Doutor Gerson Barreto de Oliveira
Médico nefrologista da Santa Casa de São Gabriel
Vou lhes falar algo importante. Não percam tempo encontrando desculpas esfarrapadas: o cigarro devasta! E quem envelhece fumando vai morrendo aos pouquinhos, sofrendo. Todos nós vamos morrer um dia. Mas morrer implorando por ar é uma realidade lamentável.
Médico nefrologista da Santa Casa de São Gabriel
Vou lhes falar algo importante. Não percam tempo encontrando desculpas esfarrapadas: o cigarro devasta! E quem envelhece fumando vai morrendo aos pouquinhos, sofrendo. Todos nós vamos morrer um dia. Mas morrer implorando por ar é uma realidade lamentável.
Dia desses observei de relance dois pacientes que estavam
conversando do lado de fora do Posto de Saúde, ao qual eu chegava. Um deles, um
homem grande com cara de poucos amigos, fez algo que me deixou pesaroso. Ao me
ver ele simplesmente fechou rapidamente a mãozarrona de gaúcho, curtida pela
lida, com o cigarro aceso!
Ao ser pego em flagrante pelo médico que iria atendê-lo no
ambulatório ele preferiu queimar a mão, e não os ouvidos. Nada falei somente ao
final da consulta soltei um alerta de duas palavras: “pare de fumar”. Saiu
sério sem dar uma palavra.
Ilustro aos pacientes diabéticos que me procuram que o
cigarro, no diabético, é duplamente letal. Lentamente, como se fosse um picumã,
substâncias nocivas (as mesmas que podem causar um câncer) entram no organismo
e vão se depositando nas extremidades distais do corpo, no caso os vasos capilares
dos pés e mãos.
Com os anos há então necrose (fica sem circulação) e quando
chega nessa fase, tem que ser amputado, o dedo ou o pé, até mesmo toda a perna.
Tudo isso pode ser evitado. Não fumem.
Em 1988 eu era um despreocupado e feliz estudante de
Medicina na PUC. Foi lá que encontrei três futuros colegas e amigos daqui desta
cidade. Antes mesmo de conhecer São Gabriel eu tive a satisfação de ter como
residente da equipe o doutor Nilson, em outra equipe a preceptora era a doutora
Sandra Webber e o residente do Neuro era o doutor Pedro Cougo.
Sem jamais saber que um dia os encontraria na mesma cidade,
ia me esforçando. Na equipe de Clinica o residente era o segundo na hierarquia,
ele mesmo não tendo responsabilidade nenhuma sobre os estudantes, era constantemente
solicitado por nós.
Afinal, procurávamos o apoio de alguém mais graduado, para
no final da manhã não passarmos pelo constrangimento de não saber algum detalhe
do paciente que cada um era responsável no andar das enfermarias. Já que tínhamos de saber tudo, ou quase tudo
ao nosso alcance, ao relatar o histórico para o preceptor e chefe da equipe.
Uma bela manhã de chuva, quase no inicio da reunião, o
residente chegou, sim era o doutor Nilson, indignado com o que trazia na mão:
era um esfignomanômetro, instrumento para aferira pressão arterial: “Um de
vocês esqueceu inflado no braço de uma paciente”. Silêncio total, éramos uns
10, um colega olhou para o outro, e eu sabia que não era eu, pois o meu
aparelho de medir pressão estava na minha frente.
Finalmente um colega que vivia no mundo da lua se acusou,
tão no mundo da lua que acabou não se formando. Para completar, a paciente era
um caso gravíssimo de enfisema. Pouca oxigenação fazia com que a pobrezinha
delirasse continuamente. Quando estava melhor relatava a saudade da sua vida do
campo onde vivera, e pedia um cigarro. Sua voz era sibilina e arquejante,
muitas vezes parecia ser um piano faltando às teclas. Não saia o som.
A situação se deteriorara cada vez mais, ela ficava cada vez
mais debilitada. O seu leito era ao lado de uma janela e o serviço de
manutenção do hospital fora chamado. Ela tentara abrir a janela para pular (era
o sexto andar). A abertura da janela foi selada então com um lacre.
Dona Niobes, esse era o nome dela, ficava cada vez mais
fraca, mesmo assim persistia com vontade de dar uma tragada, tal era a força do
vício. E dizia ser um vagalume que tinha de sair janela afora para tomar ar.
Nem em seu delírio deixava de fazer uma fantasia com um cigarro aceso. Já
concluíamos nós, que iniciávamos a cadeira de Psiquiatria e seus diagnósticos
por associação.
Numa manhã de segunda-feira chegamos para cada um ver seus
pacientes, e a dona Niobes não estava mais em seu leito, tinha ido para o andar
de cima, ser um vagalume. ( Artigo escrito pelo doutor Gerson Barreto de Oliveira, médico nefrologista da Santa Casa de São Gabriel, publicado no jornal "O Fato", da amiga Ana Rita Chiappetta Focaccia)
Doutor Gerson Barreto de Oliveira.

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