Lutero Luiz, por exemplo, foi um ator brasileiro bastante
conhecido nos anos 80 e 90. Por não ter o porte de um galã, se especializou em
interpretar personagens bem populares, muitos deles com forte apelo regional, o
que sempre levou o público a imaginar que o ator tivesse suas raízes no Norte
ou Nordeste do País e não na Região Sul.
Nasceu em São Gabriel, em 5 de janeiro de 1931 e faleceu no Rio de
Janeiro, em 20 de fevereiro de 1990, aos 59 anos, vítima de câncer
generalizado.
Foram 22 anos de uma carreira brilhante. Foi casado em primeiras
núpcias com Maria Julise Pirillo e Silva, com quem deixou duas filhas, Juline e
Juliane.
Depois casou com a figurinista e produtora Miza Serra, com quem
teve uma filha, Érica. Muitas pessoas pensam que ele era pai de Waleska, o que
não é verdade, pois é filha de Miza, em uma relação anterior, antes de se casar
com o ator.
Em alguns filmes usou o pseudônimo de Gerson Luís. Ex-sargento da
Aeronáutica, Lutero Luiz começou como ator de rádio, em 1952. Se formou na
primeira turma de Artes Cênicas da Faculdade de Filosofia de Porto Alegre, e
trabalhou em 24 peças de teatro, mais de 30 filmes e muitas novelas.
Apesar de gaúcho, em boa parte dos filmes e novelas que fez
encarnou a figura do malandro carioca. Era ator, radio-ator, dublador e
produtor, tendo trabalhado nas áreas de cinema, teatro, rádio e TV. Começou
como ator de rádio em 1952.
Mas a carreira como premiado ator só viria a engrenar mesmo na
metade dos anos 60, quando Lutero fixou residência em São Paulo com o intuito
de deslanchar na profissão escolhida.
NO CINEMA UMA BELA CARREIRA
A estréia no cinema aconteceu em 1969 no filme “Para Pedro!”, que
além dele tinha no elenco o famoso cantor da época, José Mendes, Leonora
Côrte-Real, Dimas Costa.
Vale contar que o cantor José Mendes morreu em um acidente entre
sua camioneta e um trem, na estrada Pelotas-Rio Grande. Lembro bem desse
episódio, pois na época eu trabalhava na Rádio Pelotense e estava na emissora
quando ele se apresentou num programa gauchesco, e na saída se despediu de
todos, inclusive de mim, pois viajaria para se apresentar na cidade de Rio Grande.
O filme “Para Pedro” foi baseado na canção homônima, que fez
grande sucesso nas rádios interioranas do Rio Grande do Sul, interpretada por
José Mendes.
Só por curiosidade, conto que o personagem Pedro precisou sair
fugido de sua cidade, após arrumar confusão com o secretário de um político
local, por causa de um equívoco que envolveu a namorada de Pedro, Rosário e sua
madrinha, que não aceitava o romance dos dois.
Sem receber explicações dos motivos da fuga de Pedro, Rosário
contrata um pistoleiro para trazer seu namorado de volta.
E no mesmo ano também surgiu na televisão em um pequeno papel na
novela “João Juca Junior” que Sylvan Paezzo escreveu para a TV Tupi.
A partir daí o ator engrenou um trabalho atrás do outro, e logo na
sua segunda participação em novelas, chamou a atenção do público e da crítica
com o seu “Lulu Gouveia” da novela “O Bem Amado”, o eterno adversário político
de Odorico Paraguaçu.
Com o sucesso do personagem na novela de Dias Gomes passou a
participar de filmes premiados como “Vai Trabalhar Vagabundo”, de Hugo Carvana;
“A Rainha Diaba”, de Antônio Carlos Fontoura; “O Marginal”, de Carlos Manga e
“Guerra Conjugal”, de Joaquim Pedro de Andrade.
FEZ CERCA DE 30 FILMES
No cinema participou de quase 30 filmes, sendo três deles com
Renato Aragão e os “Trapalhões”: “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”; “Simbad, o
Marujo Trapalhão” e “O Cangaceiro Trapalhão”. Foi premiado no “Festival de
Cinema de Gramado” por seu trabalho em “Ladrões de Cinema” em 1977.
Seus maiores parceiros no cinema foram Milton Gonçalves, com quem
fez cinco filmes e três séries, Otávio Augusto, quatro filmes e uma série,
Nélson Xavier, cinco filmes e Rodolfo Arena, também cinco filmes.
Também fez uma participação na miniserie “O Tempo e o Vento”,
produzida e exibida pela “Rede Globo” entre 22 de abril a 31 de maio de 1985,
em 26 capítulos, cujo personagem chamava-se “Fandango”, que apareceu na 4° fase
da miniserie.
Em televisão começou na TV Excelsior, em 1966, em “Redenção”. Em
1969, fez na TV Tupi: “João, Juca Jr”. Depois passou para a TV Globo e fez: “O
Bem- Amado”, em 1973. Em 1974, fez: “O Espigão” e “O Crime do Zé Bigorna”. Em
1975 fez: “Pecado Capital” e “Escalada”. Em 1976: “O Casarão”. Em 1977: “Sem
Lenço, Sem Documento”. Em 1980: “O Bem- Amado”. Em 1985; “O Tempo e o Vento”,
“Grande Sertão- Veredas” e “Roque Santeiro”. Em 1987: “O Outro”. Em 1988: “Vale
Tudo” e “Fera Radical”. Em 1989: “O Salvador da Pátria” e em 1990: “O Sexo dos
Anjos”, que deixou pela metade.
Em “Roque Santeiro”, teve destacado trabalho, quando fez o papel
do doutor “Cazuza”. Quase todos os participantes dessa novela já morreram. Além
dele: Yoná Magalhães, Marília Pera, José Wilker, Luiz Armando Queiroz, Arnaud
Rodrigues, Nélson Dantas, Wanda Kosmo, Maurício do Valle, Lícia Magna, Nélia
Paula, Lilian Lemmertz, Cláudio Cavalcanti, Armando Bógus, Paulo Gracindo,
Regina Dourado, Marcos Paulo, Ivan Setta, Arthur Costa Filho, Hemílcio Fróes e
Heloisa Helena, Eeloisa Mafalda,
Em telenovelas seus personagens mais marcantes foram “Lulu
Gouveia”, em “O Bem-Amado”, Marciano, em “Pecado Capital”, coronel “Manuel das
Onças”, em “Gabriela”, o amigo “Bodão”, de Sassá Mutema, em “O Salvador da
Pátria”, e seu último personagem, o jardineiro “Bastião”, de “O Sexo dos Anjos”
(1989/1990).
MORTE PREMATURA
Quando Lutero gravava essa novela, onde vivia o jardineiro
“Bastião”, descobriu que estava com um tumor no fígado.
Foi internado para uma cirurgia no “Hospital Beneficência
Portuguesa”, no Rio de Janeiro, mas não resistiu, falecendo aos 59 anos. Foi
descoberto que o câncer, inicialmente em seu fígado, havia se espalhado para
outros órgãos.
Lutero Luiz não terminou a novela que estava em fase de gravação,
mas a autora, Ivani Ribeiro, manteve o final do personagem, que era ficar rico
nos últimos capítulos, embora o ator não aparecesse mais em nenhum capítulo
devido ao seu falecimento.
Os filmes em que trabalhou: “Vai Trabalhar, Vagabundo II” (1973 e
1991), “Solidão, uma Linda História de Amor” (1989), “Luar Sobre Parador”
(1988), “Romance da Empregada “(1987), “Ele, o Boto” (1987), “Ópera do
Malandro“(1986), “O Rei do Rio” (1985), “Pedro Mico” (1985), “Para Viver um
Grande Amor” (1984), “Amenic - Entre o Discurso e a Prática” (1984), “O
Cangaceiro Trapalhão” (1983), “Gabriela, Cravo e Canela “(1983), “O Mágico e o
Delegado” (1983), “Índia, a Filha do Sol (1982), “O Santo e a Vedete” (1982), “Dora
Doralina”(1982), “Parceiros da Aventura” (1980), “O Coronel e o Lobisomem
“(1979), “Se Segura, Malandro!“(1978), “Ladrões de Cinema” (1977), “Barra
Pesada” (1977), “Simbad, O Marujo Trapalhão” (1976), “Guerra Conjugal” (1975),
“Costinha o Rei da Selva” (1975), “O Marginal”, (1974), “Motel” (1974), “A
Rainha Diaba” (1974), “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa” (1973), “A Marcha”
(1972), “Jogo da Vida e da Morte” (1972) e “Para, Pedro!” (1969).
Teatro. “Os 30 milhões do americano” (1966), “Boa tarde excelência”
(1967), “Os monstros” (1969), “Hamlet” (1969), “Don Juan” (1970), “As alegres
comadres de Windsor” (1970), “A capital federal” (1972) e “Calabar” (1973).
Lutero Luiz é nome de rua em Piracicaba (SP), Joaçaba (SC) e João
Pessoa (PB). Em São Gabriel, sua terra natal, infelizmente, que eu saiba, não
existe nada que o lembre.
Mas se confirmando que sua terra natal o esqueceu, ainda tem tempo
para lembrá-lo. Quem sabe algum vereador não apresente na Câmara Municipal
projeto dando o seu nome a alguma rua da cidade. (Texto e pesquisa: Nilo Dias - Matéria publicada no jornal "O Fato", de São Gabriel-RS, edição de 26 de junho de 2019)
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