quinta-feira, 27 de junho de 2019

Um grande ator era filho de São Gabriel

São Gabriel, em sua história, tem se destacado por ser berço de gente que alcançou sucesso nas mais variadas profissões, que vão desde militares, esportistas, artistas e outros. Muitos alcançaram sucesso até internacionalmente. Outros não.

Lutero Luiz, por exemplo, foi um ator brasileiro bastante conhecido nos anos 80 e 90. Por não ter o porte de um galã, se especializou em interpretar personagens bem populares, muitos deles com forte apelo regional, o que sempre levou o público a imaginar que o ator tivesse suas raízes no Norte ou Nordeste do País e não na Região Sul.

Nasceu em São Gabriel, em 5 de janeiro de 1931 e faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de fevereiro de 1990, aos 59 anos, vítima de câncer generalizado.

Foram 22 anos de uma carreira brilhante. Foi casado em primeiras núpcias com Maria Julise Pirillo e Silva, com quem deixou duas filhas, Juline e Juliane.

Depois casou com a figurinista e produtora Miza Serra, com quem teve uma filha, Érica. Muitas pessoas pensam que ele era pai de Waleska, o que não é verdade, pois é filha de Miza, em uma relação anterior, antes de se casar com o ator.

Em alguns filmes usou o pseudônimo de Gerson Luís. Ex-sargento da Aeronáutica, Lutero Luiz começou como ator de rádio, em 1952. Se formou na primeira turma de Artes Cênicas da Faculdade de Filosofia de Porto Alegre, e trabalhou em 24 peças de teatro, mais de 30 filmes e muitas novelas.

Apesar de gaúcho, em boa parte dos filmes e novelas que fez encarnou a figura do malandro carioca. Era ator, radio-ator, dublador e produtor, tendo trabalhado nas áreas de cinema, teatro, rádio e TV. Começou como ator de rádio em 1952.

Mas a carreira como premiado ator só viria a engrenar mesmo na metade dos anos 60, quando Lutero fixou residência em São Paulo com o intuito de deslanchar na profissão escolhida.

NO CINEMA UMA BELA CARREIRA

A estréia no cinema aconteceu em 1969 no filme “Para Pedro!”, que além dele tinha no elenco o famoso cantor da época, José Mendes, Leonora Côrte-Real, Dimas Costa.

Vale contar que o cantor José Mendes morreu em um acidente entre sua camioneta e um trem, na estrada Pelotas-Rio Grande. Lembro bem desse episódio, pois na época eu trabalhava na Rádio Pelotense e estava na emissora quando ele se apresentou num programa gauchesco, e na saída se despediu de todos, inclusive de mim, pois viajaria para se apresentar na cidade de Rio Grande.

O filme “Para Pedro” foi baseado na canção homônima, que fez grande sucesso nas rádios interioranas do Rio Grande do Sul, interpretada por José Mendes.

Só por curiosidade, conto que o personagem Pedro precisou sair fugido de sua cidade, após arrumar confusão com o secretário de um político local, por causa de um equívoco que envolveu a namorada de Pedro, Rosário e sua madrinha, que não aceitava o romance dos dois.

Sem receber explicações dos motivos da fuga de Pedro, Rosário contrata um pistoleiro para trazer seu namorado de volta.

E no mesmo ano também surgiu na televisão em um pequeno papel na novela “João Juca Junior” que Sylvan Paezzo escreveu para a TV Tupi.

A partir daí o ator engrenou um trabalho atrás do outro, e logo na sua segunda participação em novelas, chamou a atenção do público e da crítica com o seu “Lulu Gouveia” da novela “O Bem Amado”, o eterno adversário político de Odorico Paraguaçu.

Com o sucesso do personagem na novela de Dias Gomes passou a participar de filmes premiados como “Vai Trabalhar Vagabundo”, de Hugo Carvana; “A Rainha Diaba”, de Antônio Carlos Fontoura; “O Marginal”, de Carlos Manga e “Guerra Conjugal”, de Joaquim Pedro de Andrade.

FEZ CERCA DE 30 FILMES

No cinema participou de quase 30 filmes, sendo três deles com Renato Aragão e os “Trapalhões”: “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”; “Simbad, o Marujo Trapalhão” e “O Cangaceiro Trapalhão”. Foi premiado no “Festival de Cinema de Gramado” por seu trabalho em “Ladrões de Cinema” em 1977.

Seus maiores parceiros no cinema foram Milton Gonçalves, com quem fez cinco filmes e três séries, Otávio Augusto, quatro filmes e uma série, Nélson Xavier, cinco filmes e Rodolfo Arena, também cinco filmes.

Também fez uma participação na miniserie “O Tempo e o Vento”, produzida e exibida pela “Rede Globo” entre 22 de abril a 31 de maio de 1985, em 26 capítulos, cujo personagem chamava-se “Fandango”, que apareceu na 4° fase da miniserie.

Em televisão começou na TV Excelsior, em 1966, em “Redenção”. Em 1969, fez na TV Tupi: “João, Juca Jr”. Depois passou para a TV Globo e fez: “O Bem- Amado”, em 1973. Em 1974, fez: “O Espigão” e “O Crime do Zé Bigorna”. Em 1975 fez: “Pecado Capital” e “Escalada”. Em 1976: “O Casarão”. Em 1977: “Sem Lenço, Sem Documento”. Em 1980: “O Bem- Amado”. Em 1985; “O Tempo e o Vento”, “Grande Sertão- Veredas” e “Roque Santeiro”. Em 1987: “O Outro”. Em 1988: “Vale Tudo” e “Fera Radical”. Em 1989: “O Salvador da Pátria” e em 1990: “O Sexo dos Anjos”, que deixou pela metade.

Em “Roque Santeiro”, teve destacado trabalho, quando fez o papel do doutor “Cazuza”. Quase todos os participantes dessa novela já morreram. Além dele: Yoná Magalhães, Marília Pera, José Wilker, Luiz Armando Queiroz, Arnaud Rodrigues, Nélson Dantas, Wanda Kosmo, Maurício do Valle, Lícia Magna, Nélia Paula, Lilian Lemmertz, Cláudio Cavalcanti, Armando Bógus, Paulo Gracindo, Regina Dourado, Marcos Paulo, Ivan Setta, Arthur Costa Filho, Hemílcio Fróes e Heloisa Helena, Eeloisa Mafalda,

Em telenovelas seus personagens mais marcantes foram “Lulu Gouveia”, em “O Bem-Amado”, Marciano, em “Pecado Capital”, coronel “Manuel das Onças”, em “Gabriela”, o amigo “Bodão”, de Sassá Mutema, em “O Salvador da Pátria”, e seu último personagem, o jardineiro “Bastião”, de “O Sexo dos Anjos” (1989/1990).

MORTE PREMATURA

Quando Lutero gravava essa novela, onde vivia o jardineiro “Bastião”, descobriu que estava com um tumor no fígado.

Foi internado para uma cirurgia no “Hospital Beneficência Portuguesa”, no Rio de Janeiro, mas não resistiu, falecendo aos 59 anos. Foi descoberto que o câncer, inicialmente em seu fígado, havia se espalhado para outros órgãos.

Lutero Luiz não terminou a novela que estava em fase de gravação, mas a autora, Ivani Ribeiro, manteve o final do personagem, que era ficar rico nos últimos capítulos, embora o ator não aparecesse mais em nenhum capítulo devido ao seu falecimento.

Os filmes em que trabalhou: “Vai Trabalhar, Vagabundo II” (1973 e 1991), “Solidão, uma Linda História de Amor” (1989), “Luar Sobre Parador” (1988), “Romance da Empregada “(1987), “Ele, o Boto” (1987), “Ópera do Malandro“(1986), “O Rei do Rio” (1985), “Pedro Mico” (1985), “Para Viver um Grande Amor” (1984), “Amenic - Entre o Discurso e a Prática” (1984), “O Cangaceiro Trapalhão” (1983), “Gabriela, Cravo e Canela “(1983), “O Mágico e o Delegado” (1983), “Índia, a Filha do Sol (1982), “O Santo e a Vedete” (1982), “Dora Doralina”(1982), “Parceiros da Aventura” (1980), “O Coronel e o Lobisomem “(1979), “Se Segura, Malandro!“(1978), “Ladrões de Cinema” (1977), “Barra Pesada” (1977), “Simbad, O Marujo Trapalhão” (1976), “Guerra Conjugal” (1975), “Costinha o Rei da Selva” (1975), “O Marginal”, (1974), “Motel” (1974), “A Rainha Diaba” (1974), “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa” (1973), “A Marcha” (1972), “Jogo da Vida e da Morte” (1972) e “Para, Pedro!” (1969).

Teatro. “Os 30 milhões do americano” (1966), “Boa tarde excelência” (1967), “Os monstros” (1969), “Hamlet” (1969), “Don Juan” (1970), “As alegres comadres de Windsor” (1970), “A capital federal” (1972) e “Calabar” (1973).

Lutero Luiz é nome de rua em Piracicaba (SP), Joaçaba (SC) e João Pessoa (PB). Em São Gabriel, sua terra natal, infelizmente, que eu saiba, não existe nada que o lembre.

Mas se confirmando que sua terra natal o esqueceu, ainda tem tempo para lembrá-lo. Quem sabe algum vereador não apresente na Câmara Municipal projeto dando o seu nome a alguma rua da cidade. (Texto e pesquisa: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 26 de junho de 2019)


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