Mário Fuão Mércio*
Quero me esconder desse mundo perverso que dá abrigo a terroristas e desalmados. Quero me homiziar em minha cidade interiorana onde o mundo é bem menos hipócrita e onde há ainda pessoas decentes. Quero ir a missa com meu terno riscadinho, tipo fazenda de colchão comprada na liquidação da Loja São Miguel.
Quero me fartar de papos, jogando conversa fora lá na
frente do Comercial, combinando uma pescaria com o Jamensson Chagas, João Bosco
Cavalheiro, Adão Salvadé, Cacaio Benavides, Heron Bicca, Betinho dos Santos.
Bater bons papos com a Cotinha, a Mônica Bragança, a Katia, a Maria Cecília, a
Rita Dias, a Ana Rita, o Julinho Bento Pereira, o Dr.Dagoberto, o Zelton, o
Roberto Guedes, o prof. Bisonho, Prof. Meneguello, o Sergio Monteiro Lopes.
Visitar a barbearia do Kiko, a padaria Moderna que é a
mais antiga, e um sem numero de amigos, que na certa me contarão as novidades e
os projetos de minha cidade, mas que de pescaria vai ficar só no papo. Quero
encontrar o dono da venda, lá da vila, que me vendia no caderno e
invariavelmente se esquecia de marcar alguma coisa e depois compensava marcando
o que não vendia, alegando a lei da compensação.
Quero ir ao clube no baile de debutantes e ver, surpreso,
aquelas outrora menininhas, agora desabrochadas para a vida e o olhar feliz de
seus pais. Quero ver aqueles menininhos travessos que pulavam o muro de minha
casa para pegar laranja e pêssego e que hoje ostentam placas de médicos e
advogados na entrada dos escritórios e consultórios.
Quero visitar meu ex vizinho Osório Santana Figueiredo e
Dona Juraci e reviver velhas histórias. Quero chegar até o Luiz Bergenthal e ver a
estrutura de seu Blog e também no Anderson Almeida, no Nelson Webber e Aracélia
e falarmos do passado e minha infância e ver a alegria daquela amizade sem fim.
Quero reservar um lugar na pizzaria do Bittencourt para
curtir uma noitada com velhos amigos. Quero ir na fazenda de amigos, cruzando o
Vacacaí no Passo do Pinto e ver a velha pontezinha, atravessando a pé ou de
carro e pedir para os “graúdos” do poder mais atenção com aquele lugar.
Quero lançar meu caniço a procura de uma traíra distraída
e no verão me jogar na água com correnteza, atravessando a nado e abanar do
outro lado vitorioso. Quero enfim, ter o direito de me “arrenegá” contra todos
os desmandos de locais mal cuidados, buracos nas ruas e calçadas e sujeiras
acumuladas nas vilas que vier a ver.
Quero ver o vendedor de lenha, de leite, em suas carroças
pelas ruas, chegando nas casas. Quero ir ao açougue do “Medina”reservar aquela
lingüiça apimentada e carne especial. Chegar no Mercadinho Público e ver as
bancas inovadas com gente feliz e na Casa Charrua e ver uma pilcha. E por
final, quero visitar um sem número de amigos inesquecíveis. Só assim serei
feliz. (Publicado com autorização do autor)
*Mário Fuão Mércio, gabrielense de nascimento, foi agente
penitenciário, líder de sua escola. Orador, juramenteiro. Diretor de presídios
por todo estado do Rio Grande do Sul desde 1971. Aposentou-se em 1996, quando
trabalhava na delegacia penitenciária. Estudou Direito, Administração e
Filosofia com denodo e durante mais de 35 anos escreveu artigos para jornais e
revistas penitenciárias. É autor dos livros "Amor, sexo e amizade pela
Internet" (2009) e "Penitenciária Central - Como nasce um criminoso".
(2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário