sexta-feira, 26 de abril de 2019

Um notável cantor gabrielense

Geraldo Magalhães foi um dos mais notáveis e populares cantores das primeiras décadas do século XX. Também era dançarino e cançonetista.

Nascido em São Gabriel, em 31 de maio de 1878, começou a cantar nos chopes berrantes e cafés cantantes, que eram muito populares na virada do século XIX para o XX.

Esses locais eram bares onde havia um pequeno palco. Ali, as pessoas iam beber, conversar e apreciar as apresentações de artistas.

No Rio de Janeiro, Geraldo apresentou-se em lugares como “Ao Chopp Grande”, onde sua volumosa voz de barítono foi logo notada. Não foi somente nos palcos que ele se destacou, pois, várias vezes, saia fazendo serenatas pelas ruas.

Já conhecido pela cidade, fez sua estreia teatral na Rua do Lavradio, no “Salon de Paris”. Em seu repertório não faltavam os lundus e cançonetas, bem ao gosto da época.

Daí foi para o “Largo da Lapa”, no “Alcazar Parque” (não confundir com o outro “Alcazar”, que existiu até o final do século XIX). Foi nessa ocasião em que formou dupla com Margarita, ou Margherite, que se apresentava como castelhana e, ao seu lado, interpretava cançonetas picantes como o “Dueto do Buraco”.

Exibia-se em casas de chope e cafés-dançantes da Lapa, além de teatros da praça Tiradentes, como o “Moulin Rouge” e “Maison Moderne”.

Naquele tempo a nossa música tinha destaque no teatro de revista e nos cafés concertos, com melodias inspiradas a versos extremamente maliciosos.

Esses versos variavam em seu teor de explicitação. Algumas vezes eram suavemente picantes, outras, bem carregados na pimenta e erotismo.

Em 1902, quando se começou a gravar discos no Brasil, todos os ritmos e estilos de composições foram levados à cera. As chamadas trovas alegres, um nome fantasia para a músicas de duplo sentido, carregadas de sensualidade, tiveram um bom lugar na indústria fonográfica, como também o tinham na aceitação do público que frequentava o teatro de revista.

CARREIRA INTERNACIONAL

Na metade da década de 1900, já famoso, Geraldo Magalhães formou, com a também gaúcha Nina Teixeira, a dupla “Os Geraldos”. Foi sua mais famosa parceira.

Juntos gravaram dezenas de músicas, algumas clássicos de nosso cancioneiro, como “Sacy Pererê” e “Corta Jaca” (Gaúcho), ambas de Chiquinha Gonzaga; ou “Vem cá, Mulata”, de Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre.

Foi com Nina que ele foi até Paris e Lisboa, em uma bem sucedida tournée. Na capital francesa eles levaram o maxixe, que já tinha sido apresentado na década anterior pela atriz Plácida dos Santos (que, também era gaúcha).

Apresentaram-se também fora do Rio de Janeiro, como em 1902, contratados para a inauguração de um café-concerto em Santos (SP).

Em 1908 a dupla iniciou sua carreira internacional, viajando ao México e à Europa. Em 1909, na França, lançam o tango-chula (um maxixe) “Vem cá mulata”, de Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre, gravado pela dupla três anos antes.

Geraldo Magalhães gravou sozinho bonitas canções, romanzas e temas populares.

No começo da década de 1910, desfez a parceria com Nina. Geraldo Magalhães retornou ao Brasil, ainda em 1909, com sua nova partner, a portuguesa Alda Soares, com quem viria a se casar e lançou a canção norte-americana “Caraboo”, de Sam Marshal e versão em português de Alfredo Albuquerque (não chegaram a grava-la). Foram morar em Lisboa e ele encerrou a carreira em 1927.

A partir de 1937, trabalhou como representante de uma fábrica de vinhos. Manteve-se casado com Alda em Lisboa até a morte em 11 de julho de 1970, em Lisboa, Portugal, aos 92 anos de idade.

Principais sucessos:

“Corta-jaca”, Chiquinha Gonzaga, Tito Martins e Bandeira de Gouvêa (1902); “Nhá Maruca foi s’imbora”, Américo Jacomino “Canhoto); “No bico da chaleira”, de Eustórgio Vanderley, gravada somente por Geraldo Magalhãe; “O fado Liró”, Nicolino Milano (1911). “O fado Liró com Os Geraldos”; “O jardineiro”; “Roda Iaya”, Chiquinha Gonzaga e Ernesto de Souza (1902); “Sacy-Pereré”, Chiquinha Gonzaga (1906); “Um matuto no Ceará”, popular português e “Vem cá, mulata”, Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre (1906). (Pesquisa: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, na edição do dia 24 de abril de 2019)


Nenhum comentário:

Postar um comentário