente Sierra, mesmo desconhecendo a pista, na qual corria pela primeira vez,
passou a disputar a liderança com Oscar Bins, um dos favoritos da prova.
Descia
aquele morro lá da “Pedra Redonda” em direção à Ipanema, quando sua barata
derrapou, à alta velocidade, na curva que ali existe, no fim da descida.
O carro capotou, girando três vezes sobre si mesmo. Na
segunda cambalhota o ajudante de Sierra, Júlio Zapala, foi cuspido fora do
veiculo, o mesmo ocorrendo com o piloto, na terceira volta.
Ramón Sierra, como se impulsionado por gigantesca mola, foi
lançando em forma de projetil a 18 metros de distância e cinco de altura, no espaço.
Seu corpo, como um bólido, após passar por entre os fios da iluminação, foi
bater contra um eucalipto, ficando preso a um dos galhos. Este, não resistindo ao
peso, quebrou, despencando ao solo o malfadado piloto.
Imediatamente socorrido por populares e pelo doutor José
Ricaldone, foi conduzido em maca, improvisada no momento, à enfermaria do
Quartel da Brigada Militar, no Cristal, onde já o aguardava o doutor Fernandes
Peña.
Apresentava Sierra, além de inúmeras escoriações pelo corpo
e rosto, estado de choque. Foram constatados ferimentos contusos na região
frontal, outro na região mastóidea direita, na região mentoniana, no joelho
direito, na articulação coxo-femural e, ainda, comoção cerebral.
Foi transferido, após, para o Hospital São Francisco, em
estado grave. Seu ajudante teve um pouco mais de sorte, pois seu estado de
saúde não foi considerado tão grave como o do seu colega.
Em São Gabriel o impacto foi total, pois que a corrida vinha
sendo acompanhada pelo rádio e o povo vibrava com a ótima performance que até então
vinha desenvolvendo seu representante.
No entanto, ainda que pareça a muitos incrível, o destemido
piloto não pereceu, apesar da gravidade do seu estado geral. Alguns meses depois,
dando alta do hospital, resolveu continuar Sierra o tratamento em Montevidéu,
arrendando por cinco a nos a “Estância da Caieira” e vendendo o gado que a
povoava.
Porém o destino é irreversível e o inesperado aconteceu. Em
abril de 1963, falecia Ramón Sierra na capital uruguaia onde fora procurar
melhoras para seu estado de saúde, consternando seus amigos gabrielenses e a
população em geral, que apreciavam suas belas qualidades de cidadão e esportista. (Fonte: Livro "Crônicas duma cidade do Sul", de autoria de Aristóteles Vaz de Carvalho e Silva)
Largada do "Circuíto da Pedra Redonda", em 1935. O carro de Sierra era o de número 2, que aparece à esquerda da fila. (Foto: Reprodução)
Largada do "Circuíto da Pedra Redonda", em 1935. O carro de Sierra era o de número 2, que aparece à esquerda da fila. (Foto: Reprodução)
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